Universidade Católica de Brasília Pró-Reitoria de Graduação Curso de Relações Internacionais

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Transcrição:

Universidade Católica de Brasília Pró-Reitoria de Graduação Curso de Relações Internacionais Operações de manutenção de paz e humanitárias da ONU: viabilidade da participação de Corpos de Bombeiros Militares. William Augusto Ferreira Bomfim Brasília DF Novembro/2003

Universidade Católica de Brasília Pró-Reitoria de Graduação Curso de Relações Internacionais Operações de manutenção de paz e humanitárias da ONU: viabilidade da participação de Corpos de Bombeiros Militares. William Augusto Ferreira Bomfim Monografia apresentada ao Curso de Relações Internacionais da Universidade Católica de Brasília como parte dos requisitos para a obtenção do título de Bacharel em Relações Internacionais. Professor Orientador-Geral: Alexandre Martchenko Professor Orientador-Específico: José Ribeiro Machado Neto Brasília DF Novembro/2003 1

Universidade Católica de Brasília Pró-Reitoria de Graduação Curso de Relações Internacionais Operações de manutenção de paz e humanitárias da ONU: viabilidade da participação de Corpos de Bombeiros Militares. William Augusto Ferreira Bomfim BANCA EXAMINADORA Prof. José Ribeiro Machado Neto - Presidente Prof. Alexandre Martchenko - Membro Prof. Francisco Wollmann - Membro Brasília DF Novembro/2003 2

À minha esposa Barbara e aos meus pais Manoel e Valdete que me estimularam a não desistir nunca dos meus sonhos. 3

AGRADECIMENTOS Ao Deus de Israel, ao Deus do Oriente-Kamisama, que me tirastes do nada e me levastes a caminhos antes impensáveis aos meus olhos. A Vicente Júnior e Gleisse Ribeiro pela ajuda voluntária e desmedida para a execução deste estudo. Aos mestres orientadores Alexandre Martchenko e Machado Neto que me apoiaram com todas as recomendações. 4

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS - PORTUGUÊS AGNU CBMs CBMDF CIVPOL COTER CSNU DIH DPKO EME ERC IRB LSU MCDU MINUCI MINURSO MOMEP MONUA MONUC MRE OCHA OEA ONG ONU ONUCA ONUMOZ ONUSAL OSCE OTAN PEU PMDF SGNU TSE Assembléia Geral das Nações Unidas Corpos de Bombeiros Militares Corpo de Bombeiros Militar do Distrito Federal Observador Policial das Nações Unidas Comando de Operações Terrestres do Comando do Exército Conselho de Segurança das Nações Unidas Direito Internacional Humanitário Departamento de Operações de Manutenção de Paz Estado-Maior do Exército Coordenador de Assistência para Situações Emergenciais Instituto Rio Branco Unidade de Suporte Logístico Unidade de Defesa Civil e Militar Missão das Nações Unidas na Costa do Marfim Missão das Nações Unidas para o Referendo no Saara Missão de Observadores Militares Equador-Peru Missão de Observação das Nações Unidas na Angola Missão das Nações Unidas na República Democrática do Congo Ministério das Relações Exteriores Escritório de Coordenação para Assuntos Humanitários Organização dos Estados Americanos Organização Não-Governamental Organização das Nações Unidas Grupo de Observadores das Nações Unidas na América Central Operação das Nações Unidas em Moçambique Missão de Observação das Nações Unidas em Moçambique Organização de Segurança e Cooperação na Europa Organização do Tratado do Atlântico Norte Unidades de Imposição da Paz Polícia Militar do Distrito Federal Secretário-Geral das Nações Unidas Tribunal Superior Eleitoral 5

UNAMA UNAMET UNAMIC UNAMSIL UNAMIR UNAVEM I UNAVEM II UNAVEM III UNDOF UNEF I UNEF II UNFICYP UNIFIL UNIMOG UNIKOM UNIPOM UNMEE UNMIBH UNMIH UNMIK UNMIL UNMISET UNMOGIP UNOMIG UNOMSA UNOMSIL UNOMUR UNOSOM I UNOSOM II UNPSG UNSCOB UNSCOM Missão de Assistência das Nações Unidas no Afeganistão Missão das Nações Unidas no Timor Leste Missão Avançada das Nações Unidas no Camboja Missão das Nações Unidas em Serra Leoa Missão de Assistência das Nações Unidas em Ruanda Missão de Verificação das Nações Unidas em Angola I Missão de Verificação das Nações Unidas em Angola II Missão de Verificação das Nações Unidas em Angola III Força de Observadores desengajados das Nações Unidas Primeira Força de Emergência das Nações Unidas Segunda Força de Emergência das Nações Unidas Força de Manutenção da Paz das Nações Unidas em Chipre Força Interina das Nações Unidas no Líbano Grupo de Observadores Militares das Nações Unidas Irã-Iraque Missão de Observação das Nações Unidas Iraque- Kuweit Missão de Observação das Nações Unidas Índia- Paquistão Missão das Nações Unidas na Etiópia e Eritréa Missão das Nações Unidas na Bósnia-Herzegovina Missão das Nações Unidas no Haiti Missão das Nações Unidas para a Administração Interina no Kosovo Missão das Nações Unidas na Libéria Missão de apoio das Nações Unidas no Timor Leste Grupo de Observadores das Nações Unidas na Índia e Paquistão Missão de Observação das Nações Unidas na Geórgia Missão de Observação das Nações Unidas na África do Sul Missão de Observação das Nações Unidas em Serra Leoa Missão de Observação das Nações Unidas em Uganda- Ruanda Operação das Nações Unidas na Somália I Operação das Nações Unidas na Somália II Missão de Apoio Policial das Nações Unidas na Croácia Comitê Especial das Nações Unidas para os Bálcãs Comissão Especial das Nações Unidas 6

UNSF UNTSO UNYOM Força de Segurança das Nações Unidas na Nova Guiné Ocidental / Iriã Ocidental Organização para Supervisão da Trégua das Nações Unidas Missão de Observação das Nações Unidas no Iêmen 7

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS INGLÊS CIVPOL DPKO ERC LSU MCDU MINUCI MINURSO MOMEP MONUA MONUC OCHA ONUCA ONUMOZ ONUSAL PEU UNAMA UNAMET UNAMIC UNAMSIL UNAMIR UNAVEM I UNAVEM II UNAVEM III UNDOF UNEF I UNEF II UNFICYP UNIFIL UNIIMOG UNIKOM UNIPOM UNMEE UNMIBH UNMIH UNMIK UNMIL UNMISET UNMOGIP Civil Police Observer Department of Peacekeeping Operation Emergency Relief Coordinator Logistic Support Unit Military and Civil Defense Unit United Nations Mission in Côte d Ivoire United Nations Mission for Referendum in Western Sahara United Nations Observer Mission in Equator-Peru United Nations Observer Mission in Angola United Nations Organization Mission in the Democratic Republic of the Congo Office for the Coordination of Humanitarian Affairs United Nations Observer Group in Central America United Nations Operation in Mozambique United Nations Observer Mission in Mozambique Peace Enforcement Unit United Nations Assistance Mission in Afghanistan United Nations Mission in East-Timor United Nations Advance Mission in Cambodia United Nations Mission in Sierra Leone United Nations Assistance Mission in Rwanda United Nations Angola Verification Mission I United Nations Angola Verification Mission II United Nations Angola Verification Mission III United Nations Disengagement Observer Force United Nations Emergency Force I United Nation Emergency Force II United Nations Peacekeeping Force in Cyprus United Nations Interim Force in Lebanon United Nations Iran-Iraq Military Observer United Nations Iraq-Kuwait Observation Mission United Nations India-Pakistan Observation Mission United Nations Mission in Ethiopia and Eritrea United Nations Mission in Bosnia e Herzegovina United Nations Mission in Haiti United Nations Interim Administration Mission in Kosovo United Nations Mission in Liberia United Nations Mission of Support in East Timor United Nations Military Observer Group in India and Pakistan 8

UNOMIG UNOMSA UNOMSIL UNOMUR UNOSOM I UNOSOM II UNPSG UNSCOB UNSCOM UNSF UNTSO UNYOM United Nations Observer Mission in Georgia United Nations Observer Mission South Africa United Nations Observer Mission Sierra Leone United Nations Observer Mission in Uganda-Rwanda United Nations Operation Mission in Somalia I United Nations Operation Mission in Somalia II United Nations Civilian Police Support Group United Nations Special Committee for the Balkans United Nations Special Committee United Nations Security Force in West New Guinea United Nations Truce Supervision Organization United Nations Observer Mission in Yemen 9

SINOPSE BOMFIM, William Augusto Ferreira, Operações de manutenção de paz e humanitárias da ONU: viabilidade da participação de Corpos de Bombeiros Militares. Universidade Católica de Brasília. Professores Orientadores: Alexandre Martchenko e José Ribeiro Machado Neto. Novembro de 2003. Este estudo tem como objetivo principal verificar a possibilidade da participação de corpos de bombeiros militares em operações de manutenção de paz e humanitárias da ONU, como sendo uma sugestão para ampliação e aprimoramento do esforço de paz entre as nações, o que mostra os esforços do país para o enriquecimento do multilateralismo não apenas no plano das idéias, como também no plano da ação. A presente monografia apresenta uma breve análise da área de atuação do Departamento de Manutenção de Paz (DPKO) e do Escritório para Assuntos Humanitários (OCHA) da ONU, bem como a eficácia das ações desses órgãos. Estuda-se o impacto da participação e a viabilidade operacional dos componentes dos Corpos de Bombeiros Militares, os quais pelo seu adestramento militar e experiência, possuem o perfil adequado para atuarem conjuntamente com as forças de paz da ONU em eventos relacionados a emergências médicas, buscas e salvamentos, resgates e incêndios, dentre outros. 10

