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- Marcela de Lacerda Prado
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1 Novo Esmalte Transparente Brilhante para Porcelanato Helder J. C. Oliveira a *, João António Labrincha b A versão colorida deste artigo pode ser baixada do site a IFH, Estúdio Cerâmico Lda, Aveiro, Portugal b Departamento de Engenharia de Materiais e Cerâmica, Universidade de Aveiro UA, Aveiro, Portugal * jal@ua.pt Resumo: O presente trabalho detalha o uso e aplicação, por via úmida, de engobe e esmalte transparente e brilhante, desenvolvido para pavimentos de porcelanato. Tem como motivação a redução de custos, uma vez que tem por base sempre o mesmo tipo de componentes (engobe e esmalte transparente aplicado à campana), mas garantindo as desejáveis características técnicas do produto final. Possibilita também a fácil obtenção de grande variabilidade estética (cor, textura, brilho, etc) e ajusta-se à tendência da indústria de pavimento e revestimento para produzir peças de alto brilho, em grandes formatos que, depois se podem cortar e retificar de acordo com as exigências comerciais. Procedeu-se à formulação e caracterização do engobe e esmalte transparente, sendo estes aplicados por cortina à campana, sobre um suporte cerâmico de pasta branca STD, existente no mercado. As peças foram cozidas à temperatura de C. Foi avaliada a resistência da camada ao manchamento, ao ataque químico e à abrasão, tendo sido avaliado também a dureza (MOHS). Conclui-se que este tipo de produtos produz superfícies muito brilhantes, sem exigir processo de polimento, mas que cumprem os requisitos exigidos nas normas atualmente em vigor. Palavras-chaves: esmalte, revestimentos cerâmicos, porcelanatos. 1. Introdução A necessidade de desenvolver produtos cerâmicos diferenciados e esteticamente apelativos tem realçado, nos últimos anos, a importância das etapas de acabamento superficial das peças de pavimento e revestimento esmaltadas. A procura de produtos em pavimento com alto brilho, principalmente marmorizados tipo, Crema Marfil, Calacatta, Carrara, Onix, Imperador, Alabastro, etc levou à procura e desenvolvimento de fritas de alta temperatura com características técnicas relevantes para se poderem utilizar em esmaltes transparentes brilhantes a aplicar em pavimento de porcelanato. Com o intuito de conferir maior variabilidade estética aos produtos, este tipo de aplicação a úmido e à campana, deu origem a superfícies esmaltadas brilhantes com boas propriedades técnicas. Atualmente as indústrias de pavimento e revestimento de porcelanato resolveram uma difícil questão técnica que era a de obterem esmaltes transparentes de alto brilho para porcelanato, sem necessidade de aplicar etapas de polimento e, em consequência, com redução de custos. Este tipo de técnica de aplicação permite utilizar sempre o mesmo tipo de engobe e esmalte de base em que, por simples alteração do tipo de desenho, se garante a obtenção de um vasto leque de produtos brilhantes, bastante diferenciados e de grande aceitação comercial. 2. Procedimento Tecnológico e Experimental Procedeu-se à formulação e moagem do engobe opaco, composto por frita (10% em massa) e restantes matérias-primas cruas. Em simultâneo, formulou-se um esmalte transparente compatível, composto por 80% de frita. A suspensão do esmalte exigiu o uso de aditivos: (i) ligante carboximetilceluloso, CMC de média viscosidade ( cps); (ii) defloculante, Tripolifosfato de Na, dosados nas respectivas quantidades que variam entre 0,0% e 0,4%. Em seguida foram ambos submetidos a processo de moagem: (i) o engobe continha 30% de água e foi moído até apresentar resíduo de 0,g a malha de 4 micron; (ii) o esmalte transparente continha 3% de água e o resíduo na mesma malha de 10g. Ambos os materiais foram depois peneirados numa tela de #120 mesh. Nos dois casos, recomenda-se um tempo de repouso de 24 h, sob agitação lenta, antes da sua utilização na esmaltação. Desta forma, garante-se a eliminação do ar existente nas suspensões, introduzido durante a moagem. A temperatura recomendável para a aplicação do esmalte sobre o suporte varia entre 80/9 C e tanto o engobe como o esmalte transparente foram aplicados à campana. As suspensões possuíam valores de densidade entre 1800/1820 g/l, sendo a viscosidade (avaliada com taça Ford de 4mm) de 40/4 no caso do engobe, e de 0/ para o esmalte. Antes da aplicação do engobe, e a uma distância de 1.0/1,m, a peça foi umidificada com água, na forma finamente pulverizada, usando uma pistola de tipo air less. O ajuste das características reológicas do engobe e esmalte transparente, é fundamental para garantir a correta cobertura e aderência ao suporte, à temperatura de contato. No engobe, evita-se o surgimento de defeitos de aplicação do tipo picado alfinete e no esmalte transparente, assegura-se uma rápida secagem da camada aplicada, sendo esta homogênea e livre do aparecimento de covas na superfície logo após a aplicação. Tratando-se de uma camada transparente, torna-se fundamental garantir a aplicação dos materiais num ambiente de grande limpeza, a fim de se evitar a deposição de sujidade sobre a superfície a aplicar. Aconselha-se, por isso, a cobertura da linha de esmaltação em chapa de fibra de vidro revestida por dentro a esponja e plástico por fora, após aplicação do esmalte transparente e enquanto este está úmido. A Figura 1 representa uma linha de esmaltação com a aplicação do esmalte transparente brilhante à campana. As peças esmaltadas são depois decoradas por serigrafia, em Rotocolor ou serigrafia digital por Inkjet, sendo aplicada no final uma serigrafia de protecção, mate transparente, de efeito caspita, por rolo ou com máquina plana. A temperatura de queima das peças esmaltadas variou entre 1180/119 C, num ciclo com 60/70 minutos de duração, de acordo com o formato das peças (30 60 ou cm). 22
2 Caracterizaram-se engobe e esmalte transparente a usar em suspensão em termos de distribuição granulométrica (medida por interferência laser Coulter). Determinou-se a composição química do engobe e esmalte transparente, por fluorescência de raios X (FRX), e por EDS, acoplado ao microscópio electrônico de varredura (SEM). As fases cristalinas presentes nas amostras foram avaliadas por difração de raios X (DRX) e avaliou-se também o seu comportamento térmico (dilatometria, ATD/TG). As peças foram analisadas visualmente e avaliou-se a resistência da camada ao manchamento, por contato com iodo, azeite, pasta vermelha de Fe, pasta verde rica em Cr e ainda com marcador azul E Seguiu-se o procedimento preconizado na norma ISO A resistência ao ataque químico foi avaliada limpando a superfície da peça de teste com um solvente (acetona) e secando completamente antes de iniciar o teste. Os agentes corrosivos utilizados foram ácido clorídrico (concentrações de 3% e 18% v/v), ácido cítrico, ácido láctico e hidróxido de potássio (nas concentrações de 30g/L e 100g/L). Colocaram-se os pedaços das peças de prova em contato com as substâncias de teste durante 24h (ácido cítrico e láctico) e 96h (ácido clorídrico e hidróxido de potássio), seguindo a norma ISO A resistência à abrasão (PEI Porcelain Enamel Institute) foi medida de acordo com a norma ISO 104-7, enquanto a dureza foi avaliada pela escala de MOHS. 3. Resultados 3.1. Caracterização dos materiais Figura 1. Aplicação à campana do esmalte transparente brilhante. As Figuras 2 e 3 mostram as distribuições granulométricas do engobe e esmalte transparente de diferentes composições, moídas em condições distintas para posterior aplicação à campana. Para o engobe o tamanho médio de partícula para aplicação em suspensão, é de 3,8 micron e 90% (em volume) das partículas têm tamanho inferior a 13 micron. O esmalte possui partículas de tamanho médio igual a 12 micron, sendo 90% (em volume) das mesmas inferiores a 44 micron. É possível observar que a distribuição granulométrica do engobe é mais estreita do que o esmalte e que o seu tamanho de partícula é superior ao do engobe, o que está de acordo com o pretendido nas condições de moagem, nomeadamente com os valores relativos do resíduo final. Figura 2. Distribuição granulométrica do engobe de porcelânico ENG 027. Figura 3. Distribuição granulométrica do esmalte transparente VTG
