CULTURA MISSIONEIRA: ARTE E IDENTIDADE DE UM POVO Juliana Antes 1 Renata Barth Machado 2 RESUMO: A construção das identidades fundamenta-se, geralmente, em locais históricos estabelecendo sistemas, tradições, valores e até mesmo relações sociais como é o caso da região das Missões, cujo passado está enraizado em grande variedade de elementos culturais do gaúcho tradicional, da musicalidade e das obras artísticas e materiais que sintetiza o passado missioneiro como um processo de criação identitária, moldando as relações e as práticas sociais. Tendo em vista a riquíssima cultura das Missões e sua vasta produção nas diversas manifestações artísticas, presentes até os dias atuais, o projeto Cultura Missioneira: Arte e identidade de um povo, objetiva Preservar a identidade cultural missioneira, considerando o contato com as diferentes manifestações artísticas, desde a herança da cultura Guarani até as produções dos tempos atuais, para a construção da identidade, valorização e preservação do Patrimônio Artístico da Região das Missões. Partindo da premissa que desde os primórdios do século XVII até a contemporaneidade a região das Missões é reconhecida pelo número considerável de artistas, no qual destacam-se os Quatro Troncos Missioneiros, Cenair Maicá (1947-1989), Jaime Caetano Braum (1924-1999), Noel Guarany (1941-1998) e Pedro Ortaça (1942). Diante disto, o presente artigo tem como intuito desenvolver um estudo sobre a Cultura Missioneira na educação básica, para que através da Arte ocorra a sensibilização e preservação dos elementos da tradição missioneira, seja através da língua, da dança, da música, do artesanato, da arte, dos festivais, das lendas e/ou dos contos. PALAVRAS-CHAVE: Valorização da Cultura Missioneira; Troncos Missioneiros; Arte. 1. INTRODUÇÃO Partindo da premissa que, desde os primórdios do século XVII até a contemporaneidade a região das Missões é reconhecida pelo número considerável de artistas, no qual destacam-se os Quatro Troncos Missioneiros, Cenair Maicá (1947-1989), Jaime Caetano Braum (1924-1999), Noel Guarany (1941-1998) e Pedro Ortaça (1942). Diante disto, o presente artigo tem como intuito demonstrar o desenvolvimento de um projeto 1 Professora de Arte da Escola de Educação Básica URI de São Luiz Gonzaga/RS Brasil. Pós- Graduada Artes Visuais: Cultura & Criação pelo SENAC de Porto Alegre e Mestranda do Curso PPGEnCT da URI Santo Ângelo/RS. E-mail: julianaantes@bol.com 2 Professora de Matemática da URI de São Luiz Gonzaga/RS Brasil. Pós-graduada em Metodologia do Ensino de Matemática e Física. Mestre em Ensino Científico e Tecnológico do PPGEnCT da Universidade Regional do Alto Uruguai e das Missões-URI-Santo Ângelo/RS. E- mail:renatahmad@hotmail.com
desenvolvido sobre a Cultura Missioneira, demonstrando que, através da Arte ocorra à sensibilização e preservação dos elementos da tradição missioneira, seja através da língua, da dança, da música, do artesanato, dos festivais, das lendas e/ou dos contos. O projeto Cultura Missioneira: Arte e Identidade de um Povo está sendo desenvolvido com os acadêmicos dos cursos de graduação concomitante com os alunos da Escola Básica da instituição da URI São Luiz Gonzaga. Os objetivos propostos com este estudo têm o intuito de preservar a identidade cultural missioneira, considerando o contato com as diferentes manifestações artísticas, desde a herança da cultura Guarani até as produções dos tempos atuais, para a construção da identidade, valorização e preservação do Patrimônio Artístico da Região das Missões. Vale ressaltar que, a música missioneira teve três momentos distintos: anterior a chegada dos jesuítas (músicas dos chocalhos e tambores executada pelos índios-guarani), período jesuítico (união de instrumentos de corda trazidos pelos padres e uso de instrumentos de origem guarani) impulsionado, aprimorado e construído dentre eles, órgão e harpa pelo padre Antônio Sepp, e por fim, após a expulsão dos jesuítas é introduzida a gaita surgindo a diversidade de ritmos musicais com a influência espanhola. Para tanto o projeto segue em andamento com a proposta de constante busca por pesquisas, visitas, entrevistas e momentos culturais e artísticos. 2. IDENTIDADE MISSIONEIRA A identidade é o que nos diferencia dos outros, o que nos caracteriza como pessoa ou como grupo social, sendo definida por um conjunto de papéis que desempenhamos e é determinada pelas condições sociais decorrentes da produção da vida material. Quando mencionamos identidade cultural, referimo-nos ao sentimento de pertencimento a um grupo social, ou seja, aquele em que nascemos e que absorvemos ao longo de nossas vidas, aquilo que é fruto de toda uma construção coletiva e histórica, que nos é peculiar, que nos identifica num contexto mais abrangente, que está presente no nosso cotidiano e é transmitida, fundamentalmente, por meio da cultura. A identidade cultural fundamenta-se nos patrimônios simbólicos e nas relações sociais historicamente perpassados que estabelecem a comunhão de determinados valores entre os membros de uma sociedade, geralmente em locais históricos, estabelecendo sistemas e