ABSTRACT BOMFIM, William Augusto Ferreira.Operações de manutenção de paz e humanitárias da ONU: viabilidade da participação de Corpos de Bombeiros Militares. Universidade Católica de Brasília. Professores Orientadores: Alexandre Martchenko e José Ribeiro Machado Neto. Novembro de 2003. The main objective of this study is to verify the possibility of the military firefighters participation in peacekeeping and humanitarian operations of the UN, as a suggestion for the widening and improvement of peace effort between nations which shows the efforts of countries towards the enrichment of multilateralism not in theories alone but in practice as well. This monograph presents a brief analysis of the work area of the Department of Peace Keeping Operations (DPKO) and of the Office for the Coordination of Humanitarian Affairs(OCHA), as well as the efficacy of the actions of the same. This works studies the participation impact and operational viability of the members of the Military Firefighters Department, who, by their military training and experience have the adequate profile to act in conjunction with the peace force of the UN in events related to medical emergencies, search and rescue, and fires, among others. 11

SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO... 1 1.1 O problema e sua importância... 2 1.2 Objetivos... 4 1.2.1Objetivo geral... 4 1.2.2 Objetivos específicos... 4 1.3 Hipótese... 5 1.4 Metodologia... 5 1.4.1 Procedimentos para obtenção dos dados e informações... 5 1.4.1.1 Dados e informações... 5 1.4.1.2 Fontes documentais... 5 2. REFERENCIAL TEÓRICO... 6 2.1 Revisão bibliográfica... 6 2.2 Marco teórico... 12 2.2.1 Cooperação e interação internacional... 12 3. RESULTADOS DISCUSSÕES... 15 3.1 Breve histórico das origens das operações de manutenção de paz... 15 3.2 Atuação do DPKO na manutenção da paz, 1992-2003... 17 3.3 Desempenho do OCHA no contexto humanitário: a ausência 22 dos Corpos de Bombeiros Militares... 3.4 Considerações sobre o Relatório BRAHIMI... 26 3.5 Proposição de inserção dos Corpos de Bombeiros Militares nas Operações de Manutenção de Paz da ONU... 27 3.5.1 Razões de natureza técnica, estratégica e política da participação dos Corpos de Bombeiros Militares nas missões de paz da ONU... 27 3.5.2 Impactos da participação dos Corpos de Bombeiros Militares nas missões de paz da ONU: uma visão preliminar... 30 3.5.3 Viabilidade operacional da proposição: externalidades políticas nos contextos nacional e internacional... 33 4. CONCLUSÕES OU INFERÊNCIAS... 36 5. SUGESTÕES E RECOMENDAÇÕES... 37 5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS... 38 6. ANEXOS ANEXO Nº 1 Organograma do Departamento de Manutenção 41 de Paz da ONU... ANEXO Nº 2 - Missões de Paz da ONU em andamento... 42 ANEXO Nº 3 - Fatalidades em missões de Paz da ONU... 43 12

1. INTRODUÇÃO Este estudo trata da possibilidade de participação de Corpos de Bombeiros Militares em operações de manutenção de paz e humanitárias, no âmbito da Organização das Nações Unidas (ONU), como sendo uma sugestão para ampliação e aprimoramento do esforço de paz entre as nações. Objetiva, primeiramente, mostrar a viabilidade e a importância da citada participação e, especificamente, a eficácia da atuação do Departamento de Operações de Manutenção da Paz (DPKO), bem como avaliar, também, a eficácia das ações do Escritório para Assuntos Humanitários (OCHA), da ONU. A hipótese é básica e correlaciona-se com os objetivos do estudo. Admite-se que se alcançada a referida inserção, além da eficácia das missões de paz da ONU, poderá o país, mediante ganhos ou externalidades, aprimorar a nível técnico-profissional de suas corporações, além da possível interação destas com os demais segmentos das forças armadas nacionais. O estudo enquadra-se na Teoria da Cooperação Internacional vista em DOUGHERTY e PFALTZGRAFF (1996), e relacionada aos estudos que tratam do Estado-nação observado em ARENDT (1997) e KELSEN (1998), além do que trata KANT (2002), como apregoador da filiação de Estados como medida de superação de contextos beligerantes. As fontes consultadas, longe de serem consideradas ecléticas, dão um caráter multidisciplinar à pesquisa bibliográfica. Alcançam desde autores notoriamente conhecidos na esfera das relações internacionais, a exemplo de CANNABRAVA (1996), FONTOURA (1999), GARCIA (2000), HARRIS e DOMBROWSKI (2002) até VICENTINI (2002) e não menos conhecido 13

Poder. 1 Analisam-se as atuações do Departamento de manutenção de paz WIGHT, com sua elucidativa e, ao mesmo tempo, contributiva Teoria do (DPKO) e do Escritório de Coordenação para Assuntos Humanitários (OCHA), ambos da ONU. Retrata-se a proposição central do estudo: a possibilidade de inserção dos corpos de bombeiros militares nas missões de paz da ONU, partindo de uma visão preliminar à viabilidade operacional e suas possíveis externalidades políticas em contextos nacionais e internacionais. O estudo apresenta conclusões que, além de sugestões de medidas políticas subjetivas, alcançam, também, a institucionalidade, preceito maior que rege as relações entre agentes internos e norteiam as relações entre agentes no contexto internacional. 1.1 O problema e sua importância O Brasil vive em paz ininterrupta há mais de 125 anos, considerandose suas ações em termos de conflitos com outros Estados do Sistema Internacional. Na constituição da República, estão explicitados entre os "princípios fundamentais" que regem as relações internacionais do Brasil a "defesa da paz", a "solução pacífica dos conflitos" e a "cooperação entre os povos para o progresso da humanidade". 2 Diferentemente de alguns países vizinhos, tem-se observado em décadas anteriores a eclosão de ameaças de guerra em virtude de disputas territoriais, como aconteceu com Bolívia e Paraguai, na Guerra do Chaco; o 1 WIGHT, Teoria do Poder. Brasília: Unb/Ipri, 2002. 2 Constituição da República Federativa do Brasil, artigo 4 o, incisos VI, VII e IX. 14

Peru e o Equador na Cordilheira do Condor; e o conflito entre Argentina e Inglaterra pelo domínio das Ilhas Malvinas, para os portenhos e Islands Falkland, para o Reino Unido. Entretanto, em face de fatores histórico-econômicos vivencia-se uma grande desigualdade social que reflete nos altos índices de violência interna, tanto nas áreas urbanas, quanto rurais. A exemplo dessa violência interna destacam-se os inúmeros conflitos no campo, as vítimas de arma de fogo, os acidentes de trânsito, a elevada população carcerária e as suas constantes rebeliões em unidades da Federação. O atentado de 11 de setembro de 2001 mostrou ao mundo a ameaça de atores não-convencionais ao atingir a potência 3 considerada mais próspera, mais forte e mais segura do planeta. Os Estados Unidos da América, com exceção do ataque de Pearl Harbor em dezembro de 1941 e do Texas,por Pancho Villa em 1917, nunca foram, desde a sua fundação, invadidos ou atacados por outros povos alienígenas. O episódio de 2001 ocasionou grande ansiedade e comoção no mundo inteiro. A mobilização na América para o socorro às vítimas e reconstrução do país foi intensa. O Presidente George W. Bush desencadeou ações junto às forças armadas, congresso nacional, poder judiciário e a mídia americana no sentido de alertar a população quanto a real gravidade dos ataques ocorridos. A participação contígua dos diversos órgãos foi fundamental para o restabelecimento da situação de normalidade nos Estados Unidos da 3 Segundo Martin o conceito de potência é composto de muitos elementos. Seus componentes básicos são o tamanho da população, posição geográfica, recursos econômicos e produção industrial. WIGHT(2002) p. 5. 15

América, sobressaindo-se em especial a dos integrantes dos Corpos de Bombeiros e da Defesa Civil, cujas baixas alcançaram mais de 340 homens. A atuação de Corpos de Bombeiros em atividades de defesa civil, ações terroristas, desastres, incêndios, entre outras mais, é conhecida por parte dos diversos Estados político-economicamente organizados, quer em nível interno, quer em nível externo. Isto, por oportuno vem a consolidar os propósitos e princípios da ONU para uma cooperação internacional, a fim de solucionar os problemas de caráter humanitário, econômico, social ou cultural, dentre Estados. analisar 1.2 Objetivos: 1.2.1 Objetivo geral Analisar a viabilidade e a importância da participação dos Corpos de Bombeiros Militares (CBMs) em operações de manutenção de paz e humanitárias da ONU. 1.2.2 Objetivos específicos: 1. Analisar a eficácia das ações do Departamento de Operações de Manutenção de Paz (DPKO) da ONU; e 2. A avaliar a eficácia das ações do Escritório para Assuntos Humanitários (OCHA) da ONU; 16

1.2 Hipótese H1 - A participação de CBMs em operações de manutenção de paz e de caráter humanitário da ONU poderá contribuir para uma maior eficácia das mesmas, aqui, denominadas de "2ª Geração ou Multidisciplinares. 4 H2 - A experiência poderá promover uma melhor capacitação técnicoprofissional dos bombeiros-militares em nível nacional e internacional, bem como a interação dessas corporações com os outros segmentos das forças armadas. 1.4 Metodologia: 1.4.1 Procedimentos para obtenção dos dados e informações 1.4.1.1 Dados e informações Os dados são secundários, obtidos em fontes impressas: livros, dissertações, teses, monografias, revistas, periódicos especializados e jornais. 1.4.1.2 Fontes documentais Foram utilizados documentos e publicações da ONU, do Ministério das Relações Exteriores (MRE), do Instituto Rio Branco (IRB) e do Ministério da Defesa Exército Brasileiro. Em base nessas fontes, foi desenvolvida uma análise históricoanalítica de fatos e ocorrências inerentes às missões de paz, com o levadas a efeito pela ONU, com participações multilaterais e, inclusive, em momentos e espaços diferenciados. 4 Segundo FONTOURA as denominadas operações de manutenção de paz de 2 a Geração ou Multidisciplinares incorporam em suas atividades tarefas militares, além de outras de cunho civil e humanitário, com irradiação sobre todo o território de um país. FONTOURA (1999), p. 100. 17