3 A Tabela 1 mostra a composição química do engobe e esmalte transparente, expressa em % ponderal dos óxidos, obtida por fluorescência de raios X (FRX). Foi feita a observação em microscópio electrônico de varredura (SEM) do engobe e esmalte transparente. Nas Figuras 4 e visualizam-se partículas de ambos os materiais e confirma-se o seu tamanho relativo. Os materiais revelam microestrutura heterogênea e a presença de diferentes fases constituintes, sendo as cristalinas avaliadas por DRX. As Figuras 6 e 7 mostram espectros de EDS, das amostras visualizadas em SEM, com indicação dos elementos químicos presentes e da respectiva concentração (ver Tabelas 2 e 3). Além dos elementos comuns esperados nestes componentes (ex. Si, Al, Na, etc.), destaca-se a presença de Zn no esmalte transparente e de Zr no engobe. Na forma silicatada ou como óxido, o zinco é fundamental para garantir elevado brilho. O zircônio está presente como silicato e é usado como opacificante e a sua concentração relativa é superior no engobe. A Figura 8 apresenta a difração de raios X medida sobre o engobe. É possível observar a existência de fases cristalinas respeitantes aos elementos crus (feldspato, quartzo, caulino) e do aditivo opacificante (silicato de zircônio micronizado), usado para mascarar a cor e aspecto do suporte cerâmico, evitando assim diferenças de tonalidade ao longo da produção. A difração de raios X do esmalte (Figura 9) confirmou o seu carácter amorfo. A ausência de picos confirma a ausência de compostos cristalinos, sendo este resultado coerente com o tipo de esmalte em causa, constituído majoritariamente por frita. A inexistência de fases cristalinas em quantidade expressiva (picos pouco intensos/definidos) garante as desejáveis características estéticas, em termos de elevada transparência e brilho. O zinco, detectado por EDS, existe em concentração relativamente modesta e forma compostos parcialmente amorfos e, por isso, não detectáveis por DRX. A Figura 10 mostra registros de ATD/TG do engobe. A perda de massa registrada até aos 300 C (aproximadamente 0,%), resulta da liberação de água adsorvida (como esperado, reduzida porque o material foi previamente seco) e da possível decomposição de aditivos orgânicos usados na preparação do material. Apesar de ter expressão reduzida, registra-se um pico exotérmico correspondente. Entre cerca de 40 e 600 C registra-se nova (e mais expressiva 2,%) perda de massa, associada à liberação da água de cristalização dos minerais argilosos presentes na formulação. Esta reação tem caráter endotérmico do uso de caulin e argila como agentes suspensores do engobe. O ligeiro pico endotérmico registado por volta de 70 C confirma a presença de quartzo na composição do material, pois resulta da transformação alotrópica entre os polimorfos α e β. Acima de 600 C não se registra qualquer outro fenômeno reativo, o que confirma a estabilidade térmica do material. Não se registrou o comportamento térmico do esmalte, pelo facto de ser essencialmente constituído por frita (inerte). A presença de Figura 4. Micrografia de uma amostra de engobe porcelânico ENG 027. Figura. Micrografia de uma amostra de esmalte transparente VTG 028. Tabela 1. Composição química do engobe e esmalte transparente, obtida por fluorescência de raios X (FRX). (%) ponderal Óxidos Engobe ENG 027 SiO2 Al2O3 CaO MgO Na2O K 2O ZrO2 ZnO TiO2 Fe2O Esmalte Transparente VTG Figura 6. Análise elementar EDS do engobe porcelânico ENG 027 medida sobre a área da Figura 4. 24
4 Figura 7. Análise elementar EDS do esmalte porcelânico VTG 028 medida sobre a área da Figura. Tabela 2. Concentração elementar do engobe porcelânico ENG 027 medida sobre a área da Figura 4. Spectrum: ENG027_c.spx Element Series unn. C norm. C Atom. C Error (3 Sigma) [wt.%] [wt.%] [at.%] [wt.%] Carbon K-series Oxygen K-series Sodium K-series Aluminium K-series Silicon K-series Potassium K-series Calcium K-series Zirconium L-series Total: Tabela 3. Concentração elementar do esmalte porcelânico VTG 028 medida sobre a área da Figura. Spectrum: VTG 028_b.spx Element Series unn. C norm. C Atom. C Error (3 Sigma) [wt.%] [wt.%] [at.%] [wt.%] Carbon K-series Oxygen K-series Sodium K-series Aluminium K-series Silicon K-series Potassium K-series Calcium K-series Zirconium L-series Magnesium K-series Zinc K-series Total:
5 Figura 8. Difratograma de raios X do engobe porcelânico ENG 027; abreviaturas: F (Feldspato Na), C (Caulino), Q (Quartzo) e Zr (Zircão). Figura 9. Difratograma de raios X do esmalte transparente VTG 028. Figura 10. Análise térmica diferencial (ATD) e gravimétrica (TG) do engobe ENG