tradições, com suas próprias características, distinguindo-se de um povo do outro. Vivenciamos no dia a dia o vocabulário gaúcho, exemplo característico de um grupo, assim como a visão de valores morais, a arte, a culinária, os modos de vestir, pensar e agir dentre outros. Lembrando que esta identidade não é uma identidade natural, geneticamente herdada, ela é construída. Hall (1999, p. 50) assim a define: uma cultura é um discurso um modo de construir sentidos que influencia e organiza tanto nossas ações, quanto a concepção que temos de nós mesmos. Nesse contexto, pode-se dizer que, a cultura é essencialmente vinculada ao processo de formação da sociedade humana, expressando seus valores, comportamentos e sua arte, dentre outros elementos, que se tornam referenciais para a construção e composição de suas identidades, como é o caso da Região das Missões, cujo passado está enraizado em grande variedade de elementos culturais do gaúcho tradicional, da musicalidade e das obras artísticas materiais que sintetiza o passado missioneiro como um processo de criação identitária, moldando as relações e as práticas sociais. No que tange às narrativas missioneiras, Nagel expõe que: Entre a gama de representações das Missões, originadas sobretudo a partir dos remanescentes arquitetônicos e artísticos dos Sete Povos das Missões, encontramos uma vasta produção folclórica, literária, teatral, cinematográfica e artística, de um modo geral, que têm como referência a própria história da região. (2004, p. 37). No que se refere à musicalidade e à poesia, os Quatro Troncos Missioneiros referenciam nossa histórica região: Cenair Maicá (1947-1989) conhecido por cantar a natureza e os índios; Jaime Caetano Braum (1924-1999) destacou-se como El Payador; Noel Guarany (1941-1998) na adolescência, aprendeu, de maneira autodidata, o idioma guarani, bem como a compor, tocar e cantar; Pedro Ortaça (1942) suas composições enaltecem o passado, além de homenagear outros cantores missioneiros. À expressão Troncos Missioneiros sugere-se a analogia ao tronco de uma árvore, em que se tem ramificações e, consequentemente, novas identidades se reconstroem, mas sempre perpetuando a beleza e o diferencial da identidade das Missões. De acordo com Jaime Giolo:
Além de estudos e livros, e de forma mais intensa e viva, São Luiz Gonzaga integra o imaginário dos rio-grandenses, e o meu de modo particular, por meio da produção cultural poesia e música, sobretudo de vultos artísticos da envergadura de Jayme Caetano Braum, Noel Guarani e Pedro Ortaça. Tanto li, tanto ouvi, tanto cantei/recitei a historiografia e a arte missioneira que, tão logo pus os pés nessa cidade, senti-me como retornando à minha própria casa (2013, p.9). Desta forma, com sua arte, os Troncos Missioneiros contribuíram decisivamente para impedir que a história da nossa região fosse apagada. Esses artistas continuam difundido a nossa cultura e, de modo especial, o talento de Pedro Ortaça, que com seus cantos e versos continua propagando, em pleno século XXI, a riqueza da história missioneira, para muito além das margens do rio Uruguai. Muitas vezes o caráter de identidade dos lugares são apreendidos a partir de letras, melodias, instrumentação e da percepção geral ou do impacto sensorial da música. (KONG, 2007, p. 137). Desse modo, o presente projeto valoriza a cultura missioneira a partir de um abordagem educacional da música e da cultura como instrumento de construção de identidades. Ao reconhecer esse legado, a URI São Luiz Gonzaga está executando o projeto de pesquisa Cultura Missioneira: Arte e identidade de um povo, que visa estudar e preservar a identidade cultural missioneira. Neste sentido, percebemos a importância de incentivar a transmissão e a sensibilização não só da música, mas dos costumes e da arte, de geração à geração, enfatizando e fomentando a musicalidade missioneira como forma de expressão da cultura como cerne, sugerindo a analogia ao tronco