ANÁLISE DA ARTE E DA HISTÓRIA DO PERÍODO COLONIAL DOS CARMELITAS DESCALÇOS EM SÃO CRISTÓVÃO/ SE.

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Transcrição:

ANÁLISE DA ARTE E DA HISTÓRIA DO PERÍODO COLONIAL DOS CARMELITAS DESCALÇOS EM SÃO CRISTÓVÃO/ SE. ORAZEM, Roberta Bacellar (Universidade Federal de Sergipe) 1 - Introdução O trabalho a ser apresentado retratará a arte colonial sergipana em um estudo de análise da história e de alguns elementos artísticos da igreja conventual de Nossa Senhora do Carmo situada na cidade de São Cristóvão/SE. Nessa região, encontra-se um considerável complexo arquitetônico e artístico do acervo do período colonial, possuindo várias construções já tombadas pelo Iphan. Além disso, a pesquisa, durante o seu desenvolvimento, insere não somente a temática das artes visuais, como também faz uma relação com a arquitetura e a história de Sergipe. Ainda, mostra-se a relação da arte colonial sergipana que tem influência direta com a arte do restante do Brasil principalmente com a região do nordeste - e até mesmo com Portugal. Portanto, o objetivo principal do trabalho será o de pesquisar a arte e a história do período colonial em Sergipe, através da análise dos elementos artísticos barroco e rococó da igreja do Carmo em São Cristóvão. Pretende-se que o trabalho seja um instrumento de preservação de valores culturais do complexo arquitetônico de São Cristóvão, não obstante, que seja um expositor da arte e da história colonial sergipana, tentando incentivar a valorização e a apreciação constante da região de São Cristóvão. 2 Arte Colonial no Brasil No Brasil a arte colonial foi produzida no período que se encontra entre o século XVI até o final do século XVIII. Nesse momento a arte serviu, em sua maioria, para fins religiosos a partir da iniciativa da Igreja Católica, manifestando-se com base nas idéias determinadas no momento posterior ao movimento de Contra-Reforma, principalmente nas colônias de Portugal e da Espanha. O período colonial no Brasil compreendeu as características dos estilos artísticos do maneirismo, do barroco e do rococó. O primeiro foi trazido ao Brasil pelos Jesuítas, ainda no século XVI. Sabe-se que atualmente não existem muitos exemplares da arte

desse período no Brasil, até porque houve posteriormente mudanças, guerras, invasões (como a holandesa), expulsão dos jesuítas, dentre outros fatores; acarretando a destruição ou substituição dos elementos artísticos dessa primeira fase. Diz-se que o barroco no Brasil teve o seu desenvolvimento no século XVII e o seu florescimento no início do século XVIII, sendo utilizado por várias ordens religiosas em suas igrejas, conventos e mosteiros. Já o rococó teve predominância na segunda metade do século XVIII. A arte colonial de todas as regiões do Brasil foi totalmente influenciada pela arte portuguesa. Esta, por sua vez, foi influenciada pelos italianos na fase barroca e pelos alemães e franceses na fase rococó, assim como constata Oliveira (2003, p.107): Em meados do Setecentos, nos anos que antecederam o famoso terremoto de 1755, o panorama artístico português encontrava-se dividido entre duas correntes estilísticas que dominavam a arte européia do momento: o barroco tardio de influência italiana, que havia prevalecido no período do reinado de D. João V (1706-1750) e as novas tendências do rococó internacional, nas vertentes francesa e germânica. É preciso ter em mente que as igrejas construídas em Roma no século XVIII constituíam então a principal referência para a arquitetura religiosa, continuando a tradição estabelecida na época joanina. Essa referência seria o elemento fundamental na elaboração da tipologia de igrejas conhecidas no mundo luso-brasileiro como de estilo pombalino, estilo que dividiria com o rococó religioso a encomenda arquitetônica da segunda metade do século como veremos mais tarde. Ainda, a arte colonial em todo o Brasil foi influenciada pelas características artísticas específicas das ordens religiosas que aqui se instalaram como os carmelitas, franciscanos, beneditinos, dentre outras. O barroco e o rococó têm características gerais que os identificam. Sabe-se que no período colonial o que destacou a arte dos retábulos 1 tanto barroco, quanto rococó, em Portugal e conseqüentemente no Brasil, foi o uso da talha dourada 2. No primeiro estilo o douramento se deu por completo, já no segundo alguns detalhes, como os frisos, eram dourados e o restante geralmente tinha uma pintura de cor branca. Baseando-se em Triadó (1991), como também em Battistoni Filho (1990), Marcondes (1998), Dücher (1992) e Koch (2001), entende-se que o barroco teve as seguintes características: ritmo dinâmico, com gosto pela diagonal; contraste de luz e sombra, de curvas e contracurvas; plantas curvas, mas em muitos locais continuando com a nave única; as portas geralmente são de formato ponta de diamante 3, e adota-se moldura sobre ou sob as janelas; excesso de entalhes e ornamentos; figuras como: atlantes 4, cariátides 5, anjinhos rechonchudos, frutas uvas, abacaxis, bananas, etc; decoração com policromia e excesso de talha dourada; arte sensorial e teatral, com

