Uma experiência em Laboratório de Jornalismo: relato de estágio-docência na disciplina

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Transcrição:

FÓRUM NACIONAL DE PROFESSORES DE JORNALISMO (FNPJ) XIV ENCONTRO NACIONAL DE PROFESSORES DE JORNALISMO X CICLO NACIONAL DE PESQUISA EM ENSINO DE JORNALISMO MODALIDADE DO TRABALHO: Relato de Experiência GRUPO DE PESQUISA: Projetos Pedagógicos e Metodologias de Ensino Uma experiência em Laboratório de Jornalismo: relato de estágio-docência na disciplina Leonel Azevedo de Aguiar 1 e-mail: laaguiar@uol.com.br Luisa Prochnik 2 e-mail: luisap.rj@gmail.com Palavras-chaves: ensino de jornalismo; teorias do jornalismo; metodologias de ensino; projeto pedagógico. 1. Introdução A proposta deste trabalho é relatar a experiência do estágio em docência na disciplina Laboratório de Jornalismo, lecionada para estudantes do sétimo período do curso de Comunicação Social da PUC-Rio, durante o primeiro semestre letivo de 2010. Pretende-se, de forma resumida, descrever o modo como a disciplina foi apresentada aos alunos e discutir a importância da reflexão teórica no ensino de práticas jornalísticas. A proposta de mesclar conceitos advindos da Teoria do Jornalismo, especialmente na abordagem do newsmaking e os critérios de noticiabilidade e valores-notícia, à produção de texto tem por objetivo possibilitar que o aluno consiga, mais facilmente, responder à questão proposta por Nelson Traquina: Qual o papel dos jornalistas na produção de notícias? Por que as notícias são como são? Afinal, qual o papel do jornalismo na sociedade (...)? (2005; p. 145). 1 Coordenador do Curso de Comunicação Social da PUC-Rio e professor do Programa de Pósgraduação em Comunicação. Na graduação, ministra a disciplina Laboratório de Jornalismo. Doutor e Mestre em Comunicação e Cultura (UFRJ). Jornalista formado pela UFF, integra o Conselho Consultivo do FNPJ. 2 Professora do curso de Comunicação Social da Universidade Estácio de Sá, onde leciona as disciplinas Redação Jornalística III (produção de texto para televisão) e Redação Jornalística IV (produção de texto para internet). Mestre em Comunicação Social pela PUC-Rio e graduada na FACHA. Editora executiva da Central Globo de Esportes, na TV Globo. Realizou estágiodocência no Departamento de Comunicação Social da PUC-Rio, em Laboratório de Jornalismo.

Para esse fim, a disciplina Laboratório de Jornalismo foi ministrada intercalando aulas em salas convencionais, com exposição e discussão teóricas, a aulas no laboratório em que cada aluno tinha acesso ao computador para pesquisar, planejar e escrever sua pauta e produzir seu texto. Exigiu-se dos estudantes a leitura de diversos autores da Teoria do Jornalismo com a proposta de sempre relacionar os apontamentos do texto às práticas cotidianas dos profissionais. Cabe ressaltar que, por serem do sétimo período, muitos já estavam estagiando e puderam contribuir com sua própria experiência em redações. O modelo adotado na disciplina Laboratório de Jornalismo defende que o ensino das práticas profissionais só pode ser realizado a partir de uma perspectiva teórica. Esta premissa da qual os autores deste relato partem é a base do Grupo de Pesquisa em Teoria do Jornalismo e Experiências Profissionais, cuja proposta mais ampla é refletir à luz de teóricos importantes da nossa área sobre a produção e sobre o ensino do campo jornalístico. 2. A Experiência A disciplina Laboratório de Jornalismo 3 é lecionada aos alunos de sétimo período, ou seja, a um ano da formatura. As aulas acontecem duas vezes por semana, sendo uma em sala com exposição e discussão teóricas, e outra no próprio laboratório, quando há produção de texto. A proposta é que os alunos redijam suas pautas e reportagens utilizando-se de uma perspectiva teórica que os incentive a compreender todo o processo. Em um momento onde quase todos da turma estagiam, a ideia é que a atividade deles no laboratório seja aliada à reflexão sobre as diferentes etapas produtivas do cotidiano de um jornalista, diferentemente do trabalho que realizam nas redações, pressionados pelo tempo curto e pelas rotinas padronizantes, responsáveis pela mecanização do processo. Com a nova matriz curricular, os alunos atingem o último ano após cursarem as disciplinas Introdução ao Jornalismo (1º período), Técnicas de Comunicação (2º período), Comunicação Impressa (2º período) e Técnica de Reportagem (4º período), quando começa o ciclo profissionalizante, Redação 3 Com carga horária total de 60 horas, a disciplina foi ministrada terça-feira, em sala de aula, equinta-feira, no laboratório de jornalismo, que conta com 20 computadores, um para cada aluno. O Departamento de Comunicação Social possui, nos laboratórios e salas de aula, cerca de 220 computadores.

