Esmaltes e Engobes para Monoporosa

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Transcrição:

Esmaltes e Engobes para Monoporosa Helder J. Oliveira 1 e João A. Labrincha 2 * 1 Quimicer Portugal, Esmaltes Cerâmicos, S.A. 2 Departamento de Engenharia Cerâmica e do Vidro, CICECO, Universidade de Aveiro, 3800-193 Aveiro, Portugal * e-mail: jal@cv.ua.pt Resumo: O presente trabalho faz uma avaliação das principais diferenças entre os tipos de esmaltes e engobes utilizados em revestimentos cerâmicos do tipo monoporosa. As principais características nas etapas de moagem e aplicação dos esmaltes e engobes também são analisadas, visando à determinação dos parâmetros ótimos e também à identificação dos fatores causadores de defeitos. Palavras-chaves: esmalte, engobe, monoporosa, defeitos 1. Introdução A década de 50 determinou uma mudança fundamental no setor cerâmico, com a criação de empresas tecnologicamente desenvolvidas e de dimensão considerável e o declínio de unidades de aspecto artesanal. Em resultado destas transformações, assistiu-se à adoção de biqueima e monoqueima rápidas em detrimento da biqueima lenta e em fornos túnel. A crise energética mundial da década de 80 determinou a adoção preferencial da monoqueima rápida e a temperaturas relativamente baixas na fabricação de revestimentos porosos, designados vulgarmente por produtos de monoporosa 1. A monoqueima rápida porosa é o resultado da aproximação do tempo real de queima ao tempo teórico mínimo necessário, para que ocorram todas as reações do processo cerâmico. Pode-se, desta forma, diminuir os tempos de aquecimento, durante algumas etapas do processo, assim como aumentar a velocidade de resfriamento, o que permite alcançar elevadas taxas de produção em tempos menores. Uma das principais vantagens é a eficácia com que permite responder às exigências do mercado, que tendem para pedidos cada vez menores e variados. A versatilidade deste processo permite a possibilidade de se poder produzir pavimento ou revestimento, optando-se por produzir mais o produto que tiver maior procura comercial. Verifica-se ainda redução dos custos energéticos (só existe uma queima rápida), economia de mão de obra pois a maior parte do processo é mecanizado, utilização de materiais de baixo custo e soluções estéticas de elevado valor 2. A qualidade destes produtos passa por um bom acordo pasta-vidrado 3, otimizado por uma camada intermediária bem desenvolvida, o que pode compensar diferenças mínimas entre os coeficientes de dilatação. É comum aplicar uma subcamada de engobe na peça, antes do vidrado, pois este vai atenuar as diferenças de composição entre dois corpos (suporte e vidrado) que se querem unidos, limitar os riscos de aparecimento de defeitos nos vidrados, mascarar a cor do suporte sempre que necessário, impermeabilizar a peça cerâmica a vidrar e permitir a aplicação de camadas de vidrado menos espessas, o que diminui o custo global 4,5. Sobre o engobe aplicar-se-á o vidrado. Durante a queima, a liberação de todo o dióxido de carbono gerado pela decomposição da pasta (em geral até aos 900 C) é permitida devido ao amolecimento tardio do vidrado (± 900-950 C), o qual é compensado por uma fusão brusca, necessária devido ao curto tempo de maturação. Desta forma consegue-se obter produtos de qualidade com ciclos de queima da ordem dos 35-45 para formatos pequenos (15 15), (20 20) e 60-70 para formatos grandes (30 40), (30 60). Verificam-se ainda variações dimensionais inferiores a 1% 6. Em geral, os vidrados utilizados são do tipo 5 : opaco brilhante, cristalino ou transparente, mate acetinado e mate sedoso. A opacidade é conseguida pela adição de compostos que não fundem completamente, sendo mais ou menos intensa conforme o tamanho e o caráter dispersante das partículas adicionadas. Um vidrado mate contém, em geral, partículas opacificantes de tamanho reduzido à superfície, as quais quebram a refracção espectral, enquanto que Cerâmica Industrial, 7 (2) Março/Abril, 2002 25

