SOLUÇÕES QUE MAXIMIZAM O USO RACIONAL DA ÁGUA NA FÁBRICA DA FIAT AUTOMÓVEIS



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Transcrição:

SOLUÇÕES QUE MAXIMIZAM O USO RACIONAL DA ÁGUA NA FÁBRICA DA FIAT AUTOMÓVEIS Cristiano Felix, Keylla Vale, Flávio Neves FCA Fiat Chrysler Automóveis Brasil LTDA RESUMO A Fiat Automóveis tem um desafio que vai além de produzir carros. A empresa desenvolve projetos para reduzir o consumo de água e ampliar os índices de reúso, contribuindo para melhorar a oferta e a qualidade desse recurso natural, de acordo com os princípios de sustentabilidade do Grupo Fiat Chrysler Automobiles (FCA). Na fábrica de Betim (MG), por onde passam aproximadamente 30 mil pessoas por dia, o índice de reúso de água chega a 99% e já há investimentos para aumentar esse número para 99,4%. Além do alto índice de reúso, a meta de reduzir o consumo de água é alcançado com ações de engajamento dos empregados e com ferramentas da metodologia WCM adotada em todo o Grupo FCA para melhorar a eficiência da produção e eliminar perdas e desperdícios. Por tudo isso, a Fiat Automóveis é hoje uma referência em gestão hídrica no setor automotivo. APLICABILIDADE O Brasil sedia a maior unidade de produção do Grupo Fiat Chrysler Automobiles (FCA) no mundo, localizada em Betim (MG) e em operação desde 1976. No país, a Fiat Automóveis foi a primeira indústria automobilística a instalar-se fora de São Paulo, consolidando ao seu redor um complexo parque de fornecedores. Desde a inauguração, a fábrica de Betim já produziu mais de 14 milhões de automóveis e comerciais leves. São cerca de 19 mil empregados diretos, em três turnos, com uma produção diária de cerca de 3.000 veículos. A planta, que produz em quatro linhas de montagem 17 modelos diferentes que se desdobram em mais de 120 versões, é também uma das mais complexas e versáteis do mundo, capaz de se adequar às variações e oscilações de demanda ao oferecer resposta rápida na entrega dos produtos que os clientes almejam. Na Fiat Automóveis, a sustentabilidade é um processo de melhoria contínua, essencial para a perenidade da empresa ao equilibrar as oportunidades de negócios, as necessidades atuais da sociedade e o bem-estar das gerações futuras. Ao longo dos anos, a estratégia de sustentabilidade da empresa deu

origem a uma série de programas, em um sistema de governança corporativa que abrange: PRODUTO: a busca pela excelência e inovação contínua como diferenciais e o desenvolvimento de produtos que gerem menos impactos ambientais. PESSOAS: respeito à diversidade, valorização do bem-estar e compromisso com o crescimento das pessoas. PARCEIROS: relação embasada pela parceria, crescimento mútuo e transparência. Engajamento de parceiros nos desafios do setor automobilístico. PLANETA: utilização responsável dos recursos visando o equilíbrio e a preservação do meio ambiente, minimizando o impacto das operações da empresa. COMUNIDADE: compromisso com o desenvolvimento social das comunidades em que a empresa está inserida. CLIENTES: intensificar a experiência do cliente com a marca e a estratégia de sustentabilidade da empresa. No eixo PLANETA, a Fiat vem realizando investimentos contínuos no aprimoramento dos processos produtivos e na capacitação das equipes para assegurar uma produção mais limpa, tendo como alicerces o Sistema de Gestão Ambiental (SGA), implantado no início dos anos 1990. Ao contrário de intervenções pontuais e corretivas, a empresa passou a atuar de maneira proativa na prevenção e redução dos impactos ambientais, alinhada aos princípios de sua Política Ambiental e Energética: Figura 1: Política Ambiental e Energética da Fiat