2 REFERENCIAL TEÓRICO 2.1 - Revisão Bibliográfica A preocupação no século passado por parte de diversos Estados de promover a paz mundial remonta a, década de 1920, época de atuação da Liga das Nações. O chamado Pacto da Liga das Nações decorreu do conjunto de negociações que se realizaram na Conferência de Paris, em 1919, para selar a paz com a Alemanha. 5 Mesmo sem a obtenção de resultados significativos no campo da paz e da segurança internacional, a Liga das Nações desencadeou um papel importante sobre a implementação de idéias concretas, respaldadas em nível governamental, acerca da criação de uma força militar internacional permanente, ou de um sistema de pronto emprego de contingentes nacionais, em espaços internacionais. 6 O desenvolvimento de uma consciência jurídica, contrária ao recurso da guerra nas relações internacionais e os precedentes em matéria de técnicas de manejo de conflitos, deu à Liga das Nações a oportunidade de representar o Estado-nação no período de reconstrução política do pós-guerra. FONTOURA (1999), relaciona os episódios mais significativos ocorridos nas décadas de 1920 e de 1930, que implicaram em intervenções levadas a efeito pela Liga das Nações e pela Conferência dos Embaixadores, com a utilização de meios militares e civis. 7 5 GARCIA, (2000), p.21. 6 FONTOURA, 1999, pp. 42-43. 7 A Conferência dos Embaixadores era integrada à época pelos Embaixadores do Império Britânico, da Itália e do Japão acreditados junto ao Governo francês, além de contar com a presença de um representante da França, Idem, p. 43. 18

O autor, afirma, ainda, num contexto contrário à tese político-jurídica, predominante na Liga das Nações, que As missões da Liga ou as tropas convocadas pela Conferência dos Embaixadores estavam atuando em sintonia com os princípios de imparcialidade e uso limitado da força que viriam a orientar as operações de manutenção da paz da ONU, sempre com o consentimento das partes envolvidas. 8 O fracasso da Liga das Nações atribui-se à sua não-universalização e às lacunas de seu sistema de segurança coletiva, o que levou ao ressurgimento das práticas de política de poder e do equilíbrio entre alianças, como foi o caso do Tratado de Locarno, firmado entre a França e a Polônia em 16 de outubro de 1925, na Suíça, onde a Inglaterra e a Itália passaram a atuar como garantes das fronteiras entre a Alemanha, a Bélgica e a França; ao passo que as fronteiras entre a Alemanha, a Polônia e a Tchecoslováquia, ficaram para ser definidas, posteriormente, por meio da arbitragem internacional. 9 Desde os anos 1930, que estiveram em discussão estudos para reformar a Liga das Nações. Entretanto, sua concretização só veio a ocorrer na Conferência das Nações Unidas, que se realizou em São Francisco, de 25/4 a 26/6/1945, com a promulgação da Carta das Nações Unidas. A Carta das Nações Unidas, instituída em 1948, ressalta o modelo de segurança coletiva, a partir de então, reforçado por um conjunto de propósitos e princípios elencados nos artigos 1 o e 2 o, do diploma, por onde se passaria a nortear o relacionamento dos Estados no novo cenário internacional. 10 Neste contexto, a Carta das Nações Unidas estabelece que seus membros devem resolver controvérsias por meios pacíficos, de modo que a paz, 8 Idem, p. 47. 9 Sobre este diploma ver LOPES (1999), p.354-356. 10 FONTOURA, op. cit., p. 50. 19

a segurança e a justiça das nações não sejam perturbadas. 11 Além do mais, deveriam os Estados, também, evitar a ameaça ou o uso da força contra a integridade territorial ou a independência política de outras nações, ou, qualquer outra ação incompatível com os propósitos da Organização. 12 Exemplificando o objetivo geral da ONU, CANNABRAVA (1996), ao discorrer sobre as operações de manutenção de paz, afirma que, Tais operações foram desenvolvidas em resposta à necessidade de um mecanismo pacífico de solução de controvérsias pelo qual a ONU se fizesse presente no terreno do conflito, como terceiro imparcial, para monitorar o cumprimento de um cessar-fogo e gerar a confiança necessária para que as partes resolvam suas disputas pelas medidas pacíficas previstas no Capítulo VI da Carta de São Francisco... 13 Ainda, enfatiza o autor, com base no Capítulo VI da Carta da ONU, que as medidas pacíficas para solução de controvérsias, as operações de manutenção de paz, não estão expressamente previstas em dispositivo algum da Carta de São Francisco, não obstante estarem inseridas no propósito fundamental da ONU, Manter a paz e a segurança internacionais e, para esse fim: tomar, coletivamente, medidas efetivas para evitar ameaças à paz e chegar, por meios pacíficos, a um ajuste ou solução das controvérsias ou situações que possam levar a uma perturbação da paz. 14 As operações de manutenção de paz passaram a ser utilizadas periodicamente, pela ONU, como um de seus principais instrumentos de atuação no campo da paz e segurança internacionais, a partir de 1956, tendo em vista que o sistema de segurança coletiva - herança da Liga das Nações - não pôde 11 Carta das Nações Unidas, art. 2 o, 3 o ; e art. 33. 12 Idem, art. 2 o, 4 o. 13 CANNABRAVA,, (1996), p.94. 14 Idem, p. 94 20

ser posto em prática, com eficiência, em razão do peso político da bipolaridade, vivida no período inicial da Guerra Fria. 15 A divisão do mundo em dois blocos antagônicos, constituídos pelos Estados Unidos (EUA) e pela ex-união Soviética (URSS) respectivamente, ocasionou uma relativa paralisia do processo decisório do Conselho de Segurança da ONU (CSNU), em razão da faculdade do poder de veto, por aqueles Estados, uma vez que, subordinou a operacionalidade do sistema de segurança coletiva à unanimidade dos membros permanentes do Conselho. 16 Durante o período de 1948-87, sem contar as missões que tinham como escopo o envio de comissões de ofícios consulares e afins foram criadas nesse intervalo 13 operações de manutenção de paz, basicamente militares, com pessoal armado. Foram as denominadas de operações de primeira geração ou clássicas, as quais desempenharam basicamente o papel de supervisão de acordos de cessar-fogo, da fixação de tréguas e de zonas-tampão e, inclusive, do estabelecimento de áreas desmilitarizadas. 17 Com o fim da Guerra Fria no final dos anos 1980 e a aproximação das duas superpotências no âmbito do Conselho de Segurança, a ONU foi chamada não somente para monitorar acordos de paz, mas também, para atuar nos novos conflitos surgidos com o final da bipolaridade e alimentados por rivalidades de fundo étnico, religioso, cultural, político ou mesmo tribal. Essa nova roupagem da ONU para as operações de manutenção da paz deu-se o nome de operações de segunda geração ou multidisciplinares, pela adição de novas funções, a saber: i) assistência humanitária; ii) monitoramento eleitoral; iii) verificação de violações de direitos humanos; iv) supervisão de aquartelamentos e desmobilização de ex-combatentes; v) recolhimento e 15 A Guerra Fria pode ser definida como uma relação antagônica entre as duas superpotências EUA e URSS, caracterizada pela ameaça física e de uma ideologia hostil, tendo como conseqüências àquilo que alguns observadores chamaram de mundo unipolar ou de uma superpotência. KISSINGER, 2001, p. 783, 886 e 917. 16 FONTOURA, op. cit. p. 55 17 Idem, p.61-63. 21

destruição de armamentos; vi) auxílio para o retorno de refugiados e deslocados internos; trabalho de desminagem; e vii) reconstrução de pontes e estradas, etc. 18 A composição agora não se restringe apenas aos elementos militares, mas também aos civis e policiais. A presença das chamadas Organizações Não- Governamentais (Médicos Sem Fronteiras, Comitê Internacional da Cruz Vermelha etc) tem se tornado um grande desafio para a plena coordenação das ações pela ONU. HARRIS e DOMBROWSKI (2002), ao analisarem a colaboração militar com organizações humanitárias em emergências complexas, como foi o caso da situação do Afeganistão pós-invasão norte-americana, em 2001, afirmam que: A idéia de uso militar em objetivos humanitários não é nova. Os príncipes franceses da Igreja já utilizavam por volta do ano 1000. Mais recentemente no começo dos anos 1990, organizações militares e humanitárias se aliaram para apoiar a provisão de alívio a populações em conflito. 19 A inclusão da segurança à prestação de assistência humanitária pela ONU, segundo CARDOSO (1998), Traduz para o plano operacional militar os mandatos adotados na decisão política, e, ao fazê-lo, fixam os limites, circunstâncias e objetivos que os efetivos poderão ou deverão usar seus armamentos. 20 Desta forma, observa-se que os problemas logísticos para fornecer água potável, roupa, comida, combustível e abrigo a multidões desvalidas, e a necessidade de poder assegurar sua distribuição em boa ordem trouxeram para a assistência humanitária procedimentos e efetivos militares. Neste pensamento sobre a participação de novos atores atuando conjuntamente IMAMURA (2002) realça o papel da Cruz Vermelha Internacional 18 CANNABRAVA, op. cit., p. 95. 19 HARRIS, e DOMBROWSKI, 2002, p. 157. 20 CARDOSO, 1998, p. 57. 22