predominância da emoção; tetos pintados com pintura ilusionista; cores quentes amareladas e vermelhadas. Em 1755, Portugal insere o rococó religioso, influenciado pela França e Alemanha. Baseando-se em Conti (1996), em Zanini (1983), em Oliveira (2003), em Dücher (1992) e em Read (1990) as características gerais que prevaleceram no rococó religioso do Brasil foram as seguintes: profusão de ornamentos; temáticas pastoris, bucólicas e mitológicas; anjos querubins (maiores e mais esguios, menos rechonchudos que os do período barroco); predominância do branco e de cores pastéis como rosa e verde; ornamentos com volutas 6, fitomórficos, com conchas, dosséis 7, medalhões, coruchéus 8, pináculos; plástica de menor escala com esculturas e ornatos pequenos. 4 - A Ordem dos Carmelitas Descalços em Sergipe Colonial Desde o início do século XVI os Carmelitas Descalços da capitania da Bahia e de Pernambuco tiveram interesses em fixar-se pelas terras de Sergipe, há muitos documentos antigos que comprovam este interesse por essa região, até porque era um local estratégico que ficava na passagem entre as duas regiões. Assim sendo, por volta de 1618, os Carmelitas chegaram em Sergipe, primeiramente na região entre Bahia e Sergipe, às margens do Rio Real. Segundo Nunes (1996, p.232) os Carmelitas também se localizaram em São Gonçalo, nas proximidades da Capital, em terras doadas por um devoto que ali erguera uma capela. Durante o século XVII os Carmelitas através de doações de terras foram se fixando em alguns pontos do território de Sergipe erguendo capelas e hospícios (conventos da época). Na região de Japaratuba tomavam conta de algumas missões indígenas. Em Santo Amaro das Brotas estabeleceram-se já no início do século XVIII. Com a doação do terreno da antiga capela de Santo Antônio dos padres Franciscanos, os Carmelitas no final do século XVII fixaram-se em São Cristóvão. Ao longo do século XVIII os Carmelitas acumularam muitas riquezas pelo território de Sergipe. Primeiramente, porque, apesar de ser uma Ordem mendicante, segundo Nunes (1996, p.233): Como Ordem Mendicante, os Carmelitas estavam proibidos de posse de bens imóveis, devendo viver de esmolas recolhidas nos engenhos e fazendas. Mas, ante as alegações, que apresentaram às autoridades eclesiásticas superiores, conseguiram de Roma dispensa de tal exigência. Explica-se, assim, porque chegaram a possuir um patrimônio considerável de propriedades através do