Como consequência da evolução consistente das políticas e práticas voltadas para a preservação ambiental, a Fiat foi a primeira fábrica de automóveis leves e de passeio do país a conquistar a ISO 14001, em 1997. Em 2011, foi pioneira no setor ao eliminar o uso de aterros, destinando 100% dos resíduos gerados na fábrica para a reciclagem e o reaproveitamento. Em 2013, a Fiat inovou mais uma vez ao ser a primeira fábrica de automóveis leves e de passeio da América Latina ao conquistar a ISO 50001, de gestão de energia. Apoiada em três sólidos pilares empregados conscientes e proativos, SGA consistente e busca de tecnologias e soluções inteligentes para os processos, a gestão hídrica é uma importante diretriz da política ambiental da planta da Fiat. Esses fatores, combinados às ferramentas da metodologia do World Class Manufacturing (WCM), têm gerado resultados concretos na redução do consumo de água e otimização do processo de tratamento de efluentes. OBJETIVO O objetivo deste trabalho é apresentar as estratégias e os benefícios alcançados com os projetos desenvolvidos na planta da Fiat Automóveis para uso racional da água, perpassando pelas ferramentas da metodologia do WCM, otimização do processo de tratamento de efluentes e ações de conscientização direcionadas ao público interno. 1.METODOLOGIA WCM As ações para o uso racional da água estão presentes no dia a dia da produção, por meio do WCM, metodologia adotada em todo o Grupo FCA para melhorar a eficiência da produção e eliminar perdas e desperdícios. A metodologia foi implantada na fábrica de Betim em 2007. Uma estratégia extremamente importante para alcançar resultados é o envolvimento de todas as pessoas que operam em qualquer nível da fábrica, além de uma grande sinergia entre as plantas do Grupo no mundo para compartilhar experiências e aplicar as melhores práticas desenvolvidas. Meio ambiente é um dos 11 pilares do WCM: 1. Segurança 2. Cost Deployment 3. Focused Improvement 4. Manutenção Autônoma 5. Manutenção Profissional 6. Organização Posto de Trabalho 7. Qualidade 8. Logística 9. Early Equipment Management (EEM) / Early Product Management (EPM)

10. Desenvolvimento de Pessoas 11. AMBIENTAL / ENERGIA Para a gestão sustentável do processo produtivo, os próprios empregados são estimulados a identificar oportunidades de economia, além de difundir e padronizar os resultados alcançados. As ações são desenvolvidas seguindo uma sequência de passos, descrita na figura 2. Figura 2: Passos da metodologia WCM Seguindo a metodologia do WCM, o processo tem como fluxo uma visão primeiramente reativa, que se torna preventiva e proativa na ótica do melhoramento contínuo, antecipando problemas e atuando para evitá-los. No período de 2011 a 2014, 93 ideias sugeridas por equipes que somam 372 funcionários foram colocadas em prática com resultados concretos para redução do consumo de água no processo produtivo. A economia foi de 250.000 m 3 /ano, o equivalente ao consumo de água de 6.313 pessoas por ano, de acordo com estimativa da ONU, que considera que cada indivíduo necessita de 3,3 m 3 /mês para consumo e higiene. De janeiro a março de 2015, foram apresentadas 9 ideias, com previsão de economia do consumo de água de cerca de 37.000 m³/ano. Isso só se materializou, de fato, a partir do momento em que os empregados adquiriram novas habilidades e conhecimentos como resultado de um processo contínuo de educação ambiental. Os "Líderes do Pilar Ambiental do WCM" das Unidades Operativas de Prensas, Funilaria, Pintura e Montagem são importantes

aliados nesse processo, trazendo a teoria e prática para mais próximo da realidade da fábrica. Há também o treinamento interativo, WCM online, que já contou com a participação de mais de 10.000 empregados. Para motivar e valorizar o trabalho diário das equipes na busca de ações e métodos que melhorem continuamente a eficácia dos processos, foi criado o programa WCM Reconhecer. Os empregados podem ser premiados com o recebimento do Cartão WCM, no qual são creditadas Moedas WCM. A quantia é definida de acordo com percentual sobre o valor do benefício anual do projeto, variando entre 0,3% a 0,5%, com limite de R$ 4.000,00. Figura 3: Cartão WCM Abaixo, estão descritas de forma resumida três projetos desenvolvidos por empregados, dentro da metodologia do WCM, com o objetivo de demonstrar o processo, resultados alcançados e o engajamento dos empregados. Importante ressaltar que os projetos do WCM são desenvolvidos tendo como referência as análises dos indicadores do consumo de água em todas as áreas da fábrica. O monitoramento é uma importante ferramenta para detectar problemas no processo, como vazamentos e desperdícios, sendo a base para identificação de oportunidades, com foco na melhoria contínua. Por meio do monitoramento geral das unidades operativas, é feita uma estratificação por área, com a identificação dos setores de maior consumo.

