A MOBILIDADE PENDULAR DOS TRABALHADORES: UMA ANÁLISE DO MERCADO DE TRABALHO NA RMBH

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Transcrição:

A MOBILIDADE PENDULAR DOS TRABALHADORES: UMA ANÁLISE DO MERCADO DE TRABALHO NA RMBH Breno A. T. D. de Pinho Alane Siqueira Rocha Fausto Brito RESUMO Nas áreas metropolitanas, a distribuição espacial da população e das atividades econômicas favorece a separação entre o município de trabalho e o de residência, e sua importância se revela na formação dos fluxos de trabalhadores pendulares. Este artigo analisa esses fluxos no mercado de trabalho da Região Metropolitana de Belo Horizonte, com base nos dados do Censo Demográfico 2010. O foco é na relação entre as características da inserção dos indivíduos no mercado de trabalho metropolitano e a mobilidade pendular. Os resultados indicam algumas diferenças importantes entre os trabalhadores pendulares e não pendulares, no que se refere ao grau de formalidade dos empregos, e demonstra como essas diferenças impactam de maneira distinta os municípios metropolitanos. PALAVRAS-CHAVE: Mercado de Trabalho; Mobilidade Pendular; Região Metropolitana de Belo Horizonte. Trabalho apresentado no XIX Encontro Nacional de Estudos Populacionais, ABEP, realizado em São Pedro/SP Brasil, de 24 a 28 de novembro de 2014. Doutorando em Demografia pelo CEDEPLAR/UFMG Bolsista do CNPq. Professora da FEAAC/UFC e Doutoranda em Demografia pelo CEDEPLAR/UFMG. Professor e pesquisador do CEDEPLAR/UFMG Departamento de Demografia.

1. INTRODUÇÃO A mobilidade pendular de trabalhadores é um tipo de deslocamento espacial motivado pelo acesso ao local de trabalho, que se situa em localidade distinta daquela em que o indivíduo reside. Nas áreas metropolitanas, os fluxos de trabalhadores pendulares revelam as articulações entre os municípios que compõem essas áreas, visto que a distribuição desigual e seletiva da população e das atividades econômicas no espaço se associa à separação entre os municípios de trabalho e residência (MOURA; BRANCO; FIRKOWSKI, 2005; PINHO, 2012). Um estudo realizado por Cunha e Jakob (2010), para a área metropolitana de Campinas, aponta que a mobilidade pendular é um tipo de deslocamento que pode favorecer o indivíduo e isso implica que o deslocamento cotidiano tem seu lado vantajoso, na medida em que significa, para as pessoas, melhor acesso às oportunidades de emprego na área metropolitana. Considerando essa perspectiva, este artigo tem como objetivo avaliar a importância da mobilidade pendular no mercado de trabalho da Região Metropolitana de Belo Horizonte, bem como a sua relação com as condições da inserção dos indivíduos no mercado de trabalho metropolitano, no que se refere à formalidade do emprego. Os dados utilizados neste estudo são provenientes do Censo Demográfico 2010, cujas informações permitem uma análise sobre os locais de residência e de trabalho dos indivíduos, assim como sobre as diferenças ocupacionais entre os trabalhadores pendulares e não pendulares. Para a análise do mercado de trabalho metropolitano, todos os municípios que integram a Região Metropolitana de Belo Horizonte foram considerados, mas o foco principal são os municípios metropolitanos mais relevantes em termos demográficos. Este artigo está organizado em quatro seções, sendo, a primeira, esta introdução. Na seção dois, são apresentados os aspectos metodológicos. Na terceira, uma análise do mercado de trabalho da RMBH no ano de 2010, com ênfase na mobilidade espacial cotidiana dos trabalhadores, e nas condições de inserção dos trabalhadores no mercado de trabalho metropolitano. E na quarta, as considerações finais. 2