uma cristalina envolve uma parte vítrea e um material cristalino que retarda a maturação da frita mas que acaba também por fundir completamente, e é geralmente brilhante e transparente. 2. Composição química A Tabela 1 fornece composições químicas típicas dos diversos constituintes. Este tipo de vidrados contém sempre quantidades reduzidas de óxidos alcalinos. Comparando os vidrados opaco e cristalino verifica-se que as suas composições são aproximadamente iguais, sendo o óxido com variação mais significativa a zircônia, pois esta é opacificante, não sendo, por isso, adequada a um vidrado que se pretende transparente. O engobe e os vidrados mate possuem também bastante zircônia, devido não só à opacidade, mas também à brancura que esta confere. O cálcio também vai ter um papel importante no grau de brancura. Os mates distinguem-se pelas quantidades de cálcio e zinco existentes, assim como pela existência de chumbo no sedoso. Sendo o engobe uma camada intermédia, entre o suporte e o vidrado, vai ser constituído pelos materiais que compõem o vidrado, mas com teores elevados em argila ou caulim. 3. Condições de Moagem A moagem de vidrados é mais crítica que a das pastas, não só porque exige menos contaminações, mas também porque a própria granulometria dos vidrados deve ser melhor controlada, pois a eficiência desta etapa determina a velocidade de decomposição de alguns constituintes e a reatividade entre os vários componentes. Geralmente a moagem é feita em moinho de bolas, sendo importante a estabilização dos tempos de moagem para a otimização do processo. Este tempo vai ser influenciado por vários fatores, como: Carga das bolas O volume de bolas dentro do moinho deverá atingir 40 a 45% do seu volume aparente, sendo comum utilizar meios de moagem de três tamanhos diferentes (dependentes do tamanho inicial da partícula a moer), para garantir maior eficiência. Carga do material a moer Tempo de moagem Depende da quantidade de água, aditivo e do tipo de material a moer. Uma carga mal dimensionada, uma velocidade de rotação mal escolhida ou ainda o uso de bolas de tamanho inconveniente, podem não só originar má moagem, como também aquecer demasiadamente o moinho. Este aquecimento pode originar a decomposição dos aditivos orgânicos, favorecer a lixiviação de alguns compostos e acarretar desgaste excessivo ou mesmo estilhaçamentos das bolas e do revestimento interno (estilhaços das bolas podem provocar pintas no vidrado cozido). A Tabela 2 indica condições de moagem otimizadas. Após se atingirem as condições de descarga desejadas (densidade, viscosidade e resíduo), imprescindíveis para um vidrado de qualidade, deverá ser feito imediatamente o seu peneiramento em tela inox e seguir-se-lhe-á uma etapa de repouso para extrair o ar da suspensão, na qual é fundamental existir uma agitação lenta e continua. Previamente ao transporte do vidrado para a linha, este Tabela 1. Composição química média (FRX) de vidrados e engobes para monoporosa e respectivos coeficientes de expansão térmica. Análise química (%) α 20-400 ºC 10-7 (ºC -1 ) SiO 2 Al 2 Fe 2 CaO MgO Na 2 O K 2 O ZnO PbO ZrO 2 B 2 P.R. Engobe 58,7 21,0 0,22 2,8 0,3 1,9 1,4 0,02-9,2 1,4 2,7 63,5 ± 1,5 Opaco 56,8 7,2 0,15 8,7 2,4 1,1 3,3 10,1-6,0 3,6 1,5 61,0 ± 1,5 Cristalino 59,6 8,5 0,16 10,5 1,6 1,0 4,2 9,0-2,3 2,3 1,5 61,5 ± 1,5 Mate acetinado 42,5 17,9 0,14 11,7 0,20 3,7 3,3 3,8 0,60 9,1 3,1 3,7 62,0 ± 1,5 Mate sedoso 39,9 19,0 0,13 9,6 0,20 2,8 2,5 5,3 4,1 8,3 3,3? 3,1 64,0 ± 1,5 Tabela 2. Condições de moagem ótimas de vidrados e engobes para monoporosa. Condições de Moagem VID. Engobe (%) Opaco (%) Cristalino (%) Mate (%) ADIT. CMC (Média viscosidade) 0,005-0,006 0,25 0,20 0,24-0,26 Defloculante 0,21-0,25 0,25-0,30 0,30-0,35 0,12-0,14 Conservante - 0,04-0.06 0,04-0.06 0,04-0.06 Resíduo (#16000) 0,5-1,0 5,0-6,0 6,0-7,0 2,5-3,0 26 Cerâmica Industrial, 7 (2) Março/Abril, 2002

