AULAS 9 À 12 FUNÇÕES DE LINGUAGEM: EMOTIVA As funções da linguagem, elementos da comunicação definidos pelo linguista russo Roman Jackobson, referem-se aos diferentes contextos nos quais a linguagem pode estar inserida. Cada situação comunicacional necessita de um tipo ideal de enunciação para que seja transmitida de maneira eficiente. No modelo de comunicação do estudioso, como já vimos, operam seis diferentes fatores. São eles: Função emotiva; Função referencial; Função conativa; Função metalinguística; Função poética; Função fática. Já vimos a função conativa, que é quando o objetivo é influenciar o receptor ou destinatário, com a intenção de convencê-lo de algo ou dar-lhe ordens. Como o emissor se dirige ao receptor, é comum o uso de tu e você, ou o nome da pessoa, além dos vocativos e imperativo. É a linguagem usada nos discursos, sermões e propagandas que se dirigem diretamente ao consumidor. Na função emotiva isso muda, pois esta função reflete o estado de ânimo do emissor, os seus sentimentos e emoções. Um dos indicadores da função emotiva num texto é a presença de interjeições, verbos e pronomes em primeira pessoa e de alguns sinais de pontuação, como as reticências e o ponto de exclamação. Vamos entender esses conceitos um pouco melhor para prosseguirmos: Interjeição A interjeição é uma palavra invariável (não sofre variação em gênero, número Pagina: 1
e grau), que representa um recurso da linguagem afetiva, de modo que expressa sentimentos, sensações, estados de espírito, sendo sempre acompanhadas de um ponto de exclamação (!). Apesar de não possuírem uma classificação rigorosa, posto que a mesma interjeição pode expressar sentimentos ou sensações distintas, as interjeições ou locuções interjetivas são classificadas em: Advertência: Cuidado!, Olhe!, Atenção!, Fogo!, Olha lá!, Alto lá!, Calma!, Devagar!, Sentido!, Alerta!, Vê bem!, Volta aqui! Afugentamento: Fora!, Toca!, Xô!, Xô pra lá!, Passa!, Sai!, Roda!, Arreda!, Rua!, Cai fora!, Vaza! Agradecimento: Graças a Deus!, Obrigado!, Agradecido!, Muito obrigada!, Valeu!, Valeu a pena! Alegria: Ah!, Eh!, Oh!, Oba!, Eba!, Viva!, Olá!, Olé! Eta!, Eita!, Eia!, Uhu!, Que bom! Alívio: Ufa!, Uf!, Arre!, Ah!, Eh!, Puxa!, Ainda bem!, Nossa senhora! Ânimo: Coragem!, Força!, Ânimo!, Avante!, Eia!, Vamos!, Firme!, Inteirinho!, Bora! Apelo: Socorro!, Ei!, Ô!, Oh!, Alô!, Psiu!, Olá!, Eh!, Psit!, Misericórdia! Aplauso: Muito bem!, Bem!, Bravo!, Bis!, É isso aí!, Isso!, Parabéns!, Boa!, Apoiado!, Ótimo!, Viva!, Fiufiu!, Hup!, Hurra! Chamamento: Alô!, Olá!, Hei!, Psiu!, ô!, oi!, psiu!, psit!, ó! Concordância: Claro!, Certo!, Sem dúvida!, Ótimo!, Então!, Sim!, Pois não!, Tá!, Hã-hã! Contrariedade: Droga!, Porcaria!, Credo! Desculpa: Perdão!, Opa!, Desculpa!, Desculpe!, Foi mal! Desejo: Oxalá!, Tomara!, Quisera!, Queira Deus!, Quem me dera! Despedida: Adeus!, Até logo!, Tchau!, Até amanhã! Dor: Ai!, Ui!, Ah!, Oh!, Meu Deus!, Ai de mim! Dúvida: Hum?, hem?, hã?, Ué!, Epa! Pagina: 2
