Francisco de Oliveira Goulart 1



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RTIGO originl Vendramin Goulart Franco FO T FS et et al. et al. al. Correção da orelha de abano pela técnica de incisão cartilaginosa, definição da antélice com pontos de Mustardé e fixação da cartilagem conchal na mastoide Correction of prominent ears by the cartilaginous incision technique, definition of the antihelix with Mustardé sutures, and fixation of the ear cartilage at the mastoid Francisco de Oliveira Goulart 1 Danilo Santos Vidal de rruda 1 runo Menezes Karner 2 Pedro Lopes Gomes 2 Sérgio Carreirão 3 RESUMO Introdução: orelha de abano é o mais comum de todos os defeitos congênitos da orelha, com incidência de 5% em caucasianos. O tratamento cirúrgico deve corrigir os ângulos au riculocefálico e escafoconchal, bem como a protrusão do lóbulo, quando presente. O objetivo deste trabalho é demonstrar a experiência de nosso serviço no tratamento da orelha de abano com a combinação de diversas técnicas disponíveis. Método: Foram avaliados 47 pacientes, operados com a associação de técnicas já descritas anteriormente, sendo utilizados incisão cartilaginosa, pontos de Mustardé para definição de antélice e fixação da concha na mastoide. Os pacientes com menos de 15 anos de idade foram operados sob anestesias geral e local, e os demais foram submetidos somente a anestesia local. Todos os pacientes foram reavaliados no primeiro dia de pós-operatório. Resultados: Os resultados pós-operatórios foram considerados satisfatórios pelos pacientes e pela equipe cirúrgica, sem o aparecimento do estigma de orelha operada. Conclusões: O melhor tratamento de orelhas proeminentes é obtido com a associação de diversas técnicas. abordagem empregada nos pacientes avaliados tem apresentado resultados naturais e com baixos índices de complicação, satisfazendo a equipe cirúrgica e, principalmente, os pacientes. Descritores: Orelha externa/cirurgia. Cirurgia plástica/métodos. Otopatias/cirurgia. Trabalho realizado no Hospital Federal da Lagoa Rede Federal da Saúde no Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, RJ, rasil. rtigo submetido pelo SGP (Sistema de Gestão de Publicações) da RCP. rtigo recebido: 16/6/2011 rtigo aceito: 10/10/2011 STRCT ackground: Prominent ear is the most common congenital defect of the ear, with an in - cidence of 5% in Caucasians. Surgical treatment should correct the auriculocephalic and con choscaphal angles as well as protrusion of the lobe when present. This paper aims to re port the experience of our service in the treatment of prominent ears with a combination of several available techniques. Methods: Forty-seven patients operated with a combination of previously described techniques were evaluated, and cartilaginous incision, Mustardé sutures for antihelix definition, and concha-mastoid fixation were performed. Patients less than 15 years of age were operated under general and local anesthesia, while the remaining patients underwent only local anesthesia. ll patients were reassessed on the first posto perative day. Results: The postoperative results were considered satisfactory by both patients and surgical staff, with no stigma development in the operated ear. Conclusions: The best treatment of pro minent ears is achieved by a combination of techniques. The approach used on the studied patients has produced natural-looking results with low complication rates, satisfying the surgical staff and, most importantly, the patients. Keywords: External ear/surgery. Plastic surgery/methods. Ear diseases/surgery. 1. Médico residente em Cirurgia Plástica do Hospital Federal da Lagoa, Rio de Janeiro, RJ, rasil. 2. Membro especialista da Sociedade rasileira de Cirurgia Plástica (SCP), ex-residente em Cirurgia Plástica do Hospital Federal da Lagoa, Rio de Janeiro, RJ, rasil. 3. Membro titular da SCP e do Colégio rasileiro de Cirurgiões, chefe do Serviço de Cirurgia Plástica do Hospital Federal da Lagoa, Rio de Janeiro, RJ, rasil. 602 Rev. ras. Cir. Plást. 2011; 26(4): 602-7