(CICV), ao citar suas funções implementadas neste cenário devem ser vistas como um Agente de implementação das Convenções de Genebra; componente e elemento fundador do Movimento da Cruz Vermelha; guardião do Direito Internacional Humanitário; ator da ação internacional humanitária por sua própria iniciativa; e gestor das atividades humanitárias mediante encargo ou por delegação da comunidade internacional. 21 Acerca do componente policial a ONU afirma que o mesmo tornou-se, através dos anos, um dos principais elementos das operações conduzidas por esta organização, já que a mesma vem sendo instada a participar de processos de restauração da ordem e da reconciliação entre as gentes, em territórios sob conflitos. 22 Com base em VIZENTINI (2002), a nova dimensão atribuída à doutrina americana de segurança, após os atentados de setembro de 2001, em Nova York - com a efetiva participação de componentes dos Corpos de Bombeiros 23, de policiais civis, da Guarda Nacional, das Forças Armadas e da inteligência é um exemplo bem atual, onde a ONU pode toma-lo como norteador para aplicação imediata de novas medidas que englobem nos seus efetivos novos elementos, ou novos agentes preventivos, em cenários diversos desencadeados em operações politicamente multifacetadas. 24 Por conseguinte, CARDOSO (1998) permite o entendimento que, em ações desencadeadas pelas operações de manutenção de paz, quer para a ampliação do planejamento do DPKO e do OCHA, quer no recrutamento de novos componentes - para atuarem em situações que exijam maior prática urbana tornar-se-ia necessário à incorporação de novos componentes estruturais às bases mantenedoras da própria ação da ONU. 21 IMAMURA, 2002, p. 18. 22 CARDOSO, op. cit. p. 23 Nos EUA os bombeiros pertencem a instituições remuneradas pelo Governo e por instituições privadas estaduais e municipais. 24 VIZENTINI (2002) cap 1 p.2. 23

Os últimos ataques terroristas no Iraque, onde o representante especial do Secretariado da ONU, Sérgio Vieira de Mello, foi tragicamente vitimado em um atentado em Bagdá, em 19 de agosto de 2003, comprova, segundo PROENÇA (2002), a Assertiva de que operações de manutenção de paz são guerras de coalizão e atos de força para dobrar a vontade de outrem ao mandato do Conselho de Segurança. 25 O aperfeiçoamento contínuo das chamadas operações de segunda geração ou multidisciplinares, aliados à adesão de novos componentes se refletirá de modo extremamente positivo na eficácia de tais operações e na busca pelo ideal preconizado na Carta das Nações Unidas em 1945. 2.2 Marco Teórico 2.2.1 Cooperação e interação internacional Este estudo está inserido na Teoria da Cooperação. Esta tem sido definida como um conjunto de relações que não estão baseadas na coerção ou força, mas sim, na legitimação, por uma organização internacional, a exemplo da ONU ou da Comunidade Européia (CE). 26 Segundo DOUGHERTY e PFALTZGRAFF (1996), o foco da teoria das relações Internacionais tem sido o estudo das causas dos conflitos e as condições para cooperação entre nações. 27 Os Estados, sendo os principais atores do sistema internacional, apresentam padrões internos de conflitos e cooperação. Por conseguinte, fatores que contribuem para coesão - a exemplo do nacionalismo ou, para a fragmentação (conflitos étnicos) - são de extrema importância teórica. 25 PROENÇA, 2002, p. 187. 26 DOUGHERTY, e PFALTZGRAFF, 1996, p. 418 27 Idem, p. 418. 24

Nas sociedades anárquicas 28, citadas pelos realistas clássicos e seus sucessores neorealistas, os Estados alcançam seus objetivos de segurança pela cooperação e pelo conflito entre si. As teorias de cooperação, juntamente com as teorias de conflito formam a base necessária para a compreensão da teoria das relações internacionais no caso em estudo. 29 A cooperação deve ocorrer como o resultado de ajustes de comportamento entre atores e, em resposta a questões internacionais, ou em antecipação, seguindo a preferência de outros atores. A cooperação, ainda, pode ser negociada em um processo de barganha explícito ou tácito, podendo, inclusive, ser o resultado das relações entre os atores fortes e os atores fracos. Os atores fortes ou potências dominantes 30, por sua vez, devem manter uma base para a obtenção de ganhos mútuos, na forma de expansão de mercados, ou de proteção militar. 31 Os atores estatais desenvolvem suas relações externas no âmbito das organizações internacionais e de acordo com os regimes vigentes dessas instituições, que estabelecem normas, regulamentos e procedimentos que viabilizam processos decisórios. Neles, os Estados procuram solucionar seus assuntos e convergir suas expectativas. 32 Finalmente, segundo o autor, um ponto de vital importância na teoria da cooperação, é que a mesma emerge, freqüentemente, entre dois Estados. 28 Para BULL, ao contrário dos indivíduos que vivem no seu interior, os Estados soberanos não estão sujeitos a um governo comum, e que neste sentido existe uma anarquia internacional. Entretanto, no moderno debate sobre as relações internacionais, devido a essa anarquia, os Estados não formariam na verdade um tipo de sociedade, o que só poderia acontecer se eles estivessem sujeitos a uma autoridade comum. BULL, 2002, p.57. 29 DOUGHERTY e PFALTZGRAFF, op. cit. pp.418-419. 30 Segundo WIGHT uma potência dominante tem de ser definida em termos de propósitos, assim como em termos de poder. Cada potência dominante está engajada num processo direto de engrandecimento, mas em geral também apela para alguma forma de unidade ou solidariedade internacional. WIGHT, 2002, p.18. 31 DOUGHERTY e PFALTZGRAFF,op. cit, p. 418. 32 Idem, p.419. 25

Entretanto, seu principal foco no contexto internacional tem sido o multilateralismo. 33 Neste estudo ressalta-se a importância da provável e inovadora participação de integrantes dos Corpos de Bombeiros Militares, em conjunto com as chamadas Operações de paz de 2ª Geração ou Multidisciplinares, ocorridas após a II Guerra Mundial e, principalmente, depois de 1987. O seu leque de abrangência tem sido aumentado em virtude do fim das diferenças entre EUA e União Soviética - incrementadas durante a Guerra Fria - e do afloramento de disputas éticas e religiosas e, inclusive, da extensão da agenda da ONU, que passaria a tratar de novos temas, a exemplo de democracia e de direitos humanos. 34 Para esse novo tipo de operação de paz, o Estado-nação visto em ARENDT (1997) e em MENEZES (1996) e o Estado como comunidade constituída pela ordem em KELSEN (1998), deixa de ser o único ator das relações internacionais. Suas relações já não são essencialmente conflituosas e nem competitivas, mas, sobretudo, consensuais e cooperativas. 35 KANT (2002) ao apregoar a filiação de Estados como medida de superação de contextos beligerantes internacionais, amplia o espaço da cooperação internacional 36, o que permite a participação de novos atores, ainda que, não especificados, induz-nos à aceitação da viabilidade da principal proposição deste estudo. 33 Idem, p.420 34 FONTOURA, op. cit., p. 76. 35 ARENDT, 1997, pp. 300-01; MENEZES, 1996, pp.49-50; e KELSEN, 1998, pp. 262-64. 36 KANT, (2002), p. 121. 26

3 - RESULTADOS DISCUSSÕES Nos próximos itens serão feitos um breve histórico das origens das operações de manutenção de paz e uma análise da atuação do Departamento de Manutenção de Paz da ONU (DPKO) e do Escritório para Assuntos Humanitários (OCHA). Discutir-se-á também a inserção dos Corpos de Bombeiros Militares (CBMs) nas operações de manutenção de paz da ONU, correlacionando esta inserção com os objetivos e a hipótese do estudo. 3.1 Breve histórico das origens das operações de manutenção de paz As missões precursoras de manutenção de paz remontam aos anos 1920 e 1930, sob a autoridade da Liga das Nações, entretanto, as operações de manutenção de paz propriamente ditas só vieram a ganhar sua forma tradicional após a Segunda Guerra Mundial, na esfera das Nações Unidas. O desenvolvimento das operações de manutenção de paz deu-se em resposta à necessidade de um mecanismo pacífico de solução de controvérsias pelo qual a ONU se fizesse presente no conflito, atuando como terceiro imparcial, para monitorar o cumprimento de um cessar-fogo e gerar a confiança para que as partes resolvam suas disputas por meio das medidas pacíficas preconizadas no Capítulo VI da Carta de São Francisco. O artigo 33 da Carta em seu parágrafo 1º, afirma que, As partes em uma controvérsia, que possa vir a constituir uma ameaça à paz e à segurança internacionais, procurarão, antes de tudo, chegar a uma solução por negociação, inquérito, mediação, conciliação, arbitragem, solução judicial, recurso a entidades ou acordos regionais, ou a qualquer outro meio pacífico à sua escolha. Logo, observa-se que não se inclui entre as medidas pacíficas de solução de controvérsias, as operações de manutenção da paz, as quais, observadas a 27

rigor, não estão expressamente previstas em dispositivo algum da Carta de São Francisco. Ainda não existe consenso sobre qual dispositivo da Carta das Nações Unidas que poderia fornecer o fundamento jurídico para a criação das operações de manutenção de paz, contudo, uma das hipóteses afirmadas é a elencada no artigo 36, parágrafo 1º da Carta, O Conselho de Segurança poderá, em qualquer fase de uma controvérsia da natureza a que se refere o Artigo 33, ou de uma situação de natureza semelhante, recomendar procedimentos ou métodos de solução apropriados. Na prática a recomendação de procedimentos ou métodos de solução apropriados, deu surgimento as operações de manutenção de paz em suas duas vertentes as missões de observação (pessoal desarmado) e as forças de paz que passaram a ser utilizadas pela ONU como um de seus principais instrumentos de atuação no campo da paz e segurança internacionais. Desde o final dos anos 1940, as operações de manutenção de paz eram norteadas pelos seguintes princípios básicos: i) imparcialidade; ii) consentimento das partes envolvidas no conflito; iii) uso da não-violência, exceto em legítima defesa, e iv) a participação voluntária dos Estados-membros. Cabem ao Conselho de Segurança ou à Assembléia Geral das Nações Unidas a autorização e a definição do mandato das operações de manutenção de paz, e ao Secretariado Geral da ONU o comando operacional por meio do DPKO. O artigo 34 da Carta cita que, O Conselho de Segurança poderá investigar sobre qualquer controvérsia ou situação suscetível de provocar atritos entre as Nações ou dar origem a uma controvérsia, a fim de determinar se a continuação de tal controvérsia ou situação pode constituir ameaça à manutenção da paz e da segurança internacionais. 28