deverá ser convenientemente homogeneizado, peneirado e desferrizado. 4. Condições de Aplicação Os produtos descarregados do secador são vidrados e decorados após a eliminação dos pós, que entretanto se depositaram sobre a peça durante operações de beneficiamento, os quais poderiam originar defeitos no material queimado. A aplicação de vidrados para monoporosa requer um ajuste refinado do dispositivo de vidragem (por exemplo, campânula Fig. 1) e das características da pasta cerâmica seca (umidade residual e temperatura). A fim de uniformizar a superfície e para controlar adequadamente a formação da película de vidrado, antes da primeira aplicação, a superfície é umidificada com um spray de água. O vidrado e/ou engobe alimentado à campânula deverá ter uma agitação lenta, de maneira a manter homogênea a viscosidade em toda a suspensão. A distância entre campânulas deverá ser de 3 a 4 m. A Tabela 3 ilustra condições ótimas de aplicação de vidrados e engobe. O transporte do vidro para a linha de esmaltação deverá ser feito através de um tanque que facilite o seu Tabela 3. Definição das condições ótimas de aplicação de vidrados e engobe, por campânula. Condições de Aplicação - Campânula (20x30) Tipo de Densidade Viscosidade Peso vidrado (g/l) (s) (g) Engobe 1870-1900 35-45 30 Opaco 1840-1860 60-70 60 Cristalino 1780-1800 50-60 60 Mate 1840-1860 35-45 60 manuseamento, e deverá ser ajustado (viscosidade e densidade) neste mesmo tanque antes de ser colocado nas balsas. É importante que o vidrado venha da zona de moagem em condições próximas das de aplicação. 5. Queima Durante a queima, ocorre um conjunto de transformações, que afetam o suporte e o vidrado, dependentes da natureza químico-mineralógica das matérias-primas e da temperatura atingida. O conhecimento preciso e profundo da natureza dessas transformações, permite estabelecer a curva de queima mais conveniente para que sejam atingidos os objetivos fixados 3,7. A dinâmica da monoporosa é muito peculiar, dado que o suporte contém matérias carbonatadas cuja decomposição se deve compatibilizar com o desenvolvimento do vidrado. Verifica-se nas curvas de queima típicas (Fig. 2) uma zona de pré-aquecimento onde inicialmente se dá a expulsão da umidade residual, seguida da decomposição dos minerais argilosos e queima da matéria orgânica, à medida que a temperatura aumenta. Entre 800 e 950 ºC, aproximadamente, dá-se a decomposição dos carbonatos, zona em que existe um patamar para permitir a desgaseificação completa. Em seguida a temperatura aumenta até ao valor máximo, ocorrendo neste intervalo a decomposição dos produtos. Este patamar tem como função uniformizar a temperatura em toda a seção de carga do forno, assim como nas peças, o que vai permitir uma completa decomposição e desgaseificação de todos os produtos. Terminada a queima, os produtos entram inicialmente numa fase de resfriamento rápido até aproximadamente 650 ºC, seguindo-se um resfriamento mais lento devido à transformação do quartzo a 573 ºC. 6. Principais características Para além das características expansivas, já indicadas na Tabela 1, outras propriedades relevantes para o bom desempenho dos vidrados são indicadas na Tabela 4 e confrontadas com valores normalizados. Em termos globais, pode dizer-se que os vidrados testados cumprem com os Figura 1. Representação esquemática da aplicação de vidrados com campânula. Figura 2. Curvas de queima típicas em monoporosa. Cerâmica Industrial, 7 (2) Março/Abril, 2002 27