2. ASPECTOS METODOLÓGICOS 2.1 Pessoas Ocupadas e Situação do Emprego Conforme a documentação do levantamento censitário de 2010, a identificação dos indivíduos que estavam na situação de pessoa ocupada, se refere àqueles com dez anos ou mais de idade, que, na semana de referência (de 25 a 31 de julho de 2010), exerceram algum trabalho durante pelo menos uma hora completa ou que, tendo trabalho remunerado, estavam temporariamente afastados do emprego. A identificação dos indivíduos em situação de desemprego, pessoas desocupadas, refere-se aos de dez anos ou mais de idade que, na semana de referência, não trabalharam, mas que tomaram alguma providência para conseguir trabalho no mês de referência (de 02 a 31 de julho de 2010). Sendo que estes indivíduos deveriam estar disponíveis para trabalhar na semana de referência, caso tivessem conseguido um emprego. Entre as classificações adotadas pelo Censo 2010, a população ocupada se distribui entre os segmentos: empregados com carteira de trabalho assinada, militares e funcionários públicos estatutários, empregados sem carteira de trabalho assinada, trabalhadores por conta própria, empregadores, trabalhadores não remunerados e trabalhadores na produção para o próprio consumo. A partir dessas categorias, os indivíduos podem ser agrupados segundo a situação formal ou informal do emprego, que, neste artigo, será um indicador adotado como referência da análise das condições de inserção dos indivíduos no mercado de trabalho metropolitano. Para determinação dos subgrupos da população ocupada, segundo a situação do emprego, formal ou informal, foram utilizados como referência os critérios adotados por PNUD, IPEA e FJP (2013), no Atlas do Desenvolvimento Humano no Brasil 2013. Nesta publicação, considera-se como trabalhador formal os indivíduos que estavam na condição de empregados com carteira de trabalho assinada, militares e funcionários públicos estatutários e, no caso dos trabalhadores por conta própria e empregadores, aqueles que contribuíam para o instituto de previdência oficial. Portanto, os trabalhadores informais são aqueles indivíduos que estavam na condição de empregados 3

sem carteira de trabalho assinada, trabalhadores não remunerados e trabalhadores na produção para o próprio consumo, incluindo-se os trabalhadores por conta própria e empregadores que não contribuíam para o instituto de previdência social. 2.2 Identificação dos Trabalhadores Pendulares Como já mencionado, esta análise sobre o mercado de trabalho metropolitano examina a importância e as características dos deslocamentos dos trabalhadores pendulares, a partir das informações do Censo Demográfico 2010. A mobilidade pendular é um deslocamento freqüente, que caracteriza o trabalhador cujo local da ocupação se situa em um município distinto daquele de residência, independentemente do tempo ou distância do percurso casa-trabalho. Neste artigo, a população analisada é composta pelos indivíduos residentes nos municípios da área metropolitana de Belo Horizonte, que se encontravam na situação de pessoa ocupada, cujo local de emprego se situa no município de residência ou em um município distinto daquele de residência. Portanto, não são incluídos nas análises aqueles indivíduos que porventura trabalham em algum dos municípios da RMBH, mas cujo local de residência está situado fora da RMBH. 2.3 Recorte Espacial da Análise A Região Metropolitana de Belo Horizonte é composta por trinta e quatro municípios: Belo Horizonte, Baldim, Capim Branco, Confins, Jaboticatubas, Nova União, Lagoa Santa, Matozinhos, Pedro Leopoldo, Taquaraçu de Minas, Ribeirão das Neves, Santa Luzia, São José da Lapa, Vespasiano, Caeté, Sabará, Betim, Contagem, Ibirité, Mário Campos, Sarzedo, Brumadinho, Itaguara, Nova Lima, Raposos, Rio Acima, Rio Manso, Itatiaiuçu, Esmeraldas, Florestal, Igarapé, Juatuba, Mateus Leme, São Joaquim de Bicas. A Figura 1 apresenta uma ilustração da distribuição espacial dos municípios da Região Metropolitana de Belo Horizonte. 1 1 A definição dos municípios que compõem a Região Metropolitana de Belo Horizonte segue a divulgação do IBGE (2014a). A RMBH também conta com uma subdivisão institucionalizada constituída por 16 municípios, o Colar Metropolitano, formando uma área composta por 50 municípios. Neste artigo, a RMBH é analisada sem incluir os municípios do Colar Metropolitano. 4

