NOME SOCIAL: GARANTIA DE IDENTIDADE E DIGNIDADE NAS UNIVERSIDADES DO BRASIL

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Transcrição:

NOME SOCIAL: GARANTIA DE IDENTIDADE E DIGNIDADE NAS UNIVERSIDADES DO BRASIL 392 Débora Walter dos Reis 1 Betânia dos Anjos do Carmo 2 Ana Carolina do Carmo Leonor 3 RESUMO No Brasil não há, até o momento, nenhuma lei federal que regule e assegure ao cidadão o uso do nome social por pessoas travestis e transexuais. Não há, igualmente, uma lei que permita a alteração do prénome de registro de forma simples, ágil e fácil. Dessa forma, muitos órgãos da Administração Pública tem tentado criar estratagemas para que o Nome Social seja reconhecido e incorporado às suas rotinas visando, dessa forma, assegurar respeitabilidade e permanência desses estudantes nas instituições de ensino superior. Esse trabalho tem, portanto, por finalidade discutir o conceito de Nome Social bem como apresentar algumas instituições no Brasil que adotaram essa estratégia como forma de reconhecer a identidade de um grupo de cidadãos historicamente marginalizados pela sociedade. PALAVRAS CHAVE Nome Social; Transexual; Travesti; Identidade; Reconhecimento. Introdução O respeito é algo imprescindível para o exercício da cidadania. Respeitar o próximo é, sem dúvida, uma forma de respeitar a si mesmo. Assim, garantir respeito e dignidade a outrem, nada mais é do que garantir a sua própria liberdade de escolha, de consentimento, de ação e da própria existência. A Resolução 12 de 16 de janeiro de 2015 da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República, estabelece parâmetros para a garantia das condições de acesso e permanência de pessoas travestis e transexuais e todas aquelas que tenham sua identidade de gênero não reconhecida em diferentes espaços sociais nos sistemas e instituições de ensino, formulando orientações quanto ao reconhecimento institucional da identidade de gênero e sua operacionalização. (BRASIL, 2015, p. 01) O uso do nome social, embora tema fim, não se constitui em si mesmo um objetivo, mas é parte de uma estratégia para o reconhecimento da identidade (em sua dimensão de gênero) de um grupo social historicamente marginalizado. Reconhecer a identidade de pessoas travestis e transexuais, entre outras, começa, sem dúvida, pelo reconhecimento do nome com o qual elas se identificam, mas não encerra aí. Reconhecer este sujeito de fato 1 Graduada em Direito pela Universidade Federal de Ouro Preto e Especialista em Direito Público pelo Instituto Newton Paiva. E mail: deborawr.uabadm@cead.ufop.br. 2 Graduada em Museologia pela Universidade Federal de Ouro Preto e Especialista em: betania.dosanjos@yahoo.com.br. 3 Graduanda em História pela Federal de Viçosa. E mail: ana.leonor@ufv.br

NOME SOCIAL: GARANTIA DE IDENTIDADE E DIGNIDADE NAS UNIVERSIDADES DO BRASIL demanda reconhecer sua identidade de gênero de forma integral, respeitando a, sempre que a dimensão de gênero se expressar nas relações interpessoais, na organização do espaço de uso coletivo, nos procedimentos administrativos, na gestão, no currículo e na prática pedagógica. (BRASIL(a), 2015, p. 01) Portanto, assegurar esse direito a esses cidadãos não é só garantir que haja um combate ao combatam o preconceito e a discriminação que atingem pessoas travestis e transexuais e o respeito à identidade de gênero no âmbito escolar. É garantir uma política pública afirmativa da igualdade de direitos dessa população que muitas vezes não tem o direito a usar sequer, o banheiro da escola por não serem aceitas como são. 393 Nome Social Toda pessoa natural dotada de personalidade tem direito a ter um nome que conta no registro de nascimento, de acordo com o Art. 16º do Código Civil Brasileiro: Art. 16. Toda pessoa tem direito ao nome, nele compreendidos o prenome e o sobrenome. (BRASIL, 2002, s.p.) Desse modo, é possível definir o nome civil como sendo aquele que contem o prenome e sobrenome. Aquele que todas as pessoas naturais têm direito de possuir. Esse nome civil possui dois aspectos, um privado, que é o direito da pessoa em ter um nome e defender este nome que possui, bem como o direito de ser reconhecido e chamado por esse nome. E um aspecto público que versa sobre o indivíduo em sua vida pública, ou seja, sobre a necessidade e a obrigatoriedade de usar seu nome quando for assinar contratos e atividades similares, pois o nome, nesse caso, é a identificação do sujeito. Assim, pode se concluir que as funções do nome civil são: identificar e individualizar a pessoa natural. Cabe salientar que tal individualização deve ser entendida como individualizar a pessoa natural dentro dos grupos sociais que ela frequenta ou faz parte, como família, escola, reduzindo assim, consideravelmente, a