EXCELENTÍSSIMO SENHOR MINISTRO LUIZ FUX, MD RELATOR DA AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE Nº 5240. A ASSOCIAÇÃO DOS MAGISTRADOS DO ESPÍRITO SANTO AMAGES, sociedade civil com sede na rua desembargador Homero Mara, bairro Enseada do Suá, em Vitória-ES, CEP 29.050-906, eleva-se à presença de Vossa Excelência, sempre respeitosamente, para requerer admissão no feito na qualidade de AMICUS CURIAE, lastreada no que dispõe o artigo 7, 2, da Lei nº 9.868/99. É que a interessada representa a magistratura capixaba e, conforme finalidades estatutárias, tem o dever de representar os associados, pugnando sempre pela defesa dos direitos e dos lídimos interesses da classe e pelo prestígio do Poder Judiciário, além de defender os direitos, as garantias, as autonomias, as prerrogativas, os interesses e as reivindicações dos membros da Magistratura, conforme redação do artigo 1º, 2º, letras a e b do estatuto associativo que está anexo para a percepção da pertinência temática. No julgamento da Ação Direta de Inconstitucionalidade n. 1.157-MC, DJ 17.11.2006, o eminente Ministro Celso de Mello ressaltou que o requisito da pertinência temática (...) se
página 2 traduz na relação de congruência que necessariamente deve existir entre os objetivos estatutários ou as finalidades institucionais da entidade autora e o conteúdo material da norma questionada em sede de controle abstrato. É o caso dos autos. Associação dos Delegados de Polícia do Brasil considera existir inconstitucionalidade de atos normativos praticados pelo Tribunal de Justiça de São Paulo e pela Corregedoria Geral da Justiça daquela Corte, que teriam fixado a obrigatoriedade do delegado de polícia apresentar ao juiz toda e qualquer pessoa detida em situação de flagrante em até 24 horas após a prisão. Para a autora da presente ação, a assim tratada audiência de custódia seria inovação no ordenamento jurídico paulista, não prevista no Código de Processo Penal e que somente poderia ter sido estabelecida por lei federal e não por intermédio de provimento autônomo, uma vez que o poder de legislar sobre a matéria é de competência do Congresso Nacional. Essa iniciativa, sustenta a autora, avança sobre a competência federal para legislar sobre direito processual e, também, vulnera o Princípio da Separação de Poderes. E essa assertiva apresentada pela autora acaba por atingir provimento muito semelhante editado pelo Poder Judiciário do Estado do Espírito Santo, como bem pontuou a DEFENSORIA PÚBLICA DO ESTADO, já admitida como amicus curiae. O TRIBUNAL DE JUSTIÇA capixaba editou a resolução nº 13-2015, que cria o Projeto Plantão de Audiência de Custódia, no âmbito do Poder Judiciário do Estado do
página 3 Espírito Santo, estabelecendo, conforme o artigo 1º da norma interna, um estruturado Plantão de Flagrantes no âmbito do Poder Judiciário do Espírito Santo, com competência exclusiva para a análise dos autos de prisão em flagrante gerados nas diversas Delegacias e Departamentos de Polícia Judiciária da Grande Vitória, em cumprimento ao disposto no art. 310 do Código de Processo Penal. A RELEVÂNCIA DA MATÉRIA é bem evidente, porque a questão tratada nestes autos filia-se aos direitos de liberdade do cidadão, elementos que compõem, inclusive, os motivos determinantes do ato análogo editado pelo TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESPÍRITO SANTO, e que seriam frontalmente atingidos pela decisão a ser proferida por este SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL, assim: CONSIDERANDO que o art. 7º, item 5, da Convenção Americana de Direitos Humanos (Pacto de San José da Costa Rica), promulgada por meio do Decreto Presidencial nº 678, de 06 de novembro de 1992, garante que toda pessoa detida ou retida deve ser conduzida sem demora à presença de um Juiz; E como já sedimentado por esta SUPREMA CORTE, o requisito da relevância da matéria requer que a questão jurídica controversa extrapole os interesses subjetivos das partes, repercutindo em amplo segmento econômico, político e/ou social, em direitos difusos ou coletivos ou, ao menos, numa vasta gama de direitos individuais homogêneos. Aqui, no particular, o ato vergastado e originário da egrégia Corte paulista e o ato administrativo similar editado pelo Poder Judiciário capixaba têm invulgar relevância, excedendo o interesse da autora da presente ação direita e grassando por carreiras outras do sistema judiciário nacional, em especial pela magistratura brasileira.