E o artigo 35, parágrafo 1º, afirma que, Qualquer Membro das Nações Unidas poderá solicitar a atenção do Conselho de Segurança ou da Assembléia Geral para qualquer controvérsia, ou qualquer situação, da natureza das que se acham previstas no Artigo 34. Vale ressaltar, não se entrando em discussão sobre o possível fundamento jurídico para a criação das operações de manutenção da paz, que este instrumento pacífico está de acordo com o propósito fundamental das Nações Unidas, de manter a paz e a segurança internacionais. 3.2 Atuação do DPKO na manutenção da paz, 1992-2003 O Departamento de Operações de Manutenção da Paz (DPKO) foi criado em fins de 1992 e institucionalizado em 1993. A formação de seus quadros se dá por pessoal contratado pela ONU e no período de sua criação até o ano de 1999 por militares cedidos temporariamente pelos Estados membros, sem ônus para a Organização, como foi o caso do Brasil ao contribuir com 11 militares denominado ( gratis personnel ou officers on loan). 37 Os integrantes do DPKO - pessoal militar ou chamado capacetes azuis, 38 policiais civis e demais membros civis tem como missão ajudar a aplicar os acordos de paz, controlar o cessar fogo, criar zonas tampão ou apoiar complexas funções militares e civis que resultam indispensáveis para manter a paz e começar a reconstrução, bem como criar instituições, nas sociedades devastadas por conflitos ou guerra. 37 FONTOURA, p.112. 38 Os chamados capacetes azuis - Blue Helmets ou Casques Bleus referem-se a atuação das tropas da ONU que estavam no Canal de Suez em 1957. Por sugestão dos EUA e para facilitar a identificação dos contingentes dos diversos países foram pintados de azul milhares de capacetes. SOUZA (2003), p. 12. 29

A arma mais poderosa dos membros da manutenção de paz é a imparcialidade com que desempenham seus mandatos. Sem dúvida, a manutenção da paz é uma tarefa de constantes riscos. Dados de 2003 mostram que mais de 1.790 membros das operações, tanto militares como civis, faleceram enquanto cumpriam seu dever. 39 Ainda que a manutenção da paz não se configura de forma específica na Carta da ONU, ao Conselho de Segurança (CSNU) é delegada a responsabilidade principal da manutenção da paz e segurança internacional, como também organizar e definir as missões de paz. 40 O CSNU têm como membros permanentes a França, Reino Unido, China, Federação Russa e Estados Unidos os quais podem vetar qualquer decisão relativa às operações de manutenção de paz. Recaem sobre o Secretário-Geral da Organização (SGNU) os encargos mais pesados do planejamento e execução das operações de manutenção da paz. O SGNU dirige e administra as operações e informa ao CSNU do progresso das mesmas. Através do DPKO, o SGNU formula políticas e procedimentos e faz recomendações sobre o estabelecimento de novas missões e do funcionamento das que estão em curso. No período de 1948 até 2003 as missões de paz atingiram o número de 57 operações, estando atualmente em andamento 14 destas com a participação de 39 Departamento de Informação Pública da ONU, Seção de Paz e Segurança. http://www.un.org/ 40 Carta das Nações Unidas, Capítulo VI. 30

89 países e mais de 43.000 integrantes, dentre militares e policiais (38.287), pessoal civil internacional (3.178) e pessoal civil local (6.549) 41, detalhado neste organograma: Quadro 1 Operações de manutenção de paz em andamento ORGANIZAÇÃO Organização para Supervisão de Trégua das Nações Unidas (UNTSO) Grupo de Observadores das Nações Unidas na Índia e Paquistão (UNMOGIP) Força de Manutenção de Paz em Chipre (UNFICYP) Força de Observadores desengajados das Nações Unidas (UNDOF) Força Interina das Nações Unidas no Líbano (UNIFIL) Missão das Nações Unidas para o referendo no Saara Ocidental (MINURSO) Missão de Observadores das Nações Unidas na Geórgia (UNOMIG) Missão das Nações Unidas para a Administração Interina no Kosovo (UNMIK) Missão das Nações Unidas em Serra Leoa (UNAMSIL) Missão das Nações Unidas na República Democrática do Congo (MONUC) Missão das Nações Unidas na Etiópia e Eritrea (UNMEE) Missão de apoio das Nações Unidas no Timor Leste (UNMISET) Missão das Nações Unidas na Costa do Marfim (MINUCI) Missão das Nações Unidas na Libéria (UNMIL) OPERACOES DE MANUTENCAO DE PAZ EM ANDAMENTO FORÇA CIVIS DESDE POLICIA CIVIS MILITAR INTERNACIO- CIVIL LOCAIS NAIS FATALIDA DES ORÇAMENTO 2003 (Milhões $$) Maio 1948 154 99 111 38 25.9 Janeiro 1949 Março 1964 Junho 1974 Março 1978 Abril 1991 Agosto 1993 Junho 1999 Outubro 1999 Novembro 1999 Julho 2000 Maio 2002 45 24 48 9 9.2 1351 35 44 101 170 45.77* 1043 37 91 40 41.81* 1983 117 302 247 94.06* 222 16 160 112 10 43.40* 122 100 174 7 32.10* 37 3657 928 3079 24 329.74* 12331 126 326 577 111 543.49* 8996 102 621 749 22 608.23* 4068 242 256 5 196.89* 3455 496 439 897 12 193.34* Maio 2003 32 41 52 29.88** Setembro 2003 4459 104 * Orçamento aprovado para 07/03-o6/04 ** Orçamento proposto para 13/05/03-30/06/04 Fonte: Nações Unidas Anexo 2 41 Os dados foram extraídos do site das Nações Unidas e estão atualizados até 30-09-2003. Não estão incluídos os 4.459 militares e 104 civis integrantes da missão de paz na Libéria, desencadeada oficialmente em 1 de outubro de 2003. Ver: http://www.un.org/peace/bnote010101.pdf 31

O DPKO tem atuado praticamente em todos os continentes e sua estrutura administrativa (ver organograma anexo 1) engloba os seguintes órgãos: a) Escritório de Operações responsável pelo Centro de Situação, Divisão da África, Oriente Médio, Europa, Ásia e América Latina. b) Divisão Militar Promove o uso da capacidade militar em operações de paz em coordenação com outros elementos do DPKO. c) Divisão de Polícia Civil Coordena as ações dos policiais em missões de paz; d) Escritório de Suporte para Missões subdivide-se em Divisão de Suporte Logístico e Divisão de Suporte Administrativo. Apóia as missões de paz nos diversos continentes; e ainda e) o serviço de ação de minas, o Escritório Executivo e a Unidade de melhores práticas são órgãos de assessoramento direto do Secretário-Geral das Nações Unidas. Há uma lacuna quanto à participação de integrantes dos Corpos de Bombeiros na estrutura do DPKO, seja em termos de planejamento e da otimização de ações, controle, execução das operações ou mesmo na fase de treinamento dos efetivos. O que poderá acarretar uma certa deficiência em determinados cenários. Em termos financeiros o custo anual de pessoal e equipamento das operações de paz alcançou seu nível máximo no ano de 1993, com um valor acima de US$3,6 bilhões, em virtude das operações levadas a cabo na antiga Iugoslávia e Somália. O custo estimado para o período de 1 de julho de 2003 a 30 de julho de 2004 está em torno de US$2.3 bilhões. 42 Ao criar uma nova operação, o CSNU, por meio de uma Resolução, determina as incumbências ao Secretário-Geral que realiza consultas necessárias com os países que contribuem com pessoal e as partes em conflito, 42 O valor consta do documento A/C.5/57/34/Rev.1, de 20-03-2003. 32

objetivando a mobilização e a operacionalidade da força de paz ou missão de observação. 43 DANDEKER e GOW (1997) ao discorrerem sobre os fatores que influenciaram nas operações de paz levadas a efeito em países como Bósnia, Ruanda e Somália, consideram o fator humanitário, estratégico e de segurança os mais relevantes e presentes concomitantemente nas novas operações. Ressaltam que, A criação de operações de manutenção de paz envolve considerações estratégicas, não somente por causa de recursos limitados, mas porque algumas escolhas devem ser feitas sobre quais crises têm prioridade. A título de exemplo, o caso da antiga Iugoslávia, onde o objetivo principal era conter a difusão e a intensidade do conflito, encorajar as partes para alcançarem um acordo e mitigar a escalada de desastre humanitário. Rememorando a Segunda Guerra Mundial, trouxe em foco a limpeza étnica e os massacres, o que foi muito mais difícil para a elite política ocidental simplesmente adotar o deixe-os lutarem. A política de não-ação deixou uma séria questão de legitimidade para as instituições de Segurança Ocidentais, incluindo a Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN). 44 Já na qualidade de Secretário-Geral da ONU, Kofi Annan procedeu à diminuição gradativa de todo pessoal cedido gratuitamente ao DPKO até fevereiro de 1999 em virtude de constantes reclamos pelo Movimento Não- Alinhado da falta de recursos financeiros para qualificar pessoal e mantê-los à disposição do Secretariado e de que a maioria dos postos era preenchida por países desenvolvidos. 45 O ano de 1988 e posteriormente o de 2000 foi um marco para o DPKO. No primeiro, a outorga do Prêmio Nobel da Paz as Forças de Manutenção de Paz demonstrou a vontade manifesta da Comunidade das Nações de alcançar a paz 43 CARDOSO, op. cit, p. 111. 44 DANDEKER, e GOW, James. 1997 p. 328. 45 CARDOSO, op. cit., p.113-114. 33