Correção da orelha de abano pela técnica de incisão cartilaginosa, definição da antélice com pontos de Mustardé e fixação da cartilagem conchal na mastoide INTRODUÇÃO Orelha de abano é o mais comum de todos os defeitos congênitos da orelha. deformidade pode ser notada ao nas cimento e, geralmente, torna-se mais acentuada com o passar do tempo 1, sendo sua incidência de cerca de 5% em caucasianos 2. Embora não acarretem alteração funcional, as deformidades da orelha podem provocar importantes distúrbios psicossociais 3. Para a correção de orelhas de abano, as alterações ana - tômicas devem ser diagnosticadas corretamente. s três causas mais comuns de orelha de abano podem estar presentes isoladamente ou em associação: antélice subdesenvolvida, aumentando o ângulo escafoconchal; proeminência da con - cha, aumentando o ângulo auriculocefálico; e protrusão do lóbulo 3. O ângulo auriculocefálico normal varia entre 25 graus e 30 graus; quando maior que 40 graus, pode ser considerado anormal. Da mesma forma, o ângulo escafoconchal normal tem aproximadamente 90 graus, e ângulos mais obtusos fre - quen temente requerem correção cirúrgica 4,5. lém das al te rações anatômicas no próprio pavilhão, pacientes com assi me - tria significativa entre as orelhas podem se beneficiar com a otoplastia 6. O objetivo deste trabalho é demonstrar a experiência de nosso serviço no tratamento da orelha de abano com a combinação de diversas técnicas disponíveis. Figura 1 Marcação anterior. MÉTODO Foram avaliados 47 pacientes, sendo 2 casos unilaterais, operados pela associação de técnicas descritas a seguir. s cirurgias foram realizadas entre fevereiro de 2009 e dezembro de 2010, no Serviço de Cirurgia Plástica do Hos - pital Federal da Lagoa (Rio de Janeiro, RJ). Foram operados pacientes com idade entre 7 anos e 52 anos (média de idade de 23 anos), sendo 18 do sexo feminino e 29 do masculino. Os pacientes com menos de 15 anos de idade (25,5% dos casos) foram operados sob anestesias geral e local, e nos de mais pacientes (74,5% dos casos) foi realizada somente anes tesia local. Os pacientes operados com anestesia geral receberam alta no dia seguinte ao procedimento e aqueles submetidos somente a anestesia local, no mesmo dia. Todos os pacientes foram avaliados no primeiro dia de pós-operatório. Técnica Cirúrgica 1. Marcação com caneta dermográfica nas superfícies anterior e posterior da orelha. s marcações anteriores referem-se às áreas para a incisão cartilaginosa e as posteriores, à ressecção da ilha de pele (Fi guras 1 e 2). Figura 2 Marcação posterior. 2. Infiltração de solução de lidocaína a 2% + adrenalina em soro fisiológico, obtendo-se solução final de lidocaína a 1% + adrenalina a 1:200.000, não se ul trapassando a dose máxima de 10 mg/kg de anes - tésico local. 3. Incisão e ressecção da ilha de pele posterior con - forme marcação prévia, de modo que a cicatriz re - sultante fique posicionada no sulco retroauri cu lar (Figura 3). 4. Descolamento posterior da orelha em plano subpericondrial até boa exposição da cartilagem auricular e descolamento da região mastoide, com ressecção do músculo auricular posterior (Figura 4). Rev. ras. Cir. Plást. 2011; 26(4): 602-7 603

