AVALIAÇÃO DO COMPORTAMENTO DA MADEIRA NA COMPRESSÃO PARALELA ÀS FIBRAS E SUA INFLUÊNCIA NA RESISTÊNCIA DE VIGAS DE MLC REFORÇADAS COM PRF

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Voltar AVALIAÇÃO DO COMPORTAMENTO DA MADEIRA NA COMPRESSÃO PARALELA ÀS FIBRAS E SUA INFLUÊNCIA NA RESISTÊNCIA DE VIGAS DE MLC REFORÇADAS COM PRF Juliano Fiorelli, Universidade Estadual Paulista-UNESP, Unidade de Dracena, fiorelli@dracena.unesp.br Antonio Alves Dias, Universidade de São Paulo, Escola de Engenharia de São Carlos, dias@sc.usp.br RESUMO Trabalhos estão sendo desenvolvidos com objetivo de determinar um modelo teórico adequado para dimensionamento de vigas de Madeira Laminada Colada reforçadas com PRF. Uma grande parte destes estudos leva em consideração o comportamento da madeira na compressão paralela às fibras, na tração paralela às fibras e do reforço de PRF. Dentro deste contexto, este trabalho apresenta uma avaliação do comportamento da madeira quando solicitada por esforços de compressão paralela às fibras e sua influência na resistência de vigas de MLC reforçadas com PRF. Para o desenvolvimento do trabalho foram confeccionados corpos-de-prova com dimensão estrutural e isentos de defeitos, com madeira da espécie Pinus Spp, com objetivo de verificar a existência de diferenças significativas entre os valores. Resultados obtidos indicam que o comportamento da madeira na compressão não tem influência na resistência de vigas de MLC reforçadas. Palavras-chave: Madeira Laminada Colada, Compressão paralela às fibras. ABSTRACT Works are being developed with objective to determine adequate a theoretical model for sizing of reinforced glulam beams with PRF. A great part of these studies takes in consideration the behavior of the wood in the parallel compression to fibers, in the parallel traction to fibers and of the reinforcement of PRF. Inside of this context, this work presents an evaluation of the behavior of the when requested wood for efforts of parallel compression to fibers and its influence in the strength of glulam beams reinforced with PRF. Gotten results indicate that the behavior of the wood on compression does not have influence in the strength of reinforced glulam beams. Keywords: Glulam beams, parallel compression to fibers.

1. INTRODUÇÃO O termo Madeira Laminada Colada (MLC), quando aplicada a elementos estruturais refere-se ao material obtido a partir da colagem de topo e de face de pequenas peças de madeira, na forma reta ou curva, com as fibras de todas as lâminas paralelas ao eixo da peça. As lâminas, de comprimento suficientemente grande, são obtidas por meio de emendas longitudinais de tábuas e podem ser coladas face a face e borda a borda para a obtenção da altura e largura desejada.todos estes fatores oferecem uma grande variedade de escolhas no projeto, sujeitos somente a restrições econômicas envolvidas na produção e/ou uso. As principais pesquisas relacionadas a MLC no exterior aconteceram inicialmente no ano de 1954 quando FREAS & SELBO (1954) (1) publicaram um boletim técnico do FPL Nº 1069 - Fabrication and Design of Glued Laminated Wood Members, que pode ser considerado a base para o conhecimento de MLC e para os atuais documentos normativos em vigor (CARRASCO, 1989) (2). Com o objetivo de melhorar as propriedades mecânicas de resistência e de elasticidade de vigas de MLC, estudos passaram a despender mais atenção para a associação da madeira a outros materiais. Dentre os novos materiais que estão sendo estudados, destacam-se os Polímeros Reforçados com Fibras (PRF), que estão proporcionando incremento nas propriedades mecânicas das vigas de MLC. SZÜCZ (1992) (3) desenvolveu um trabalho no qual confeccionou corpos-de-prova em MLC, de tração normal às fibras, com fibra de vidro no interior de cada junta de cola, formando um compósito. O tecido de fibra de vidro foi disposto perpendicular às fibras da madeira e colados com adesivo resorcina-fenol-formol. O autor apresenta como resultado um aumento de cerca de 5 vezes a resistência à tração normal às fibras da madeira e afirma que o problema da baixa resistência da madeira, quando solicitada por esforços transversais às suas fibras, pode ser solucionado com um reforço de fibras de vidro, aplicado perpendicular às fibras da madeira dentro da técnica de fabricação de MLC. GRAEFF (1995) (4) avaliou a eficiência de emendas de topo reforçadas com fibra de vidro como proposta para substituição de emendas finger-joints em vigas de MLC. Como conclusões o autor afirma que vigas de MLC com emendas de topo reforçadas com fibra de vidro, com comprimento de ancoragem não inferior a 10 cm a partir da emenda, apresentaram um excelente comportamento mecânico. Afirma também que a partir do eixo neutro até a penúltima camada de lâminas (última linha de colagem) da peça, podem ser dispensadas as emendas por entalhes múltiplos, bastando simplesmente envolver as emendas de topo com tecido de fibra de vidro. BELPERIO & GRAD (1999) (5) apresentam uma análise teórica comparando a deformação sofrida por vigas de madeira laminada colada com duas espécies diferentes de madeira reforçadas com PRF e vigas laminadas sem reforço. Utilizaram o método da seção transformada para a avaliação da rigidez das vigas reforçadas. Para a avaliação da resistência, foi utilizado um modelo que faz uma analogia com o cálculo de vigas de concreto armado. Nesta aproximação, foi considerado que as regiões acima da Linha Neutra estão solicitadas por tensões de compressão iguais à resistência à compressão (observa-se que existem dois materiais diferentes, o que causa dois níveis diferentes de tensões de compressão). Abaixo da linha neutra, considera-se distribuição linear de tensões de tração na madeira, atuando em conjunto com a força resultante do material de reforço.