através das negociações sob condições na maioria das vezes extremamente difíceis. Por outro lado no exercício de 2000, a ONU após os episódios de Ruanda e Srebrenica havia recebido várias críticas da mídia e do chamado fator CNN 46 pela sua atuação não eficaz nesses cenários, o que levou o SGNU a enviar uma Carta ao Presidente da Assembléia Geral (AGNU) e ao Presidente do Conselho de Segurança (CSNU) sobre a criação de um Grupo Especial para avaliar as atividades relacionadas à paz e segurança internacional e apresentar recomendações para melhorá-las. O Relatório final ficou conhecido como Brahimi Report em homenagem ao presidente do grupo de trabalho, o ex-ministro das Relações Exteriores da Argélia o Senhor Lahkdar Brahimi. 3.3 Desempenho do Escritório de Coordenação para Assuntos Humanitários (OCHA) no contexto humanitário: a ausência dos Corpos de Bombeiros Militares. O Escritório de Coordenação para Assuntos Humanitários da ONU (OCHA) foi criado em acordo com as provisões da Resolução A/46/182, de 19 de dezembro de 1991 da AGNU. Tendo como funções principais: i) o desenvolvimento de políticas e a coordenação de funções em apoio ao Secretário-Geral, no que tange a todos os assuntos humanitários, incluindo aqueles em que há uma lacuna da atuação do mandato das agências da ONU; ii) a intermediação de assuntos humanitários com órgãos políticos, notadamente o Conselho de Segurança; e a coordenação de resposta a emergências 46 A expressão fator CNN tem sido utilizada na imprensa internacional, principalmente a americana, para condicionar na prática, a participação e a continuidade da participação em uma operação como foi o caso da Somália à continuação do apoio popular. 34

humanitárias, assegurando um mecanismo apropriado de resposta a consultas e operações em campo. 47 Seu campo de atuação em emergências complexas abrange 19 países, atuando principalmente na África, Ásia e Europa. Desde 1992 já foram liberados recursos na ordem de US$ 8,9 bilhões que foram utilizados em aproximadamente 62 emergências complexas. O OCHA mantém coordenação local em 16 países e na região dos Grandes Lagos (África Central), apoiando situações de em países como: a) Afeganistão ajuda a refugiados, fornecimento de alimentos, água, tendas e socorro médico. b) Angola ajuda a refugiados, ajuda médica. c) Armênia ajuda a refugiados de Nagorno-Karabakh. d) Azerbaijão ajuda a refugiados da guerra contra a Armênia pela disputa de Nagorno-Karabakh. e) Bósnia e Herzegovina ajuda humanitária, ajuda ao retorno dos refugiados ou deslocados internos da guerra. f) Burundi ajuda humanitária, ajuda a refugiados, ajuda a portadores de HIV. g) República Democrática da Coréia ajuda alimentar em face da seca. h) República do Congo ajuda alimentar, ajuda médica as vítimas da guerra civil. i) Geórgia ajuda a refugiados dos conflitos separatistas. j) Federação Russa ajuda a refugiados da guerra separatista na Chechênia. 47 O atual OCHA foi reformulado em 1992 para substituir o antigo Departamento para Assuntos Humanitários (DHA), objetivando à ação conjunta de militares e civis em operações para o alívio de desastres internacionais. Ver http://www.reliefweb.int. 35

k) Ruanda ajuda alimentar, humanitária e aos refugiados deslocados para o Congo e Tanzânia. l) Serra Leoa ajuda de medicamentos e alimentar a crianças-soldados vítimas da guerra civil. m) Somália - ajuda a refugiados oriundos dos conflitos internos. n) Sudão ajuda humanitária, ajuda alimentar. o) Tajiquistão ajuda alimentar em virtude da seca. No que se refere a desastres naturais OCHA respondeu a 416 destes, no período de 1992 a 1997, e mobilizou recursos na ordem de US$ 904 milhões à vista e canalizou ainda aos países flagelados o montante direto em torno de US$ 37 milhões. O escritório também doou US$ 4 milhões a países em desenvolvimento. Os EUA destacam-se como maior doador no que tange a assistência global humanitária incluindo resposta a emergências complexas e desastres naturais, participando com 36,42% do fundo. 48 Ao desencadear operações de natureza humanitária, o OCHA por meio de órgãos pertencentes a sua estrutura orgânica, como a Unidade de Defesa Civil e Militar (MCDU) e a Unidade de Suporte Logístico (LSU), estabelece ações para servir como ponto de ligação entre governos, organizações militares e de defesa civil nos locais vitimados. 49 A (LSU), por exemplo, responsabiliza-se pela administração do estoque de itens de emergência armazenados no depósito de resposta humanitário das Nações Unidas em Brindisi, na Itália. São bens basicamente do tipo não- 48 Os EUA contribuíram com recursos na ordem de US$ 789, 877,102. Dados obtidos em http://www.reliefweb.int/fts/reports/reports.asp 49 A comunidade internacional humanitária publicou em março de 2003 por meio de um Drafting Committee um manual para a atuação conjunta de militares e civis em emergências complexas, também conhecido como OSLO GUIDELINES. 36

perecíveis, não-médicos e doados por vários governos internacionais, tais como barracas, geradores, purificadores de água, etc. O OCHA está presente também em desastres envolvendo terremotos, onde a Coordenação e Assessoria para Desastres da ONU (UNDAC) enviam equipes de busca e resgate para socorrerem os vitimados em áreas urbanas e rurais. Não obstante o Brasil possuir pessoal capacitado para essas ações, a ausência dos Corpos de Bombeiros Militares ainda é notada nestas missões. A experiência de países como o Brasil, que possui uma área territorial com dimensões continentais aliado ainda a uma enorme diversidade urbana e rural, terá por meio dos Corpos de Bombeiros Militares a contribuição necessária para um eficiente planejamento, coordenação, e monitoramento das ações em campo desencadeadas pelo pessoal humanitário. Vale ressaltar que o componente militar dos CBMs tem sua doutrina de formação militar um importante viés humanitário. A contribuição das operações de paz em apoio à prestação de ações humanitárias e de emergência, como foi o caso da crise no Zaire e na Bósnia, tem provocado implicações e conseqüências diversas, existindo segmentos em que essa relação será exigível ou recomendável. Segundo afirma Brian Urquhart (1997), Há muita pressão do público para estas operações, qualquer que seja as conseqüências ou meios para efetivá-las. Recentemente, humanitarismo tornou-se um negócio. Não é somente a ONU engajada nas missões humanitárias, mas centenas de grupos não-governamentais, com fundos elaborados para operações. 50 Os integrantes do OCHA, no papel de intermediários entre órgãos políticos e a coordenação de assuntos humanitários, demandam em seus quadros a presença de pessoal altamente capacitado, os quais terão a missão de atuar em 50 URQUHART e RIEFF (1997) p12. 37

cenários diversos, onde a busca para se obter resultados positivos com eficiência e eficácia, exige sensibilidade quanto aos diversos atores envolvidos. 3.4 Considerações sobre o Relatório BRAHIMI O Relatório Brahimi 51 enseja uma série de recomendações a serem tomadas pelo CSNU e pelo SGNU, tais como: i) medidas preventivas; ix) atividades do pessoal militar, da policia civil e especialistas civis; ii) estratégia de consolidação da paz; x) capacidade de envio rápido para informação pública, apoio logístico e gestão dos gastos; iii) teoria e estratégia da manutenção da paz; xi) financiamento do apoio da sede as operações de paz; iv) mandatos claros, convincentes e viáveis; xii) ajustes estruturais no DPKO; v) informação e análise estratégica xiii) apoio operacional a informação pública; vi) administração civil de transição; xiv) apoio à consolidação da paz no Departamento de Assuntos Políticos; vii) determinação dos prazos para envio; xv) apoio as operações de paz no Alto Comissariado da ONU para Direitos humanos; viii) liderança da missão; xvi) operações de paz e a era de informação. 52 A efetivação de grande parte dessas recomendações poderá promover uma maior eficácia e celeridade nas atividades do DPKO, o que se depreende do escopo geral do relatório. No que se refere aos CBMs e as polícias militares, tais recomendações ao serem implementadas pela ONU, poderão facilitar o envio desses componentes em operações de manutenção de paz e humanitárias, 51 O relatório Brahimi ou Brahimi Report teve como integrantes o Sr. Brian Atwood, o embaixador Colin Granderson, Dame Ann Hercus, o Sr. Richard Monk, o General aposentado Klaus Naumann, a Sra Hisako Shimura, o embaixador Vladimir Shustov, o General Philip Sibanda e o Dr. Cornélio Sommaruga. Os integrantes deste grupo tiveram um prazo de 4 meses para propor as recomendações as quais se transformaram posteriormente na resolução A/55/305- S/200/809 em 21 de agosto de 2000. 52 Nações Unidas, (2000), doc. A/55/305-S/200/809, p.65-70. 38