FIGURA 1 - Municípios da Região Metropolitana de Belo Horizonte 29 22 28 16 11 31 12 34 32 10 4 21 8 5 30 2 1 7 13 17 20 14 19 3 24 18 6 9 23 27 15 26 33 25 Fonte: Elaborado a partir da malha digital municipal 2010 IBGE. Legenda: (1) Belo Horizonte, (2) Contagem, (3) Betim, (4) Ribeirão das Neves, (5) Santa Luzia, (6) Ibirité, (7) Sabará, (8) Vespasiano, (9) Nova Lima, (10) Esmeraldas, (11) Pedro Leopoldo, (12) Lagoa Santa, (13) Caeté, (14) Igarapé, (15) Brumadinho, (16) Matozinhos, (17) Mateus Leme, (18) Sarzedo, (19) São Joaquim de Bicas, (20) Juatuba, (21) São José da Lapa, (22) Jaboticatubas, (23) Raposos, (24) Mário Campos, (25) Itaguara, (26) Itatiaiuçu, (27) Rio Acima, (28) Capim Branco, (29) Baldim, (30) Florestal, (31) Confins, (32) Nova União, (33) Rio Manso, (34) Taquaraçu de Minas. Nota: É ressaltado na figura o conjunto dos nove municípios que serão privilegiados nas análises. Considerando o conjunto dos trinta e quatro municípios da RMBH, a distribuição espacial da população metropolitana, no ano de 2010, é caracterizada por quase 90% da população da área metropolitana se concentrar em apenas nove municípios: Belo Horizonte, Contagem, Betim, Ribeirão das Neves, Vespasiano, Santa Luzia, Sabará, Nova Lima e Ibirité. Devido à importância demográfica desses municípios, os mesmos serão adotados como as unidades municipais de referência para a análise do mercado de 5

trabalho, e a mobilidade pendular, na Região Metropolitana de Belo Horizonte. 2 Para fins de análise, esses municípios serão distribuídos em dois grupos: o núcleo metropolitano, representado por Belo Horizonte; e a subárea periférica I, composta pelos municípios de Contagem, Betim, Ribeirão das Neves, Vespasiano, Santa Luzia, Sabará, Nova Lima e Ibirité. Para privilegiar uma análise mais detalhada dos principais municípios metropolitanos, em termos demográficos, os demais vinte e cinco municípios da RMBH serão analisados como um único grupo, o qual será tratado como subárea periférica II. Portanto, para o caso desses municípios, não serão realizadas considerações particulares sobre a participação na conformação espacial do mercado de trabalho metropolitano. Deve-se notar, entretanto, que esse grupo de municípios não é homogêneo, havendo uma grande diversidade em termos de tamanho da população, número e proporção dos trabalhadores pendulares e não pendulares. Por essas particularidades, esses municípios deverão ser objeto de análise em um estudo futuro. 3. O MERCADO DE TRABALHO METROPOLITANO E A IMPORTÂNCIA DA MOBILIDADE PENDULAR Para a análise das características do mercado de trabalho da Região Metropolitana de Belo Horizonte, bem como sobre a inserção dos indivíduos nesse mercado, especificase, inicialmente, alguns indicadores fundamentais. A Tabela 1 apresenta a população em idade ativa - PIA, composta pelos indivíduos entre as idades de 15 e 64; a população economicamente ativa - PEA, composta pelos indivíduos em idade ativa que estavam ocupados ou desocupados; a taxa de participação, que corresponde a razão entre a PEA e a PIA; e a taxa de desemprego, que é a participação da população desocupada no total 2 Conforme os dados do IBGE (2014b), os tamanhos populacionais dos municípios da RMBH, registrados pelo Censo Demográfico 2010, foram: Belo Horizonte (2.375.151), Contagem (603.442), Betim (378.089), Ribeirão das Neves (296.317), Santa Luzia (202.942), Ibirité (158.954), Sabará (126.269), Vespasiano (104.527), Nova Lima (80.998), Esmeraldas (60.271), Pedro Leopoldo (58.740), Lagoa Santa (52.520), Caeté (40.750), Igarapé (34.851), Brumadinho (33.973), Matozinhos (33.955), Mateus Leme (27.856), Sarzedo (25.814), São Joaquim de Bicas (25.537), Juatuba (22.202), São José da Lapa (19.799), Jaboticatubas (17.134), Raposos (15.342), Mário Campos (13.192), Itaguara (12.372), Itatiaiuçu (9.928), Rio Acima (9.090), Capim Branco (8.881), Baldim (7.913), Florestal (6.600), Confins (5.936), Nova União (5.555), Rio Manso (5.276), Taquaraçu de Minas (3.794). 6

