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ANAIS TRANSFERÊNCIAS INTERGOVERNAMENTIAS PARA O ENSINO BÁSICO E O DESEMPENHO ESCOLAR: UM ESTUDO SOBRE A RELAÇÃO ENTRE AS TRANSFERÊNCIAS DO FUNDEB, OS GASTOS COM MAGISTÉRIO E O RESULTADO DO IDEB NOS MUNICÍPIOS POTIGUARES Antônio Erivando Xavier Júnior (Universidade Federal Rural do Semi-Árido) Levi Leal de Morais (Universidade Federal Rural do Semi-Árido) Álvaro Fabiano Pereira de Macêdo (Universidade Federal Rural do Semi-Árido) Alexsandro Gonçalves da Silva Prado (Universidade Federal Rural do Semi-Árido) Resumo: Baseado nas características do federalismo fiscal brasileiro e na necessidade de se verificar sua eficácia no desenvolvimento da educação, o objetivo desse trabalho constituiu em prever o comportamento dos índices do IDEB dos municípios do estado do Rio Grande do Norte a partir das receitas destinadas ao FUNDEB e do seu percentual destinado às despesas com a remuneração do magistério. Tais variáveis foram escolhidas por estarem diretamente ligadas ao funcionamento do sistema educacional de todos os municípios. Utilizou-se como metodologia a técnica de regressão com dados em painel, compreendendo 101 municípios potiguares nos anos de 2010 a 2013. A técnica utilizada revela que existe uma relação negativa entre as variáveis. Esse resultado sugere que se pode prever o comportamento do IDEB dos municípios potiguares a partir da proporção da receita do FUNDEB sobre a receita corrente, mas não se pode prever o comportamento do IDEB com base no percentual da receita do FUNDEB aplicado na remuneração do magistério. Palavras-chave: Federalismo Fiscal. FUNDEB. IDEB. Remuneração do Magistério 1 INTRODUÇÃO No Brasil, a educação básica é tratada como prioridade prevista na Constituição Federal de 1988, a qual assegura que parte das receitas públicas deve ser alocada para a sua garantia. A Constituição Federal, no seu Art. 212, prevê que 18% da receita da União e 25% da receita dos estados e municípios com impostos e transferências (RIT) devem ser destinadas a educação. No entanto, em muitos estados e municípios, a arrecadação é baixa e os 25% previstos na constituição seriam insuficientes para a manutenção da rede de ensino * A revisão gramatical, ortográfica, ABNT ou APA foi realizada pelos autores.

da educação básica. Para equalizar e estabelecer padrões mínimos para a educação, no Brasil, foi criado um Fundo Contábil, inicialmente, denominado de Fundo de Desenvolvimento da Educação Fundamental (FUNDEF), posteriormente passou a ser o Fundo da Educação Básica e de Valorização do Magistério (FUNDEB) pela Emenda Constitucional e, regulamentado pela Lei nº 11.494/2007 e pelo Decreto nº 6.253/2007 e tem vigência até o ano de 2020. A lei garante que o mínimo de 60% dos recursos oriundos do FUNDEB sejam gastos com remuneração dos magistrados. Dados da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE, 2010) mostra que a pesar dos altos gastos com a educação, o Brasil não apresenta um bom desempenho frente aos demais países; logo a qualidade na educação não depende apenas de dinheiro. Para avaliar o desenvolvimento da educação, o Governo Federal criou por meio do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP) vinculado ao Ministério da Educação (MEC), o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB) que avalia o desempenho da educação por estados, municípios e escolas, a cada dois anos, e estima metas, a cada biênio, até o ano de 2021. A meta para o Brasil é alcançar a nota 6,0 ao final do período. Nessa perspectiva, a pesquisa tem como objetivo principal analisar se o desempenho na educação do estado do Rio Grande do Norte, no IDEB, está relacionado com o percentual da receita do FUNDEB e com o montante aplicado na remuneração do magistério nos biênios 2010/2011 e 2012/2013. O estado do Rio Grande do Norte não tem mantido um bom desempenho nas avaliações do IDEB. Na última avaliação, no ano de 2013, apenas