LINDYBERG (2000) (6) apresenta um modelo computacional para o cálculo da resistência de vigas de MLC reforçadas baseado no momento de curvatura (M-φ), método previamente usado para analisar vigas de concreto protendido (BUCHANAN, 1990) (7). Nesse modelo, a madeira, quando submetida a esforços de tração, apresenta um comportamento elástico linear e, quando submetida a esforços de compressão, apresenta um comportamento elástico linear e um comportamento não linear inelástico (fig. 1). σ f t0 Tração ε cu ε cy 1 E ε ε tu Compressão me 1 f c0 Figura 1 Relação tensão deformação para madeira na tração e na compressão paralela às fibras LINDYBERG (2000) (6) afirma que a ruptura de vigas de MLC sem reforço ocorre por tração da madeira ou das emendas dentadas. Para as vigas reforçadas, há uma combinação de ruptura por compressão, cisalhamento e tração na madeira. Baseado nos estudos apresentados, onde a atuação de tensões de compressão na direção paralela às fibras, acarreta um comportamento inicialmente elástico-linear para à madeira, até atingir o valor máximo de tensão, definido como a resistência à compressão paralela às fibras (f c ); posteriormente, com o incremento das deformações ocorre diminuição nos níveis de tensão, até ser observada a desagregação do material (comportamento inelástico). Este trabalho apresenta uma avaliação do coeficiente angular do trecho inelástico, relacionando-o com o módulo de elasticidade obtido na fase elástica, com objetivo verificar sua influência na resistência de vigas de MLC reforçadas. MODELO TEÓRICO PARA CÁLCULO DO MOMENTO FLETOR RESISTENTE O modelo teórico para cálculo do momento fletor resistente utilizado neste trabalho foi desenvolvido por FIORELLI (2005) (8) e considera, de forma realista, o comportamento da madeira e da fibra sob tensão. No caso da madeira solicitada por esforços de compressão na direção paralela às fibras, a madeira exibe um comportamento inicialmente elástico-linear, atinge a resistência à compressão paralela às fibras (f c0 ), ocorrendo posteriormente diminuição nos níveis de tensão com o incremento de deformações, até ser observada a desagregação do material (Buchanan, 1990). Para a madeira solicitada por esforços de tração na direção paralela às fibras, pode ser observado um comportamento elástico-linear até a proximidade da ruptura. Com relação à atuação do momento fletor, a viga de MLC pode apresentar os seguintes modos de ruptura: - ruptura por compressão na madeira; - ruptura por tração na madeira;