Espanto: Oh!, Puxa!, Quê!, Nossa!, Nossa mãe!, Virgem!, Caramba!, Xi!, Meu Deus!, Senhor Jesus!, Ui!, Crê em Deus pai! Estímulo: Ânimo!, Coragem!, Adiante!, Avante!, Vamos!, Eia!, Firme!, Força!, Toca!, Upa!, Vai nessa! Medo: Oh!, Credo!, Cruzes!, Ui!, Ai!, Uh!, Barbaridade!, Socorro!, Francamente!,, Que medo!, Jesus!, Jesus Maria e José! Satisfação: Viva!, Oba!, Boa!, Bem!, Bom!, Upa!, Ah! Saudação: Alô!, Oi!, Olá!, Adeus!, Tchau!, Salve!, Ave!, Viva! Silêncio: Psiu!, Shh!, Silêncio!, Basta!, Chega!, Calado!, Quieto!, Bico fechado! Reticências Reticências é um sinal de pontuação que marca uma interrupção, indicando uma suspensão na melodia frásica. São usadas para: - Indicar a suspensão ou interrupção de uma ideia ou pensamento. - Indicar que uma ação ainda não acabou. - Transmitir na linguagem escrita sentimentos e sensações típicas da linguagem falada, como hesitações, dúvidas, surpresa, ironia, suspense, tristeza, ironia, - Indicar uma ideia que se prolonga, deixando que a conclusão do sentido da frase seja feita conforme a interpretação pessoal dos leitores. - Realçar um palavra ou expressão, dando maior ênfase à mesma. - Indicar uma interrupção nos diálogos, provocada pelo próprio emissor ou provocada pela interferência de algo ou alguém na fala do emissor. - Indicar que uma citação está incompleta, havendo partes da mesma que não foram transcritas. Ponto de exclamação O ponto de exclamação é um sinal de pontuação que confere à frase uma Pagina: 3
entoação exclamativa, estando relacionado com uma vertente emocional da linguagem e com a transmissão de um sentimento. É usado: - Em frases exclamativas, expressando sentimentos diversos, como admiração, desejo, alegria, espanto, raiva, entre outros. - Em frases imperativas, expressando ordem. - Em interjeições, expressando alegria, tristeza, dor, espanto, alívio, raiva, entre outros. - Nos vocativos, substituindo a vírgula. - O ponto de exclamação pode ser utilizado com o ponto de interrogação, indicando surpresa na realização da pergunta. - O ponto de exclamação pode aparecer duplicado ou triplicado, quando enfatiza e intensifica o sentimento que está sendo expresso. Verbo em 1ª pessoa 1º pessoa do singular: eu (eu canto, eu vou, eu jogo, eu como...). 1ª pessoa do plural: nós (nós cantamos, nós vamos, nós jogamos, nós comemos...). Pronomes em 1ª pessoa Singular: eu, me, mim, comigo. Plural: nós, nos, conosco. Quando a intenção do produtor do texto é posicionar-se em relação ao que está abordando, expressando seus sentimentos e emoções, resultando em um texto subjetivo, temos a função emotiva. Em outras palavras, ocorre quando o emissor é posto em destaque. Na função emotiva (ou expressiva), enfatiza-se a linguagem do emissor que expressa sentimentos, emoções, avaliações centradas no eu do seu mundo interior. Predomina nas cartas pessoais, na poesia confessional, nas resenhas críticas ou nas canções sentimentais, assim prevalece o uso da 1ª pessoa. Pagina: 4
Vamos ver alguns exemplos: Exemplo 1 O que penso eu do mundo? Sei lá o que penso do mundo! Se eu adoecesse pensaria nisso. Que ideia tenho eu das cousas? Que opinião tenho sobre as causas e os efeitos? Que tenho eu meditado sobre Deus e a alma / E sobre a criação do mundo? [...] Fernando Pessoa Exemplo 2 Exemplo 3 Velha infância Você é assim Um sonho pra mim E quando eu não te vejo Eu penso em você Desde o amanhecer Pagina: 5