o ensino fundamental I conseguiu atingir a meta, apresentou abaixo da meta o ensino fundamental II e o ensino médio. O FUNDEB foi criado com o intuito de promover a redistribuição dos recursos vinculados à educação e tem como estratégia distribuí-los pelo país, lavando em consideração o desenvolvimento econômico e social das regiões. A União aplica os recursos nas regiões, onde os investimentos, por aluno, sejam inferiores ao valor mínimo fixado para cada ano. Ao mesmo tempo, garante que o profissional do magistério seja prioridade na utilização dos recursos. Por sua vez, o IDEB foi criado para monitorar a qualidade e desenvolvimento da educação com dados concretos, os quais a sociedade possa acompanhar e buscar melhorias. Diante do exposto, esta pesquisa procura responder o seguinte problema de pesquisa: Qual a relação entre as transferências do FUNDEB, os gastos com magistério e o resultado do IDEB? Considerando as informações fornecidas pelo MEC sobre valores de repasses do FUNDEB e os índices alcançados pelos municípios potiguares no IDEB, o presente estudo visa contribuir com uma avaliação sistêmica sobre como se encontra a educação básica potiguar. 2 O FUNDEB Por força do disposto no art. 212 da Constituição Federal, o FUNDEB é um fundo especial de natureza contábil. O FUNDEB é dividido em vinte sete fundos, sendo um fundo por estado e Distrito Federal. Sua formação é quase totalmente proveniente dos impostos e transferências dos estados, Distrito Federal e municípios 1995

além da complementação com recursos do governo federal quando em algum estado não compõe o montante mínimo previsto em lei. Sua implantação deu-se início em janeiro de 2007 e tem vigência até o ano de 2020, no entanto apenas em 2009 o percentual de 20% de contribuições dos estados, Distrito Federal e municípios foram destinados para a formação do fundo. O FUNDEB tem dividido opiniões em relação a sua estruturação, uma vez que estabelece critérios que não levam em consideração as necessidades locais e limitando de forma acentuada a discricionariedade do gestor, como exemplo, a determinação de que 60% dos recursos do FUNDEB devem ser destinados à remuneração do magistério conforme relata (DINIZ, 2012, p. 21). Outro fato que tem causado problemas é o conflito do FUNDEB com a lei de responsabilidade fiscal que restringe o gasto com pessoal e encargos fiscais a 54% da receita corrente líquida arrecadada pelos municípios (QUEIROZ, CAMARA E ALVES, 2010). Desde a promulgação da Constituição Federal de 1988, 25% das receitas dos impostos e transferências dos estados, Distrito Federal e municípios se encontram vinculados à Educação. Com a Emenda Constitucional nº 14/96, 60% desses recursos eram destinados ao ensino fundamental, ou seja 15% dos impostos e transferências (60% dos 25%).Em 1996 foi criado de forma experimental o FUNDEF no estado do Pará e a partir de 1998 passou a ser utilizado em todo país. Nesse período era crescente o apelo popular por melhorias na educação básica liderado pela Campanha Nacional pelo Direito à Educação Básica que conseguia reunir diversas entidades ligadas à educação e aos direitos da criança e do adolescente como a UNICEF, UNESCO, CESE, Actionad, entre outras (CAMPANHA NACIONAL PELO DIREITO À EDUCAÇÃO, 2009) Com a Emenda Constitucional nº 53/2006, a subvinculação das receitas dos impostos e transferências dos estados, Distrito Federal e municípios passaram para 20% e sua utilização foi ampliada para toda a educação básica por meio do FUNDEB, que promove a distribuição dos recursos com base no número de alunos da educação básica informado no censo escolar do ano anterior, sendo computados os estudantes matriculados nos respectivos âmbitos de atuação prioritária (art. 211 da Constituição Federal). Ou seja, os municípios recebem os recursos do FUNDEB com base no número de alunos da educação infantil e do ensino fundamental, e os estados, com base nos alunos do ensino