PERFIL DA POPULAÇÃO ATENDIDA PELA LIGA DE OFTALMOLOGIA EM CIDADE DO INTERIOR GOIANO CREPALDI JÚNIOR, Luís Carlos 1 ; BARBOSA, Camila Caetano de Almeida 1 ; BERNARDES, Guilherme Falcão 1 ; GODOY NETO, Ubiratan Rodrigues de 1 ; HELRIGLE, William Wilkens 1 ; RASSI, Alan Ricardo 2. Palavras-chave: Oftalmologia, ligas acadêmicas, campanhas. Introdução Estudos feitos pela Organização Mundial de Saúde (OMS) no final do século passado indicaram que em 2000 existiriam cerca de 45 milhões de pessoas cegas no mundo e o triplo deste número de pessoas com baixa visão, isto é, incapazes de desempenhar grande parte das tarefas cotidianas devido à deficiência visual (CBO, 2009). Além disso, estimativas feitas para o ano de 2020 revelaram que, se medidas mundiais e regionais não fossem tomadas, o número de pessoas cegas subiria para 75 milhões e o de portadores de baixa visão para 225 milhões. Deste total, 90% seriam habitantes dos países subdesenvolvidos e em desenvolvimento (IAPB). Ainda na época, constatou-se que cerca de 60 a 70% destes casos seriam devido a causas tratáveis, como catarata e anomalias de refração, ou evitáveis, como retinopatia diabética e glaucoma. Foi em reconhecimento deste prognóstico que a OMS, em parceria com a Agência Internacional para a Prevenção da Cegueira, lançou, em 1999, iniciativa conhecida como Visão 2020: o direito à visão (CBO, 2005). No Brasil, cálculos apontam para a existência de 1,1 milhões de cegos e cerca de 4 milhões de deficientes visuais sérios. As duas principais causas de cegueira evitável e/ou curável no país são a catarata e a falta de óculos (CBO, 2009). Retinopatia Diabética e Glaucoma também merecem destaque. Portanto, ainda temos um longo caminho pela frente e muito ainda pode ser feito no sentido de prevenir a cegueira. Resumo revisado por Alan Ricardo Rassi. Liga Acadêmica de Oftalmologia, FM-220. 1. Acadêmicos da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Goiás. 2. Professor Adjunto de Oftalmologia da Faculdade de Medicina da UFG. luiscarloscrepaldi@hotmail.com
A Liga de Oftalmologia (LOFT) da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Goiás (FM-UFG), baseada nos princípios do tripé Ensino, Pesquisa e Extensão, leva em consideração o cenário acima exposto para elaboração de seus projetos e definição das suas formas de interação com a comunidade. Neste contexto, as campanhas sociais representam a nossa maior oportunidade para levar as pessoas informações pertinentes como as principais causas de cegueira, suas formas de tratamento e/ou prevenção e a importância da consulta oftalmológica de rotina. Para isso, a LOFT conta com material próprio, composto por banners, livretos e panfletos. Além disso, os membros da liga são preparados para realizar a medida da acuidade visual (AV) na população, que constitui um teste simples e de grande utilidade na promoção e avaliação da saúde visual. As campanhas também proporcionam um momento de interação entre diferentes Ligas Acadêmicas de Medicina, o que contribui para que os indivíduos recebam uma atenção à saúde mais integralizada. A campanha Conquistando Saúde, realizada em São Luis de Montes Belos - Goiás em abril de 2011, constitui um exemplo prático de uma atividade de extensão realizada pela LOFT. Neste evento, além das