11% 10% 7% Pintura Montagem 11% 61% Prensas Mecânica Funilaria Figura 4: Porcentagem de uso de água na manufatura por unidades operativas 1.1. Redução do consumo de água desmineralizada na bonder 2 (pré-tratamento da chapa da carroceria) Na Pintura, ao realizar a análise dos gráficos da bonder 2, observou-se que o maior consumo de água desmineralizada estava no oitavo estágio do prétratamento, sendo o ponto escolhido para realizar uma investigação detalhada do processo. Ao passar pelo oitavo estágio do pré-tratamento, a carroceria recebe uma última lavagem com água desmineralizada para remover as impurezas, reduzindo sua condutividade antes do processo de eletrodeposição catódica. Essa lavagem é realizada por bicos que formam um leque com pressão específica. Com o objetivo definido reduzir a perda de água desmineralizada por consumo desnecessário, teve início o planejamento das atividades, conforme quadro abaixo:

Figura 5: Cronograma das atividades do projeto Ao verificar a condição das instalações, nenhum vazamento foi encontrado em bicos, tubulações e equipamentos que pudessem ocasionar perda de água no sistema. Na análise das causas, constatou-se que, para manter a pressão dentro da faixa especificada, utilizava-se grande volume de água. O próximo passo foi, então, avaliar as variáveis pressão x vazão x condutividade, conforme quadro abaixo: Figura 6: Avaliação do comportamento do processo A ação proposta foi criar uma faixa de trabalho para vazão. Essa faixa foi estipulada entre 9.000 e 10.000 L/h, na qual a pressão se mantém entre 0,6 e 0,7 bar, dentro do especificado para o processo, assim como a condutividade.

Figura 7: Imagem com adesivo verde que indica a faixa de trabalho específica de vazão A medida teve como resultado a redução de 53% do consumo de água no oitavo estágio na bonder 2, o equivalente à economia de 4 m 3 /h. Por ano, o valor chega a aproximadamente 18.000 m 3. 1.2. Redução no consumo de água industrial na cabine de pintura Um time de seis empregados identificou a oportunidade de reduzir a frequência de descarte da água industrial dos três tanques de decantação das cabines de Pintura. Essa água, utilizada em circuito fechado, tem como função absorver a poeira de tinta de quatro cabines de pintura. Para remoção da borra da tinta que se acumulava no fundo, os tanques eram esvaziados quatro vezes por ano. A solução proposta foi otimizar a floculação e coagulação da borra de tinta, facilitando a sua remoção. Dessa forma, foi realizado um estudo em parceria com o fornecedor para modificar a dosagem dos produtos químicos adicionados nos tanques de decantação, conforme ilustração abaixo. Figura 8: Processo de floculação e coagulação da borra de tinta

Com a otimização da dosagem dos produtos químicos, observou-se que a borra de tinta que, anteriormente decantava, passou a flutuar, sendo possível ser retirada facilmente, ampliando, dessa forma, a vida útil da água. A medida trouxe como resultado a eliminação do descarte de aproximadamente 3.000 m 3 /ano de água industrial, com a redução da necessidade de abastecimento dos tanques de quatro para duas vezes por ano. 1.3. Redução do consumo de água no controle de pressão do bombeamento Uma das responsabilidades da área de Utilidades e Meio Ambiente é manter o abastecimento da água potável e industrial para toda a fábrica. Um time de sete empregados concluiu que era possível otimizar a estratégia das malhas de controle de pressão ao verificar os seguintes pontos: O sistema existente não consegue estabilizar a pressão de água obedecendo o set-point dentro dos valores determinados; Com a redução do consumo, o sistema de controle não consegue reduzir a pressão do sistema ao set-point desejado, sendo necessário abrir válvulas de by-pass e restringir a vazão de descarga das bombas. Figura 9: Fluxograma de distribuição de água Depois de estudo de caso e análises, o time detectou que seria possível alterar a metodologia da estratégia de controle da pressão ao trocar o sistema a válvulas por inversores de frequência nos circuitos da Caldeira, de Água Potável e de Água Industrial. Os inversores de frequência conseguem manter o nível de pressão conforme demanda. Para isso, foram comprados inversores, somando um investimento de R$ 407.877,00.