fundamental e médio. De acordo com o portal do FNDE, no ano de 2014 os repasses do FUNDEB chegaram a 126.19 bilhões de reais, sendo que115,33 bilhões foram oriundos de contribuições e 10,86 bilhões de complemento da União. O número de beneficiários no censo escolar de 2012ultrapassou os 41.22 milhões, tendo um custo médio de R$ 3.061,00 por aluno. No período de 2010 a 2014 houve um aumento de 50,91% nas receitas do FUNDEB. A distribuição é realizada levando em conta o número de alunos da educação básica pública, de acordo com dados do último censo escolar. Os municípios recebem os recursos do Fundeb com base no número de alunos da educação infantil e do ensino fundamental, e os estados, com base no número de alunos do ensino fundamental e médio. Para definir o valor por aluno existe o fator de ponderação definido pela Comissão Intergovernamental de Financiamento para a Educação Básica de 1996

Qualidade do MEC, que toma como base os alunos matriculados em anos iniciais na zona urbana (1,00). A partir desse entendimento são calculados os custos de cada aluno na rede pública de ensino. Por exemplo: No ano de 2008 o aluno da pré-escola de tempo integral custa 15% mais que o aluno de anos iniciais no ensino fundamental urbano (base). Já um aluno da educação de jovens e adultos corresponde a 70% do valor do aluno de anos iniciais no ensino fundamental urbano (base). Já em relação a sua composição o FUNDEB passou a corresponder desde 2009 a 20% das receitas de: Fundo de Participação dos Estados FPE. Fundo de Participação dos Municípios FPM. Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços ICMS. Imposto sobre Produtos Industrializados, proporcional às exportações IPIexp. Desoneração das Exportações (LC nº 87/96). Imposto sobre Transmissão Causa Mortis e Doações ITCMD. Imposto sobre Propriedade de Veículos Automotores IPVA. Cota parte de 50% do Imposto Territorial Rural-ITR devida aos municípios. Além da complementação com recursos federais aos estados e municípios que não conseguem arrecadação suficiente 3 O IDEB No Brasil, a questão do acesso à escola tende a não ser mais um problema, já que quase a totalidade das crianças ingressa no sistema educacional. Entretanto, as taxas de repetência dos estudantes são bastante elevadas, assim como a proporção de adolescentes que abandonam a escola antes mesmo de concluir a educação básica. Outro indicador preocupante é a baixa proficiência obtida pelos alunos em exames padronizados. Um sistema de ensino ideal era em que os alunos tivessem acesso à escola, não desperdiçassem tempo com repetências, não abandonassem a escola precocemente e, ao final de tudo, aprendessem (INEP, 2011). Para avaliar e acompanhar o desempenho dos alunos beneficiários, o Governo Federal criou no ano de 2007 o IDEB (decreto 6094/2007). Esse índice é capaz de avaliar o fluxo e o desempenho dos estudantes matriculados em toda rede de ensino. O índice é calculado a partir de dados como a aprovação escolar, obtidos no Censo Escolar e médias de desempenho nas avaliações do Inep, como o SAEB (para as unidades da federação e para o país), e a Prova Brasil (para os municípios) (INEP, 2011). 4 O FEDERALISMO FISCAL Segundo Marque Junior (2012) podemos citar como federalismo a constituição de uma divisão de poder entre as diversas regiões que compõem um país e abarca um universo que ultrapassa a economia. O federalismo se estende à política fiscal, que envolve a distribuição da competência no que diz respeito às receitas e despesas de cada ente federativo. Já a política monetária e cambial é responsabilidade apenas do governo central. Sua configuração muda entre os países que o adotaram como 1997

