TEXTO 6 CONSIDERAÇÕES SOBRE PRODUÇÃO DE MONOGRAFIA Juçara Leite Colegas, Vocês já devem ter perguntado sobre a necessidade de escrever uma monografia quando realizamos um curso de pós-graduação. Às vezes pensamos que é apenas mais uma exigência formal da Academia. Além disso, temos ouvido muitos casos de compra de monografias, ou de plágios através da internet. São questões muito sérias do ponto de vista profissional e ético, e, por isso, devemos refletir sobre o exercício da realização do trabalho monográfico no âmbito das questões relativas à formação do professor. A monografia apresentada ao final de um curso de Especialização é o resultado dos estudos e discussões realizadas ao longo deste e que englobam questões teóricas e metodológicas, mas também aspectos práticos e, por vezes, técnicos, relacionados, em nosso caso, à Educação do Campo. Esse resultado deve ser expresso no contexto de uma pesquisa realizada pelo pós-graduando e cujo tema pode ser sugerido pelo orientador ou de livre escolha do aluno. Assim sendo, o trabalho monográfico é o texto final de uma pesquisa, não a pesquisa em si. Entretanto, uma monografia possui algumas características e estruturas que devem ser observadas. Ora, para chegarmos a essa etapa final, devemos trilhar o caminho. É sobre esse percurso que falaremos agora. Então, vamos caminhar! De uma forma geral, fazemos pesquisa visando à produção de um conhecimento novo sobre algum tema ou situação que nos parece relevante diante da realidade em que vivemos. É claro que a idéia de novo é muito relativa e depende de alguns aspectos que não mencionaremos aqui, mas que você deverá discutir com o seu orientador a partir dos estudos sobre aquela área de conhecimento. Não se espera que se busque uma verdade, mas que se traga elementos novos para uma discussão. O pesquisador, dessa forma, deve interpretar e analisar a realidade pesquisada a partir de instrumentos que permitam a coleta dos dados.
Uma pesquisa deve começar pela elaboração de um projeto de pesquisa. O projeto de pesquisa é uma espécie de plano de trabalho, de rota para caminhar e sua principal função é nos orientar durante o percurso. Poderá ser ajustado no decorrer do trabalho investigativo. Um projeto começa, de modo geral, por uma questão inicial ou fundadora, uma espécie de incômodo ou curiosidade que sentimos diante de algum aspecto da realidade que vivemos. Essa primeira intenção de pesquisa nasce, assim, de nossa história vivida. - Será que sempre existiu Educação do Campo? - Qual legislação fundamenta a Educação do campo no Brasil? Como ela nasceu? - Como determinar conteúdos para uma Educação do campo? - Podemos trabalhar com um único sentido de Educação do Campo? A partir dessa curiosidade inicial, podemos começar a ler trabalhos sobre o assunto, para saber se nossa questão tem fundamento ou se está apenas ancorada no senso comum. Dessa forma, vamos acertando as arestas de nossas primeiras interrogações e dialogando com outros pesquisadores. A internet é uma ferramenta muito importante para essa etapa inicial. Ao ler os trabalhos, faça um arquivo com informações sobre eles. Além do título e do nome do autor, fique atento para dados como: - Onde a pesquisa foi realizada? - Quando? - Quais autores são citados pelo pesquisador? - Quais os principais conceitos por ele utilizados na pesquisa? - O que o autor quis conhecer, isto é, quais os objetivos da pesquisa? Toda pesquisa tem objetivos. Alguns iniciais, outros que são construídos ao longo do processo investigativo. Os objetivos que devem ser atingidos pela pesquisa proposta podem ser justificados, de acordo com Luna (1996), por: * Sua relevância científica ou acadêmica: Por que sua pesquisa é importante? ( por exemplo, a demonstração de um fenômeno ou da relação entre fenômenos; o desenvolvimento de uma nova tecnologia ou nova aplicação de tecnologia já desenvolvida, etc.) Quais as contribuições que o resultado de sua pesquisa trará para seu campo de estudo? (em nosso caso, a Educação do Campo) Quais lacunas existentes na bibliografia sobre o tema poderão ser melhoradas com a sua pesquisa? (por exemplo, a discussão de um conceito ou grupo de conceitos dentro de uma determinada teoria).