em Jornalismo (5º período) e Edição em Jornalismo (6º período). Já em processo avançado de socialização no mundo dos jornalistas - pelo tempo na universidade aliado ao estágio nas redações - o processo de produção de notícia passa a ser naturalizado e encarado de forma instintiva. Esta ideia amplamente difundida no jornalismo serve como base não só para relegar ao segundo plano o processo de reflexão sobre a produção de notícia como também para sustentar o professor que encara o ato de dar aula como espaço de divulgação das suas próprias experiências. Encarar o jornalismo como atividade simplesmente prática é uma forma de defender a não necessidade de se ter a exigência do diploma para o exercício legal da profissão. A proposta da disciplina de Laboratório de Jornalismo é justamente desconstruir essa crença e propor aos alunos uma visão crítica sobre sua profissão. As aulas teóricas foram ministradas utilizando-se de autores da Teoria do Jornalismo, como: Gaye Tuchman e sua investigação acerca da objetividade; Warren Breed e o processo de socialização nas redações; John Soloski e questões relacionadas ao profissionalismo; David Manning White e a teoria do gatekeeper, entre outros. A centro teórico e a ênfase didática do Laboratório de Jornalismo está na teoria do newsmaking, com a exposição propositalmente alongada por algumas aulas sobre o capítulo O newsmaking: critérios de importância e noticiabilidade, no livro Teorias da Comunicação de Mauro Wolf (2003). A partir da exposição dos critérios que guiam a seleção e a construção das notícias, abordando os valores-notícia, as discussões teóricas ganham cunho ainda mais prático. São discutidas diversas decisões editoriais em veículos variados, propondo reflexão acerca de o motivo de elas terem sido divulgadas, a forma como foram divulgadas e se tiveram ou não destaque. Os critérios de noticiablidade de importância e interesse são detalhadamente trabalhados ao propor que os alunos percebam que dentro da aura instintiva do jornalista há regras implícitas e padronizantes. Outros critérios como relativos ao produto contribuem para falar de fator limitadores do jornalismo: o tempo e o espaço. Como as coberturas são decididas? Manda o repórter cobrir ou usa informação de agência de notícia? Os critérios relativos ao meio contribuem para diferenciar a produção em cada veículo, seja a importância da imagem, da fragmentação e da profundidade com que determinada informação deve ser abordada. Mauro

Wolf também discute a questão das fontes no jornalismo, outro aspecto importante a ser trabalhado, na prática, com os estudantes. Nas aulas no laboratório, esses critérios são usados para discussão das pautas. Os alunos devem entregar duas reportagens ao longo do período. Mas, antes, deve haver a discussão dos temas a serem abordados, dos entrevistados e dos caminhos que a matéria pode seguir. Nas reuniões de pauta, cabe ao professor discutir com o aluno o que é o mais relevante para a venda de determinada matéria. Os textos de Soloski O jornalismo e o profissionalismo: alguns constrangimentos no trabalho jornalístico e de Warren Breed O controle social na redação servem de base para se pensar que não há uma regra pré-determinada no jornalismo, apesar de ser possível observar o padrão na cobertura jornalística. Portanto, o aluno, ao se socializar na redação, perceberá que determinadas decisões agradam à linha editorial da empresa jornalística, enquanto outras, não. Conforme foi estudado nos autores da Teoria Organizacional, as notícias são o resultado de processos de interação social que têm lugar dentro da empresa jornalística, pois os jornalistas sabem que seu trabalho passa por cadeia organizacional em que os seus superiores hierárquicos possuem instrumentos de controle. A autonomia do jornalista é permitida enquanto for exercida em conformidade com os requisitos da empresa; logo, é uma autonomia consentida. 3. Considerações finais Nessa perspectiva, também é importante que o aluno perceba que não existe um método fixado com rigidez e uma avaliação esquemática e préordenada da noticiabilidade. Conforme aponta Wolf (2003) e Traquina (2005): - a flexibilidade e as margens de ajustamento presentes nos critérios de noticiabilidade apontam na direção de um procedimento de negociação de valores profissionais partilhados que envolvem a produção da informação - o produto informativo emerge como o resultado de uma série de negociações que acontecem em torno dos acontecimentos que são selecionados e do modo como são editados - essas negociações são efetuadas pelos jornalistas em função de fatores que possuem diferentes graus de importância e ocorrem em diversas etapas da produção da informação

- caráter negocial do processo informativo: para a comunidade interpretativa dos jornalistas, as representações sobre a realidade social determinadas pela imprensa implicam em práticas discursivas atravessadas por efeitos de poder e por relações de poder-saber - a comunidade interpretativa dos jornalistas compreende que o processo de produção da informação se configura como um espaço público de lutas micropolíticas no qual diversas forças sociais, políticas e econômicas disputam a produção de sentido sobre o real. O Grupo de Pesquisa em Teorias do Jornalismo e Experiências Profissionais, parte da premissa de que só é possível estudar as práticas profissionais a partir de uma perspectiva teórica. No contato com os alunos, seja na disciplina Laboratório de Jornalismo e em outras ministradas pelos autores na PUC-Rio e na Universidade Estácio de Sá, as teorias do jornalismo sustentam a proposta de se refletir sobre seleção e construção da notícia. Defende-se que a busca por mais qualidade para o curso de jornalismo reside em ampliar a visão crítica dos alunos em meio à produção cotidiana, pressionada por tempo e espaço curtos, proporcionando aos jovens jornalistas vestirem de forma mais consciente os óculos de Bourdieu 4. 4. Referências bibliográficas BOURDIEU, Pierre. Sobre a Televisão. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1997. TRAQUINA, Nelson. Teorias do Jornalismo. Por que as notícias são como são? Florianópolis: Insular, 2005. WOLF, M. Teorias da Comunicação. Lisboa: Presença, 2003 4 Referência ao trecho do livro Sobre a Televisão, de Pierre Bourdieu (1997, p. 25): Os jornalistas têm óculos especiais a partir dos quais veem certas coisas e não outras; e veem de certa maneira as coisas que veem. Eles operam uma seleção e uma construção do que é selecionado.