política fiscal em relação a quem arrecada e quem distribui a arrecadação. Entre as federações existentes pelo mundo podemos citar Estados Unidos, Argentina, Venezuela e Brasil. No Brasil o pacto federativo está firmado na CF de 1988 nos artigos 145 e 162: Atualmente no Brasil existem 92 tributos arrecadados pela União, estados ou municípios que se dividem em taxas, contribuições e impostos regulamentados pelo Código tributário Nacional (Lei 5.172/1966). Bragaia, Dos Santos e Ferreira (2015), elencam os principais impostos e taxas cobrados no país, com maior percentual na arrecadação da receita como, o IR (Imposto sobre a Renda) e IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados) no âmbito federal, ICMS (Imposto sobre Operações relativas à Circulação de Mercadorias e sobre Prestações de Serviços de Transporte Interestadual e Intermunicipal e de Comunicação) e IPVA (Imposto sobre a Propriedade de Veículos Automotores), no estadual e o ISSQN (Imposto sobre Serviços de Qualquer Natureza) e IPTU (Imposto Predial e Territorial Urbano), na esfera municipal. As transferências podem ser divididas de acordo com as circunstâncias do repasse. Eles podem ser constitucionais (quando previsto na constituição), legais (quando reguladas por leis específicas) e voluntárias (quando se referem a títulos de cooperação, convênio ou auxílio entre as partes). As transferências analisadas por este estudo serão de aspecto legal, tendo em vista que o FUNDEB é um fundo regulamentado por uma lei específica. 5 O FEDERALISMO FISCAL NA EDUCAÇÃO BRASILEIRA A Constituição Federal rege que a educação brasileira funcione em um modelo de federalismo cooperativo segundo Cara(2012) e podemos evidenciar essa afirmação nos artigos 23 e 211 da CF: Art.23 [...] Parágrafo único. Leis complementares fixarão normas para a cooperação entre a União e os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, tendo em vista o equilíbrio do desenvolvimento e do bem-estar em âmbito nacional. Art. 211 - A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios organizarão em regime de colaboração seus sistemas de ensino. 1º A União organizará o sistema federal de ensino e o dos Territórios, financiará as instituições de ensino públicas federais e exercerá, em matéria educacional, função redistributiva e supletiva, de forma a garantir equalização de oportunidades educacionais e padrão mínimo de qualidade do ensino mediante assistência técnica e financeira aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 14, de 1996) 2º Os Municípios atuarão prioritariamente no ensino fundamental e na educação infantil. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 14, de 1996). Assim sendo as ações desenvolvidas pelos entes da federação devem estar em sintonia, sendo que a União regulamenta todo o sistema educacional como a duração da educação obrigatória, o credenciamento de instituições educacionais, os parâmetros curriculares nacionais e definição da qualificação docente mínima. É função também da União o desenvolvimento e a manutenção de sistema de 1998

informação sobre educação, o desenvolvimento de avaliações em todos os níveis, a provisão de ensino técnico, a aplicação da política do livro didático, entre outras. Cabem aos municípios desenvolver seus sistemas educacionais próprios articulados com seus respectivos estados. (COSTA, CUNHA e ARAUJO, 2010 p. 20) 6 A EDUCAÇÃO NO RIO GRANDE DO NORTE Segundo dados do INEP a educação do Rio Grande do Norte não tem apresentado os resultados esperados nas ultimas avaliações do IDEB. O estado apresenta pouca evolução desde que o índice surgiu no ano de 2005, apresentando boa evolução apenas nas séries iniciais do ensino fundamental (até o 4º ano/5ª série). Já as séries finais (até 9º ano/8ª série) e a 3ª série do ensino médio apresentaram índices abaixo do esperado nas avaliações de 2011 e 2013 conforme tabela abaixo: Tabela 01 - Índices alcançados pelo RN no IDEB 2011 e 2013 Séries 4ª série/5º ano 8ª série/9º ano 3ª série do ensino médio Ano 2011 2013 2011 2013 2011 2013 Meta projetada 3,5 3,8 3,3 3,7 3,2 3,5 Índice observado 4,1 4,4 3,4 3,6 3,1 3,1 Fonte: Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira INEP Tais resultados