página 4 Para além, e também como definido pelo SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL 1, A intervenção do amicus curiae, para legitimar-se, deve apoiar-se em razões que tornem desejável e útil a sua atuação processual na causa, em ordem a proporcionar meios que viabilizem uma adequada resolução do litígio constitucional. - A ideia nuclear que anima os propósitos teleológicos que motivaram a formulação da norma legal em causa, viabilizadora da intervenção do amicus curiae no processo de fiscalização normativa abstrata, tem por objetivo essencial pluralizar o debate constitucional, permitindo, desse modo, que o Supremo Tribunal Federal venha a dispor de todos os elementos informativos possíveis e necessários à resolução da controvérsia, visando-se, ainda, com tal abertura procedimental, superar a grave questão pertinente à legitimidade democrática das decisões emanadas desta Suprema Corte, quando no desempenho de seu extraordinário poder de efetuar, em abstrato, o controle concentrado de constitucionalidade. Ora, é a magistratura capixaba, cujas prerrogativas e interesses podem e devem ser defendidos pela AMAGES, que promove, atua e desenvolve o SERVIÇO DE PLANTÃO DE FLAGRANTES NO ÂMBITO DO PODER JUDICIÁRIO DO ESPÍRITO SANTO, sendo certo que as audiências de custódia serão realizadas no período de 08:00 às 18:00 horas e haverá, no mínimo, um juiz designado para cada dia, sem prejuízo do funcionamento regular da respectiva unidade judiciária, para a qual a Presidência poderá designar um Juiz colaborador. São os Juízes de Direito capixabas que atuam nesse relevantíssimo sistema e que podem, também, contribuir decisivamente 1 ADI 2321 MC, Tribunal Pleno, rel. Min. Celso de Mello, julgado em 25/10/2000.
página 5 para a melhor solução da lide, em ordem a proporcionar meios que viabilizem uma adequada resolução do litígio constitucional, como exigido pelo ministro CELSO DE MELLO em precedente já citado. Daí também se expõe a PERTINÊNCIA TEMÁTICA que vincula a AMAGES e a matéria tratada nos autos, consubstanciada na relação de congruência que necessariamente deve existir entre os objetivos estatutários ou as finalidades institucionais da entidade autora e o conteúdo material da norma questionada em sede de controle abstrato (1.157-MC). Ora, são os magistrados capixabas que, em regime de plantão e revezamento sem qualquer remuneração atuam durante todo o dia no novo sistema, não só decidindo sobre a liberdade do custodiado o que já seria tanto mas velando pela integridade física dos cidadãos encarcerados, de modo a encaminha-los aos serviços médicos em caso de indicação de violência ou tortura 2. Os números mostram a operosa atuação dos magistrados capixabas para a evolução desse importante mecanismo: Foram 813 audiências realizadas por magistrados capixabas associados da AMAGES, com o apoio e a supervisão do egrégio Tribunal de Justiça do Espírito Santo. E os registros digitais (áudio e vídeo), bem como cópia dos termos de audiência são remetidos 2 Artigo 8º O Juiz, diante das informações colhidas na audiência de custódia, poderá encaminhar o autuado para a realização de exame de corpo de delito quando vislumbrar possível abuso cometido durante a prisão em flagrante, devendo praticar os atos necessários à apuração do fato.
página 6 imediatamente aos setores correcionais competentes. Da mesma forma, se for o caso, o Custodiado é encaminhado a exame pericial complementar, nos termos da Recomendação nº 49, de 01/04/2014, do Conselho Nacional de Justiça 3. Inevitável concluir pela RELEVÂNCIA DO TEMA e pelo reconhecimento da PERTINÊNCIA TEMÁTICA no que toca à magistratura capixaba, da qual a AMAGES é representante por força estatutária. Assim, PEDE seja admitida como amicus curiae, conferindo-lhe a oportunidade de manifestar-se nos autos, inclusive com manifestação oral em plenário. Vitória, 13 de agosto de 2015. DELANO SANTOS CÂMARA RAPHAEL AMERICANO CÂMARA Advogado OAB/ES 7747 Advogado OAB/ES 8965 3 Conselho Nacional de Justiça, "Recomendação Nº 49 de 01/04/2014 - Dispõe sobre a necessidade de observância, pelos magistrados brasileiros, das normas - princípios e regras - do chamado Protocolo de Istambul, da Organização das Nações Unidas (ONU), e, bem assim, do Protocolo Brasileiro de Perícia Forense, em casos de crime de tortura e dá outras providências., publicado em 03/04/2014.