6 agentes suspensores do tipo caulin e de quartzo livre originaria os eventos já acima descritos em relação ao engobe. Os coeficientes de expansão térmica dos componentes, avaliados durante o arrefecimento (0-400ºC), são de e de C 1 (erro de +/- 2), respectivamente para o engobe ENG 027 e esmalte VTG 028. Esta gradação garante o desejável acordo expansivo entre os materiais, que evita o fendilhamento da camada de esmalte Caracterização tecnológica do produto A superfície da esmaltada da peça então caracterizada. A remoção das manchas na zona de ataque é conseguida colocando a peça sob água corrente e aquecida ( C) durante minutos, para remover todos os elementos utilizados no teste excetuando o marcador. A remoção do marcador é feita com álcool após riscar. Os resultados mostram-se na Tabela 4 e o produto possui classificação (máxima) em todos os casos. A Tabela mostra os resultados de resistência ao ataque químico. A superfície das peças apresentou elevada resistência ao ataque químico, garantindo a classificação A perante todos os agentes utilizados. A classificação GLA-GHA é a que indica maior resistência ao ataque químico pela norma ISO , que pressupõe a não detecção de qualquer degradação, visível, na superfície da peça, após ser submetida ao contacto com os diferentes agentes agressivos. O teste de resistência à abrasão (PEI), efetuado de acordo com a norma ISO 104-7, foi realizado sobre as peças com acabamento serigráfico de proteção, do tipo caspita. O resultado deste teste é apresentado na Tabela 6, assim como o valor da dureza de MOHS. A Figura 11 mostra imagens de algumas peças agora desenvolvidas e caracterizadas, com o formato cm. Podem ser visualizados efeitos decorativos que simulam mármores brilhantes, de diferentes tipos, sendo visível o bom desenvolvimento e contraste cromático, elevada definição gráfica que garante uma grande aproximação à realidade, o que faz com que este tipo de produto possua grande interesse e aceitação comercial. Tabela 4. Resultados do teste de manchamento, efetuado em conformidade com a norma ISO Agentes agressivos Azeite Iodo Vermelho Fe Verde Cr Marcador azul E3200 Classe Tabela. Resultados do teste de ataque químico, efetuado em conformidade com a norma ISO Teste Ácido clorídrico (3% -18% v/v) Ácido cítrico Ácido láctico Hidróxido de potássio (30g/L-100g/L) Classe GLA-GHA GLA GHA GLA-GHA Tabela 6. Teste de abrasão (PEI) segundo a norma ISO e dureza (MOHS). Abrasão (PEI) Dureza (MOHS) IV -6 Figura 11. Peças brilhantes simulando diferentes tipos de mármores, em formato
7 4. Conclusões Com este novo desenvolvimento, pretende-se dar a conhecer as características técnicas finais de um produto brilhante para porcelanato, de grande atualidade e aceitação comercial, produzido através da aplicação de um engobe e esmalte transparente, pelo processo normal de campana, em linha de esmaltação. Este aspecto adequa-se à tendência atual das indústrias de pavimento e revestimento em produzir peças brilhantes em pasta branca de porcelanato. As peças desenvolvidas apresentam valores de resistência à abrasão elevados (classe PEI = IV), o que permite a sua utilização em áreas de tráfego considerável. Apresentam ainda elevada resistência ao manchamento (classe ) devido ao caracter vítreo da superfície, resultante das características do tipo de esmalte utilizado. Possuem também elevada resistência ao ataque químico, sendo classificadas como GLA-GHA. Por estas razões, pode concluir-se que as superfícies brilhantes obtidas, através da utilização deste tipo de esmalte transparente brilhante, cumprem os requisitos exigidos pelas normas em vigor. Referências 1. OLIVEIRA, H. J. C.; LABRINCHA, J. A. Uso de granilhas em suspensão para grés porcelânico. Kéramica, n. 307, p. 6-12, OLIVEIRA, H. J. C.; LABRINCHA, J. A. Decoração de grés porcelânico em prensa por dupla carga. Kéramica, n. 321, p. 6-12, OLIVEIRA, H. J. C. Dados técnicos. Aveiro: IFH Estudio Cerâmico Lda, SACMI. Tecnologia cerámica aplicada. Castellon de la Plana: Faenza Editrice Ibérica, v. 1.. EUROPEAN NETWORK OF NATIONAL CERAMIC LABORATO- RIES CERLabs. Ceramic Tiles the ISO International Standards for Ceramic Tiles. CERLabs, EUROPEAN COMMITTEE FOR STANDARDIZATION. Ceramic tiles: definitions, classification, characteristics and marking.the European Standard,
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