não acompanharam a variação na receita do FUNDEB, tendo em vista que no mesmo período o valor por aluno passou de R$ 1590, 00 em 2010 para R$ 2218,31 em 2013 (tabela 02), confrontando assim a teoria da economia da educação citada por DINIZ (2012, p.24) que afirma que a quantidade de recursos gastos como sistema educacional é um fator crítico para maximizar os resultados obtidos pelos alunos. A tabela abaixo mostra a variação da receita do FUNDEB do estado do Rio Grande do Norte nos quatro anos estudados: Tabela 02 - Receita total do FUNDEB no Rio Grande do Norte Ano Matrículas Variação das matrículas (%) Receita Variação da receita (%) Valor por aluno 2010 785.635 1.249.780.447 1590,79 Variaç ão do valor por aluno (%) 2011 765.313-2,59 1.508.466.671 20,7 1971,05 23,9 2012 745.279-2,62 1.630.268.559 8,07 2187,46 10,98 2013 720.141-3,37 1.597.494.751-2,01 2218,31 1,41 Fonte: Fundo Nacional do Desenvolvimento da Educação FNDE 1999

O número de alunos matriculados se manteve constante com pouca variação de um ano para outro e se verificou um importante aumento da receita do ano de 2011 e 2012. O valor por aluno teve um aumento de 39% entre 2010 e 2013. Em estudo realizado por QUEIROZ, CAMARA, FREIRE e CUNHA (2011) com municípios paraibanos foi constatada a não existência de correlação estatística relevante entre os investimentos na educação e o desempenho dos municípios estudados no IDEB, reforçando os dados da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE, 2010) que constatou que o desempenho educacional brasileiro não acompanha os investimentos na educação. Tais dados nos remetem a estudar a relação dos investimentos em educação e o desempenho escolar no estado do Rio Grande do Norte. 7 METODOLOGIA Este trabalho tem como objetivo principal analisar se o desempenho na educação do estado do Rio Grande do Norte, no IDEB, está relacionado com o percentual da receita do FUNDEB e com o montante aplicado na remuneração do magistério nos biênios 2010/2011 e 2012/2013. A relação das receitas destinadas ao FUNDEB, do seu montante destinado à remuneração do magistério e o desempenho do estado do Rio Grande do Norte no IDEB caracteriza essa pesquisa como descritiva. Segundo Gil (2002) são pesquisas descritivas aquelas que visam descobrir a relação entre variáveis, e pretendem determinar a natureza dessa relação. A presente pesquisa é considerada como quantitativa, uma vez que usará métodos estatísticos para a abordagem do problema, como sugere Silva e Meneses (2005. P. 2) O estado do Rio Grande do Norte não tem apresentado nos últimos anos índices satisfatórios nos resultados do IDEB, não acompanhando, anualmente, a meta estabelecida pelo MEC, apesar da receita nos últimos biênios ter aumentado. Diante desse fato, foram testadas duas hipóteses: H1 - Existe relação entre o desempenho na educação do estado do Rio Grande do Norte no IDEB e da receita do FUNDEB nos biênios 2010/2011 e 2012/2013. H2 - existe relação entre o desempenho na educação do estado do Rio Grande do Norte no IDEB com o montante da receita do FUNDEB destinado à remuneração do magistério nos biênios 2010/2011 e 2012/2013. Considera-se uma hipótese nula Os dados foram coletados de demonstrativos publicados pelas administrações públicas, dos Portais do FNDE, por meio, do SIOPE, do Tesouro Nacional via FINBRA, do INEP e do MEC, referentes aos anos de 2010 a 2013, conforme repasses e gastos dos recursos do FUNDEB. Para a análise dos dados, foram utilizados métodos de regressão linear, com dados em painel; estudaram-se 101 municípios potiguares, tendo em vista que 66 dos 167 não dispunham de alguma informação nas fontes pesquisadas. A técnica de regressão linear, com dados em painel, permite avaliar a relação entre variáveis distintas como o tempo e outra variável explicativa (renda per capta, por exemplo). Essa técnica é amplamente utilizada em artigos científicos e em ferramentas de controle socioeconômico. No Brasil, é utilizada pelo INEP na construção de Sinopses Estatísticas da Educação Básica (SAEB). 2000