recebimento de sesmarias, doações ou herança de terras, e também por compra. Outro motivo, que foi uma conseqüência daquele, seria o beneficiamento que tiveram os padres Carmelitas em obter boa parte das riquezas dos Jesuítas após a expulsão destes do Brasil e conseqüentemente de Sergipe. Com isso, os Carmelitas tomaram posse de terras, missões, gados, escravos, etc 9. Sendo assim, no final do século XVIII chegaram a ser cobiçados pelos Carmelitas da Bahia e, ainda, causaram desavenças com os Franciscanos de Sergipe, estes porque não podiam acumular tantas riquezas quanto os Carmelitas por serem mendicantes. Contudo, no século XIX a Ordem dos Carmelitas entrou em decadência em Sergipe, alguns autores como Sebrão Sobrinho ([s.d], p.2) comenta que a causa foi a partir dos interesses dos Carmelitas da Bahia em tomar posses dos bens dos padres sergipanos. Muitas transações foram feitas até que a quantidade de padres Carmelitas sergipanos diminuiu consideravelmente, os padres baianos tomaram posse de muitas terras e surgiu a decadência da Ordem. Sabe-se que, para tentar manter o patrimônio, os padres da Bahia venderam os conventos de São Cristóvão e demais riquezas para outros religiosos e famílias sergipanas ao longo do século XIX e XX. 5 Estudo da igreja Conventual do Carmo em São Cristóvão/SE Os Carmelitas estabeleceram-se na cidade de São Cristóvão por volta de 1699. Neste mesmo período de transição foram iniciadas as construções para a capela primitiva e o convento do Carmo. Sendo assim, alguns autores como Sebrão Sobrinho ([s.d.]), Nascimento (1981), Bazin (1983), Vilela & Silva (1989), Iphan ([s.d.]) 10 chegam a um consenso quando afirmam que toda a estrutura do complexo do Carmo foi ampliada em 1739 tendo como mestre o Frei Antônio de Santa Eufrásia Barbosa. Essas construções provavelmente ocorreram até 1766 pois existe esta data marcada na fachada da igreja. De acordo com Vilela & Silva (1989, p.36) a planta do edifício foi executada por um arquiteto português, cujo nome não se tem conhecimento. No entanto, sabe-se que toda obra foi comandada, financiada e supervisionada pelos Carmelitas. Este último fato devido ao que foi afirmado antes, que os Carmelitas em meados do século XVIII possuíam muitas riquezas acumuladas como quantidade significativa de escravos, alfaias de ouro e de prata e engenhos de açúcar.

A análise consiste em classificar alguns elementos artísticos existentes na igreja conventual do Carmo de acordo com as regras do período colonial, ou seja, dentro da classificação barroco e rococó. Tenta-se identificar as características artísticas para confirmar quais objetos podem ser considerados historicamente do período colonial. Em primeiro momento, percebe-se que a fachada da igreja Conventual tem característica Rococó pelas suas características artísticas mais simples e específicas desse estilo (volutas, pináculos, dentre outras). Figura 01 Fachada da Igreja conventual Fonte: Gabriela Caldas Gouveia de Melo Na parte interna da igreja conventual encontra-se poucos elementos artísticos do período colonial. Até mesmo a igreja em si não possui muitos elementos arquitetônicos, constando de dois altares laterais e alguns móveis muitos simples que se nota ser de um período mais recente contemporâneo do século XX e XXI. Sendo assim, do pouco que restou de elemento artístico do período colonial, destaca-se as peças arquitetônicas talhadas em pedra calcária como os dois púlpitos11 e o arco-cruzeiro12, em estilo Barroco.

Figura 02 Detalhe do púlpito e do arco-cruzeiro Fonte: Gabriela Caldas Gouveia de Melo Nos dois altares laterais percebe-se a influência do estilo Barroco, sendo que no altar lateral direito encontra-se muito mais detalhamento decorativo.

Figura 03 - Altar lateral direito da igreja conventual Fonte: Gabriela Caldas Gouveia de Melo Por fim, encontra-se seis tribunas13 simples com moldura de pedra calcária e balaustrada14 de motivo geométrico bem característico da fase Barroca. 6 - Considerações Finais Na igreja conventual dos Carmelitas houve, como em todo o Brasil, uma tradição barroca principalmente no século XVIII. Alem disso, houve elementos do período rococó, constatando que a igreja foi construída em um período de transição artística no Brasil que é a segunda metade do século XVIII. Percebe-se que a presença de elementos rococós na fachada e barroco na parte interna supõe que esses estilos artísticos foram utilizados concomitantemente nas construções coloniais ou que a fachada foi finalizada posterior à parte interna da igreja. Com a análise dos elementos artísticos do período colonial percebemos que em Sergipe a arte seguiu as tendências acompanhando todo o Brasil, que segue a tendência portuguesa, principalmente em seus retábulos e no uso da talha dourada. Apesar de alguns elementos artísticos estarem deteriorados, constatando, assim, que as obras de arte da igreja estão mal conservadas. Porém, sabe-se que a arte colonial sergipana deve ser apreciada, valorizada e pesquisada, pois tem um valor

