PUBVET, Publicações em Medicina Veterinária e Zootecnia. Disponível em: <http://www.pubvet.com.br/texto.php?id=478>. Parasitismo em humano por Amblyomma parvum Aragão, 1908 (Acari: Ixodidae) em Pau dos Ferros, Rio Grande do Norte, Brasil Caroline Gracielle Torres Ferreira 1,2, Ivoncísio Garcia Rego 1, Silvia Maria Mendes Ahid 3 1 Discente de Medicina Veterinária da Universidade Federal Rural do Semi-Árido (UFERSA), Mossoró, RN. 2 Bolsista do Laboratório de Parasitologia da UFERSA 3 Docente da UFERSA, Departamento de Ciências Animais, UFERSA, Mossoró, RN RESUMO A família Ixodidae é a que possui maior número de representantes dos carrapatos com 683 espécies. Dentre os gêneros reconhecidos para esta família, destaca-se Amblyomma com extensa distribuição geográfica, variedade de hospedeiros e grande importância na saúde pública. Este trabalho relata um caso de parasitismo em humano por Amblyomma parvum, ocorrido no município de Pau dos Ferros, Rio Grande do Norte. Observou-se o parasitismo, no final do dia, quando um espécime encontrava-se fixado na perna de um homem após atividades de campo. O parasitismo desse carrapato em humano é um achado incomum. Palavras-chaves: Amblyomma; Ixodidae; carrapato; ectoparasita.
Parasitism in human being for Amblyomma parvum Aragão, 1908 (Acari: Ixodidae) in Pau dos Ferros, Rio Grande do Norte, Brazil ABSTRACT The Ixodidae family is the one that possesss greater number of representatives of the ticks with 683 species. Amongst the recognized sorts for this family, it is distinguished Amblyomma with extensive geographic distribution, variety of hosts and great importance in the public health. This work tells to a case of parasitism in human being for Amblyomma parvum, occurrence in Pau dos Ferros, Rio Grande do Norte. The parasitism was observed, in the end of the day, when a specimen met fixed in the leg of the person after activities of field. The parasitism of this tick in human being is an uncommon finding. Kew-words: Amblyomma, Ixodidae, tick, ectoparasite INTRODUÇÃO O gênero Amblyomma possui cerca de 33 espécies registradas no Brasil com extensa distribuição geográfica, variedade de hospedeiros e grande importância na saúde pública, já que muitas espécies são relatadas parasitando humanos e desempenham um relevante papel como vetores de agentes patogênicos (GUIMARÃES et al., 2001). Apresenta distribuição geográfica na Argentina, Bolívia, Brasil, Costa Rica, El Salvador, Guatemala, Guiana Francesa, sul do México, Nicarágua, Panamá, Paraguai e Venezuela. No Brasil, este carrapato tem sua distribuição confirmada nos Estados de São Paulo, Mina Gerais, Goiás, Bahia, Pernambuco, Piauí, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Maranhão, Ceará e Rio Grande do Norte (ARAGÃO, 1936; GUIMARÃES et al., 2001; BEZERRA et al., 2007). Amblyomma parvum parasita diferentes ordens de mamíferos. Uma redescrição deste ixodídeo foi feita na Argentina, onde é um carrapato comum do gado no norte daquele país (Guglielmone et al., 1990). Na literatura há
relatos da presença deste carrapato em várias espécies silvestres nos estados brasileiros (GUIMARÃES et al., 2001). No Rio Grande do Norte, há registro desta espécie parasitando caprinos e ovinos (BEZERRA, 2007). A relação parasito/hospedeiro, o menor grau de especificidade dos carrapatos e os longos períodos de jejum são fatores que favorecem a transmissão de agentes patogênicos. No processo de alimentação, os carrapatos, de forma geral, podem determinar: ação traumática e espoliativa, pela dilaceração de células e tecidos, bem como ação tóxica, pela inoculação de substâncias através da saliva e transmissão de doenças, causando prejuízos econômicos à pecuária brasileira e à saúde pública (MASSARD & FONSECA, 2004). O objetivo do presente trabalho é informar um caso de parasitismo em humano por Amblyomma parvum ocorrido no município de Pau dos Ferros, Rio Grande do Norte, Brasil. MATERIAL E MÉTODOS No dia 13 de abril de 2008, após um dia de trabalho no campo com manejo de bovinos e passeio à cavalo, um homem observou, enquanto banhava-se, um carrapato fixado em sua perna. O carrapato foi retirado manualmente por torção no sentido anti-horário. Após ser colocado em um frasco de vidro, o ectoparasita vivo foi encaminhado ao laboratório de Parasitologia Animal da Universidade Federal Rural do Semi-Árido (UFERSA), onde foi conservado em álcool 70º GL. A amostra foi analisada em microscópio estereoscópio e identificado com auxilio de chave dicotômica segundo Aragão & Fonseca (1961) e Barros- Battesti et al. (2006). O exemplar de carrapato coletado neste trabalho foi depositado na Coleção do Laboratório de Parasitologia Animal da UFERSA de nº 411.