- ruptura por tração na fibra de vidro. Revista Madeira Arquitetura e Engenharia, n. 16, ano 6, Maio.- Agosto. 2005. ISSN 1806-6097 Admitindo-se a hipótese de distribuição linear de deformações ao longo da altura da viga, podem ser obtidos os diagramas de distribuição de tensão, de acordo com o tipo de ruptura em consideração. A A fig. 2 apresenta a distribuição de tensões normais, no caso da ruptura ocorrer na borda superior por compressão. Salienta-se que, nesta figura, é admitido que todas as lâminas de madeira possuem o mesmo módulo de elasticidade, porém, o modelo teórico considera os módulos de elasticidade individuais de cada lâmina. Seção Transversal Deformação εcy (ε) Tensão (σ) fc0 h α LN e Y b Figura 2 Distribuição de deformação e tensão na seção transversal Ruptura por compressão No caso do modo de ruptura ser por tração paralela às fibras da madeira, a região comprimida pode estar com ou sem plastificação, dependendo da relação entre as resistências à tração e à compressão e da quantidade de fibra utilizada. A fig. 3 apresenta as duas possibilidades de distribuição de tensão normal para esse caso. Para essa situação, o posicionamento da linha neutra pode ser obtido pela consideração de resultante nula das tensões normais. (ε) (σ) (σ) Seção Transversal Deformação Tensão Tensão h α LN Y Y εtu e e b f t0 Ruptura por tração com plastificação f t0 Ruptura por tração sem plastificação Figura 3 Distribuição da deformação e tensão na seção transversal Ruptura por tração

Depois de determinada a posição da linha neutra (L.N.) é possível avaliar as forças atuantes em cada região da seção transversal da viga de MLC e determinar o momento fletor resistente. Com relação ao modo de ruptura por tração, considera-se que o estado limite último é atingido quando a tensão atuante máxima na madeira atinge o valor da resistência à tração (f t0 ). Quanto ao modo de ruptura por compressão, após a tensão na borda comprimida atingir o valor de f c0, ocorre plastificação gradativa da seção, provocando um abaixamento da linha neutra. Nota-se um incremento do valor do momento fletor resistente, até atingir um máximo, ocorrendo uma diminuição, posteriormente. O estado limite último quanto à compressão é considerado no ponto onde o momento fletor resistente atinge o valor máximo. 2. Materiais e métodos Para a determinação do coeficiente angular do trecho inelástico m foram confeccionados corpos-de-prova de dimensão estrutural e isentos de defeitos com madeira da espécie Pinus Spp. Os ensaios foram realizados seguindo a metodologia estabelecida pela ASTM D198-97- Methods of Static Tests of Timbers in Structural Sizes, da American Society for Testing and Materials (9) e avaliaram o comportamento na compressão paralela às fibras de 6 corpos-deprova com dimensão estrutural igual à (15 x 15 x 45 cm) e de 36 corpos-de-prova isentos de defeitos com dimensão igual à (4 x 4 x 12 cm), utilizando uma velocidade de deslocamento igual a 0,001 mm/mm.min. Os corpos-de-prova com dimensão estrutural foram confeccionados por meio da colagem de três peças de madeira com dimensão (5 x 15 x 45 cm), conforme apresentado na fig. 4. Figura 4 Corpos-de-prova dimensão estrutural Os ensaios dos corpos-de-prova com dimensões estruturais foram realizados em uma máquina universal de ensaios, marca INSTRON, com capacidade de 2.500 kn e os ensaios dos corposde-prova isentos de defeitos realizados em uma máquina universal de ensaios, marca DARTEC; com capacidade para 100 kn, ambas servocontroladas, conectadas a um computador que, por meio de um software específico, gerencia as operações do atuador e registra automaticamente os valores de forças, deslocamentos e deformações.

Peça de dimensões estruturais Corpo-de-prova isento de defeito Figura 5 Ensaios de compressão paralela às fibras 3. Resultados obtidos e análise Este item apresenta os resultados obtidos nos ensaios de compressão paralela às fibras. A fig. 6 mostra o comportamento real de um corpo-de-prova isento de defeito (CP 6), submetido ao ensaio de compressão paralela às fibras, e também a determinação do coeficiente angular do trecho inelástico m, por meio da determinação dos coeficientes angulares das equações das retas do trecho elástico-linear e do trecho inelástico. Tensão (MPa) -80-70 -60-50 -40-30 -20-10 0 0,000 y = 8019,4x + 6,5224-0,005-0,010 Deformação y = -1430,5x - 79,595-0,015-0,020 Figura 6 Comportamento real de um corpo-de-prova submetido a ensaio de compressão paralela às fibras As tab. 1 e 2 apresentam os resultados de resistência e elasticidade obtidos nos ensaios de compressão paralela às fibras da madeira para peças com dimensão estrutural e corpos-deprova isentos de defeitos, respectivamente. São apresentados também, o valor do coeficiente angular (me) da curva tensão deformação, observado após atingir a tensão máxima (f c0 ).