cultural inestimável. Além de seu potencial histórico, possui uma qualidade artística que acompanha a tendência nacional e até mesmo internacional. 7 - Referências Bibliográficas BATTISTONI FILHO, Duílio. Iniciação às artes plásticas no Brasil. São Paulo: Papirus, 1990. BAZIN, Germain. A arquitetura religiosa barroca no Brasil. Rio de Janeiro: Record, 1983. 2.v. CONTI, Flávio. Como reconhecer a arte rococó. Lisboa: Ed. 70, 1996. READ, Herbert (org.). Dicionário da arte e dos artistas. Rio de Janeiro: Ed. 70, 1989. DÜCHER, Robert. Características dos estilos. São Paulo: Martins Fontes, 1992. KOCH, Wilfried. Dicionário dos estilos arquitetônicos. São Paulo: Martins Fontes, 2001. MARCONDES, Luiz Fernando. Dicionário de termos artísticos. Rio de Janeiro: Pinakotheke, 1998. NASCIMENTO, José Anderson. Sergipe e seus monumentos. Aracaju: Gráfica e Editora J. Andrade, 1981. NUNES, Maria Thétis. Sergipe colonial II. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1996. OLIVEIRA, Myriam Andrade Ribeiro de. O rococó religioso no Brasil e seus antecedentes europeus. São Paulo: Cosac & Naify, 2003. SEBRÃO SOBRINHO. A Ordem Terceira do Carmo de Sergipe do Afonseca. Fundos dos arquivos particulares Sebrão Sobrinho. Cx. 11, Doc.18, [s.d.]. Arquivo Público do Estado de Sergipe. TRIADÓ, Juan-Ramon. Saber ver a arte barroca. São Paulo: Martins Fontes, 1991. VILELA, Iêda Maria Leal; SILVA, Maria José Tenório da. Aspectos históricos, artísticos, culturais e sociais da cidade de São Cristóvão. Aracaju: Secretaria de Estado da Cultura e Meio Ambiente, 1989. (Série Memórias, v.1). ZANINI, Walter (org.) [et. al.]. Historia geral da arte no Brasil. São Paulo: Instituto Walther Moreira Salles: Fundação Djalma Guimarães, 1983. v.1. 1 Nas igrejas, peças de madeira ou pedra trabalhada em motivos religiosos na qual se encontra o altar (PEDREIRA [et. al.], [s.d.], p.65). 2 técnica de revestimento em ouro usado principalmente em igrejas. O ouro empregado no processo vem em lâminas extremamente delgadas, cuja aderência se obtém por meio de cola especial (MASCARELLO, 1983, p.98-99).

3 Porta almofadada que tem como elemento de decoração nas almofadas a aparência de uma ponta de diamante. 4 Figura masculina que sustenta com as duas mãos sob as costas algo como uma coluna. 5 Figura feminina que sustenta com as duas mãos sob as costas algo como coluna, encontra-se também essas figuras nas proas dos barcos; feminino de atlantes. 6 Elemento decorativo em forma de espiral, com curvas e contracurvas. 7 Decoração arquitetônica de cortinado em forma arredondada que se encontra sob o púlpito ou sob o retábulo. 8 Elemento cônico encontrado em certos telhados, arrematando cunhais à semelhança de grimpas e pináculos. 9 Na pesquisa em documentos do Arquivo Geral do Judiciário, Silva [et.al.] (2000) indica algumas doações de terras feitas por senhores sergipanos aos carmelitas, entre os séculos XVII e XVIII, por motivo de devoção à ordem ou até mesmo herança, era uma espécie de contribuição para manter a ordem e demonstrar o quanto se era devoto e fiel à igreja e ao santo preferido. Além disso, constata-se a riqueza de posses dos padres carmelitas quando se percebe em alguns documentos relatos de alforria de escravos negros que foram dos padres carmelitas. 10 Informação retirada do site do Iphan, arquivo Noronha Santos (livros do tombo), documento que retrata a convento do Carmo em São Cristóvão/SE, disponível em: http://www.iphan.gov.br e acesso em: 01 fev. 2005. 11 Elemento arquitetônico como se fosse um camarote, chamado também de tribuna, situado geralmente nas laterais das igrejas, local onde os religiosos pregavam seus sermões durante a missa. 12 Na igreja é um arco que separa a nave principal da capela-mor ou do coro, situandose no cruzeiro. 13 Elemento arquitetônico, situado geralmente nas laterais da igreja - no andar superior, é um local com uma abertura no formato de uma porta onde se encontra uma balaustrada ou gradil onde as pessoas mais importantes ficavam para assistir à missa. 14 Conjunto corrido de balaústres, balcão ou corrimão com formatos decorativos, geralmente situa-se sobre o coro ou nas tribunas.