Bandus timorenses: pregnância e saliências Programa de Pós-Graduação e Pesquisa 1
Tara Bandu: Património Imaterial da Humanidade? Tópico de pesquisa projeto ancorado no PPGP/UNTL a ter início em 2017 Será que o Tara Bandu tem profundidade histórica e singularidade geográfica e cultural por forma a que se possa considerar a hipótese da candidatura a Património Imaterial da Humanidade enquanto elemento característico de Timor- Leste? A questão não é despicienda porquanto, por exemplo, nas ilhas do arquipélago de Solor, e dir-se-ia que genericamente na região do sudeste asiático, existem cerimónias tradicionais que parecem ter o mesmo fundamento substancial o culto dos espíritos, dos antepassados ou outros - associado a mecanismos de troca simbólica e rituais coreografados. Tem-se por exemplo as práticas adat na ilha de Flores. 2
Tara Bandu (1) Batara/Manatuto 3
Tara Bandu (2) Batara/Manatuto 4
Tara Bandu (3) Batara/Manatuto 5
Dicotomia pregnância/saliências - escola semiótica de Paris Pregnância Aspectos profundos. Forma potencial, articulação semântica. Saliências Fenómenos sensíveis. Articulação sintáctica, coreográfica Crença nos espíritos dimensão invisível/imaterial do mundo Troca simbólica dar para receber Poder mágico da palavra e do rito Proibição sanção- proteção ( ) Hibridação com o catolicismo? Sacrifícios rituais - Sangue vivificador Masca como ícone do sangue Mantra Danças e cânticos Coreografia ( ) Adereços: Kaibauk, belak, outros 6
Tara Bandu (4) Batara/Manatuto 7
Etimologia de bandu e tara bandu Bandu é uma palavra tétum que no dicionário de Luís Costa (2000) surge definida como significando: proibição; ordem dada por meio de pregão ou bando. Trata-se de uma palavra apropriada do termo português bando, por sua vez derivado do termo do latim tardio de influencia germânica bandum que, no seu sentido mais lato, significava proclamação solene bam: pregão. Aparece associada a designações como bandeira, um estandarte utilizado para legitimar o caráter solene da proclamação/bando, junto com tambores; ou, ao invés, contrabando algo que seria uma prática interditada por um bando; e também ao verbo banir - e ao conceito de banido - alguém excluído da comunidade por via de um bando, por ter infringido uma norma, de que deriva essa sanção. A sinonímia de bando com pregão, e a expressão apregoar um bando também mostra que seria usual pregar o documento como forma de divulgação, e portanto o verbo tétum tara significando dependurar, suspender (idem: Luís Costa, 2000) está conforme. 8
Exemplos de bandos coloniais portugueses não punitivos fonte: Figueiredo (2011) Vieira de Godinho, em 1785, tendo sentido também a falta de moeda miúda para as pequenas transações, propôs ao governador do Estado da Índia o aproveitamento de peças abandonadas no arsenal de Goa, a utilizar em Timor: (...)Peço a V. Exª uma porção da dita moeda e a minuta do bando que aqui deve publicar-se para que corra ( ). Em 1854, por ocasião da deslocação de uma embarcação portuguesa ao território, o Governador [Saldanha da Gama] mandou publicar dois bandos, de modo a estimular a venda temporária de café, tabaco e arroz. Também nesse ano, Saldanha da Gama tentou incentivar a cultura do café e com esse objetivo recorreu a prémios pecuniários, anunciados por bando. 9
Roque (2012): A voz dos bandos Ao longo do tempo, o bando passou para os usos tradicionais da justiça timorense, através da expressão bandu, significativo de proibição ou prática consuetudinária, associada ao termo tétum lulik (sagrado, proibido). Possuímos elementos suficientes para presumir uma considerável difusão no interior dos reinos timorenses desde pelo menos o século XVIII dos bandus. Os reis de Timor podiam expressar por meio de bandus as suas determinações. Em 1895, na véspera do confronto com forças portuguesas invasoras, o rei de Manufahi teria proclamado um bandu proibindo todos os seus súbditos de chegarem a acordo com o governo português. No documento emitido pelo conde de Sarzedas, governador do Estado da Índia ao governador de Timor, Cunha Gusmão, em 1811, é feita referência à imposição de multas a escravos pelos reis timorenses, o motivo sendo: por bandos que eles *escravos+ transgrediram. 10
Major José dos Santos Vaquinhas (1885) As ordens expedidas pelos régulos ou pelos chefes para conhecimento do povo em geral são por meio de bandos ( ), e para que não se alegue ignorância na localidade onde elas são dadas, procede-se pela seguinte forma: Próximo dos caminhos são dependurados num poste, ou amarrados a um pé de coqueiro ou de qualquer árvore, certos e determinados objetos, que por si indicam a espécie da ordem: por exemplo, uma folha de coqueiro, um pé de carneiro, uma espada de pau, uma corda e um ovo, e outros utensílios combinados, servem para indicar o objeto da ordem, de qualquer proibição, e até mesmo a importância da multa que os transgressores têm a pagar. 11
Formulação preliminar da hipótese de pesquisa Os bandus timorenses, e na sua expressão maior a cerimónia Tara Bandu, têm profundidade histórica, singularidade geográfica e injunção pragmática por força do miscigenação da tradição regional com elementos culturais da colonização portuguesa para se poder delinear a candidatura a Património Imaterial da Humanidade. De entre os efeitos de injunção pragmática salienta-se a retoma de Tara Bandu desde 2000 como forma de regulação da convivência social e proteção dos recursos naturais, incluindo na discussão e aprovação do regulamento de Suco. O traço cultural mais profundo que informa o Tara Bandu mostra-se associado à reunião da dicotomia sagrado/profano, expresso nos conceitos lulik/tei/po/( ) aparentados ao conceito de taboo da polinésia/melanésia. 12
Obrigadu - 13