possibilidade de homonímia. (RODRIGUES, 2013, s.p.). O nome civil, até meados do século passado, era capaz de identificar pessoas com seus respectivos gêneros. No que concerne ao nome social, o autor mesmo autor conceitua; O nome social pode ser definido como um nome civil que não aderiu à personalidade da pessoa natural, portanto é o prenome que é utilizado publicamente distinto do nome civil de quem o utiliza. É permitido aos transexuais e, em alguns casos, na vida escolar, quando por exemplo um aluno não quer ser chamado por seu nome civil. Desse modo difere se nome social de apelido, pois se assim fosse em praticamente todos os atos da vida seria permitido a todos ser chamado por seu apelido, sendo a distinção máxima a falta de aderência do nome civil à personalidade da pessoa natural exemplo mais aceito: transexual em que o fato de ser chamado por seu nome civil causa constrangimento e exposição notoriamente constante ao ridículo, dado que o nome civil não representa a pessoa natural. É evidente que a utilização de um prenome distinto do nome civil perante a sociedade enfraquece o dever de uso do nome civil, porém em tais casos dá se primazia à personalidade e respeito aos que, por motivos evidentes, querem ser chamados de nomes distintos do nome civil.

GÉNERO, DIREITOS HUMANOS E ATIVISMOS ATAS DO V CONGRESSO INTERNACIONAL EM ESTUDOS CULTURAIS 394 Portanto, o uso do nome social é uma garantia de respeito à dignidade da pessoa uma vez que o seu uso traduz a forma como a pessoa se vê, como quer ser reconhecida e tratada nos ambientes de convívio social. A escola, como espaço social que é, deve encarar o nome social como uma necessidade de adequação legal no que tange ao reconhecimento e identificação do sujeito. Com vistas a tal necessidade, muitas universidades tem adequado seus registros acadêmicos a essa necessidade premente. As preocupações em torno das sexualidades, das homossexualidades e das identidades e expressões de gênero também não são novas no espaço escolar. No entanto, no Brasil, só a partir da segunda metade dos anos de 1980, elas começaram a ser discutidas mais abertamente no interior de diversos espaços sociais entre eles, a escola e a universidade (sobretudo nos programas de pós graduação, a partir dos quais se constituíram Núcleos de Estudos e Pesquisas sobre Gênero e a área de Estudos Gays e Lésbicos) (BRASIL 2007, p. 12). De acordo com o parecer nº 01 de 16 de janeiro de 2015, em levantamento realizado no primeiro semestre de 2014 foram identificadas 20 Universidades Federais, 05 Universidades Estaduais, 06 Institutos Federais de Educação Ciência e Tecnologia que já normatizaram o reconhecimento da identidade de gênero de pessoas travestis e transexuais. Outras instituições de ensino superior estão neste momento em processo de normatização do uso no nome social. O Ministério da Educação reconhece o direito de travestis e transexuais ao uso do nome social no âmbito de sua administração, desde a publicação da Portaria nº 1.612, de 18 de novembro de 2011 esta, por sua vez, inspirada na portaria nº 233 de 18 de maio de 2010 do Ministério do Planejamento Orçamento e Gestão. Na educação básica, das 27 unidades federativas, 16 já regulam, através dos conselhos e secretarias estaduais de educação, a implementação do nome social em suas redes de ensino. Em 2014, vale destacar, pela primeira vez, os travestis e transexuais puderam usar seu nome social no Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM). Essa diretriz tem sido, portanto, à custa de muito diálogo e considerações, levada a caso pelas instituições de ensino no país. Já existem estudos que comprovam que o Nome Social tem sido uma forma estratégia, por exemplo, contra a evasão escolar. (BRASIL, 2015, p. 01) Esse mesmo documento relata traz a sustentação teórica e inspiradora para a concepção da Resolução nº 12 de 16 de janeiro de 2015. No processo de construção de sua identidade de gênero, pessoais travestis e transexuais em geral assumem um nome social, que vem substituir, em suas relações sociais, o nome de registro civil. A assunção deste nome social não é mera superficialidade, mas, pelo contrário, está intimamente ligada à afirmação de sua identidade. Quando a instituição ou rede de ensino não se dirige a esses estudantes utilizando o nome social que reflete sua identidade de gênero, nega lhe o reconhecimento de sua própria identidade, contribuindo inclusive para torna la/o mais vulnerável a situações de violência e discriminação. Ser diariamente interpelados ou interpeladas com um nome que não reflete a construção subjetiva de si constitui uma experi~encia humilhante e constrangedora com um claro impacto emocional e motivacional sobre esses sujeitos. (BRASIL 2015, p. 02).