Goulart FO et al. Figura 3 Ilha de pele ressecada. Figura 5 Incisões em cartilagem auricular. Figura 4 Descolamento em região posterior da orelha e região mastoide. Figura 6 Ponto de Mustardé. 5. Marcação das incisões cartilaginosas por meio da in - trodução de agulhas de insulina conforme marcação prévia na superfície anterior da orelha. 6. Incisão da cartilagem em quatro pontos: borda ex - terna na antélice, borda interna do ramo superior da antélice, incisão transversa entre as duas, evitan - do-se a união das duas primeiras incisões, e, por último, uma incisão em borda externa da concha (Figura 5). 7. Definição da antélice com pontos de Mustardé com fio de náilon 4.0 entre as incisões existentes, sendo o primeiro ponto entre a incisão na borda externa da antélice e a incisão na borda interna do ramo superior da antélice, para a definição do ramo superior da antélice e mais um ou dois pontos entre a incisão na borda externa da antélice e a incisão na concha para completar a definição da antélice (Figuras 6 a 8); 8. Ressecção do excesso da cartilagem conchal, quan do necessário (Figura 9). Figura 7 Ponto de Mustardé. 9. Rotação da cartilagem conchal e sua fixação na mas - toide com fio de náilon 3.0 (Figura 10). Quando necessário, também podem ser fixados os polos su perior e inferior da orelha na região mastóidea, com fio de náilon 4.0. 604 Rev. ras. Cir. Plást. 2011; 26(4): 602-7

Correção da orelha de abano pela técnica de incisão cartilaginosa, definição da antélice com pontos de Mustardé e fixação da cartilagem conchal na mastoide Figura 8 Ponto de Mustardé. Figura 11 Sutura final da pele. permanecer por 24 horas, quando, então, o paciente é avaliado no primeiro dia de pós-operatório. Figura 9 Ressecção do excesso de cartilagem conchal. companhamento Pós-operatório No primeiro dia de pós-operatório, o curativo cirúrgico foi trocado por faixa elástica para proteção auricular, que foi mantida por 45 dias, sendo utilizada somente no período noturno nos últimos 15 dias. ntibioticoterapia foi mantida por 7 dias e analgésicos e anti-inflamatórios não-esteroides foram prescritos conforme a necessidade. O acompanhamento pós-operatório ambulatorial foi rea - lizado 1 dia, 1 semana, 21 dias, 45 dias, 3 meses e 6 meses após o procedimento. Os pontos foram retirados na consulta aos 21 dias de pós-operatório. RESULTDOS Figura 10 Fixação da concha à mastoide. 10. Sutura da pele com pontos em barra grega, com fio de náilon 4.0 (Figura 11). 11. Curativo com algodão úmido preenchendo todas as concavidades da orelha, acolchoamento com ga ze e colocação de atadura de crepom, que deve No total, 47 pacientes foram submetidos a correção de orelhas de abano pela associação das técnicas expostas nesse trabalho. Foram utilizadas como técnicas incisão cartilaginosa, confecção de pontos de Mustardé para definição da antélice, rotação conchal e, quando necessário, ressecção de excesso de cartilagem conchal. Os resultados pós-operatórios foram considerados satisfatórios pelos pacientes e pela equipe cirúrgica, sem o aparecimento do estigma de orelha operada. s Figuras 12 a 15 ilustram resultados obtidos com a técnica descrita em pacientes operados em nosso serviço. DISCUSSÃO primeira descrição de um procedimento cirúrgico para correção de orelha de abano foi feita por Dieffenbach, em 1845, que sugeriu a ressecção de pele retroauricular. Desde Rev. ras. Cir. Plást. 2011; 26(4): 602-7 605

