Porsche 550 Spyder. Clubnews



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Transcrição:

Porsche 550 Spyder

Classic News Wolfgang von Trips, um dos melhores pilotos alemães de todos os tempos, ao volante do Porsche 550 A nos 1000 Km de Nurburgring, em 1956. 50 anos de um vencedor Primeiro Porsche desenhado prioritariamente para corridas, o 550 Spyder consagrou a receita de vitória dos carros da marca: leveza, potência e resistência. Texto: Luiz Alberto Pandini Fotos: Porschepress

O piloto italiano Umberto Maglioli durante a Targa Florio de 1956: uma das vitórias mais importantes da Porsche e do modelo 550. Ganhar corridas não era uma novidade para a Porsche no começo da década de 1950. A ainda jovem marca de Stuttgart, então com menos de uma década de vida, já tinha em seu cartel algumas vitórias no final de 1952 incluindo dois primeiros lugares na categoria até 1.100 cm³ na 24 Horas de Le Mans, com o modelo 356. Mas este era um carro esporte de rua adaptado para as pistas, e suas possibilidades de chegar a triunfos maiores era limitada. Quase ao mesmo tempo, um piloto chamado Walter Glöckler, dono de uma concessionária Volkswagen na Alemanha, vinha construindo carros de corrida usando a base do Porsche 356. Algumas vitórias motivaram Ferdinand Porsche, Karl Rabe e Huschke von Hanstein ou seja, a alta diretoria da Porsche naqueles tempos a conhecer melhor o carro. E ficou claro que um novo modelo seria fundamental para a Porsche continuar vencendo nas categorias para carros com motores até 1.500 cm³. Não havia muito tempo nem dinheiro para grandes pesquisas. Optou-se por fazer um carro baixo, de dois lugares, com chassi tubular e a

Consagração do 550 na Carrera Panamericana de 1954: Hans Herrmann (à esquerda) chegando ao final da corrida. mesma suspensão do 356. O motor também era o mesmo do 356, mas colocado entreeixos para melhorar a distribuição de peso e a estabilidade. Havia ainda diferencial autoblocante e embreagem com acionamento hidráulico, sistemas que eram novidade na época. O novo modelo pesava 550 kg e foi chamado de 550 mas por mera coincidência: o nome traduzia o fato de aquele ser o 550º projeto Porsche. Desenvolvido pelo engenheiro Wilhelm Hild, o 550 Spyder teve suas primeiras unidades montadas sobre chassi tubular com motor do Porsche 356. As duas primeiras unidades (550-01 e 550-02) ficaram prontas no segundo semestre de 1953, e apresentados ao público no Salão do Automóvel de Paris, realizado no mês seguinte. Dias depois, Helm Glöckler, primo de Walter Glöckler, correu em Nurburgring com o 550-01 e venceu na categoria até 1.500 cm³, sob forte chuva. O sucesso deu à diretoria da Porsche muita confiança para encarar a 24 Horas de Le Mans. O 550-01 foi pilotado por Helm Glöckler/Hans Herrmann e o 550-02 a Richard von Frankenberg/ Paul Frère. Os carros estavam equipados com uma capota para melhorar a aerodinâmica nas altas velocidades atingidas em Le Mans. Largaram entre os últimos, mas após 6 horas de corrida o 550-02 estava em 2º lugar. E no final fizeram dobradinha Os Porsche 550 Spyder na 24 Horas de Le Mans de 1954: Richard von Frankenberg/Helmut Glöckler (nº 40), Hans Herrmann/Helmut Polensky (41), Johnny Claes/Pierre Stasse (39) e Zora Arcus-Duntov/Gustave Olivier (47). O guatemalteco José Herrarte venceu a Carrera Panamericana de 1953 em sua categoria, pilotando um 550 com capota.