ações rotineiras da liga já descritas, foi aplicado questionário à população visando conhecer aspectos como: (1) perfil da comunidade; (2) realização de consultas oftalmológicas de rotina; (3) principais queixas visuais dos indivíduos; e (4) fatores de risco para o desenvolvimento de cegueira. Os resultados obtidos serão utilizados para aprimorar os projetos da LOFT de acordo com as reais necessidades da população e, por conseguinte, contribuir com o projeto de prevenção da cegueira da OMS. Objetivos Relatar atividade realizada pela LOFT nos campos de extensão e pesquisa, bem como seus resultados. Metodologia O objeto de estudo foi a comunidade atendida na cidade de São Luís de Montes Belos Goiás durante a Campanha Conquistando Saúde, que ocorreu no dia 15 de abril de 2011. Em um primeiro momento, a cada indivíduo que manifestou interesse em participar foi aplicado questionário com questões fechadas e de múltipla escolha,
solicitando-se as seguintes informações: (1) Identificação: nome, idade e sexo; (2) Peso e altura; (3) Diagnóstico de Diabetes Mellitus? Se sim: o tipo de diabetes, o tempo transcorrido desde o diagnóstico, o uso de medicações, como está o controle da glicemia e aparecimento de alterações visuais desde o diagnóstico; (3) Já realizou consulta com oftalmologista? Se sim, tempo transcorrido desde a última consulta; (4) É tabagista? Se sim, há quanto tempo? (5) Diagnóstico de Hipertensão Arterial Sistêmica? Se sim, o tempo transcorrido desde o diagnóstico. Após responderem ao questionário, os indivíduos eram encaminhados para realização da medida da AV. Para os pacientes diabéticos foi realizado ainda medida da glicemia capilar pela Liga de Diabetes da FM-UFG. Os dados obtidos foram contabilizados, analisou-se a frequência de cada tipo de resposta, médias e desvios padrões foram feitos quando possíveis. Posteriormente descreveram-se os resultados obtidos. Resultados e Discussão Dos 66 indivíduos atendidos, 40 eram do sexo masculino e 26, do feminino. Em relação à idade, verificou-se distribuição bimodal com a média geral (M) de 31,27 e o desvio padrão (DP) de 21,13, sendo 11 e 77 anos os extremos. Trinta e três pessoas tinham idade inferior a 20 anos, sendo nesse grupo a M=13,42, e o DP=1,85. Vinte e cinco tinham idade superior a 40 anos, com M=53,04 e DP=10,55. Dez pessoas não souberam informar a altura. Houve uma variação de 1,3 m a 1,9 m dentre os que sabiam. Nos indivíduos acima de 20 anos de idade, observouse na altura M=1,66 m e DP=9,44 cm. Oito pessoas não souberam informar seu peso, sendo 29 Kg e 105 Kg os extremos relatados. Após cálculo do índice de massa corporal (IMC), verificou-se M=24,77 Kg/m², em que 22,7% dos indivíduos apresentavam IMC>25, sendo o maior igual a 35. Quatro indivíduos afirmaram serem diabéticos, todos do sexo masculino, com 16, 46, 54 e 75 anos de idade, sendo que aquele de 16 anos não toma medicação e nunca consultou com oftalmologista. Destes, nenhum soube informar qual o tipo, se I ou II. Dois deles descobriram o diabetes há menos de um ano, um há menos que 5 e outro há menos que 10. Os dois mais jovens (16 e 46 anos) afirmaram que a glicemia não é bem controlada, queixando-se de alterações visuais (visão amarelada), e os outros afirmaram o contrário, sem queixas visuais.