da PEA. O grupo dos inativos é composto pelos indivíduos em idade ativa que não participam da PEA. Tabela 1 Indicadores do mercado de trabalho metropolitano, segundo local de residência da população de idade entre 15 e 64 anos RMBH, 2010 Municípios Inativos Ocupados PEA Desocupados Belo Horizonte 442.134 1.193.294 83.240 1.718.668 74,3 6,5 Subárea Periférica I 386.867 915.965 79.063 1.381.895 72,0 7,9 Betim 70.288 177.962 18.526 266.776 73,7 9,4 Contagem 115.789 297.758 24.224 437.771 73,6 7,5 Ibirité 34.464 69.919 6.053 110.436 68,8 8,0 Nova Lima 15.858 40.658 2.188 58.704 73,0 5,1 Ribeirão das Neves 60.753 133.856 11.637 206.246 70,5 8,0 Sabará 26.157 56.976 4.814 87.947 70,3 7,8 Santa Luzia 42.545 91.460 7.396 141.401 69,9 7,5 Vespasiano 21.013 47.376 4.225 72.614 71,1 8,2 Subárea Periférica II 117.362 247.823 19.964 385.149 69,5 7,5 TOTAL 946.363 2.357.082 182.267 3.485.712 72,9 7,2 Fonte: Elaborado a partir dos microdados do Censo Demográfico 2010. PIA Taxa de participação Taxa de desemprego A taxa de participação é um indicador que revela a proporção da população em idade ativa que se insere na força de trabalho, portanto, a proporção dos indivíduos ocupados ou que buscam trabalho dentre a mão-de-obra potencialmente disponível para a atividade econômica (JANNUZZI, 2001: p. 89). Com base nesse indicador pode-se verificar que, em 2010, a população em idade ativa dos municípios metropolitanos apresenta uma importante participação no mercado de trabalho, visto que todas as unidades espaciais analisados apresentam uma taxa de participação entre 69% e 74%. Por outro lado, a taxa de desemprego, para todas as unidades espaciais analisadas, manteve-se abaixo de 10% (TABELA 1). Tendo em vista que a mobilidade pendular se refere a uma parcela dos trabalhadores ocupados, cujo local de trabalho está situado em município distinto daquele de residência, essa deve ser compreendida como parte da conformação do mercado de trabalho metropolitano, em um momento caracterizado por apresentar uma importante participação da população em idade ativa na força de trabalho e uma taxa de desemprego relativamente baixa. 7

Em 2010, a população ocupada, residente nos municípios metropolitanos, correspondia a 2,3 milhões de indivíduos. Desses indivíduos, 51% estavam residindo em Belo Horizonte e 39% se distribuíam entre os municípios da subárea periférica I, com destaque para Contagem e Betim, cuja população de trabalhadores residente respondeu, em conjunto, por 20% da população metropolitana ocupada, enquanto os demais municípios, Ibirité, Nova Lima, Ribeirão das Neves, Sabará, Santa Luzia e Vespasiano, registram, isoladamente, uma participação entre 2% e 6% da população metropolitana ocupada. Os residentes nos municípios da subárea periférica II, que se encontravam ocupados, responderam por 11% da população metropolitana empregada (TABELA 1). A Tabela 2 apresenta a distribuição dos trabalhadores metropolitanos entre pendulares e não pendulares, isto é, a distribuição dos indivíduos residentes nos municípios metropolitanos que estavam trabalhando no município de residência e aqueles que estavam trabalhando em município distinto daquele de residência. Tabela 2 População residente nos municípios metropolitanos, segundo a situação de trabalhador pendular e não pendular RMBH, 2010 População Ocupada (abs.) População Ocupada (%) Município de residência Não pendular Pendular Total Não pendular Pendular Total Belo Horizonte 1.110.223 83.071 1.193.294 93% 7% 100% Subárea Periférica I 522.622 393.344 915.966 57% 43% 100% Betim 127.167 50.795 177.962 71% 29% 100% Contagem 199.298 98.461 297.759 67% 33% 100% Ibirité 25.493 44.426 69.919 36% 64% 100% Nova Lima 27.842 12.815 40.657 68% 32% 100% Ribeirão das Neves 52.501 81.355 133.856 39% 61% 100% Sabará 23.666 33.310 56.976 42% 58% 100% Santa Luzia 44.898 46.563 91.461 49% 51% 100% Vespasiano 21.757 25.619 47.376 46% 54% 100% Subárea Periférica II 179.550 68.274 247.824 72% 28% 100% Total 1.812.395 544.689 2.357.084 77% 23% 100% Fonte: Elaborado a partir dos microdados do Censo Demográfico 2010. Com base nos dados da Tabela 2, verifica-se que a mobilidade pendular é um tipo de deslocamento importante para a inserção dos indivíduos no mercado de trabalho metropolitano, principalmente no caso dos municípios periféricos. O número total de pendulares soma 544,6 mil indivíduos, o que significou uma participação de 23% dos trabalhadores pendulares no conjunto da população ocupada residente na RMBH. 8

