FUNRURAL Impactos da decisão do STF sobre as Cooperativas Agropecuárias João Caetano Muzzi Filho Barroso, Muzzi, Barros, Guerra e Associados Advocacia e Consultoria Empresarial
Cenário legislativo CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA Bases de financiamento da seguridade social pelo empregador folha de salários, receita (incluída pela EC 20/98), faturamento e lucro (art. 195, I). Produtor rural pessoa física sem empregados - resultado da comercialização da produção (art. 195, 8º) LEI N.º 8.212/91 Pessoas físicas e jurídicas (empregadas e empregadoras) contribuíam para a previdência com base na remuneração/folha de salários.
Cenário legislativo LEI N.º 8.212/91 (continuação) Exceção: segurado especial produtor rural sem empregados - receita decorrente da comercialização de sua produção. Redação original do art. 25. Obrigação da Cooperativa de reter e recolher a contribuição do produtor rural sem empregados (art. 30). LEI N.º 8.540/92 Alteração do art. 25, da lei nº 8.212/91 empregador rural pessoa física também contribuiria sobre a receita decorrente da comercialização de sua produção. Manutenção da obrigação da Cooperativa de reter e recolher a contribuição do produtor rural sem empregados, estendida à contribuição do empregador pessoa física.
Cenário legislativo Emenda Constitucional n.º 20/98 Inclui Receita como base de cálculo das contribuições no artigo 195 da CF LEI N.º 10.256/01 Nova redação do art. 25, da Lei nº 8.212/91 - sem alterações substanciais em relação à Lei nº 8.540/92 contribuição do empregador rural pessoa física sobre receita bruta proveniente da comercialização de sua produção. Cenário da contribuição do empregador pessoa física pós Lei n.º 10.256/01: Alíquota e Base de cálculo da contribuição patronal: 2,1% da receita bruta proveniente da comercialização de sua produção. Obrigação de reter e recolher a contribuição dos empregados. Cooperativa responsável pelo recolhimento da contribuição patronal do empregador pessoa física
FUNRURAL PRODUTOR SEGURADO ESPECIAL X PRODUTOR EMPREGADOR Lei n.º 8.212/91 Redação Original Lei n.º 8.212/91 Redação da Lei n.º 8.540/92 Discussão Acerca da Inconstitucionalidade da Exigência Produtor Rural Individual ou em Regime de Economia sobre a receita bruta da produção sobre a receita bruta da produção Não se Aplica em nenhum período. Contribuição em sintonia com a Constituição Produtor Rural Empregador sobre a folha de salários sobre a receita bruta da produção Aplica-se apenas após a Lei n.º 8.540/92 Desacordo com a Constituição (ressalva precedente não trata da Lei n.º 10.256/01)
CARACTERIZAÇÃO PRODUTOR SEGURADO ESPECIAL X PRODUTOR EMPREGADOR Lei 8.212/91 Redação Original Produtor Rural Individual ou em Economia Familiar - Segurado Especial 1) Ser produtor, parceiro, meeiro ou arrendatário rurais; 2) Exercer a atividade individualmente ou em regime de economia familiar (no qual o trabalho dos membros da família é indispensável à própria subsistência e é exercido e condições de mútua dependência e colaboração); e 3) Possibilidade de contar com o auxílio eventual de terceiros mas sem a utilização de empregados (permanentes ou eventuais). Produtor Rural Empregador Autônomo/Cont. Individual 1) Exploração de atividade agropecuária; 2) Diretamente ou através de propostos; e 3) Contar com o auxílio de empregados, utilizados a qualquer título, ainda que de forma não contínua.
CARACTERIZAÇÃO PRODUTOR SEGURADO ESPECIAL X PRODUTOR EMPREGADOR Lei 8.212/91 Redação da Lei 11.781/08 Produtor Rural Individual ou em Economia Familiar - Segurado Especial 1) Ser produtor, seja proprietário, usufrutuário, possuidor, assentado, parceiro ou meeiro outorgados, comodatário ou arrendatário rurais; 2) Possuir residência no imóvel rural ou em aglomerado urbano ou rural próximo a ele; 3) Exercer a atividade individualmente ou em regime de economia familiar (no qual o trabalho dos membros da família é indispensável à própria subsistência e é exercido em condições de mútua dependência e colaboração); 4) Explorar atividade agropecuária em área de até 4 (quatro) módulos fiscais; 5) Não contar com o auxílio de empregados permanentes (permitidos empregados eventuais, em épocas de safra); 6) Não possuir outra fonte de rendimento salvo exceções do 10, do art. 12 da Lei n.º 8.212/91. Produtor Rural Empregador Autônomo/Cont. Individual 1) Exploração de atividade agropecuária; 2) Área de exploração: 2.1) superior a 4 (quatro) módulos fiscais; ou 2.2) igual ou inferior a 4 (quatro) módulos fiscais ou atividade pesqueira, devendo neste caso contar com o auxílio de empregados permanentes ou por intermédio de prepostos, não se enquadrando nas características dos segurados especiais.