No período de maio de 2014 a março de 2015, somando-se água potável e industrial, a economia total foi de 208.164 m³. Além do resultado hídrico, o projeto também obteve ganhos em energia. Identificou-se uma redução de 1,2 milhão KWh/ano, o que representa uma eficiência de 20% se comparado com o consumo anterior à modificação. A próxima etapa será a expansão do projeto, aplicando essa solução nos circuitos de Água Desmi e Água Superaquecida. 2. OTIMIZAÇÃO DO PROCESSO DE TRATAMENTO DE EFLUENTES Em 1976, quando os conceitos de preservação ambiental no mundo ainda eram embrionários e a legislação ambiental era quase inexistente, a Fiat já dava os primeiros passos que demonstravam seu comprometimento com a gestão hídrica. As estações de tratamento de efluentes, instaladas desde o início de operação da fábrica, passaram por diversas modernizações, sempre utilizando tecnologias de ponta vigentes em cada época. No início dos anos 1990, a Fiat já havia decidido investir em equipamentos para recírculo de água. Em 1996, após a construção de uma nova estação de tratamento de leito fluidizado e biofiltração com carvão ativado, a fábrica atingiu 92% de reúso um marco na época. Em 2010, com investimentos que somaram cerca de R$ 12 milhões, a Fiat incorporou ao seu complexo de tratamento de efluentes as tecnologias de Membranas (MBR) e de Osmose Reversa (OR), sendo esta última muito usada em Israel para dessalinização da água. Com a implantação desse sistema de tratamento de efluente, pioneiro na América Latina, a fábrica alcançou 99% de reúso. O reúso da água, oriunda do complexo de tratamento de efluentes, nos processos industriais possibilitou uma redução do consumo de água por ano de cerca de 1.180.000 mil m 3 volume necessário para abastecer uma cidade de aproximadamente 30 mil habitantes por ano. Essa economia, associada à melhoria dos parâmetros de descarte do efluente, permitiu à empresa alcançar nível de desempenho que atendem não somente ao exigido pelas legislações brasileiras, mas também aos padrões mundiais. Atualmente, o complexo é composto por sete instalações para tratamento do efluente tecnológico (industrial) e do efluente sanitário. Conta também com um laboratório, certificado na Norma ABNT NBR ISO 17.025, onde vários parâmetros são analisados ao longo do tratamento do efluente, com o objetivo de garantir a qualidade da água que será recirculada nos processos de manufatura e da água que será descartada no emissário da concessionária local.

Figura 10: Etapas do tratamento do efluente tecnológico e do sanitário Além das análises laboratoriais, o complexo de tratamento de efluentes possui um pequeno lago com fauna aquática, utilizada como bioindicador. Figura 11: Lago com peixes Em uma terceira onda de modernização, a Fiat iniciou, em 2014, investimentos de R$ 4 milhões no complexo de tratamento de efluentes. A economia poderá chegar a 432 milhões de litros por ano o suficiente para suprir as necessidades de cerca de 11 mil pessoas/mês, de acordo com estimativa da ONU, que considera que cada indivíduo necessita de 3,3 m 3 /mês para consumo e higiene.

Figura 12: Evolução do índice de reúso e reciclo de água [%] 3. CONSCIENTIZAÇÃO AMBIENTAL Fábricas são pessoas. Pessoas têm os seus valores. Os valores transformados em princípios impulsionam o desenvolvimento de projetos. Seguindo essa lógica, os empregados são estimulados a incorporar a cultura da sustentabilidade no dia a dia, o que implica em explorar oportunidades nunca antes percebidas e buscar soluções para o uso racional da água. As informações referentes às práticas ambientais e do Sistema de Gestão Ambiental (SGA) são disseminadas por meio de revistas, banners, informativos, cartilhas, intranet e campanhas específicas. Figura 13: Adesivos afixados próximos às torneiras

Figura 14: Mensagens do busdoor e outdoors em toda a fábrica O tema de economia de água também é abordado constantemente nas pautas do Bom Dia, que consiste em um roteiro principal para a reunião matinal que acontece diariamente nas unidades pelos líderes de produção. A pauta é enviada pela área de comunicação interna e traz algum tema específico para reflexão. Os conceitos e as ferramentas relacionados à prática ambiental estão presentes já no primeiro dia de trabalho do empregado. Todos que passam a fazer parte do time da Fiat participam do Treinamento Básico Introdutório, que inclui o módulo Sistema de Gestão Ambiental e Energética Fiat Automóveis. Todos os empregados, independente do nível hierárquico, têm acesso ao conteúdo, sendo mobilizados a atuarem como protagonistas das mudanças e melhorias contínuas. Em 2014, 1.278 pessoas participaram do TBI. Uma característica positiva de alguns dos veículos de comunicação é que sua veiculação abrange não apenas os funcionários no interior da fábrica, mas também as famílias e o círculo social de cada um. É o caso da revista Fiat em Família, que continuamente aborda pautas de gestão hídrica. Figura 15: Matéria da Fiat em Família de julho/2014

