Alterações Ambientais dos Recursos Hídricos e das Dunas na Orla da Lagoa dos Quadros Litoral Norte do RS

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Transcrição:

ISSN 1678-5975 Dezembro - 2012 V. 10 nº 1 35-46 Porto Alegre Alterações Ambientais dos Recursos Hídricos e das Dunas na Orla da Lagoa dos Quadros Litoral Norte do RS Righi, E. 1 ; Gruber, N.L.S. 1,2 & Basso, L.A. 1,2 1 Programa de Pós-Graduação em Geografia UFRGS; Av. Bento Gonçalves, 9500. Prédio 43113 - Sala 203. CEP: 91501-900 - Porto Alegre/RS (leiarighi@yahoo.com.br). 2 Departamento de Geografia IGEO/UFRGS; (nelson.gruber@ufrgs.br); (lbasso@terra.com.br). RESUMO O estudo objetiva fazer uma análise das alterações ambientais das áreas de preservação permanente dos recursos hídricos e dos remanescentes isolados de dunas ao longo da orla da Lagoa dos Quadros (em torno de 1 km) no litoral Norte do Rio Grande do Sul. A metodologia foi estruturada em quatro etapas de trabalho: I - levantamento bibliográfico e base cartográfica; II - geração dos mapas temáticos; III - enquadramento da legislação ambiental, e; IV - análise multitemporal. O relevo próximo às margens da Lagoa dos Quadros possui baixa variabilidade altimétrica e baixa declividade, excetuando a noroeste, contribuindo para um uso do solo intenso tanto para agricultura e pecuária, tanto e quanto para condomínios e loteamentos. Essa conjugação de fatores fez com que as áreas de preservação permanente dos recursos hídricos fossem ocupadas e degradadas. A análise multitemporal de fotografias aéreas (1964) e de imagens de satélite (2010) e as informações levantadas em trabalhos de campo realizados evidenciaram a depletação dos remanescentes isolados de dunas à intensa antropização ao longo da faixa costeira até a área de estudo. Com essas análises, pretendemos contribuir com um trabalho técnico para os municípios, pois serve de base para estudos posteriores que venham a indicar ações pontuais para cada caso. ABSTRACT The study aims to analyze the environmental changes of permanent preservation areas of water resources and the remaining isolates dunes along the shore of Lagoon of the Quadros (around 1 km) on the northern coast of Rio Grande do Sul. The methodology was structured in four stages of work: I - bibliographic and cartographic base II - generation of thematic maps; III - a framework of environmental legislation, and IV - multitemporal analysis. The terrain near the shores of Lagoon of the Quadros altimetry has low variability and low slope, except northwest, contributing to an intensive use of land for both agriculture and livestock for both condominiums and subdivisions. This combination of factors caused the permanent preservation of water resources were occupied and degraded. The multitemporal analysis of aerial photographs (1964) and satellite images (2010) and the information gathered from field work revealed the abrasion isolated remnants of dunes due to the actions of intense human disturbance along the coastline to the area of study. With these analyzes, we intend to contribute technical work for municipalities, it serves as a basis for further studies that may indicate specific actions for each case. Palavras-chave: Alterações Ambientais, Área de Preservação Permanente, Lagoa dos Quadros. Keywords: Environmental Changes, Permanent Preservation Area, Lagoon of the Quadros.

36 Alterações Ambientais dos Recursos Hídricos e das Dunas na Orla da Lagoa dos Quadros Litoral Norte do RS INTRODUÇÃO A estrutura fundiária da ocupação inicial na faixa litorânea do Rio Grande do Sul, composta por extensas faixas de terra, da margem das lagoas até a beira do mar, deixou suas marcas na estrutura urbana. Os processos de parcelamento destas grandes glebas não obedeceram somente ao critério de expansão do centro da cidade, mas criaram também núcleos distantes e rarefeitos, principalmente nos municípios de Xangri-lá, Capão da Canoa, Terra de Areia e Maquiné. A partir da década de 1970, a abertura da BR-290 (Free-Way), ligando Porto Alegre a Osório, permitiu o intenso desenvolvimento da atividade de veraneio na região do litoral. Contudo, foi à abertura da Estrada do Mar (RS- 389), na década de 1990, que alterou a lógica de crescimento das áreas urbanas naquela região. Pode-se considerar que a região do Litoral Norte apresentou nas últimas cinco décadas transformações relevantes em sua dinâmica territorial determinada principalmente pelos seguintes vetores: a urbanização, a concentração de investimentos públicos e privados, os processos emancipatórios e o turismo sazonal (Strohaecker & Toldo Jr., 2007). Ampliando-se assim, consideravelmente a utilização dos recursos naturais e comprometendo a sua qualidade ambiental. Portanto, a crescente expansão urbana no entorno da Lagoa dos Quadros por empreendimentos imobiliários está descaracterizando a paisagem, fazendo com que áreas de preservação permanente (APPs) dos recursos hídricos e as áreas de dunas fiquem vulneráveis a ação antrópica. Segundo Tomazelli et al. (2008), o processo de urbanização no litoral Norte do Rio Grande do Sul tem sido responsável pela extinção de áreas frágeis e de dunas principalmente de forma direta com a ocupação direta desses espaços. Assim, o objetivo deste estudo é analisar as alterações ambientais ao longo de 1 km da margem da Lagoa dos Quadros em relação aos remanescentes isolados de dunas e as áreas de preservação permanente dos recursos hídricos. LOCALIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO O litoral norte do Rio Grande do Sul é formado por um conjunto de lagoas interligadas por pequenos canais até a sua ligação com o mar através do rio Tramandaí. A Lagoa dos Quadros é a maior deste sistema (Fig. 1) com volume da ordem de 374 hectômetros. Ao norte é ligada pelo rio Quirinos a lagoa de Itapeva, e ao sul liga-se a um sistema de lagoas: Pinguela, Palmital e Malvas pelo rio João Pedro (SEMA/DRH, 2004). O ambiente costeiro do Rio Grande do Sul faz parte de um sistema tipo Laguna-Barreira que, a partir do sistema deposicional de leques aluviais que se desenvolveu no contato com as terras altas, evoluiu para leste através da coalescência lateral de quatro sistemas deposicionais desse tipo (sistemas 1 a 4), cada um registrando um pico de transgressão seguido de um evento regressivo. Cada sistema é composto por três subsistemas geneticamente relacionados, o lagunar, o de barreira e o de canal de ligação (inlet). O subsistema lagunar se desenvolve no espaço de retrobarreira, região topograficamente baixa, situada entre a barreira e os terrenos interiorizados mais antigos, o subsistema barreira envolve as praias arenosas e o campo de dunas eólicas adjacentes e o de canal a unidade que faz o contato do subsistema lagunar com o mar (Villwock & Tomazelli, 1995). A característica do clima na região é representativo da planície litorânea do Brasil Meridional, com uma variedade de clima subtropical do tipo Cfa, segundo o sistema de classificação de Köppen (1948). A precipitação no litoral norte é bem distribuída, sendo controlada no inverno pela passagem mais frequente de sistemas frontais. Já no verão a precipitação passa a ser mais controlada por processos convectivos, mais intensos, porém de curta duração (Hasenack & Ferraro, 1989). A sequência de vegetação está associada a fatores ambientais como vento, solo e pluviosidade, ficando evidenciada uma vegetação herbácea na porção leste, nas proximidades do mar e vegetação arbórea no extremo oeste (SEMA, 2003).