O índice do IDEB consiste na variável dependente, enquanto que o percentual da receita do FUNDEB sobre a receita corrente e o percentual das despesas com magistério sobre a receita do FUNDEB são as variáveis independentes, uma vez que o objetivo, desta pesquisa, é verificar se existe correlação estatística entre o desempenho educacional dos municípios e os recursos recebidos pelos municípios destinados à remuneração do magistério. Em razão das diferenças populacionais e territoriais dos municípios estudados e da periodicidade da divulgação do IDEB ser a cada dois anos, para análise dos dados, foi necessário obter o percentual das receitas do FUNDEB e das Despesas com o magistério por biênio. Para isso, foram coletadas as receitas correntes, de cada município potiguar, nos anos de 2010 a 2013 por meio do FINBRA, disponível no site do Tesouro Nacional. As receitas do FUNDEB e despesas com o magistério de cada município de 2010 a 2013 foram coletadas no SIOPE, disponível no site do FNDE. Para chegar aos dados da variável Média da Receita do FUNDEB, obteve-se o percentual da receita do FUNDEB sobre a receita corrente no ano 01 somado ao percentual do ano 02, dividido por dois. Já, para a variável Média das Despesas com Magistério, foram somados o percentual da receita do FUNDEB aplicado na remuneração do magistério do ano 01 com o mesmo percentual do ano 02, dividido por dois, conforme formulas abaixo: Receita FUNDEB 2010 Receita FUNDEB 2011 ( Receita Corrente 2010 + Receita Corrente 2011 ) 2 Despesas com magistério 2010 Despesas com magistério 2011 ( Receita FUNDEB 2010 + Receita FUNDEB 2011 ) 2 8 ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS DADOS Para verificar os efeitos das variáveis independentes sobre a variável independente, utilizou-se a análise de regressão com dados em painel. Esse tipo de análise, segundo Gujarati e Porter (2011) serve para estudar a influência das variáveis explicativas sobre uma variável dependente; para tanto, consideraram-se informações de cortes transversais e séries temporais. A variável dependente consiste no índice do IDEB, enquanto a média da receita do FUNDEB e a média da despesa com o magistério se caracterizam como variáveis independentes ou explicativas. As Tabelas 03 e 04 apresentam a relação entre as variáveis, após o tratamento estatístico; para isso, utilizaram-se os índices obtidos para o 5º e 9 ano do ensino fundamental. Para o 5º ano, o teste de colineariedade não mostra nenhum problema de multicolineariedade e o teste de heterodasticidade rejeita a hipótese nula nas variâncias dos resíduos ao nível de 1%. Nos gráficos abaixo, pode-se identificar a relação das variáveis ao longo das observações. Na figura 01, as variáveis mostram sua relação na curva de sino, enquanto na figura 02 estão representadas em reta crescente. 2001

Figura 01 Normal 5º ano Figura 02 Gráfico Q-Q dos Resíduos 5º ano Fonte: Dados da pesquisa Fonte: Dados da pesquisa Pode-se observar, no figura 01, que o histograma não acompanha a curva de sino, e que, no figura 02, os resíduos não acompanham fielmente a reta de crescimento, mostrando que, no teste, não há normalidade dos resíduos. Quanto ao teste de normalidade dos resíduos, rejeitou-se a hipótese nula de normalidade dos resíduos. Porém, esse pressuposto deve ser relaxado de acordo com o Teorema do Limite Central, o qual afirma que em grandes amostras os termos de erro tendem a se distribuírem normalmente segundo PAULO e LEME (2009). Apenas a variável média da receita do FUNDEB apresenta significância estatística ao nível de apenas 0,01 ou 1%, o que evidencia uma relação negativa com o índice do IDEB. Ou seja, no momento, em que há aumento na proporção da receita do FUNDEB sobre a receita corrente há uma queda no índice do IDEB. Já a variável média das despesas com o magistério não apresentou