* Sua relevância social: Por que o seu tema é socialmente importante? Quais os benefícios que podem trazer para a sociedade? * Sua originalidade: O que a sua pesquisa traz de novo em termos temáticos, teóricos ou metodológicos? * Sua viabilidade: Por que sua pesquisa pode ser realizada nas condições propostas? (por exemplo, facilidade de acesso aos dados, locais que podem ser visitados, etc.) * A pertinência do tema: O seu tema é congruente? (pode citar autores que já trilharam caminhos similares em pesquisas anteriores) De modo geral, os 10 passos básicos de uma pesquisa são os seguintes: 1) A escolha de um tema de interesse (que pode ser a partir da sua questão inicial); 2) A formulação de um problema a ser investigado (pode ser a formulação de uma hipótese, ou pode ser pensado como um conjunto de questões que se propõe a responder através da pequisa); 3) Determinação de quais informações são necessárias para você responde as questões formuladas; 4) Determinação de onde serão encontradas essas informações (fontes de pequisa); 5) Definição de passos e ações que devem ser realizadas para que você responda as questões formuladas (procedimentos de trabalho que recortem a realidade a ser investigada); 6) Escolha de um modo de tratamento das informações coletadas; 7) Seleção e uso de um sistema teórico ou conjunto de conceitos para interpretar os dados coletados (fundamentação teórica); 8) Produção de respostas para as questões elaboradas; 9) Verificação da adequação dessas respostas (isto é, verificar se elas são confiáveis); 10) Indicação da extensão dos resultados obtidos (se podem ser generalizados, isto é, se podem ser aplicados a outras situações com resultados semelhantes).
Alguns pesquisadores pensam que a formulação de um problema deva ocorrer ao longo da pesquisa e não previamente. Entretanto, mesmo nesse caso, deve haver um problema original que tenha justificado a própria pesquisa e a eleição de uma determinada metodologia. De qualquer forma, as etapas de um projeto devem estar bem claras no projeto que você elaborar, apontando sempre para o tipo de respostas e resultados que você espera alcançar. Os passos da pesquisa serão as bases da estrutura do texto sua monografia. Converse com o seu orientador sobre como fazer exercícios de elaboração de cada um desses passos e mãos à obra! Vamos organizar o que vimos até agora? De acordo com Barros (2007), as funções de um projeto de pesquisa são: 1- É um item curricular (exigência de um determinado curso); 2 É uma carta de intenções, um plano de trabalho; 3 É um instrumento para um diálogo científico ou acadêmico; 4 É um instrumento para esclarecimento de quem produz a pesquisa; 5 É um roteiro de trabalho; 6 É um instrumento direcionador. Além de cumprir essas funções, o projeto estabelece as instâncias do trabalho que será realizado: O que vou fazer? Essa questão deve estar esclarecida já na introdução do projeto e também na sua delimitação temática, na exposição de seu problema, e em seus objetivos. Isto é, uma das primeiras coisas que o pesquisador deve esclarecer é o objeto de sua investigação (o que será investigado). - Por que vou fazer? É a sua justificativa. Você deve esclarecer porque seu trabalho é importante, isto é, qual a relevância dele. - Para que farei? É para responder a essa pergunta que você deve estabelecer objetivos, complementando as perguntas anteriores.
- Baseado em que farei isso? Ao responder esta pergunta você vai esclarecer quais suas visões de mundo, ideologias, possibilidades teóricas, conceitos básicos, expressões, categorias, filiações, etc. Faz parte daquilo que denominamos Quadro Teórico e deve ajudar você a produzir reflexões e interpretações. - Como farei? Ou, ainda: - Com que farei? São questões que dizem respeito direto às técnicas, métodos e instrumentos que você vai usar para realizar sua investigação. São instrumentos que ajudarão vocês a obter dados. Fazem parte desta etapa os questionários, entrevistas, gráficos, estatísticas. E também a sistematização desses instrumentos, os procedimentos de sua aplicação e a sua interpretação. Esta etapa é comumente denominada Quadro Metodológico. - Com quem devo conversar sobre isso para melhor fazer minha pesquisa? Essa questão leva você para o diálogo com autores (seus interlocutores), uma vez que dificilmente uma pesquisa parte de algo que jamais foi pesquisado. São pontos de apoio que estimulam a investigação e a impulsionam. Essa etapa é conhecida como Revisão Bibliográfica ou mesmo Revisão de Literatura. - Quando fazer? Remete à duração da pesquisa. Geralmente o limite de tempo é fixado pela instituição ou curso ao qual está ligada a investigação. Esse limite serve também como parâmetro para a delimitação de nossos objetivos, que deverão ser possíveis de realização nessa delimitação temporal. Para evitar transtornos, é preciso determinar um Cronograma das atividades previstas para a pesquisa, como forma de autocontrole do pesquisador. É importante não esquecer de realizar previsões orçamentárias e financeiras, para que você não se surpreenda com a necessidade de passagens, equipamentos diversos, contratação de serviços, etc. O item Recursos é obrigatório em um projeto que solicitará financiamento.