aumentando a participação brasileira no que tange ao aprimoramento da paz em nível multilateral. 3.5 Proposição de inserção dos Corpos de Bombeiros Militares nas Operações de Manutenção de Paz da ONU 3.5.1 Razões de natureza técnica, estratégica e política da participação dos Corpos de Bombeiros Militares nas missões de paz da ONU A criação do primeiro Corpo de Bombeiros no Brasil, data de 02 de julho de 1856, na cidade do Rio de Janeiro, pelo Imperador Dom Pedro II. Contudo, CAVALCANTI (1998) afirma que foi em Pernambuco através da DAG NOTULE de 7 de agosto de 1636, que foi criada, na cidade do Recife, a Companhia dos BRANTMEESTERS, palavra holandesa que significa mestre de incêndio (bombeiro), os primeiros do continente americano. 53 O chamado Corpo de Bombeiros Provisório da Corte teve como primeiro comandante um major do corpo de engenheiros do exército, o Senhor João Batista de Castro Moraes Antas. Na Constituição de 1988, está inserido que cabe aos corpos de bombeiros militares além das atribuições definidas em lei, a execução de atividades de defesa civil ; sendo ainda forças auxiliares e reserva do exército, subordinadas aos Governadores dos Estados, do Distrito Federal e dos Territórios. 54 Quanto ao aspecto técnico-profissional a formação básica dos integrantes dos Corpos de Bombeiros Militares está pautada nas principais áreas de competência da corporação 55, a saber: a) serviços de prevenção e extinção de incêndios; 53 As DAG NOTULE eram livros de atas, ou seja, documentos oficiais, elaborados e remetidos pelo Governo da Companhia das Índias Ocidentais no Brasil ao Conselho Supremo da Holanda. Ver CAVALCANTI, 1998, pp. 74-75. 54 Constituição da República Federativa do Brasil, artigo 144, 5 o e 6 o. 55 O exemplo acima foi extraído do artigo 2 o da Lei n o 8.255, de 20-11-1991 que Dispõe sobre a organização básica do Corpo de Bombeiros Militar do Distrito Federal e dá outras providências. Fonte: http://www.camaradosdeputados.gov.br 39

b) serviços de busca e salvamento; c) perícias de incêndio relacionadas com sua competência; d) prestar socorros nos casos de sinistros, sempre que houver ameaça de destruição de haveres, vítimas ou pessoas em iminente perigo de vida; e) executar atividades de defesa civil e ações de segurança, dentre outras. O perfil técnico-profissional dos integrantes dos CBMs é complementar para atuação nos novos cenários surgidos após o desencadear das denominadas operações de paz de segunda geração ou multidisciplinares. O integrante dos CBMs, dentre outras forças, apresenta as qualificações de formação mais próximas dos objetivos para a assistência humanitária qual seja - salvar vidas e aliviar o sofrimento das crises afetadas pela população. No que concerne a uma visão estratégica, os CBMs têm gradativamente apresentado resultados extremamente positivos na minimização de perdas humanas e materiais para a sociedade. É notório que há aproximadamente 30 anos não existia em vários municípios do país, e em algumas capitais, serviço permanente de combate a incêndios e salvamentos. Não obstante o número de municípios brasileiros que possuem serviços regulares de bombeiros não alcançar ainda a cifra de dez porcento do total geral do país, o avanço estratégico dos CBMs pode ser percebido na inserção em novas áreas de atuação do mundo moderno tais como: - a criação de pessoal especializado para atuar em emergências médicas, desastres, incêndios florestais, ações terroristas e produtos perigosos, dentre outras. A experiência prática dos integrantes dos Corpos de Bombeiros Militares, adquirida pelo permanente serviço prestado à população é extremamente útil no desempenho das funções em situações não-convencionais, não-planejadas e que demandam uma solução imediata. O cenário das missões humanitárias e de 40

paz da ONU requer pessoal que saiba adaptar-se a ambientes totalmente multifacetados, quer em nível urbano ou rural. Em se tratando das razões de natureza política, os Corpos de Bombeiros Militares estão inseridos dentro de uma política nacional de segurança pública e de defesa civil, não olvidando também as diretrizes emanadas dos governos estaduais. 56 No que se refere à Política Nacional de Segurança Pública, objetiva-se provocar uma reforma substantiva nos órgãos de segurança pública na esfera da União, Estados e municípios com a criação de um Sistema Único de Segurança Pública nos Estados, a unificação da formação dos seus efetivos e a maior troca de informações operacionais, dentre outras medidas. Quanto a Política Nacional de Defesa Civil, esta é realizada por meio do Sistema Nacional de Defesa Civil SINDEC, que atua na redução de desastres, em todo o território nacional e está estruturado em: a)órgão superior (Conselho Nacional de Defesa Civil); b) órgão central (Secretaria Nacional de Defesa Civil); c) órgãos regionais (Coordenadorias Estaduais de Defesa Civil) e comissões Municipais de Defesa Civil - COMDEC. Para os governos estaduais a cessão de integrantes dos CBMs para participar em futuras missões humanitárias e de paz da ONU dará continuidade ao que já ocorre com o pessoal das polícias militares 57, onde a experiência adquirida tem trazido benefícios políticos - pela sensibilidade dos governantes estaduais no que se refere aos direitos humanos em terras estrangeiras e também o aumento da capacidade técnica-profissional das Corporações. 56 O Plano Nacional de Segurança Pública-PNSP realça o papel dos Corpos de Bombeiros Militares nas ações de combate a incêndios e Defesa Civil, propugnando que o Poder Público deve implementar políticas específicas para a produção de equipamentos para combate a sinistros. Fonte: Ministério da Justiça Plano Nacional de Segurança Pública item 3.3 p.43. 57 Relatório da 5 a Subchefia do Estado-Maior do Exército intitulado Militares e policiais brasileiros em missões de paz indica a presença de 06 (seis) policiais em missões de paz, sendo 5(cinco) no Timor Leste e 01 (um) na Guatemala. Fonte: Ministério da Defesa - Exército Brasileiro. Atualizado até a 1 a quinzena de março de 2003. 41

3.5.2 Impactos da participação dos Corpos de Bombeiros Militares nas missões de paz da ONU: uma visão preliminar As operações de paz não estão mais restritas apenas ao campo militar. Principalmente após o fim da Guerra Fria, a ONU tem contribuído de diversas formas para a efetiva implementação da paz nos países em que atua. Como exemplo dessa atuação tem-se a assistência humanitária, o monitoramento eleitoral com o envio de observadores, a verificação de violações dos direitos humanos, a reconstrução de pontes e estradas, a implementação de infra-estrutura, a presença de observadores policiais, assistência humanitária e o auxilio a refugiados, dentre outras. 58 As sugestões e recomendações apontadas no Relatório Brahimi indicam caminhos onde o enquadramento e a inserção do pessoal dos Corpos de Bombeiros Militares poderá ser aproveitada de maneira eficaz. As deficiências existentes no DPKO e no OCHA no que se refere a pessoal especializado, planejamento, treinamento de recursos humanos, capacidade pública de informação, suporte logístico para o envio rápido de missões e a proporção de pessoal sede/campo são argumentos plausíveis para o convencimento político da participação de novos integrantes nos órgãos gestores e de execução da manutenção da paz. 58 Atribuições já explanadas no estudo por Cardoso. Ver nota de rodapé n o 17. p.19. 42

Os integrantes dos CBMs estão capacitados em sua grande maioria para prestarem serviços em cenários que necessitem de: i) isolamento e evacuação da área de risco; ix) avaliação de danos; ii) triagem sócio-econômica e cadastramento de x) vistoria de edificações danificadas e desalojados; elaboração de laudos técnicos; iii) suprimento de água potável e provisão de xi) desmontagem de estruturas danificadas, alimentos; desobstrução e remoção de escombros; iv) busca e salvamento; xii) combate a incêndios; v) primeiros socorros, atendimento préhospitalar, xiii) perícias de incêndio; triagem e evacuação médica; vi) limitação e controle de sinistro e rescaldo; xiv) deslocamento de refugiados feridos ; vii) administração de abrigos provisórios; xv) apoio à entrega de alimentos, remédios e roupas a população; viii) saneamento básico emergencial; xvi) estabelecimento de mecanismos de coordenação; dentre outras. O Brasil, em termos sócio-econômicos apresenta um cenário de opulência contrastado pela miséria em várias regiões. Temos estados da Federação com os Índices de Desenvolvimento Humano IDH similares a países do primeiro mundo, como é o caso de Brasília-DF, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, enquanto outros com índices idênticos a regiões da África e Índia, como o Maranhão, Piauí e Acre. 59 O que pode parecer uma dicotomia, para os órgãos que atuam na área de segurança pública pode ser um benefício em certos aspectos. A experiência adquirida na atuação em cenários tão distintos poderá ser um diferencial de eficiência e adaptação quando da participação nas operações de paz em regiões com características sociais, culturais e econômicas semelhantes. 59 O Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) tem publicado desde 1990 o Relatório Global do Desenvolvimento Humano. O IDH é apenas um indicador rápido do estado de desenvolvimento humano que contém três indicadores principais: longevidade, conhecimento e nível de vida e está calculado para 174 países. 43

A atuação do exército americano pós-invasão do Iraque tem sido criticada pela mídia internacional como deficiente. A ocupação ocasionou até outubro de 2003 a baixa fatal em combate de mais de 100 militares americanos. A dificuldade encontrada pelo exército dos EUA de gerenciar as chamadas ações urbanas levou o Presidente americano George Bush em visita ao Japão em 17 de outubro de 2003, a solicitar o envio de contingentes de outros países para auxiliarem no processo de ocupação do Iraque. O Conselho de Segurança da ONU, aprovou em 16 de outubro de 2003 a Resolução 1511 que trata da situação no Iraque e Kuweit. Nela busca-se dentre outras intenções, a autorização para a criação de uma força multinacional sob um comando unificado das nações unidas para manter a segurança e estabilidade no Iraque. 60 O impacto da participação dos CBMs nas operações manutenção de paz e humanitárias da ONU, poderá ter seus reflexos a curto, médio e longo prazo, em termos financeiros, operacionais, estratégicos e políticos. Quanto ao aspecto financeiro, os valores gastos com o envio de pessoal dos CBMs para as diversas operações, a exemplo do que ocorre com os integrantes das Forças Armadas e Polícias Militares, será reembolsado posteriormente pela ONU. Não obstante o Brasil ser chamado de terra abençoada pela ausência de desastres ou catástrofes do tipo furacões, vulcões, terremotos e maremotos. A formação de pessoal especializado para atuar em situações ainda não vivenciadas, como é o caso de enorme contingentes de refugiados, é essencial para permitir no país a formação de pessoal especializado, que poderá trabalhar na prevenção de tais situações com uma maior desenvoltura pela experiência adquirida em cenários internacionais. O envio de CBMs para atuar na sede central da ONU e nas diversas operações em campo levadas a efeito será um marco temporal para todos os 60 Ver documento do Conselho de Segurança da ONU, S/Res/1511(2003), 13, p.3. 44