Tabela 1 Corpos-de-prova com dimensões estruturais Corpo-deprova f c0 (MPa) E (MPa) me (MPa) m 1 29,2 8127-2514,7-0,31 2 31,1 10474-1696,8-0,16 3 31,4 10891-1748,6-0,16 4 31,0 10072-1460,5-0,14 5 29,7 10230-889,24-0,08 6 31,8 9939-1115,8-0,11 Média 30,7 9956 569,6-0,16 Desvio Padrão 1,0 932-1382,2 0,08 CV (%) 3,3 7,9-41,2 50 95% superior -0,31 Corpo-deprova Tabela 2 Corpos-de-prova isentos de defeitos f c0 (MPa) E (MPa) me (MPa) m 1 60,0 7715-974,5-0,13 2 50,6 6196-611,5-0,01 3 59,7 8238-1395,4-0,17 4 61,8 8000-1852,9-0,23 5 61,4 8549-1716,9-0,20 6 65,3 8019-1430,5-0,18 7 61,0 8654-755,4-0,09 8 62,6 7908-1329,2-0,17 9 50,0 5944-958,2-0,16 10 51,0 8493-1369,1-0,16 11 48,8 6818-1259,9-0,18 12 45,1 5794-569,5-0,01 13 51,6 7198-1462,6-0,20 14 48,9 6205-939,4-0,15 15 53,5 6897-1556,8-0,22 16 53,2 7050-1647,0-0,23 17 52,3 6760-1246,0-0,18 18 56,0 7725-1341,7-0,17 19 51,8 8115-1723,1-0,21 20 42,0 4071-691,9-0,17 21 41,6 5790-1031,2-0,17 22 42,4 6814-638,7-0,09 23 46,3 5020-458,4-0,09 24 44,3 3551-787,2-0,22 25 50,0 4842-646,9-0,13 26 54,6 5231-1596,9-0,30 27 51,0 4017-773,6-0,19 28 56,4 5656-1082,3-0,19 29 51,0 4075-1931,2-0,41 30 56,6 5486-605,3-0,11 31 42,6 3336-550,5-0,16

32 47,6 3967-675,3-0,17 33 54,8 5582-932,1-0,17 34 57,3 4369-846,6-0,19 35 46,0 5744-837,7-0,16 36 43,0 4899-1002,6-0,20 Média 52,0 6187-1089 -0,17 Desvio 6,5 1576,7 418,8 0,06 CV (%) 12 25 38 34 95% superior -0,29 O módulo de elasticidade (E) foi determinado no regime elástico, considerando 10% e 50% do carregamento. Observando os valores apresentados nas tab. 1 e 2, nota-se que o valor médio do coeficiente m referente aos corpos-de-prova com dimensão estrutural ficou abaixo do valor obtido para os corpos-de-prova isentos de defeitos, porém os valores estão muito próximos. Pode ser observado que o valor do coeficiente m, para o corpo-de-prova número 1 é superior aos valores dos outros corpos-de-prova. Esse valor influenciou na estimativa da variância da amostra, fazendo com que o valor 95% superior ficasse acima do valor observado para os corpos-de-prova isentos de defeitos. Para que o cálculo seja feito a favor da segurança, é recomendado considerar o valor de m igual a 0,31. Com objetivo de avaliar a influência do coeficiente angular do trecho inelástico m, no modelo teórico de resistência, as fig. 7 e 8 apresentam a variação do momento fletor resistente em função da relação entre as resistências à compressão e à tração paralela às fibras da madeira, para diversos valores de m. O valor do momento máximo nos gráficos é o correspondente à relação entre resistência à compressão e à tração igual a 1, valor acima do qual a ruptura ocorre por tração, sem ocorrer plastificação na parte comprimida, isto é, o valor do momento resistente não depende do coeficiente m. As fig. 7 e 8 foram construídas com base nos valores de uma viga fictícia de MLC reforçada com fibra de vidro. As propriedades mecânicas da madeira, utilizadas na análise estão apresentadas na tab. 3. Tabela 3 Propriedades da viga Propriedades Valores Altura 21 cm Largura 7 cm Número de lâminas de madeira 6 Resistência à tração (f t0 ) 45 MPa Módulo de elasticidade madeira (E m ) 11.000 MPa Módulo de elasticidade fibra (E f ) 56154 MPa Porcentagem de fibra 1,2% e 3,3% da altura Espessura das lâminas de madeira 3,5 cm Foram construídas curvas para valores de m=0, m=-0,16 e m = -0,4, com o objetivo de mapear o comportamento da viga de MLC. Foram utilizados dois valores extremos e o valor médio obtido nos ensaios: - m=0 - viga apresenta um comportamento elasto-plástico perfeito; - m=-016 média do coeficiente m obtida nos ensaios experimentais;