Considerando os municípios da subárea periférica I, em conjunto, essa participação foi equivalente a 43% da população ocupada que residia nesses municípios, ao passo que na subárea periférica II essa proporção foi de 28%. A importância dos deslocamentos pendulares para a inserção dos indivíduos no mercado de trabalho variou significativamente entre os principais municípios da área metropolitana. Enquanto em Belo Horizonte apenas 7% da população ocupada era pendular, nos municípios de Contagem, Betim e Nova Lima essa proporção estava próxima de 30%, ao passo que, nos demais municípios, Ibirité, Ribeirão das Neves, Sabará, Santa Luzia e Vespasiano, a proporção da população empregada residente, que se encontrava na situação de trabalhador pendular, era superior a 50% (TABELA 2). Deve-se observar que os municípios da periferia metropolitana apresentam características distintas no processo de desconcentração espacial das atividades econômicas e da população. No caso dos municípios de Betim e Contagem, formou-se um mercado de trabalho mais diversificado. Essas áreas, marcadas pelo processo de expansão industrial metropolitana, ampliaram a participação na economia metropolitana, e se tornaram áreas periféricas com maior oferta de empregos. Por outro lado, os municípios de Ibirité, Ribeirão das Neves, Sabará, Santa Luzia e Vespasiano tiveram sua expansão derivada, fundamentalmente, da desconcentração residencial da população metropolitana e, de maneira secundária, pela desconcentração econômica. Esses são municípios com características de cidade dormitório. O município de Nova Lima, apesar de não ter a mesma relevância econômica dos municípios de Betim e Contagem na oferta e empregos, tem sua trajetória econômica associada à expansão do setor de serviços e da mineração (BRITO; SOUZA, 2005; SOUZA, 2008; PINHO, 2012). No caso dos municípios da subárea periférica II, não ocorreu uma desconcentração residencial da população no mesmo ritmo dos municípios situados no entorno de Belo Horizonte, bem como não foram áreas que se beneficiaram da desconcentração das atividades econômicas na área metropolitana, como os municípios de Betim e Contagem (BRITO; SOUZA, 2005; PINHO, 2012). Devido a essas características, os municípios dessa parte da periferia se caracterizam por registrar uma menor participação na conformação dos fluxos pendulares metropolitanos. 9

Para uma melhor compreensão da conformação dos fluxos pendulares, a Tabela 3 apresenta a distribuição dos principais destinos dos trabalhadores pendulares residentes nos municípios metropolitanos. Pode-se notar que os deslocamentos pendulares, realizados pelos residentes nos municípios metropolitanas ocorrem, fundamentalmente, dentro da própria área metropolitana. Tabela 3 - Principais destinos dos trabalhadores pendulares residentes nos municípios metropolitanos RMBH, 2010 Município de residência Belo Horizonte Betim e Contagem Local de trabalho dos trabalhadores pendulares Subárea Periférica I* Subárea Periférica II Fonte: Elaborado a partir dos microdados do Censo Demográfico 2010. Nota: A subárea periférica I* não inclui os municípios de Betim e Contagem. Outros municípios mais de um município Belo Horizonte - 39.658 16.636 4.449 13.193 9.135 83.071 Subárea Periférica I 294.999 58.063 12.275 8.471 10.891 8.644 393.343 Betim 25.318 17.716 1.644 1.976 2.192 1.949 50.795 Contagem 70.966 14.856 3.816 1.533 3.742 3.548 98.461 Ibirité 29.489 11.882 869 951 759 476 44.426 Nova Lima 9.845 985 378 427 728 452 12.815 Ribeirão das Neves 67.147 8.714 2.037 994 1.549 914 81.355 Sabará 29.838 1.368 973 280 646 205 33.310 Santa Luzia 40.873 1.871 1.846 609 686 677 46.562 Vespasiano 21.523 671 712 1.701 589 423 25.619 Subárea Periférica II 28.672 12.450 7.171 12.411 4.572 2.997 68.273 Total 323.671 110.171 36.082 25.331 28.656 20.776 544.687 Total Os fluxos pendulares que partem dos municípios periféricos têm o núcleo metropolitano, Belo Horizonte, como o principal município de destino, o qual atrai cerca de 60% dos trabalhadores pendulares (TABELA 3). Esse predomínio dos fluxos pendulares de sentido periferia-núcleo caracteriza a organização espacial do mercado de trabalho metropolitano, em que a população residente na periferia se direcionada essencialmente à oferta de empregos localizada no núcleo metropolitano. Por outro lado, os municípios de Betim e Contagem se constituem como áreas secundárias na atração dos fluxos pendulares, visto que 20% dos trabalhadores pendulares metropolitanos se deslocam na direção desses dois municípios, ao passo que os demais municípios periféricos (das subáreas periféricas I* e II), em conjunto, responderam como destino de pouco mais de 10% dos trabalhadores pendulares (TABELA 3). Os trabalhadores pendulares que trabalham em mais de um município, os quais provavelmente, em sua maioria, se deslocam dentro da própria área metropolitana, representam apenas 4% dos trabalhadores pendulares que residem nos municípios da 10