Cenário jurisprudencial Decisão STF caso Mataboi RE 363.852/MG julgado em 03/02/2010 Inconstitucionalidade do art. 1º da Lei nº 8.540/92, que alterou os arts. 12, V e VII; 25, I e II e 30, IV, da Lei nº 8.212/91. Instituição de nova BC não prevista pela Constituição exigiria Lei Complementar. A receita da comercialização da produção apenas era prevista para a contribuição do produtor rural sem empregados permanentes ( 8º, CR/88) Desobrigou os adquirentes (inclusive cooperativas) de reter e recolher a contribuição sobre receita bruta da comercialização do empregador pessoa física. Até que nova lei institua a contribuição, com base na EC/98, que previu receita como fonte de custeio da previdência social. Diversos contribuintes ajuizaram ações e obtiveram liminares para deixar de reter/recolher.
Cenário jurisprudencial Decisão STF Repercussão Geral RE 596.177/RS julgado em 01/08/2011 Inconstitucionalidade do art. 1º da Lei nº 8.540/92. Instituição de nova BC não prevista pela Constituição exigiria Lei Complementar. A receita da comercialização da produção apenas era prevista para a contribuição do produtor rural sem empregados permanentes ( 8º, CR/88) Trecho de voto Ministro Marco Aurélio: Veio à baila não uma lei complementar que atendesse ao art. 195, 4º da Carta Federal, mas uma lei ordinária, a de nº 10.256/01. E nem se diga que a Emenda Constitucional nº 20 acabou por placitar a utilização de lei ordinária para criação desse tributo, por que apenas alterou o 8º do art. 195 para expungir a presença do garimpeiro Porém, em EDs, o STF esclareceu que A constitucionalidade da tributação com base na Lei 10.256/2001 não foi analisada nem teve repercussão geral reconhecida.
Cenário jurisprudencial Nova Decisão STF Repercussão Geral RE 718.874/RS julgado em 30/03/2017 Discussão da CONSTITUCIONALIDADE da contribuição do empregador rural pessoa física a partir da Lei nº 10.256/01. A Lei nº 10.256/01 foi publicada na vigência da EC nº 20/98 e instituiu cobrança sobre receita ou faturamento, sendo, portanto constitucional O art. 25 da Lei nº 8.212/91 nunca foi declarado inconstitucional, mas apenas sua alteração pela Lei nº 8.540/92. Por isso seria possível aproveitar o referido at. 25 com alteração pela Lei nº 10.256/01, que reinstituiu a cobrança, desta vez abarcada pela EC nº 20/98, que previu a receita como fonte de custeio da seguridade social. Acórdão publicado em 27/09/2017, passível de Embargos de Declaração.
Efeitos da mudança de posicionamento do STF Cobrança dos valores não recolhidos nos últimos 5 anos. Mesmo para quem possuía liminar vigente. Por ser decisão proferida em sede de Repercussão Geral, o entendimento se aplica a todos os outros processos que discutam o assunto. A Receita Federal passará a ter o direito de cobrar, visto que a lei nunca saiu de vigência e agora existe decisão do STF permitindo sua cobrança. Mesmo existindo possibilidade de alteração do entendimento, a expectativa é que a cobrança permaneça válida. Projeto de Lei do Senado nº 132/2017 concede anistia sobre a contribuição devida nos últimos 5 anos ainda não votado.