de uma árvore, onde se tem ramificações e, consequentemente, novas identidades se reconstroem, mas sempre perpetuando a beleza e o diferencial da identidade das Missões. A execução do projeto Cultura Missioneira: Arte e Identidade de um Povo, desenvolvido com os acadêmicos dos cursos de graduação concomitante com os alunos da Escola Básica da instituição da URI São Luiz Gonzaga contempla atividades de planejamento, visitas e propostas de atividades culturais. Sendo assim, ao longo do ano realiza-se encontros com o bolsista visando o aprimoramento da pesquisa e debates em torno de leituras com o propósito de criar novas estratégias para a divulgação da Cultura Missioneira, tendo em vista que o incentivo e a
valorização da cultura se dão através da sensibilização e valorização das raízes históricas e artísticas de um povo. Neste sentido, foi idealizado, pelo acadêmico bolsista, a criação de uma página na internet, por meio da rede social Facebook, com vistas a divulgar ações do projeto bem como rememorar frases, músicas e poesias dos artistas missioneiros. Destaca-se, a participação em eventos como a 32ª Feirarte, que contemplou a exposição de artistas locais, com obras de artes plásticas e artesanato. Foi acompanhado, também, uma atividade envolvendo os alunos do 9º ano do ensino fundamental da Escola Básica da URI-SLG, em que foram apresentados trabalhos alusivos aos quatro troncos missioneiros, a atividade foi coordenada pela 1ª Prenda do CTG Galpão de Estância Laura Lima Frota. Outra atividade importante, diz respeito à participação na reunião para o planejamento da I Conferência Municipal de Cultura, bem como sobre a reorganização do Conselho Municipal de Cultura. Dada à relevância das atividades e do tema, pretende-se ampliar os estudos juntamente com os acadêmicos dos cursos de graduação da instituição concomitante com os alunos da Escola Básica, em uma perspectiva de ações interdisciplinares. Pois através das atividades propostas e pensadas até o momento, acredita-se que é de grande relevância à sociedade, conhecer as diferentes manifestações artísticas que contribuíram para construção da identidade local, reconhecer as suas especificidades das principais raízes históricas sensibilizando dessa forma, a população local e regional sobre a importância do seu patrimônio artístico e cultural. Portanto, pensamos que, estabelecer relações entre conceitos abordados em sala de aula com a história, costumes, identidade, além de outros agentes culturais da Região das Missões, auxilia a dar o apoio necessário a construção do ponto de memória coletiva da comunidade local. 3. CONCLUSÃO Assim, ao pesquisar essa temática, temos o intuito de contribuir para a preservação da identidade cultural missioneira, considerando o contato com as diferentes manifestações
artísticas, desde a herança da cultura Guarani até as produções dos tempos atuais. Trata-se de um projeto relevante pois se ao valorizar o Patrimônio Artístico da Região das Missões, estaremos favorecendo a integração, reconhecendo nossas raízes e a origem das características que nos concedem essa identidade missioneira, conhecida além das fronteiras territoriais. Dessa forma, a continuidade do projeto efetiva-se na constante busca e revitalização da importância e relevância do estudo, pesquisa e preservação da produção artística das missões. Lembrando que, atualmente, os costumes e a música missioneira tem característica regionalista nos ritmos e nos cantos que lembram a perda da terra pelo índio, o amor à liberdade, os mistérios das catedrais e a vida gaudéria do homem campeiro que não gosta de fronteiras. BIBLIOGRAFIA GUTIERREZ, Ramón. As missões Jesuíticas dos Guaranis. Rio de Janeiro: SPHAN, 1987. HALL, S. A identidade cultural na pós-modernidade. Rio de Janeiro: DP&A, 1999. KONG, Lily. Música Popular nas análises geográficas. In: CORREA, R. L. & ROSENDAHL, Z. (org.) Cinema, música e espaço. Rio de Janeiro: EDUERJ, 2009. NAGEL, Liane Maria. As Missões Guarani - Jesuíticas no imaginário e nas representações das Artes Visuais: Rio Grande do Sul, segunda metade do século XX. Porto Alegre: PPGH/ UFRGS, 2004. (Tese de Doutorado). NASCIMENTO, Anna Olívia; OLIVEIRA, Ivone de Avila. Vultos e Fatos da História de São Luiz Gonzaga. São Luiz Gonzaga: Gráfica A Notícia, 2013. OLIVEIRA, Marilda. Identidade e Interculturalidade História e Arte Guarani. Santa Maria, EditoraUFSM, 2004. POMMER, Roselene Moreira Gomes. Missioneirismo - história da produção de uma identidade regional. Porto Alegre: Martins Livreiro, 2009.