O cão que mudou minha vida tradução Angela Pessôa
Prólogo -Q uanto dinheiro você calcula que ganhei para você hoje, John? Era Griff, e ele sorria de orelha a orelha. Como vou saber? Dei de ombros. Dez pilas? Eu estava sentado na calçada da rua Shoreditch High, desenhando os prédios ao meu redor, como havia feito todos os dias nos últimos três anos. Meus dedos congelavam e eu estava matutando se conseguiria bancar uma xícara de chá e um sanduíche para conseguir continuar. George encontrava-se ao meu lado, como sempre, envolto em um casaco e com um copo de papel à frente para que os passantes largassem ali alguns trocados. O que são dez pilas? Dez paus para você, garoto bacana. Não, mais que dez paus, John. Gostei daquilo. O copo continha apenas algumas moedas, um punhado de prateadas e um pouco de acobreadas, embora
12 John Dolan esti véssemos sentados na rua por umas boas horas. O que quer que Griff houvesse ganhado, tinha sido mais do que George e eu naquele dia. Cem paus? perguntei, meio que brincando. Não, vá em frente. Griff estava agitado. Eu podia sentir a energia que emanava dele, mas estava tentando impedir que ela passasse para mim. Bem, como diabos vou saber. Quinhentos? Mais. Mil? Mais. Agora eu estava ficando agitado; era impossível não ficar. Me diz! John, estamos falando de milhares. Está falando sério? O que você está querendo dizer com milhares? Estou querendo dizer... 15 mil libras, para ser exato. De repente, eu estava de pé, rindo, franzindo a testa e coçando a cabeça em descrença. Verdade? Você ganhou 15 mil libras? Como fez isso? Vendi cinco dos seus desenhos. Só um por cinco mil. Eu sabia que Griff estava dizendo a verdade, mas não consegui assimilar aquilo, não de imediato. É melhor que você não esteja mentindo, Griff, porque se estiver... John, é a verdade absoluta. Cinco desenhos vendidos. Quinze mil no total das vendas.
John & George 13 George sentava-se imóvel e orgulhoso como de costume, as patas dianteiras estendidas à frente e a cabeça erguida. Começou a farejar o ar e olhar para mim na expectativa, aguardando meu comando. Vem cá, George! Vem aqui, garoto! George pôs-se de pé sobre as quatro patas e enfiou a cabeça em minhas mãos estendidas quando agachei para falar com ele. Você ouviu isso, George? Quinze mil! Vou ficar rico. Eu andava morto de preocupação de perder o teto sobre minha cabeça, mas, naquela fração de segundo, meus temores se dissolveram. Mal podia acreditar no que estava ouvindo. Acho que George tampouco acreditava. Ergueu as orelhas e inclinou o focinho de um lado para outro, como sempre faz quando está escutando com atenção. Sua mandíbula parecia encaixada em um sorriso satisfeito e seus olhos brilhavam. Quando recebo minha metade?, teria perguntado se pudesse, pois é um sem-vergonha ordinário. Sério, bom para você, companheiro, teria acrescentado, ou eu gostaria de pensar que sim. Você merece uma trégua. Só não se esqueça de onde veio sua sorte... m n Isso ocorreu na primavera de 2013. Eu tinha 41 anos e vender aqueles desenhos foi só o segundo golpe de sorte que tive em toda a minha vida. O primeiro, realmente importante, foi encontrar George poucos anos antes. Eu não sabia disso na época, mas ele era
14 John Dolan meu amuleto da sorte; o cão que viraria todo o meu mundo de cabeça para baixo. Sem George eu não teria pegado a caneta e recomeçado a desenhar após negligenciar minha aptidão durante décadas, tampouco teria conhecido Griff, igualmente conhecido como Richard Howard-Griffin, o marchand local. Também estaria caído na sarjeta, preso ou enterrado sob sete palmos de terra, e essa é a mais pura verdade. Em vez disso, colaborei com alguns dos mais famosos artistas de rua do mundo, minhas gravuras estão penduradas em paredes de Nova York a Moscou e tenho uma mostra em Londres em meu currículo. Chegar onde estou agora foi uma jornada e tanto. Quando encontrei George, eu estava preso em uma porta giratória composta por falta de moradia, crime, prisão, depressão e drogas havia muitos, muitos anos. Foi George quem, por fim, fez com que a porta parasse de girar e foi George quem fez com que o artista em mim se erguesse e saísse da escuridão. Não foi tarefa fácil para um jovem staffordshire bull terrier, sobretudo por ele ter tido uma vida difícil antes de nos conhecermos. George é meu universo. Sou louco por ele e esta é a história de como ele mudou minha vida.