Tabela 4. Propriedades de dois vidrados testados e comparação com valores normalizados para produtos de revestimento. Propriedade Norma Valores Normalizados Vidrados Testados Mate Cristalino Dureza de Mohs EN101 3 8-9 6-7 Resistência à Mancha EN122 Classe 2 Classe 2 Classe 1 Resistência a Ácidos EN122 Classe B Classe B Classe AA Resistência a Bases EN122 Classe B Classe B Classe AA requisitos necessários a aplicações em produtos de revestimento, merecendo ajuste posterior a resistência à mancha do vidrado mate. Esta relativa debilidade está provavelmente relacionada com a incompleta fusibilidade da camada vítrea, o que determina a formação de uma camada de impermeabilidade incipiente. A superior maturação do vidrado cristalino explica também a superior durabilidade química, tanto a ácidos como a bases. 7. Defeitos comuns Frequentemente o forno não é o causador de defeitos, mas somente os evidência. Deve-se ter presente que muitos dos problemas que se observam à saída do forno não derivam de uma só fase operativa, mas são o resultado de características comportamentais das matérias-primas e de várias condições de operação imperfeitas, pelo que, para eliminar o defeito é primeiro necessário conhecer a causa, dado que esta nem sempre é evidente. Na monoporosa os defeitos mais comuns são as bolhas, picado, enrolamento e fissuramento 5. As bolhas são um fenômeno indesejado mas, qualquer que seja a sua origem estão presentes em quase todos os vidrados, pelo que devem ser estritamente controladas e mantidas a níveis aceitáveis (quantidade e dimensões). Na maior parte dos casos podem ser ignoradas porque não são numerosas, têm pequeno diâmetro e pouca influência sobre a qualidade do vidrado se permanecerem inclusas no seu interior. A formação de bolhas é provocada por desgaseificações, as quais geralmente começam por originar um pequeno volume de gás que tende a juntar-se, durante a queima, originando bolhas maiores. Esta coalescência facilitará a saída de bolhas e minimizará o risco de opacificação por bolhas muito pequenas e abundantes. Os gases que originam as bolhas têm várias origens: Decomposição da matéria orgânica presente na suspensão (CMC, por exemplo); Decomposição química de carbonatos, etc., durante o armazenamento da suspensão; Armazenamento insuficiente ou excessivo, especialmente em locais quentes, o que pode levar ao acúmulo de gases, pelas causas anteriores; Agitação demasiado vigorosa na tina do vidrado por vezes, devido a níveis de vidrado muito baixo; Intervalo demasiado longo entre a aplicação de camadas sucessivas de vidrado. Se as aplicações são controladas para se darem logo a seguir ao desaparecimento do brilho úmido da aplicação precedente, não há formação de bolhas; Decomposição e interação entre alguns componentes do vidrado e deste com o engobe ou suporte; Ar atmosférico que preenche os espaços do vidrado após secagem; Impossibilidade das bolhas formadas escaparem, devido à viscosidade elevada do vidrado; Espessura do vidrado demasiado elevada; Desgaseificação dos suportes porosos; O aumento da temperatura de queima diminui a tensão superficial, encorajando o crescimento de bolhas. O picado tipo poro (ou picado de linha) consiste num conjunto de pequenas depressões na superfície do vidrado, semelhantes às que seriam provocadas por um alfinete. Estas depressões