significância estatística. O diagnóstico do painel buscou verificar a normalidade, a colineariedade e hetorocedasticidade, com um R² ajustado, o que representa um poder de explicação de 0,06475, ou seja, 6,47% das variações no índice do IDEB são explicadas pelas variáveis independentes para o 5º ano. Tabela 3: Relação entre as variáveis índice IDEB, Média da receita com FUNDEB e Média das despesas com magistério 5º ano Variável Coeficiente erro padrão razão - t p valor Constante 4,14232 0,346589 11,98 2,96e-025*** MediaFundebRC: X -2,21299 0,574872-3850 0,0002*** MédiaDespMag: Y 0,145776 0,3984 0,366 0,7148 Fonte: Dados da pesquisa A variável média da receita do FUNDEB é a única que apresentou significância estatística, ou seja, que afeta o índice do IDEB e indica uma relação inversa com o índice do IDEB. No momento em que há um aumento na média da receita do FUNDEB, há uma diminuição no índice do IDEB. Com base na Tabela 03, pode-se elaborar o modelo que fornece a relação entre as variáveis, em que ε representa o resíduo ou erro da regressão: IDEB=4, 14232-2,21299X + 0,145776Y + ɛ. 2002

Em que: X = Média da receita do FUNDEB Y = Média das despesas com o magistério Para o 9º ano, o teste de colineariedade também não mostra nenhum problema de multicolineariedade e o teste de heterodasticidade rejeita a hipótese nula nas variâncias dos resíduos ao nível de 5%. Quanto ao teste de normalidade dos resíduos, o 9º ano não apresentou problemas de normalidade, conforme as figuras 03 e 04. Figura 03 Normal 9 ano Figura 04 Gráfico Q-Q dos Resíduos 9º ano Fonte: Dados da pesquisa Fonte: Dados da pesquisa Pode-se observar, na figura 03, que o histograma acompanha a curva de sino e que, na figura 04 os resíduos acompanham fielmente a reta de crescimento, mostrando que no teste há normalidade dos resíduos para o 9º ano. No 9º ano, o R² ajustado apresentou um poder de explicação de 0,05194, ou seja, 5,19% das variações no índice do IDEB são explicadas pelas variáveis independentes, um valor aproximado do verificado para o 5º ano. Tabela 4: Relação entre as variáveis índice IDEB, Média da receita com FUNDEB e Média das despesas com magistério - 9º ano Variável Coeficiente erro padrão razão - t p valor Constante 3,8982 0,356117 10,95 4,12e-0,22 *** MediaFundebRC: X -1,51537 0,588017-2,577 0,0107** MédiaDespMag: Y -0,61628 0,410974-1,5 0,1353 Fonte: Dados da pesquisa A variável média da receita do FUNDEB também é única que apresenta significância estatística para o 9º ano, ou seja, que afeta o índice do IDEB e indica uma relação inversa com o índice do IDEB. No momento em que há um aumento na média da receita do FUNDEB, há uma diminuição no índice do IDEB. Com base na Tabela 04, pode-se elaborar o modelo que fornece a relação entre as variáveis: IDEB = 3,8982-1,5154X - 0,61628Y + ɛ. Em que: X = Média da receita do FUNDEB. Y = Média das despesas com o magistério. 2003

9 CONSIDERAÇÕES FINAIS E RECOMENDAÇÕES Impulsionado pelas constantes discussões acerca dos investimentos em educação e sobre a valorização dos profissionais do magistério, a presente pesquisa buscou prever o comportamento do IDEB dos municípios do Rio Grande do Norte a partir das receitas destinadas ao FUNDEB e do seu percentual destinado às despesas com a remuneração do magistério. Nesse sentido, o objetivo desse trabalho constituiu em analisar se o desempenho na educação do estado do Rio Grande do Norte, no IDEB, está relacionado com o percentual da receita do FUNDEB e com o montante aplicado na remuneração do magistério nos biênios 2010/2011 e 2012/2013. Para isso, foram estudados 101 dos 167 municípios potiguares, mediante regressão com dados em painel Os coeficientes estimados, a partir da regressão com dados em painel, obtiveram significâncias estatísticas para o 5º e 9º ano em relação às variáveis do IDEB e da receita do FUNDEB, o que revelou uma relação negativa entre elas, nos dois testes, ou seja, percebe-se um