RMBH. Já os trabalhadores que se dirigem a municípios situados fora da área metropolitana, respondem por 5% (TABELA 3). Com base no caso da RMBH, pode-se verificar, a partir das direções dos fluxos de trabalhadores pendulares, a conformação espacial de um mercado de trabalho metropolitano, cuja unidade se divide entre vários municípios, que se articulam pela relação entre a oferta e a demanda por mão de obra, isto é, um mercado de trabalho espacialmente configurado além dos limites políticos administrativos municipais. A conformação espacial do mercado de trabalho metropolitano é, portanto, parte do próprio processo de periferização residencial da população e das atividades econômicas. Na RMBH, assim como nas grandes aglomerações urbanas do Brasil, a trajetória de periferização residencial da população está associada, sobretudo, ao mercado imobiliário metropolitano, o qual produziu espaços residenciais diferenciados para a população, segundo as condições socioeconômicas das famílias (BRITO; SOUZA, 2005; BRITO, 2007). No caso da RMBH, o processo de expansão da área metropolitana se desenvolveu de forma seletiva, com o crescimento da periferia sendo estimulado, por um lado, pelo deslocamento das atividades econômicas, sobretudo, o setor industrial, e, por outro, pela oferta imobiliária, que se destinou a atender, principalmente, mas não exclusivamente, a população cuja situação socioeconômica era menos favorável no contexto metropolitano (MOURA, 1994; BRITO; SOUZA, 2005). Tendo em vista a trajetória história da formação da área metropolitana de Belo Horizonte, poder-se-ia considerar que a conformação espacial do mercado de trabalho metropolitano implicaria a formação de fluxos pendulares caracterizados essencialmente por indivíduos em situação desfavorável no mercado de trabalho? Para responder essa questão, analisa-se a situação da população ocupada na RMBH, segundo a situação formal e informal dos empregos, segmentando-se os indivíduos ocupados entre trabalhadores pendulares e não pendulares. Na Tabela 4, são apresentadas as características do emprego da população residente na área metropolitano de Belo Horizonte, no que se refere à sua composição entre 11

empregos formais e informais. Verifica-se que a população empregada, residente nos municípios metropolitanos, está ocupada, em sua grande maioria, em empregos formais. Em 2010, o grau de formalidade do emprego da população residente na RMBH apresenta um nível elevado, respondendo por 73% da população ocupada. Considerando as particularidades do núcleo metropolitano e dos municípios da periferia, verifica-se que o grau de formalidade dos empregos alcança 75% em Belo Horizonte e 73% no conjunto da subárea periférica I, e, no caso da subárea periférica II, essa proporção se reduz para 66% da população ocupada. Tabela 4 População ocupada, segundo município de residência e formalidade do emprego - RMBH, 2010 População Ocupada (abs.) População Ocupada (%) Município de residência Formal Informal Total Formal Informal Total Belo Horizonte 894.965 298.329 1.193.294 75% 25% 100% Subárea Periférica I 666.176 249.788 915.964 73% 27% 100% Betim 127.894 50.067 177.961 72% 28% 100% Contagem 215.497 82.260 297.757 72% 28% 100% Ibirité 51.156 18.763 69.919 73% 27% 100% Nova Lima 31.097 9.562 40.659 76% 24% 100% Ribeirão das Neves 95.668 38.188 133.856 71% 29% 100% Sabará 43.028 13.948 56.976 76% 24% 100% Santa Luzia 65.961 25.499 91.460 72% 28% 100% Vespasiano 35.875 11.501 47.376 76% 24% 100% Subárea Periférica II 163.861 83.962 247.823 66% 34% 100% Total 1.725.002 632.079 2.357.081 73% 27% 100% Fonte: Elaborado a partir dos microdados do Censo Demográfico 2010. Para uma avaliação da relação entre a mobilidade espacial cotidiana dos trabalhadores e as condições da inserção dos indivíduos no mercado de trabalho metropolitano, as diferenças, quanto à formalidade dos empregos, entre os trabalhadores pendulares e não pendulares, segundo o município de residência, podem ser analisadas a partir das informações apresentadas nos Gráficos 1 e 2, a seguir. Para os trabalhadores não pendulares, a formalidade do emprego apresenta diferenças importantes comparando os municípios metropolitanos. No núcleo metropolitano, a informalidade está entorno de 25%, enquanto em Nova Lima alcança 28%, em Betim, Contagem e Vespasiano essa proporção está pouco acima de 30%, ao passo que nos municípios de Sabará e Santa Luzia a informalidade se aproxima de 40%, sendo pouco 12