Vinte e oito pessoas (42%) nunca consultaram com oftalmologista. Destas, 78,6% tem menos que 25 anos, o restante tem mais que 40. Dezoito pessoas consultaram apenas uma vez, 7 duas vezes, 5 três vezes e 7 mais que três vezes. Um indivíduo com 61 anos não soube responder se já consultou. Doze das pessoas que já consultaram o fizeram a menos de um ano, 7 há menos de dois anos, 3 há menos de 3 anos, 14 pessoas há mais de 3 anos e uma não soube quando foi sua última consulta. Das 3 pessoas que referiram tabagismo, uma fuma há mais de 10 anos e as outras há mais de 15. Nenhuma delas referiu diabetes ou hipertensão e todas têm no mínimo 30 anos (30, 41 e 56). Oito pessoas referiram hipertensão arterial sistêmica (HAS), sendo 7 homens e 1 mulher. Quatro delas receberam o diagnóstico há menos de 5 anos, o restante há mais de 5 anos. Os dois diabéticos de maior idade (54 e 75 anos) possuem HAS associada. Sete pessoas não souberam responder se tinham diabetes, 6 delas com idade de 11 a 15 anos; e 6 não souberam responder se eram hipertensas, 4 delas com menos de 18 anos. Isso demonstra a necessidade da implantação de programas de promoção da saúde dos adolescentes, pois essa população carece de maiores esclarecimentos a respeito do diabetes, da HAS, de outras doenças crônicas não transmissíveis, e de seus respectivos fatores de risco. Entre os diabéticos, aquele de 16 anos apresentou AV de 1 em ambos os olhos (AO). O de 46 anos teve resultado 1 no olho direito (OD) e 0,1 no esquerdo (OE); o de 54 não enxerga com o OE e teve AV 1 no OD. Já o de 75 apresentou a menor AV em OD, 0,3, enquanto no OE foi 0,8. Quase todos os tabagistas apresentaram AV 1 em AO, exceto o de 41 anos, com 0,9 em AO. Dois hipertensos apresentaram AV 1 em AO. Um deles tem 49 anos e tem HAS diagnosticada há menos de 5 anos, o outro tem 51 e foi diagnosticado há mais de 10. O restante dos hipertensos (48, 57, 71 e 77 anos) apresentou AV acima de 0,7 em AO, sem relação com o tempo de descoberta da HAS. No geral, 22 pessoas (33,33%) apresentaram AV inferior a 1 em algum dos olhos. Em doze delas, a acuidade foi inferior a 1 em AO.
Dos dez indivíduos com redução da acuidade visual em apenas um olho, um tinha 0,6, outro tinha 0,7 e o restante, 0,9 no olho acometido. Verificaram-se dois hipertensos e nenhum diabético nesse grupo. Além do diabético de 54 anos, apenas um idoso de 60 anos não enxerga de um olho. Observou-se AV inferior 0,6 em AO em somente um indivíduo. Quanto às queixas de alteração visual, houve grande variedade. Todavia, há relatos similares, como: dificuldade para enxergar de longe (8 pessoas), dificuldade para enxergar de perto (8), dificuldade para enxergar de longe e de perto (3), visão ruim (4), visão embaçada e/ou embaralhada (7), e prurido associado a secreção (2). Conclusões Portanto, diante do exposto, julgamos ter desenvolvido adequadamente o quesito extensão ao colaborar na melhoria da saúde ocular da população atendida. Além disso, percebemos a necessidade de ampliar a assistência oftalmológica nas cidades interioranas do país. Isso contribuiria para a promoção da saúde ocular e prevenção da cegueira. Referências Bibliográficas AGÊNCIA INTERNACIONAL PARA A PREVENÇÃO DA CEGUEIRA (IAPB). Cegueira, pobreza e desenvolvimento: o impacto da Visão 2020 no milênio das Nações Unidas metas de desenvolvimento. Disponível em: <http://www.cbo.com.br/novo/geral/pdf/cegueira_pobreza_e_desenvolvimento.pdf>. Acesso em: 06 mai. 2012. CONSELHO BRASILEIRO DE OFTALMOLOGIA (CBO). Dia Mundial da Visão. 2009. Disponível em: <http://www.cbo.com.br/novo/medicos/campanhas/diamundial-da-visao>. Acesso em: 08 mai. 2012. CONSELHO BRASILEIRO DE OFTALMOLOGIA (CBO). Situação mundial da visão - Visão 2020: o direito de ver 1999-2005, 2005. 2 Disponível em: <http://www.cbo.com.br/novo/geral/pdf/situacao_mundial_da_visao.pdf>. Acesso em: 06 mai. 2012.