Figura 16:Dicas para a economia de água na casa dos empregados Pedro Cruz, que integra a equipe da unidade de Prevenção e Combate a Incêndios da Fiat, conheceu a prática de reúso de água na fábrica e traçou uma metodologia para sua realidade. Em sua casa, localizada em Contagem, cidade vizinha de Betim, ele faz captação da água de chuva e desenvolveu sistema para reutilizar a água descartada pela máquina de lavar roupas. Quando conheci a gestão ambiental da Fiat, a metodologia de organização do local de trabalho chamada 5S e a estação de tratamento de reúso de água, pensei que poderia fazer algo na minha casa. Daí, surgiu a ideia de buscar algumas formas de economizar água, conta o empregado. Com o objetivo definido, Pedro instalou encanamento na saída de água da calha com filtros e saída de ar no cano de PVC que leva todo o volume captado para uma caixa d água de 500 litros. Caso a quantidade ultrapasse esse montante, a água excedente vai para uma piscina de 5.000 litros. Outra forma de economizar água adotada por Pedro é a reutilização da água da máquina de lavar roupas. Descobri que cada ciclo de lavagem gasta 200 litros. Com isso, coloquei dois tanques que suportam 200 litros cada e envio a água que seria descartada para eles. Depois, trato a água com o uso de filtros em cada tanque e posso utilizar até mesmo para lavar roupas novamente, explica. Nesse processo, Cruz diz que economiza, em média, de 2.500 a 3.500 litros por mês. O conjunto dessas medidas não só contribuiu para que Pedro economizasse água consumida. Ele também conseguiu reduzir o preço da conta: de aproximadamente R$ 100 para cerca de R$ 25 mensais.

Figura 17: Sistema de captação da água da chuva na casa do empregado Pedro. Em destaque, filtro para saída de ar Figura 18: Caixa de esgoto adaptada para tratamento da água, separando impurezas antes de ir para caixa d água RESULTADOS O uso racional da água já é há muito tempo uma importante diretriz da política ambiental da planta da Fiat em Betim (MG). Como resultado, desde 1994, a fábrica reduziu 68% o consumo de água por veículo produzido, conforme gráfico abaixo: Gráfico 19: Redução do consumo de água [%]

CONCLUSÃO Em uma época em que a questão hídrica é uma preocupação crescente, não apenas no Brasil, mas em várias regiões do mundo, posturas e práticas como as da Fiat podem servir de exemplo para outras empresas. Em relatório lançado em 22 de março de 2015, em Nova Déli (Índia), as Nações Unidas concluíram que o planeta Terra vai sofrer um déficit de água de até 40% até 2030 caso nenhuma medida seja adotada. No Brasil, previsões de economistas realizadas em fevereiro de 2015 indicavam que a falta de água e também de energia poderá resultar em um quadro ainda mais negativo que o previsto inicialmente para o Produto Interno Bruto (PIB) do ano. Empresas que se preocupam em agir pensando no presente e no futuro com vistas ao uso cada vez mais racional dos recursos hídricos têm se destacado, não apenas porque se tornam menos suscetíveis a fatores externos mas também porque geram ativos financeiros resultante de menos gastos e porque beneficiam a comunidade em que estão inseridas e o meio ambiente como um todo. A gestão hídrica é encarada pela Fiat como um investimento e não como custo, pois traz impactos diretos para a perenidade do negócio. Como exemplo, em 2010, a empresa investiu cerca de R$ 12 milhões com a implantação de tecnologias para otimizar o tratamento de efluente, ampliando o índice de água recirculada de 92% para 99%. Em 2014, recuperou esse investimento com a economia de toda a água que deixou de ser captada em quatro anos. As empresas que investem em gestão hídrica com planejamento de longo prazo estão, portanto, mais preparadas para enfrentar o cenário atual de crise hídrica. O uso racional de água não é uma preocupação recente da Fiat Automóveis, mas já é foco de planejamento de longo prazo com ações contínuas. Um diferencial que tem permitido a empresa excelentes resultados é o engajamento dos empregados de todos os níveis, do chão de fábrica à diretoria, para a melhor eficiência do uso dos recursos. Os empregados são incentivados a sugerir ideias que, colocadas em prática, resultam na melhor eficiência da planta. No mundo corporativo, inserir a sustentabilidade na estratégia de negócio requer um amplo conjunto de ações com o intuito de mobilizar e engajar as pessoas, na perspectiva de que a prática é resultado da consciência coletiva, de que cada um tem que fazer a sua parte.