Até quando eu me deito Eu gosto de você E gosto de ficar com você Meu riso é tão feliz contigo O meu melhor amigo é o meu amor [ ] (ANTUNES, A. / BROWN, C. / MORAES, D. / MONTE, M. / BABY, Pedro. CD Tribalistas. EMI. 2002.) Exemplo 4 Eu não gosto do bom gosto Eu não gosto de bom senso Eu não gosto dos bons modos Não gosto Eu aguento até rigores Eu não tenho pena dos traídos Eu hospedo infratores e banidos Eu respeito conveniências Eu não ligo pra conchavos Eu suporto aparências Eu não gosto de maus-tratos Mas o que eu não gosto é do bom gosto Eu não gosto de bom senso Eu não gosto dos bons modos Não gosto (...). (Senhas Adriana Calcanhotto) Pagina: 6
Exemplo 5 Pagina: 7
Exemplo 6 Poética Estou farto do lirismo comedido Do lirismo bem comportado Do lirismo funcionário público com livro de ponto expediente protocolo e manifestações de apreço ao Sr. Diretor. Estou farto do lirismo que para e vai averiguar no dicionário o cunho vernáculo de um vocábulo. Abaixo os puristas Todas as palavras sobretudo os barbarismos universais Todas as construções sobretudo as sintaxes de excepção Todos os ritmos sobretudo os inumeráveis Estou farto do lirismo namorador Político Raquítico Sifilítico De todo lirismo que capitula ao que quer que seja fora de si mesmo De resto não é lirismo Será contabilidade tabela de co-senos secretário do amante exemplar com cem modelos de cartas e as diferentes maneiras de agradar às mulheres, etc. Quero antes o lirismo dos loucos O lirismo dos bêbados O lirismo difícil e pungente dos bêbedos O lirismo dos clowns de Shakespeare Pagina: 8
- Não quero mais saber do lirismo que não é libertação. Manuel Bandeira Exemplo 7 (Disponível em: http://portugues.uol.com.br/redacao/funcao-emotiva.html) Ainda que de gêneros diferentes, os textos apresentam uma linguagem centrada na 1ª pessoa, dando ênfase à expressividade, à subjetividade do emissor. Normalmente, as funções emotiva e poética são associadas à linguagem literária. A função emotiva pode estar presente também em músicas, depoimentos, entrevistas, narrativas de caráter memorialista, críticas subjetivas de cinema, teatro e demais manifestações artísticas nas quais o discurso esteja centrado no próprio emissor. Pagina: 9
REFERÊNCIAS PEREZ, Luana Castro Alves. Função emotiva. Disponível em: <http://portugues.uol.com.br/redacao/funcao-emotiva.html>. Acesso em: março/2017. PEREZ, Luana Castro Alves. Funções da linguagem: função emotiva. Disponível em: <http://mundoeducacao.bol.uol.com.br/redacao/funcaoemotiva.htm>. Acesso em: março/2017.. Funções da linguagem. Disponível em: <http://www.soportugues.com.br/secoes/estil/estil13.php>. Acesso em: março/2017. ALVES, Luana. Função emotiva. Disponível em: <http://escolaeducacao.com.br/funcao-emotiva/>. Acesso em: março/2017. LIMEIRA, Eudenise de Albuquerque. Funções da linguagem. Disponível em: <http://educacao.globo.com/portugues/assunto/estudo-do-texto/funcoes-dalinguagem.html>. Acesso em: março/2017. CAROLINA, Maria. Como reconhecer a função emotiva da linguagem?. Disponível em: <https://descomplica.com.br/blog/portugues/como-reconhecerfuncao-emotiva-da-linguagem/>. Acesso em: março/2017.. Interjeição. Disponível em: <https://www.todamateria.com.br/interjeicao/>. Acesso em: março/2017. FERREIRA, Mauro. Aprender e praticar gramática. Ed renovada. São Paulo: FTD, 2007. TERRA, Ernani; NICOLA, José de. Português de olho no mundo do trabalho. vol único. São Paulo. Scipione, 2004. Pagina: 10
DUARTE, Vânia Maria do Nascimento. Reticências: o recurso da supressão. Disponível em: <http://portugues.uol.com.br/gramatica/reticencias-recursosupressao.html>. Acesso em: março/2017. Pagina: 11