RESULTADOS E DISCUSSÃO Pela análise morfológica e considerando os caracteres taxonômicos, o espécime foi identificado como Amblyomma parvum Aragão (1908) e que se tratava de uma fêmea adulta. Este carrapato parasita diferentes ordens de mamíferos, sendo o parasitismo em humanos um achado incomum, viabilizando seu relato pela primeira vez no Estado do Rio Grande do Norte. O ixodideo foi coletado na zona rural de Pau dos Ferros, município localizado no Alto Oeste do Rio Grande do Norte (6º06 33 S; 38º12 16 W). Possui clima quente tipo de região semi-árida, com temperatura de 21ºC a 36ºC e um índice pluviométrico anual de 721,3mm. Essa localidade apresenta uma densa concentração populacional de baixo poder aquisitivo, com desenvolvimento de atividades agrícolas e pecuária (PDF, 2008). Na pecuária, a criação predominante é de bovinos, caprinos, eqüinos e ovinos, sendo estes possíveis hospedeiros de carrapatos. O exemplar coletado caracteriza-se, morfologicamente, por possuir rostro longo, gnatossoma com a base retangular e atenuando-se gradativamente para a porção anterior, hipostômio com três fileiras de dentes recurrentes de cada lado, peritremas triangulares com os ângulos arredondados. Festões marginais posteriores presentes, machos desprovidos de placas adanais. Destacando-se neste espécime, presença de espinho retrógrado ventral do artículo I do palpo, coxa I com dois espinhos muito desiguais, apresentando o interno menos de 1/3 do comprimento do externo e coxa IV com um único espinho. Escudo sem ornamentação, castanho claro, de bordos sinuosos em ambos os sexos (BARROS-BATTESTI et al., 2006), como mostra figura 1.
Figura 1. Características taxonômicas de Amblyomma parvum: A- Coxa IV com um só espinho; B- Hipostômio 3/3; C- Espinho retrogrado no artículo I do palpo; D- Coxa I com dois espinhos evidentes e desiguais; E- Trocânter com espinhos; F- Escudo não ornamentado, castanho claro de bordos sinuosos. Desequilíbrio na relação parasita/hospedeiro, força espécies de ectoparasitas buscar outros hospedeiros. Todas as espécies da família Ixodidae requerem obrigatoriamente sangue de vertebrados para sua evolução e possuem significativo grau de especificidade, podendo utilizar hospedeiros alternativos, incluindo o homem, quando necessário (MASSARD & FONSECA, 2004). Condições ambientais favoráveis para reprodução e desenvolvimento e grande contaminação do meio ambiente torna mais fácil o aparecimento de casos de parasitismo humano. CONCLUSÃO Casos de parasitismo de carrapato em humanos não são comumente relatados, mas, devido à condição encontrada por este ixodideo em Pau dos
Ferros e à sua possível versatilidade de se adaptar ao meio ambiente, pode-se observar a ocorrência de parasitismo em humano por A. parvum. Apesar de ainda não ser evidenciada a transmissão de patógenos por este carrapato para animais e seres humanos, cabe ressaltar a capacidade vetorial deste carrapato e a necessidade de estudos na área. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ARAGÃO H., FONSECA F. Notas de Ixodologia VIII. Lista e chave para representantes da fauna Ixodológica Brasileira. Memórias do Instituto Oswaldo Cruz v.59, n. 2, p.115-129, 1961. BARROS-BATTESTI, D. M., ARZUA M., BECHARA, G. H. Carrapatos de importância médicoveterinária da região neotropical: um guia ilustrado para identificação de espécies. São Paulo: Vox/ICTTD-3/Butantan, 2006, p. 53-113. BEZERRA, A. C. D. S. Prevalência de ectoparasitas em caprinos e ovinos no município de Mossoró, RN. Mossoró, 2007. 60p. Dissertação (Mestrado), Universidade Federal Rural do Semi-Árido. GUGLIELMONE, A. A., MANGOLD, A.J., KEIRANS, J. Acarology, v. 31, n. 2, p. 143-159, 1990. GUIMARÃES, J. H., TUCCI, E. C., BARROS-BATTESTI, D. M. Ectoparasitas de importância veterinária. São Paulo: Plêiade, 2001. p.52-104. MASSARD, C.L. & FONSECA A.H. Carrapatos e doenças transmitidas, comuns ao homem e aos animais. A Hora Veterinária, v. 135, n. 1, p. 15-23, 2004.