CBMs - inaugurando suas presenças nas operações de paz. Essa presença estratégica servirá de base para possíveis externalidades políticas em âmbito nacional e internacional. 3.5.3 Viabilidade operacional da proposição: externalidades políticas nos contextos nacional e internacional Pesquisa realizada no Brasil pela Revista Seleções em 2003 cujo tema em sua 2 a Edição era Marcas de Confiança (Trusted Brands), onde concorreram 48 categorias, além de três especiais - profissão, políticas de governo, e instituições e organizações; obteve como resultado a profissão dos Bombeiros considerada a mais confiável, com 96% de aprovação, seguida dos pilotos de avião, com 89%. 61 Esse estudo realizado de forma empírica tem como escopo mensurar o grau de aceitação de determinados segmentos da sociedade, onde os Corpos de Bombeiros gozam atualmente de uma elevada aceitabilidade junto à população em geral. Partindo dessa premissa o elevado grau de aceitação dos CBMs na sociedade não apenas a brasileira, como também a americana em especial após os atentados de 11 de setembro. A participação de integrantes dos CBMs pode apresentar externalidades políticas no contexto internacional, visto que internamente a percepção da população quanto à missão desempenhada por estes componentes apresenta um elevado grau de aceitação, seja por sua missão-fim ou pelo fato da maior proximidade dos bombeiros com a população em situações que necessitem alívio imediato 61 Extraído do portal Consultor Jurídico. Disponível http://www.conjur.uol.com.br/textos/21925. Acesso 29 setembro 2003. 45

As externalidades políticas no contexto nacional poderão ser projetadas dentre as seguintes: i) com a experiência adquirida os integrantes dos CBMs servirão de multiplicadores do conhecimento, seja nos seus estados de origem como em órgãos de segurança pública e defesa civil federal, estadual e municipal; ii) a formação de uma cultura preventiva e acadêmica sobre os temas inerentes as missões de paz e humanitárias; iii) o conhecimento de ações relativas a direitos humanos que são respeitados no Brasil e totalmente desconhecidos em outros países; iv) o papel complementar em ações de apoio aos efetivos das forças armadas e da defesa civil, em situações de desastres, calamidades e acidentes; v) o adestramento da tropa brasileira a custos baixos e o aprofundamento da interação entre as Forças Armadas de diversos países, aumentando o grau de confiança no campo militar e humanitário. É de se notar que na busca pelas externalidades no contexto nacional e internacional, permeia lado a lado o constante risco que se expõe os integrantes das diversas missões, variando de região para região e do tipo de conflito existente. O anexo 3 relaciona o número de militares e policiais brasileiros que foram vitimados em missões desde o período de 1957 a 2002. A cooperação internacional entre os países visa a consecução de novas formas para minimizar a aparente anomia existente nos locais de conflito e ajuda humanitária. 46

A consolidação de mandatos claros, convincentes e viáveis, a determinação dos prazos para envio e a capacidade de envio rápido são apenas alguns aspectos onde a interação entre a ONU e os países voluntários em operações de paz poderão intensificar para permitir que o grau de externalidades internacionais possa ser elevado tanto qualitativa como quantitativamente. O papel histórico do Brasil em operações de manutenção de paz é suficiente para demonstrar o compromisso com a paz e a segurança internacionais. Isto por oportuno vem contribuir para a projeção do país e para o adensamento das relações com países e regiões de particular interesse político ou econômico, exercendo, portanto, o instrumento de política externa brasileira. 47

4. CONCLUSÕES OU INFERÊNCIAS O presente estudo procurou demonstrar a viabilidade da participação dos CBMs em operações de manutenção de paz e humanitárias da ONU em face das lacunas existentes no Departamento de Manutenção de Paz (DPKO) e no Escritório de Coordenação para Assuntos Humanitários (OCHA), ambos desta organização. A área de atuação dos integrantes dos CBMs elencada na Constituição Federal de 1988 e em Leis estaduais nas respectivas Unidades da Federação se aproxima de cenários vivenciados pelas denominadas operações de manutenção de paz de 2 a Geração ou Multidisciplinares. O envio de efetivos dos CBMs para participarem destas operações dependerá de esforços conjuntos entre o Ministério das Relações Exteriores, Ministério da Defesa Exército Brasileiro e a ONU por meio de seu Secretariado-Geral. Por apresentar elevado grau de aceitação junto a população em geral, o experimento de envio de efetivos dos CBMs poderá ter como conseqüência ganhos externos e internos. O viés humanitário de formação dos CBMs aliados ao adestramento militar e a prática em ambientes permeados pela opulência e pela miséria, como é o caso do Brasil, servirá de diferencial para a adaptação em situações não-convencionais, não-planejadas e que demandam solução imediata. As externalidades políticas poderão ser mensuradas na experiência adquirida e posterior multiplicação, no baixo custo para adestramento da tropa em situações reais e na prevenção de situações não contempladas ainda em âmbito nacional. 48

5. Recomendações e Sugestões Recomenda-se que outras áreas, além da do curso de Relações Internacionais tratem do problema com brevidade e enquadramento, para que se possa, em tempo hábil, ampliar, modernizar e, principalmente, auferir externalidades de uma nova forma de inserção do Brasil no atual concerto internacional. Finalmente, recomenda-se, também, que outros segmentos do curso de Relações Internacionais promovam estudos analíticos sobre a ampliação da participação brasileira em missões de paz, não exclusivamente sob a presença militar, mas através da participação de outros segmentos, a exemplos dos corpos de bombeiros e, inclusive, com extratos diversificados da sociedade civil, analogamente, a países politicamente e economicamente organizados. Conclui-se que a ampliação e o aprimoramento da paz entre as nações é uma tarefa constante, exigindo um esforço permanente de todos os atores envolvidos, com inovações técnicas, políticas e, até mesmo, de diversificação entre as relações. 49

6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 6.1 Obras impressas 6.1.1 Livros ARENDT, Hannah. Origens do totalitarismo. Anti-semitismo, imperialismo e totalitarismo. São Paulo: Companhia das Letras, 1997. BEITZ, Charles. Political theory and international relations. Princenton. Princenton University, 1979. BULL, Hedley. A Sociedade Anárquica. 1 a. ed. Brasília: Editora Universidade de Brasília, Instituto de Pesquisa de Relações Internacionais. São Paulo: Imprensa Oficial do Estado do Estado de São Paulo, 2002. CARDOSO, Afonso José Sena. O Brasil nas operações de paz das nações unidas. Brasília: Instituto Rio Branco, Fundação Alexandre Gusmão Centro de Estudos Estratégicos, 1998. CAVALCANTI, Carlos Bezerra. Guerreiros da paz. 3 a. edição do autor. Recife, 1998. DOUGHERTY, James E.; PFALTZGRAFF, Robert L. Contending theories of international relations: a comprehensive survey. 4th Edition. Addison- Wesley Educational Publishers Inc. 1996. FONTOURA, Paulo Roberto Campos Tarrisse da. O Brasil e as operações de manutenção da paz das nações unidas. Brasília: FUNAG, 1999. GARCIA, Eugênio Vargas. O Brasil e a Liga das Nações. Brasília:Ipri, 1999. KANT, Immanuel. A paz perpétua e outros opúsculos. Lisboa: Edições 70, Col. Textos Filosóficos, 2002. 18v. KELSEN, Hans. Teoria geral do direito e do estado. São Paulo: Martins Fontes, 1998. LAKATOS, Eva Maria; MARCONI, Marina de Andrade. Metodologia do trabalho científico: procedimentos básicos, pesquisa bibliográfica, projeto e relatório, publicações e trabalhos científicos. 4ª Ed. São Paulo: Atlas, 1992. 50

LOPES, José Alberto Azeredo. Textos históricos do direito e das relações internacionais. Porto: Universidade Católica do Porto,1999. MELLO, Celso D. de Albuquerque. Curso de direito internacional público. 7ª Ed. Freitas Bastos, Rio de Janeiro, 1982. 2 v. MENEZES, Aderson de. Teoria geral do Estado. Rio de Janeiro: Forense, 1996. ROUSSEAU, J.J. Do contrato social. São Paulo: Nova Cultural,1999. SWINARSKI, Christopher. A norma e a guerra. Porto Alegre: Sete Mares, 1991. (B). Introdução ao direito internacional humanitário. Brasília: Comitê Internacional da Cruz Vermelha, 1988-93. WIGHT, Martin. A política do poder. 2 a. ed. Brasília: Editora Universidade de Brasília, Instituto de Pesquisa de Relações Internacionais. São Paulo: Imprensa Oficial do Estado do Estado de São Paulo, 2002. 6.2 Monografia SOUZA, André Matheus e. UNEF I x UNAVEM III a participação brasileira em missões de paz: do clássico ao multidisciplinar. Monografia do curso de graduação de Relações Internacionais da Universidade de Brasília, 2003. 6.3 Artigos CANNABRAVA, Ivan. O Brasil e as operações de manutenção da paz. Política Externa. Brasília. v. 5, n. 3, p.93-105, 1996. DANDEKER, Christopher; GOW, James. The future of peace support operations: Strategic peacekeeping and success. Armed Forces & Society, v. 23, n. 3, p. 327-348, 1997. 51

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6. ANEXOS ANEXO Nº 1 Organograma do Departamento de Manutenção de paz da ONU Fonte: Nações Unidas 53