superior a esse nível nos municípios de Ibirité e Ribeirão das Neves, bem como para o conjunto dos municípios da subárea periférica II (GRÁFICO 1). Gráfico 1 População ocupada não pendular, segundo município de residência e formalidade do emprego - RMBH, 2010 100% 90% 80% 70% 60% 50% 40% 30% 20% 10% 0% Emprego informal Emprego formal Fonte: Elaborado a partir dos microdados do Censo Demográfico 2010. Gráfico 2 População ocupada pendular, segundo município de residência e formalidade do emprego - RMBH, 2010 100% 90% 80% 70% 60% 50% 40% 30% 20% 10% 0% Emprego informal Emprego formal Fonte: Elaborado a partir dos microdados do Censo Demográfico 2010. Considerando os trabalhadores pendulares, pode-se verificar que o grau de formalidade dos empregos apresenta diferenças destacáveis comparando com o grupo dos 13

trabalhadores não pendulares. No núcleo metropolitano, nos municípios Betim, Contagem, Ibirité, Nova Lima, Ribeirão das Neves, Sabará, Santa Luzia e Vespasiano, e no conjunto dos municípios da subárea periférica II, o grau de formalidade dos empregos, entre os trabalhadores pendulares, é superior a 80%. Esses resultados indicam que a mobilidade pendular é, portanto, um tipo de deslocamento associado a uma melhor inserção dos indivíduos no mercado de trabalho metropolitano (GRÁFICO 2). Visto que a mobilidade pendular é realizada principalmente por trabalhadores que se inserem em ocupações formais, apresenta-se, no Gráfico 3, a contribuição dos trabalhadores pendulares para a determinação do nível de formalidade da população ocupada, considerando o município de residência dos trabalhadores. Observa-se que a mobilidade pendular tem impactos distintos nos municípios metropolitanos. Gráfico 3 Participação dos trabalhadores pendulares formais no conjunto dos trabalhadores formais, segundo município de residência - RMBH, 2010 80% 70% 60% 50% 40% 30% 20% 10% 0% Fonte: Elaborado a partir dos microdados do Censo Demográfico 2010. No caso do núcleo metropolitano, Belo Horizonte, a mobilidade pendular tem pouco importância sobre a proporção de trabalhadores ocupados em empregos formais entre os residentes. O que se explica por esse município ser o principal centro de empregos da área metropolitana, e, portanto, a população residente está ocupada, em sua maior parte, 14