Goulart FO et al. Figura 12 Em, pré-operatório imediato. Em, pós-operatório imediato. Figura 14 Paciente 2. Em, pré-operatório, visão anterior. Em, pós-operatório, visão anterior. Figura 13 Paciente 1. Em, pré-operatório, visão posterior. Em, pós-operatório, visão posterior. então, vários autores têm estudado e proposto novas técnicas operatórias, visando sempre resultados cada vez mais naturais e duradouros 7. orelha de abano é determinada por uma ou um conjunto de alterações anatômicas, de modo que o planejamento ci - rúrgico adequado deve considerar as deformidades de cada parte da orelha isoladamente, para que, quando tratadas individualmente, produzam resultado harmonioso e natural. O resultado ideal é a obtenção de orelhas que não aparentem ter sido operadas 8. incisão cartilaginosa proporciona adequada quebra da mola cartilaginosa, tanto em pacientes com cartilagem espessa como fina, obtendo-se resultados harmoniosos e sem ocorrência da quebra da cartilagem. Para definição de antélice, são passados de 2 a 4 pontos de Mustardé, dependendo da necessidade de cada caso, evitando-se o aperto exagerado dos pontos, para não haver prejuízo estético. Em todos os pacientes desse estudo, foi empregada a ro tação conchal, com sua fixação no periósteo da região C Figura 15 Paciente 3. Em, pré-operatório, perfil direito. Em, pré-operatório, perfil esquerdo. Em C, pós-operatório, perfil direito. Em D, pós-operatório, perfil esquerdo. mastoide, com cuidado para não haver fechamento importante do conduto auditivo externo 9. Em alguns pacientes que apresentavam maior hipertrofia foi realizada, também, ressecção de excesso da concha. s complicações em otoplastias são muito raras 9,10, sendo as mais comuns o hematoma e a infecção no pós-operatório D 606 Rev. ras. Cir. Plást. 2011; 26(4): 602-7

Correção da orelha de abano pela técnica de incisão cartilaginosa, definição da antélice com pontos de Mustardé e fixação da cartilagem conchal na mastoide imediato 1. No período pós-operatório tardio, pode ocorrer extrusão dos pontos e, como complicação mais significativa, a hipercorreção ou irregularidades de contorno 3. Observamos um caso de extrusão de ponto em nossa casuística, dois casos de hematomas unilaterais, resolvidos prontamente com drenagem, e não houve nenhum caso de infecção. CONCLUSÕES O melhor tratamento de orelhas proeminentes é obtido com a associação de diversas técnicas. abordagem empregada nos pacientes avaliados tem apresentado resultados na turais, com baixos índices de complicação, satisfazendo a equipe cirúrgica e, principalmente, os pacientes. REFERÊNCIS 1. velar M. In: Mélega JM, ed. Cirurgia estética. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2003. p.271-80. 2. ardach J. Surgery for congenital and acquired malformations of the auricle. In: Cummings CW, Fredrickson JM, Harker L, Krause CJ, Schüller DE, eds. Otolaryngology: head and neck surgery. St Louis: Mosby; 1986. p.2861. 3. Thorne CH, easley RW, ston SJ, artlett SP, Gurtner GC, Spear SL, eds. Grabb & Smith: Cirurgia Plástica. 6ª ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2009. p.290-304. 4. Skiles MS, Randall P. The anesthetics of ear placement: an experimental study. Plast Reconstr Surg. 1983;72(2):133-40. 5. ygit C. Molding the ears after anterior scoring and concha repositioning: a combined approach for protruding ear correction. esthetic Plast Surg. 2003;27(1):77-81. 6. Georgiade GS, Riefkohl R, Georgiade NG. Prominent ears and their correction: a forty-year experience. esthetic Plast Surg. 1995;19(5): 439-43. 7. Calder JC, Naasan. Morbidity of otoplasty: a review of 562 consecutive cases. r J Plast Surg. 1994;47(3):170-4. 8. Ferreira LM. Deformidades auriculares. In: Manual de Cirurgia Plástica. São Paulo: theneu; 1995. p.223-8. 9. Spira M. Otoplasty: what I do now. 30-year perspective. Plast Reconstr Surg. 1999;104(3):834-40. 10. Franco T, Rebello C. Otoplastias. In: Franco T, Rebello C, eds. Cirurgia estética. Rio de Janeiro: theneu; 1977. p.181-201. Correspondência para: Francisco de Oliveira Goulart Rua Cinco de Julho, 349/906 Copacabana Rio de Janeiro, RJ, rasil CEP 22051-030 E-mail: franciscooliveiragoulart@yahoo.com.br Rev. ras. Cir. Plást. 2011; 26(4): 602-7 607