- m=-0,4 valor extremo. Revista Madeira Arquitetura e Engenharia, n. 16, ano 6, Maio.- Agosto. 2005. ISSN 1806-6097 1,0 0,8 0,6 m=0 m=-0,4 M/M 0,4 0,2 0,0 m=-0,16 0 0,2 0,4 0,6 0,8 1 1,2 fc/ft Figura 7 Variação do momento em função da relação entre as resistências (1,2% de reforço) 1,0 0,8 M/M 0,6 0,4 m=0 m=-0,4 0,2 m=-0,16 0,0 0 0,2 0,4 0,6 0,8 1 1,2 fc/ft Figura 8 Variação do momento em função da relação entre as resistências (3,3 % de reforço) Pode ser observado pelas fig. 8 e 9 que o coeficiente m não tem influência significativa no modelo teórico. É possível dizer que para valores de resistência à compressão, menores que de resistência à tração, ocorre plastificação da viga e ruptura por compressão. 4. Conclusões Baseado nas informações apresentadas é possível afirmar que os trabalhos desenvolvidos com objetivo de dimensionar vigas de MLC reforçadas levam em consideração o comportamento da madeira à compressão e à tração paralela às fibras. Os ensaios realizados com corpos-de-prova de dimensão estrutural e isentos de defeitos, para determinar o valor do coeficiente angular do trecho inelástico m, mostra que os resultados obtidos, não apresentaram diferença significativa. Verificando a influência do coeficiente m, no modelo teórico de cálculo, foi comprovado que o

mesmo não tem influência significativa nos valores de momento fletor resistente. 5. Agradecimentos Os autores agradecem à FAPESP pelo apoio à pesquisa. 6. Referências bibliográficas (1) FREAS, A.D.; M.L. SELBO. Fabrication and Design of Glued laminated Wood Members. USDA Forest Products Laboratory. Technical Bulletin. Nº 1069, 1954. (2) CARRASCO, Edgard V. Mantilla. Resistência, Elasticidade e distribuição de tensões nas vigas retas de madeira laminada colada (MLC). São Carlos, 1989. Tese (doutorado) Escola de Engenharia de São Carlos, Universidade de São Paulo. (3) SZUCS, C.A. Madeira laminada colada reforçada com fibra de vidro na direção transversal as suas fibras. In. ENCONTRO BRASILEIRO DE MADEIRA E DE ESTRUTURAS DE MADEIRA, São Carlos,1992. Anais. (4) GRAEFF, A. Estudo da madeira laminada colada com emendas de topo reforçadas com fibra de vidro. Florianópolis, 1995. Tese (Doutorado) Universidade Federal de Santa Catarina. (5) BELPERIO, R., GRAD, IE. The performance of glulam beams reinforced with carbon fibre. In: PACIFIC TIMBER ENGINEERING CONFERENCE, New Zeland, 1999. Anais. v.2, p.99-106. (6) LINDYBERG, R. F. ReLAM: A nonlinear, probabilistic model for the analysis of reinforced glulam beans in bending. Maine-USA, 2000. Tese (Doutorado) - University of Maine. (7) BUCHANAN, A. H. Bending Strength of Lumber. Journal of Structural Engineering, ASCE. 116(5). 1990. p. 1213-1229. (8) FIORELLI, Juliano. Estudo teórico e experimental de vigas de madeira laminada colada reforçada com fibra de vidro. São Carlos, 2002. Tese (Doutorado) Escola de Engenharia de São Carlos, Universidade de São Paulo. (9) AMERICAN SOCIETY for TESTING and MATERIALS. ASTM D198-Standard Test Methods of Static Tests of Lumber in Structural Sizes. Philadelphia, PA, 1997. voltar