aumento nos índices do IDEB, no momento, em que há redução na proporção da receita do FUNDEB na receita corrente. Com relação às variáveis do IDEB e das despesas com o magistério, não houve significância estatística nos testes do 5º e do 9º ano. Existiu uma relação positiva apenas para os anos iniciais, quando apresentou um aumento no índice do IDEB, conforme elevam as despesas com o magistério. No entanto, para o 9º ano, a relação foi negativa. O R² ajustado, que representa o poder de explicação do modelo, apresentou percentuais, relativamente, baixos de 6,47% para o 5º e 5,19% para o 9º do ensino fundamental, ou seja, a variação do índice do IDEB tem pouca relação com as variáveis independentes. No entanto, outros fatores externos podem fazer com que haja um aumento ou diminuição na variável dependente. A presente pesquisa revelou que existi uma relação estatística significante e negativa entre o desempenho dos municípios no IDEB e o percentual da receita aplicada na remuneração do magistério. Essa evidência corrobora com a conclusão obtida por QUEIROZ, CAMARA, FREIRE e CUNHA (2011), no que diz respeito a não existência de uma correlação entre o volume de recursos recebidos pelos municípios para investimento em educação básica pública e o seu grau de desenvolvimento educacional, em estudo realizado com municípios da Paraíba conforme a tabela 05. Tabela 05: Relação entre as variáveis IDEB e FUNDEB nos estados do RN E PB Estado RN PB Ano 5º ano 9º ano - Relação encontrada Negativa Negativa Negativa Significância estatística 1% 5% 5% R² ajustado 6,47 5,19 11,85 Fonte: dados da pesquisa e QUEIROZ, CAMARA, FREIRE e CUNHA (2011) O estudo valida a hipótese da relação entre o índice do IDEB e a média da receita do FUNDEB e descarta a hipótese da relação entre o índice do IDEB e a média 2004

das despesas com o magistério. Assim, conclui-se que se pode prever o comportamento do IDEB, a partir da proporção da receita do FUNDEB sobre a receita corrente, mas não se pode prever o comportamento do IDEB com base no percentual da receita do FUNDEB aplicado na remuneração do magistério. Nesse sentido, sugere-se, para pesquisas futuras, a análise e inclusão de outras variáveis capazes de aperfeiçoar o modelo, bem como o estudo nos demais Estados da Federação, uma vez que a realidade do Rio Grande do Norte pode diferir da realidade dos demais Estados. REFERÊNCIAS BRAGAIA, S. V. B.; DOS SANTOS, N. C.; FERREIRA, N. M. O Pacto Federativo Ou Federalismo Fiscal Brasileiro e Análise da Arrecadação Da Receita do Munícipio de São Pedro/SP, Revista de Finanças e Contabilidade da UNIMEP. São Paulo, 2015. BRASIL, Constituição da República Federativa do Brasil - CF, 1988. CARA, D. Municípios no pacto federativo, Revista Retratos da Escola, v. 6, n. 10, p. 255-273, jan./jun. Brasília DF, 2012. COSTA, J. M. A.; CUNHA, M. C.; ARAÚJO, R. B. M. Federalismo cooperativo brasileiro: implicações na gestão da educação municipal, Jornal de Políticas Educacionais, UFBA, Bahia, 2010 DINIZ, J. A. Eficiência Das Transferências Intergovernamentais Para a Educação Fundamental de Municípios Brasileiros, Tese (Doutorado em Ciências Contábeis) - Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo, São Paulo, 2012 FUNDO NACIONAL DE DESENVOLVIMENTO DA EDUCAÇÃO - FNDE. Manual de Orientação do FUNDEB. Disponível em: <https://www.fnde.gov.br/fndelegis/action/actiondatalegis.php?acao=abrirtreeview& cod_menu=707&cod_modulo=11>. GIL A. C. Como Elaborar Projeto de Pesquisa, 4ª edição, Atlas, São Paulo, 2002 GUJARATI, Damodar N.; PORTER, Dawn C. Econometria Básica. 5 ed. Porto Alegre: AMGH, 2011. INSTITUTO NACIONAL DE ESTUDOS E PESQUISAS EDUCACIONAIS ANÍSIO TEIXEIRA, Nota Técnica do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica Ideb, disponível em: <http://download.inep.gov.br/educacao_basica/portal_ideb/o_que_e_o_ideb/nota_te cnica_n1_concepcaoideb.pdf>. 2005

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