O Senado Federal Resolve: Resolução Senado Federal Art. 1º É suspensa, nos termos do art. 52, inciso X, da Constituição Federal, a execução do inciso VII do art. 12 da Lei nº 8.212, de 24 de julho de 1991, e a execução do art. 1º da Lei nº 8.540, de 22 de dezembro de 1992, que deu nova redação ao art. 12, inciso V, ao art. 25, incisos I e II, e ao art. 30, inciso IV, da Lei nº 8.212, de 24 de julho de 1991, todos com a redação atualizada até a Lei nº 9.528, de 10 de dezembro de 1997, declarados inconstitucionais por decisão definitiva proferida pelo Supremo Tribunal Federal nos autos do Recurso Extraordinário nº 363.852. Art. 2º Esta Resolução entra em vigor na data de sua publicação. Senado Federal, em 12 de setembro de 2017
Resolução Senado Federal É válida?? Retirou do ordenamento jurídico o artigo 25 e seus incisos I e II da Lei n.º 8.212 (com redação Lei n.º 8.540/92 e Lei n.º 9.258/97) que embasava a cobrança do Funrural até 2001 tanto para os produtores de economia familiar sem empregados (não objeto do julgamento do STF) e do produtor rural pessoa física empregador, bem como a sub-rogação das cooperativa ou fonte pagadora. Resolução ultrapassou os limites do julgamento de inconstitucionalidade do STF ao retirar a base legal para cobrança do funrural do produtor rural pessoa física não empregado (previsto no artigo 195, 8º da CF). Possível questionamento da legalidade da Resolução do Senado.
Resolução Senado Federal - Efeitos Continua vigente o caput do artigo 25 com redação da Lei n.º 10.256/01 que foi julgada CONSTITUCIONAL, eis que publicada após a EC 20/98. Polêmica sobre a existência das informações necessárias para apuração do tributo, base de cálculo e alíquota, já que essas informações estão nos incisos objeto de suspensão pela Resolução do Senado.
Cenário legislativo e Decisões Linha do Tempo 1988 1991 1992 1998 2001 2010 2017 CF/98 Art.195 - Fontes de financiamento social pelo empregador folha de salários, receita, faturamento e lucro. 8º Segurado especial: resultado da comercialização da produção. Lei 8.540/92 Produtor PF Empregador: contribuição sobre receita bruta Produtor Rural PF Economia Familiar: contribuição sobre receita bruta. Produtor Rural PF Empregador: Contribuição sobre Folha de Salário Art. 195 alterado pela EC 20/98 inclui Receita como BC Lei n.º 10.256/01 Produtor Rural PF empregador: contribuição sobre receita bruta. RE 363.852 Mataboi Enfrenta Lei 8.540 Contribuição Inconstitucional RE 718.874 Enfrenta Lei 10.256/01 Contribuição Constitucional Resolução do Senado 15/2017
Cenário de Incertezas O que fazer? O GRANDE PROBLEMA: INFORMAÇÃO!!! Discussão é BASE DE CÁLCULO e não a NÃO INCIDÊNCIA Em relação ao passado Produtor Rural Pessoa Física empregadora - Contribuições anteriores a 2001 - Indevidas Julgadas Inconstitucionais Produtor Rural Pessoa Física empregadora - Contribuições posteriores a 2001 Julgada Constitucional - Avaliar da realidade fática de cada produtor rural pessoa física ou contratantes. (Qual o débito? E o que se pagou de folha? Decadência? Prescrição?) - De acordo com o caso concreto, avaliar a viabilidade de inclusão de passivo no parcelamento da MP 783.
Em relação ao futuro Cenário de Incertezas O que fazer? - Resolução que retirou do ordenamento jurídico a base legal da contribuição (inciso I e II do artigo 25 que previam alíquota e base de cálculo) é válida? - E a revogação da previsão de sub-rogação que também foi retirada do ordenamento jurídico? - - Há risco de cobrança? - - Sugestão: Ação Judicial e depósito judicial, dependendo da situação individual de cada contribuinte.
Efeitos da mudança de posicionamento do STF Possível solução para amenizar os impactos. Exclusão do ICMS da base de cálculo receita da comercialização da produção rural - Julgamento do STF de 15/03/2017 ICMS não constitui receita do contribuinte, não podendo ser considerado receita ou faturamento para fins de PIS e COFINS. Se não pode ser considerado receita e partindo da premissa de que a contribuição do FUNRURAL dos empregadores rurais pessoas físicas, o ICMS deve ser excluído da conta. Tema ainda não julgado pelos tribunais.
Contribuição FUNRURAL Produtor Rural Pessoa Jurídica Lei 8.212/91 Contribuição sobre a folha de salários, como o empregador urbano (art. 22) Lei 8.870/94 Substituiu a contribuição sobre a folha de salários pela contribuição sobre a receita bruta proveniente da comercialização dos produtos rurais (art. 25, I e II) Produtor Rural pessoa jurídica x agroindústria Contribuição agroindústria declarada inconstitucional pela ADI n.º 1.103-DF inconstitucional apenas o do art. 25, da Lei nº 8.870/94. Situação a ser analisada pelo STF em sede de Repercussão Geral - RE 611.601/RS enfoque do art. 22A, com redação da Lei nº 10.526/01.