NOME SOCIAL: GARANTIA DE IDENTIDADE E DIGNIDADE NAS UNIVERSIDADES DO BRASIL Portanto, a utilização do nome social na escola, além de um direito, é importantíssimo para esses indivíduos. Não cabe, portanto, à comunidade escolar julgar o caráter e a personalidade das pessoas a partir do sexo biológico ou dos rótulos criados para marginalizar esse cidadão ou cidadã que também é detentor de direitos básicos como à educação pública, gratuita e de qualidade, com dignidade. Operacionalização Tendo como base: 1) as Diretrizes Nacionais para a Educação em Direitos Humanos, que definem como seus fundamentos, entre outros, a dignidade humana, a igualdade de direitos; o reconhecimento e valorização das diferenças e das diversidades; a laicidade do Estado e a democracia da educação; 2) os compromissos assumidos pelo Governo Federal no que concerne à implementação do Programa Brasil sem Homofobia Programa de Combate à Violência e à Discriminação contra GLBT e de Promoção da Cidadania Homossexual (2004), do Plano Nacional de Promoção da Cidadania e dos Direitos Humanos de LGBT (2009), do Programa Nacional de Direitos Humanos PNDH3 (2009) e do Plano Nacional de Políticas para as Mulheres (2012); 3) as deliberações aprovadas pela Conferência Nacional de Educação Básica Coneb (2008), pela 1ª Conferência Nacional GLBT (2008), pela Conferência Nacional de Educação Conae (2010) e pela 2ª Conferência Nacional de Políticas Públicas e Direitos Humanos de LGBT (2011), o parecer 01 de 16 de janeiro de 2015 traz indicações para a operacionalização do reconhecimento da identidade de gênero, construída a partir dos parâmetros elencados acima e com base em pesquisas e experiências acumuladas ao longo dos diálogos promovidos em encontros que versaram sobre o tema. 1. Instrumento legal e instância deliberativa podendo ser regulamentadas por Resoluções, portarias ou congêneres. O importante é que tal regulamentação tenha caráter normativa e que as instituições e redes de ensino busquem, dentro do ordenamento deliberativo, o instrumento mais adequado para tal regulamentação 2. Destinatários(as) dos instrumentos que regulamentam o reconhecimento da identidade de gênero a orientação é que haja uma auto identificação, em que o sujeito afirme a sua própria identidade sem levar, dessa forma, me consideração laudos médicos, psicológicos ou características físicas. O importante, então, é o que o sujeito compreende ser ele mesmo ou mesma. 3. Maioridade Legal a s0licitação deverá e poderá ser feita por maiores de 18 anos, sujeitos de direito, inclusive no que diz respeito à personalidade e também aos menores devidamente assistidos pelos seus representantes legais. 4. Tratamento Oral O uso do nome social nas relações interpessoais é a primeira instância de reconhecimento. Se o nome civil registrado no documento de identidade produz constrangimentos eventuais, a interpelação cotidiana por um nome que não reflete a identidade do sujeito produz agravos constantes e permanentes é imprescindível que as instituições de ensino assegurem a esses cidadãos o tratamento oral pelo nome social em qualquer circunstância. 5. Instrumentos de Identificação de uso interno considerando que o reconhecimento do nome tem por objetivo, entre outros, reduzir situações de constrangimento e assédio, é importante que este reconhecimento se reflita também em todos os instru 395

GÉNERO, DIREITOS HUMANOS E ATIVISMOS ATAS DO V CONGRESSO INTERNACIONAL EM ESTUDOS CULTURAIS 396 mentos internos de identificação, garantindo que a identidade de gênero seja respeitada em todos os momentos e espaços da vida acadêmica. Isso não significa que haja necessidade de vincular nome social ao nome civil em instrumentos que não configuram como documentos oficiais. Sendo assim, é indicável às redes e instituições de ensino a garantia do uso exclusivo do nome social em instrumentos internos de identificação, mantendo registro administrativo que faça a vinculação entre o nome social e a identificação civil. 6. Documentos oficiais Como ainda há empecilhos legais para o uso do nome social em documentos oficiais, o que se recomenda é que seja utilizado o nome civil para emissão de documentos oficiais, garantindo concomitantemente, com igual ou maior destaque, a referência ao nome social. 