em empregos situados no próprio município. Entretanto, uma situação distinta ocorre com os municípios periféricos, com diferenças destacáveis (GRÁFICO 3). No caso dos municípios de Betim, Contagem e Nova Lima, a contribuição dos trabalhadores pendulares para o grau de formalidade dos trabalhadores residentes apresenta uma impacto menor, relativamente aos demais municípios da subárea periférica I. No caso desses municípios, a expansão das atividades econômicas ocorreu com maior equilíbrio em relação ao tamanho da população de trabalhadores residentes. Assim, a participação dos trabalhadores pendulares formais no conjunto dos trabalhadores formais residentes contribuiu com pouco mais de 30% para o grau de formalidade. Entretanto, no caso dos municípios de Ibirité, Ribeirão das Neves, Sabará, Santa Luzia e Vespasiano, cujo dinamismo econômico não acompanhou a trajetória de crescimento da população, caracterizando a formação de cidades dormitório, a mobilidade pendular torna-se fundamental para a inserção dos indivíduos em ocupações formais. No caso de Ibirité, os trabalhadores pendulares formais respondem por 72% dos trabalhadores formais que residem no município. Em Ribeirão das Neves observa-se uma proporção de 69%, enquanto em Sabará de 65%, e em Vespasiano e Santa Luzia de 59% (GRÁFICO 3). No conjunto dos municípios da subárea periférica I, os trabalhadores pendulares formais respondem por cerca de 50% dos trabalhadores formais residentes, ao passo que, para o conjunto dos municípios da subárea periférica II respondem por 35% dos trabalhadores formais. Considerando todos os municípios da área metropolitana, incluindo Belo Horizonte, os trabalhadores pendulares formais respondem por 26% do conjunto dos trabalhadores formais residentes na RMBH (GRÁFICO 3). Como a mobilidade pendular não é um deslocamento que envolve somente os trabalhadores formais, a proporção dos trabalhadores pendulares informais também deve ser analisada. No Gráfico 4, pode ser observado como os trabalhadores informais são distribuídos proporcionalmente entre trabalhadores pendulares e não pendulares, segundo o município de residência. 15

Gráfico 4 Participação dos trabalhadores pendulares informais no conjunto dos trabalhadores informais, segundo município de residência - RMBH, 2010 80% 70% 60% 50% 40% 30% 20% 10% 0% Fonte: Elaborado a partir dos microdados do Censo Demográfico 2010. Nota-se que os trabalhadores pendulares representam uma proporção menor entre os trabalhadores informais metropolitanos. No núcleo metropolitano, os trabalhadores informais são essencialmente não pendulares. No conjunto dos municípios da subárea periférica I, os trabalhadores pendulares informais respondem por menos de 30% dos trabalhadores informais residentes, sendo essa proporção ainda menor no caso do conjunto dos municípios da subárea periférica II (GRÁFICO 4). Entretanto, entre os municípios da subárea periférica I, há diferenças notáveis. Enquanto nos municípios de Betim, Contagem e Nova Lima os trabalhadores pendulares informais respondem por menos de 20% dos trabalhadores informais residentes nesses municípios, nos demais municípios, Ibirité, Ribeirão das Neves, Sabará, Santa Luzia e Vespasiano, assumem proporções que variam entre 31% e 41% dos trabalhadores informais residentes nesses municípios (GRÁFICO 4). Apesar da participação dos trabalhadores pendulares informais, no conjunto dos trabalhadores informais, ser relativamente elevada em alguns municípios, deve-se destacar que na periferia, de uma maneira geral, os trabalhadores não pendulares são os que participam em maior proporção entre os trabalhadores informais residentes nesses municípios. E, particularmente, no caso das cidades dormitório, Ibirité, Ribeirão das 16

Neves, Sabará, Santa Luzia e Vespasiano, os trabalhos pendulares respondem pela maior proporção dos trabalhadores formais residentes nesses municípios (GRÁFICOS 3 e 4). 4. CONSIDERAÇÕES FINAIS A mobilidade pendular de trabalhadores é uma das características do mercado de trabalho metropolitano. Na RMBH, os deslocamentos cotidianos de trabalhadores ocorrem principalmente na direção periferia-núcleo, mas observa-se, também, que os fluxos pendulares, ainda que em menor tamanho, ocorrem em direção aos municípios da periferia metropolitana. A comparação entre os trabalhadores pendulares e não pendulares mostra que a mobilidade pendular é um tipo de deslocamento caracterizado pelo predomínio de trabalhadores com empregos formais. Mas, no âmbito do mercado de trabalho metropolitano, as diferenças entre os municípios devem ser destacadas. No núcleo metropolitano, os empregos formais são predominantemente compostos por trabalhadores não pendulares, enquanto, nos municípios da periferia metropolitana, ao contrário de Belo Horizonte, a mobilidade pendular incorpora grande parte dos trabalhadores formais. No caso dos municípios Betim, Contagem e Nova Lima, onde a estrutura econômica oferece maiores oportunidades de empregos formais para a população residente, a mobilidade pendular impacta na inserção dos indivíduos em empregos formais em menor grau em relação aos demais municípios da periferia analisados. Para os municípios de Ribeirão das Neves, Sabará, Ibirité, Santa Luzia e Vespasiano, a população residente encontra menor inserção em empregos locais e, portanto, a mobilidade pendular tem importância significativa para a inserção dos indivíduos no mercado de trabalho metropolitano, em especial nos segmentos de maior nível de formalidade. 17

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