Programa de Regularização Tributária Rural PRR. Medida Provisória n.º 793/2017 O Programa de Regularização Tributária Rural PRR prevê a possibilidade de regularização de débitos de FUNRURAL vencidos até 30/04/2017 e devidos por produtores rurais pessoas físicas e adquirentes de produção rural, com prazo de adesão até 29/09/2017. Poderão ser regularizados débitos constituídos ou não, inscritos ou não em Dívida Ativa da União, inclusive débitos que foram objeto de parcelamentos anteriores rescindidos ou ativos, em discussão administrativa ou judicial, ou proveniente de lançamento efetuado de ofício, ainda que realizados após 01/08/2017 (data da publicação da MP). Destaca-se que a adesão ao PRR implicará: (i) a confissão irrevogável e irretratável dos débitos em nome do sujeito passivo na condição de contribuinte ou sub-rogado e por ele indicados para compor o PRR; bem como renúncia e/ou desistência de impugnações ou recursos administrativos ou judicial, cuja desistência, neste último caso, deve ser comprada até o prazo final para adesão, 29/09/2017.
Programa de Regularização Tributária Rural PRR. Medida Provisória n.º 793/2017 (ii) a aceitação plena e irretratável, pelo sujeito passivo na condição de contribuinte ou de sub-rogado, das condições estabelecidas pela MP 793/2017; (iii) o dever de pagar regularmente as parcelas dos débitos consolidados no PRR e os débitos relativos às contribuições dos produtores rurais pessoas físicas e dos adquirentes de produção rural; (iv) a vedação da inclusão dos débitos que compõem o PRR em qualquer outra forma de parcelamento posterior, ressalvado parcelamento ordinário; (vi) o cumprimento regular das obrigações com o Fundo de Garantia do Tempo de Serviço - FGTS. Previsão da necessidade de oferecimento de carta fiança ou seguro garantia judicial no caso de débitos que sejam iguais ou superiores a R$ 15.000.000,00 no âmbito da PGFN.
QUADRO RESUMO PRR Medida Provisória n.º 793/2017 Produtor Rural Pessoa Física OU Adquirente de Produção Rural com Débito igual ou inferior a R$15.000.000 Pagamento mínimo para adesão (sem reduções) Parcelamento Valor das parcelas Reduções 4% do débito em até 4 parcelas iguais e sucessivas, vencíveis entre setembro e dezembro de 2017. (art. 2º, I e art. 3º, 2º,I) Em até 176 parcelas mensais e sucessivas, vencíveis a partir de janeiro/2018. (art. 2º, II e art. 3º, 2º, II) 0,8% da média mensal da Receita Bruta proveniente da comercialização da produção rural do ano anterior ao do vencimento da parcela. (art. 2º, II e art.3º, 2º, II) Valor mínimo da parcela: R$100,00 para pessoa física. R$ 1.000,00 para Adq. de Prod. Rural. 25% das multas de mora e de ofício e dos encargos legais, incluídos os honorários advocatícios (art. 2º, II, a e art.3º, 2º,II, a ) 100% dos juros de mora (art. 2º, II, b e art.3º, 2º,II, b )
QUADRO RESUMO PRR Medida Provisória n.º 793/2017 Adquirente de Produção Rural com Débito superior a R$15.000.000 Pagamento mínimo para adesão (sem reduções) Parcelamento Valor das parcelas Reduções 4% do débito em até 4 parcelas iguais e sucessivas, vencíveis entre setembro e dezembro de 2017. (art. 3º,I) Em até 176 parcelas mensais e sucessivas, vencíveis a partir de janeiro/2018 (art. 3º,II) O valor da parcela será o valor da dívida consolidada dividida em até 176 parcelas.(art. 3º,II) Valor mínimo da parcela: R$ 1.000,00 para Adq. de Prod. Rural. 25% das multas de mora e de ofício e dos encargos legais, incluídos os honorários advocatícios (art. 3º, II, a ) 100% dos juros de mora (art. 3º, II, b )
João Caetano Muzzi Filho Barroso, Muzzi, Barros, Guerra e Associados Advocacia e Consultoria Empresarial (31) 2103-8600 bmas@bmas.com.br