Pôsteres promocionais lançados pela Porsche em 1954: os resultados obtidos na Carrera Panamericana (à esquerda) e na 24 Horas de Le Mans (à direita) foram fundamentais para firmar a imagem esportiva do 550 Spyder e da própria marca. na categoria, com von Frankenberg/ Frère na frente de Glöckler/ Herrmann. O desafio seguinte seria no México, onde seria disputada a quarta edição da Carrera Panamericana. Esta corrida ganhara em apenas três edições (a primeira foi em 1950) uma importância comparável somente à de provas de estrada bem mais antigas, como a Targa Florio e a Mille Miglia. Motivos para isto: as altas velocidades e a variedade de condições encontradas ao longo do percurso estradas ao nível do mar e no alto de montanhas, longas retas seguidas por curvas sinuosas, temperaturas que podiam variar de 10 a 40 graus centígrados. Tudo isso tornava a Carrera Panamericana um duro teste de resistência, habilidade e coragem. Estamos em meados de 1953. A esta altura, os 550 passaram a receber um novo motor de 1.498 cm³ com quatro comandos e 110 cv, desenvolvido por Dr. Ernst Fuhrmann, e estrutura monocoque. Por isso, o carro passou a ser chamado de 550 A. Os chassis 01 e 02 foram vendidos a um piloto/empresário da Guatemala, Jaroslav Juhan, que correria em dupla com Antonio Asturias Hall; o outro carro ficaria para os compatriotas Carlos Gonzales/José Herrarte, que ficaram com a vitória na prova. Os chassis mais novos ficaram com Hans Herrmann (550-03) e Karl Kling (550-04). Três deles abandonaram com problemas causados pelas pedras e buracos, mas Gonzalez/ Herrarte levou o 550-02 à vitória em sua categoria. Em 1954, Hans Herrmann e Jaroslav Juhan terminaram em 3º e 4º lugares, mas o resultado teve enorme repercussão porque os dois pequenos Porsche terminaram à frente de muitos carros mais potentes. Seria a última edição da Carrera Panamericana: os vários acidentes graves acontecidos nesta edição levaram os organizadores a cancelar a prova. Em homenagem à corrida que consagrou o 550, o nome Carrera passou a ser usado pela Porsche nos modelos de desempenho superior. A Carrera Panamericana tinha muitos pilotos dos Estados Unidos e a vitória do 550 repercutiu naquele país. Vários pilotos compraram Porsche 550, alguns deles de uma nova série, com significativas mudanças mecânicas e estéticas, e batizados de 550 Spyder 1500 RS. As vitórias do 550 nos EUA colocaram a Porsche no mesmo patamar de marcas como Ferrari e Maserati, já consagradas no mercado americano. Ainda em 1954, duas duplas conseguiram vitórias na 24 Horas de Le Mans pilotando os 550: Johnny Claes/Pierre Stasse, na categoria de 1.101 a 1.500 cm³, e Zora Arkus Duntov/Gonzague Olivier na categoria de 751 a 1.100 cm³. O ano de 1955 também teria vitórias para o 550 em Le Mans nada menos que quatro: classe 751 a 1.100 cm³, com Zora Arkus Duntov/ Auguste Veulliet; classe 1.101 a 1.500 cm³, Coupe Bienalle 1954-1955 e Índice de Performance, todas estas com Helmuth Polensky/ Richard von Frankenberg. As duas últimas vitórias do modelo em Le Mans aconteceram em 1956 e 1957, já com evoluções denominadas RS 550 A, respectivamente com

Até na Fórmula 1 ele correu Na década de 1950, a Fórmula 1 já era uma categoria importante, mas ainda estava dando seus primeiros passos rumo à profissionalização que décadas mais tarde seria sua marca registrada. Nessa época, o Grande Prêmio da Alemanha era realizado no circuito de Nurburgring, que tinha quase 23 km de extensão cinco vezes mais que o habitual em outras pistas. Para evitar que os espectadores tivessem longos períodos sem passagens de carros, os organizadores alemães costumavam abrir seu GP a carros de outras categorias, como os Fórmula 2 e os carros esporte. Por isso, não chegou a ser surpresa a inscrição de três Porsche 550RS no GP da Alemanha de 1957. Dois deles foram inscritos pela equipe de fábrica, então chamada Dr. Ing. F. Porsche KG. O número 20 ficaria para o italiano Umberto Maglioli e o 21 para o alemão Edgar Barth (pai de Jurgen Barth, que depois seria piloto e chefe da equipe de competições da Porsche). O terceiro carro, número 27, foi inscrito pela Ecurie Maarsbergen para o holandês Carel Godin de Beaufort. Correndo praticamente com a configuração dos modelos de rua e contra carros especiais de competição com motores de até 2.500 cm³, os pequenos 550RS surpreenderam. Barth fez o 12º tempo no grid de largada, entre 24 carros. Maglioli alinhou em 15º e Beaufort, em 20º. Na corrida, o motor de Maglioli parou quando ele estava em 11º lugar. Barth terminou em 12º (o melhor classificados entre os carros enquadrados na Fórmula 2, que recebeu também os carros esporte) e Beaufort, em 14º. Menos pelo resultado e mais pela ousadia, uma página memorável na história do Porsche 550. Edgar Barth, no Porsche 550 RS número 21, persegue a Maserati 250F de Hans Herrmann no GP da Alemanha de 1957. O pequeno Porsche sagrou-se vencedor entre os Fórmula 2 e carros esporte. Wolfgang von Trips/Richard von Frankenberg e Ed Hugus/Carel Godin de Beaufort. Ainda em 1956, o 550 chegaria à sua talvez mais importante vitória: derrotou as potentes Maserati, Ferrari e Mercedes-Benz na Mille Miglia, graças à habilidade do piloto italiano Umberto Maglioli. Algumas fontes indicam que Huschke von Hanstein ele mesmo, que anos mais tarde viria a ser diretor de competições da Porsche chegou a pilotar o carro, mas este é um dado controverso. O sucesso do 550 nas competições contribuiu muito para a imagem esportiva da Porsche. Seu motor de quatro comandos desenvolvia 110 cv e deu origem a unidades que seriam fundamentais para o sucesso da Porsche nas corridas da década de 1960. Hoje, a herança do Porsche 550 permanece viva nos roadsters Boxster e Carrera GT.