são causadas por: A secagem do vidrado e/ou engobe não se dar uniformemente; Não uniformidade da temperatura de secagem do suporte; Má distribuição da água do spray; Diferentes pressões de prensagem e de granulometria ao longo da peça, o que origina densidades diferentes. Um outro tipo de picado consiste numa rugosidade semelhante ao aspecto de casca de ovo ou pele de laranja, o qual pode ocorrer devido ao uso de vidrados com viscosidade demasiado elevada à temperatura máxima de queima, o que inibe o seu desenvolvimento completo. O picado fino à superfície é devido ao excesso de fusibilidade ou sobremoagem do vidrado. No enrolamento aparecem zonas não vidradas ou com espessura insuficiente, as quais se podem atribuir a um mau espalhamento do vidrado, o que pode resultar do estado do próprio suporte: Portador de eflorescências de sais solúveis que hajam migrado durante a secagem; Sujo com poeiras, óleo ou marcas de dedos, o que não permite a adesão de uma espessura de vidrado uniforme. Devido à textura superficial que o processo de conformação determina; 28 Cerâmica Industrial, 7 (2) Março/Abril, 2002

ou de fatores que influenciam a retração dos vidrados: Vidrado demasiado plástico (retrai mais que o suporte); Presença de materiais como o óxido de zinco caracterizado por uma ampla retração na fase de secagem Excesso de vidrado pode causar levantamento; Moagem excessiva, perda de coesão interna do vidrado devido à degradação de aditivos de moagem tipo CMC, o que origina má ligação do vidrado; Um vidrado fundido com uma tensão superficial excessivamente alta não está em condições de cobrir a superfície do suporte e portanto, pode deixá-lo descoberto; Vidrados que permanecem em repouso várias horas ou dias freqüentemente enrolam. A alteração é química e vai ser apressada pelo calor e possivelmente pela ação bacteriológica. Neste tipo de material o tempo de estocagem deve ser inferior a 48/72 horas. A causa mais comum do fissuramento reside num valor de expansão térmica do vidrado superior ao do suporte (no resfriamento o vidrado contrai mais que o suporte, ficando submetido a forças de tração), o que origina pequenas fissuras perpendiculares à superfície do vidrado. Outras causas são: Camada de vidrado demasiado espessa; Camada intermediária mal conformada (reação entre pasta e vidrado deficiente); Resfriamento demasiado rápido, o que origina defeito tipo cabelo devido ao choque térmico. Para precaver esta situação deve-se utilizar uma curva de queima adequada. O fissuramento pode-se dar tardiamente (fendilhamento tardio), devido à expansão por umidade do suporte, a qual pode ocorrer em dias, semanas ou até anos após a produção. Esta expansão por umidade depende das características superficiais das fases presentes e de como evolui a energia das ditas superfícies ao produzir a adsorsão de água. Referências Bibliográficas 1. Teccnologia de la fabricación de azulejos, ed. Asociación de Tecnicos Ceramicos, Castellon, Espanha, ES438, 1990. 2. Biffi, G. La monocottura rapida porosa, Faenza Editrice, 1982. 3. Fonseca, A.T. Caracterização dilatométrica dos materiais cerâmicos, Jornadas Técnicas do Cencal, Caldas da Raínha, Portugal, 1990. 4. Parmelee, C.W. Ceramic Glazes, 3ª ed., Cahners Books Comp., Inc., Boston, 1973. 5. Taylor, J.R.; Bull, A.C. Ceramics Glaze Technology, Institute of Ceramics, Pergamon Press, 1986. 6. Oliveira, H.J.; Labrincha, J.A.; Carvalho, S. Ajuste das características de vidrados e engobes para revestimento de monoporosa, Keramica, v. 239, n. 1-2, p. 18, 2000. 7. Jouenne, C.A. Traité de Céramic et Materiaux Mineraux, Editions Septima, Paris, 1990. Cerâmica Industrial, 7 (2) Março/Abril, 2002 29