Após realizada a pesquisa, você deverá escrever o texto, isto é, a sua monografia propriamente dita. Os capítulos de sua monografia devem demonstrar os passos seguidos ao longo de sua investigação e tem muita relação com as etapas do projeto de pesquisa. A UFES (2005) recomenda a seguinte estrutura para uma monografia: 1 Capa e folha de rosto. 2 - Elementos pré-textuais: * Dedicatória e agradecimentos (opcional) * Epígrafe (opcional) * Listas (se necessário) * Sumário (obrigatório) 3 Texto 4 Elementos pós-textuais: *Apêndices e anexos (quando for necessário) A terceira parte, isto é, o texto propriamente dito, deve conter basicamente: Introdução, Desenvolvimento e Conclusão. A Introdução deve abordar também a Justificativa e a Definição do problema. Pode, ainda, conter a explicação sobre os capítulos que compõem o texto (o que trata cada capítulo?). Objetivos, Revisão de Literatura e Etapas Metodológicas podem fazer parte de um mesmo capítulo. Conclusão, Resultados, Sugestões e Perspectivas podem estar juntos ao final do texto. As Referências Bibliográficas são um elemento obrigatório e devem ser escritas de acordo com normas específicas.
É claro que o texto de uma monografia é uma estrutura flexível e que dependerá da compreensão que o pesquisador tem de seu próprio trabalho. Uma outra possibilidade de esclarecimentos sobre a estrutura do texto monográfico pode ser exposta da seguinte forma: - Introdução - O que fiz? Por que fiz? - Revisão da Literatura e Bases Teóricas O que eu já sabia a respeito? O que fiquei sabendo no decorrer da pesquisa? Por que os textos que li influenciaram minha pesquisa? Até que ponto contribuíram? - Materiais e Métodos Quando, onde e como fiz a pesquisa? - Resultados e Conclusões Como interpretei aquilo que observei? O que concluí? É possível comparar com aquilo que li ou com aquilo que eu já sabia? Quais as limitações de minhas conclusões? O que quero destacar com isso? Observe que a Conclusão é formada por suas respostas às hipóteses ou questões enunciadas no início. Você pode (e deve), sintetizar o seu ponto de vista manifestado ao longo do texto e fundamental para a pesquisa. Note também que todas as partes podem ser subdivididas desde que você ache ser necessário para um melhor esclarecimento de sua pesquisa. Não se esqueça também que, sempre que você se apropriar do pensamento de um autor (diretamente ou não), você deverá obedecer às normas de citação de autores o normas de citação bibliográfica. A UFES publica um bom Guia para normalização de trabalhos acadêmicos e também um Guia de citações bibliográficas. Informe-se com seu orientador sobre eles. UFES. Normalização e apresentação de trabalhos científicos e acadêmicos: guia para alunos, professores e pesquisadores da UFES. Vitória: Biblioteca Central da UFES, 2005. UFES. Guia para normalização de referências (NBR 6023:2002). Vitória: Biblioteca Central da UFES, 2005. O mais importante é que você respeite o seu estilo de escrita, desde que considere todos os elementos necessários ao texto acadêmico e científico. Bom trabalho!
Referências Bibliográficas BARROS, José d Assunção. O projeto de pesquisa em História: da escolha do tema ao quadro teórico. Petrópolis (RJ): Ed. Vozes, 2007. LUNA, Sergio Vasconcelos. Planejamento de pesquisa: uma introdução. São Paulo: EDUC, 1996. UFES. Normalização e apresentação de trabalhos científicos e acadêmicos: guia para alunos, professores e pesquisadores da UFES. Vitória: Biblioteca Central da UFES, 2005. Sugestões Bibliográficas LAVILLE, Christian.; DIONNE, Jean. A construção do saber: manual de metodologia da pesquisa em ciências humanas. Porto Alegre: Artmed, 1999. LAROSA, Marco Antonio; AYRES, Fernando. Como produzir uma monografia passo a passo. Rio: Ed. Wak, 2005. CENDALES, Lola. Aprender a pesquisar pesquisando. São Paulo: Loyola, 2005. UFES. Guia para normalização de referências (NBR 6023:2002). Vitória: Biblioteca Central da UFES, 2005.