7. Uniformes e demais normas de indumentária quando não há uniforme propriamente dito, é comum observar regras quanto ao uso de elementos de vestimenta e outros objetos. Caso haja distinções quanto ao uso de uniformes e demais elementos de indumentária, é indicável que tais normas sejam aplicadas de acordo com tais normas sejam aplicadas de acordo com a identidade de gênero dos/das estudantes. 8. Uso de espaços segregados por gênero se objetivamos, mais do que o reconhecimento do nome, o reconhecimento da identidade de gênero dos e das estudantes, é preciso que este reconhecimento seja integral, contemplando todos os aspectos de sua vida escolar e acadêmica, incluindo o acesso a espaços segregados por gênero de acordo com sua identidade. Desse modo, indica se que os espaços separados por gênero sejam utilizados de acordo com a auto identificação de gênero de cada pessoa. São essas, portanto, as diretrizes que devem ser as norteadoras para a aplicação e normatização das questões pertinentes aos direitos dos travestis e transexuais no que diz respeito ao uso do nome social. O Caso da UFV Universidade Federal de Viçosa A Universidade Federal de Viçosa UFV foi uma das Universidades pioneiras no que tange à regulamentação do uso do nome social. A normativa é de 04 de junho de 2013 e tratase de uma Resolução do Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão na referida universidade, órgão máximo de deliberação no plano didático científico e tem por escopo regulamentar o uso de nome social por estudantes, servidores técnico administrativos e docentes na UFV. Art. 1º. Fica assegurado às pessoas transexuais e travestis, o direito à escolha de tratamento nominal nos registros, documentos e atos da vida acadêmica na Universidade Federal de Viçosa. I Nome social: prenome pelo qual a pessoa é conhecida na comunidade e em sua inserção social, não constando do registro civil. II A utilização do nome social não gera o direito à alteração do nome civil. III Será permitida apenas a inclusão do prenome, não sendo permitido a inclusão, exclusão ou qualquer alteração do sobrenome. IV A inserção do nome social nos documentos oficiais emitidos não implica a exclusão do nome prenome e sobrenome constante do registro civil. Art. 2º. O uso do nome social deve ser solicitado pela pessoa interessada, através de requerimento, onde é citado o nome social a ser utilizado, entregue na Diretoria de Registro Es

NOME SOCIAL: GARANTIA DE IDENTIDADE E DIGNIDADE NAS UNIVERSIDADES DO BRASIL colar, com assinatura devidamente reconhecida em cartório. Parágrafo Único Nos casos de menores de dezoito anos, a inclusão do nome social deverá ser requerida assinatura, reconhecida em cartório, dos pais, no próprio requerimento. Art. 3º. A utilização do nome social será regulamentada da seguinte forma: I O nome social constará da carteirinha de estudante, listas de chamadas, históricos escolares de uso interno, processos internos, endereço eletrônico. documentos de uso interno da Universidade, de visualização aberta ao público. II Nos diplomas, certificados e históricos oficiais, deverá constar o nome civil. III Na solenidade de colação de grau, a outorga de grau será realizada utilizando, na cerimônia, o nome social, devendo constar da respectiva ata o nome social, seguido do nome civil. Art. 4º. Esta Resolução entrará em vigor na data de sua publicação. 397 Usando de quatro artigos, a UFV assegura a todos a possibilidade de uso no Nome Social nos registros acadêmicos e afins. Fundamentada nas portarias e outras normativas que versam sobre o tema, a Resolução CEPE 13/2013 da UFV oferece aqueles que requerem a possibilidade de terem seu direito e dignidade respeitados por toda a comunidade acadêmica. Essa medida assegura, entre outras, que os alunos travestis e transexuais não sejam discriminados e, dessa forma, não sejam impelidos à evasão escolar. Além disso, tal medida é portadora da indiscutível necessidade de respeitar a Constituição da República do Brasil quando a mesma versa sobre a dignidade humana, sobre as questões do oferecimento de educação de forma gratuita e isonômica. Conclusão Na busca pela legitimação e efetivação do direito de educação para todos e todas, o Estado brasileiro vem investindo nos últimos anos em políticas públicas que têm como pressuposto a ampliação de acesso, permanência e aprendizagem de grupos sociais que, historicamente, são excluídos e marginalizados do sistema educacional do país. Esse enfrentamento é fruto de muitas lutas, de discordâncias, de dissonâncias e de respostas às desigualdades oriundas de uma sociedade voltada e criada sob efeitos de paradigmas impostos por preconceitos sociais. Trata se de um processo de democratização e de nivelamento das diferenças às quais estamos submetidos cotidianamente e que têm por objetivo alcançar esses grupos mais vulneráveis, incluindo essas pessoas que, até então, sempre se sentiram à margem da sociedade, discriminados pela opção de serem o que são.7 Assim, o reconhecimento da identidade de gênero do sujeito não se configura simplesmente em um procedimento administrativo por si só. É uma diretriz que visa orientar uma ação educativa inclusiva que tenderá criar um espaço mais isonômico para aqueles que querem ter um futuro pautado em condições de igualdade, inclusive no que tange ao uso dos espaços. Portanto, tal como preconiza o parecer 01 de 16 de janeiro de 2015 (Brasil, 2015, p. 06), A afirmação da diversidade e da igualdade, em articulação, têm sido princípio orientador das políticas públicas no Brasil, especialmente nos últimos anos. O professo de superação de hierarquizações, discriminações e desigualdades traz consigo, invariavelmente, algum tensionamento, na medida em que afeta privilégios e hegemonias no campo material, político e simbólico. Nesse sentido é fundamental que as instituições e redes de ensino conti

GÉNERO, DIREITOS HUMANOS E ATIVISMOS ATAS DO V CONGRESSO INTERNACIONAL EM ESTUDOS CULTURAIS nuem progredindo na direção de garantir o acesso e permanência na escola de todos os sujeitos, em igualdade de condições, como preconiza nossa legislação pátria. 398 Referências Bibliográficas Brasil. (2002). Institui o Código Civil. Acedido em 15 de novembro de 2015, em http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10406.htm#art2045. Brasil. (2007). Gênero e Diversidade Sexual na Escola: reconhecer diferenças e superar preconceitos. Revista do Ministério da Educação. Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade SECAD.2007. Acedido em 20 de novembro de 2015, em http://portaldoprofessor.mec.gov.br/storage/materiais/0000015505.pdf. Brasil. (2015). Parâmetros para reconhecimento institucional da identidade de gênero e sua operacionalização na busca de garantia das condições de acesso e permanência de pessoas travestis e transexuais e todas aquelas que tenham sua identidade de gênero não reconhecida em diferentes espaços sociais nos sistemas de instituições de ensino. Parecer nº 01 de 16 de janeiro de 2015. Acedido em 31 de outubro de 2015, em http://www.neab.ufpr.br/wp content/uploads/2015/03/resolucao 12 e Parecer CNDC LGBT Identidade de genero na educacao.pdf. Brasil(a). (2015). Estabelece parâmetros para a garantia das condições de acesso e permanência de pessoas travestis e transexuais e todas aquelas que tenham sua identidade de gênero não reconhecida em Diferentes espaços sociais nos sistemas e instituições de ensino, formulando orientações quanto ao reconhecimento institucional da identidade de gênero e sua operacionalização. Resolução nº 12 de 16 de janeiro de 2015. Acedido em 31 de outubro de 2015, em http://www.sdh.gov.br/sobre/participacao social/cncd lgbt/resolucoes/resolucao 012. Rodrigues, Gustavo. (2013). Nome Civil x Nome Social [Versão eletrônica]. JusBrasil, 17. Acedido em 22 11 2015, em http://gustavorodriguesgr18.jusbrasil.com.br/artigos/111988247/nomecivil x nome social. UFV. (2013). Resolução CEPE no. 13/2013. Regulamenta o uso de nome social por estudantes, servidores técnico administrativos e docentes na UFV. Universidade Federal de Viçosa. Viçosa. Acedido em 22 de novembro de 2015, em http://www.soc.ufv.br/wp content/uploads/13_13.pdf.