Righi et al. 37 Figura 1. Mapa de Localização e Situação Geográfica da Lagoa dos Quadros. MATERIAIS E MÉTODOS - Etapa I Visando a melhor compreensão dos procedimentos metodológicos adotados neste trabalho, optou-se por uma estruturação em quatro etapas de trabalho. Nesta etapa, foi realizado o levantamento bibliográfico referente ao tema em questão e de informações básicas já produzidas sobre o lugar de interesse da pesquisa.

38 Alterações Ambientais dos Recursos Hídricos e das Dunas na Orla da Lagoa dos Quadros Litoral Norte do RS O material cartográfico utilizado consiste na base cartográfica da Diretoria do Serviço Geográfico do Exército na escala 1:50.000. O sistema de coordenadas adotado para a base cartográfica foi a UTM, empregando-se o Datum Sirgas 2000, conforme orientação oficial do IBGE para o sistema geodésico brasileiro. Os recortes de imagens QuickBird derivadas do software Google Earth foram obtidas do Google Earth-Pro do ano de 2010, possuindo alta resolução espacial. A imagem Shuttle Radar Topography Mission (SRTM) foi adquirida gratuitamente através do LABGEO UFRGS (Weber et al., 2004). A fotografia aérea de 1964 (escala aproximada 1:40.000 para a escala de obtenção foi realizado um cálculo para estimativa da mesma a partir da medida das dimensões dos objetos real e gráfico) foi disponibilizada pela Fundação Estadual de Planejamento Metropolitano e Regional (METROPLAN). O trabalho de campo foi realizado para mapear as dunas encontradas, através do sistema de posicionamento global, popularmente conhecido por GPS, bem como fazer sua caracterização em relação à sua forma e grau de degradação. Nos trabalhos de campo foram verificados os usos do solo. - Etapa II Na segunda etapa, foi organizado o banco de dados e confeccionados os mapas temáticos (localização, altimetria e declividade), utilizando o software ArcGIS 10 desenvolvido pela ESRI (Environmental Systems Research Institute). O mapa de localização foi elaborado utilizando as cartas da DSG, em escala 1:50.000. No processamento das imagens SRTM, a resolução espacial do pixel de 90 m foi transformada para uma resolução de 30 m e a partir dessa nova imagem foi obtido o modelo digital de elevação do terreno. Deste modelo de elevação foram gerados os mapas de altitude e o mapa de declividade, sendo delimitadas cinco classes para o mapa de declividade. A classe inferior a 8% são as áreas planas, localizadas normalmente junto aos cursos d água. - Etapa III A etapa três consistiu no mapeamento das áreas de preservação permanente dos recursos hídricos e dos remanescentes isolados de dunas, conforme seu enquadramento da legislação ambiental nos níveis federal, estadual e municipal. Os mapas foram elaborados no software AutoCAD 2010, com auxílio das imagens QuickBird e dos trabalhos de campo. Neste momento foi possível espacializar e finalizar a caracterização da cobertura e uso do solo nestas áreas. A diferenciação dos objetos e a extração das informações para o mapeamento da cobertura e uso do solo foram realizadas por meio da utilização de métodos que se apoiaram no processo de extração de informações pelo método da interpretação visual, conforme descrito em Novo (2008). O mapeamento foi dividido em seis classes (dunas, campos, mata arbórea nativa e exótica, agricultura, pequenas propriedades rurais e área urbana). Em relação à legislação, verifica-se que a Lei nº 12.727/2012, Capítulo II e Seção I, que institui o Código Florestal, considera de preservação permanente a vegetação situada ao redor das lagoas, lagos ou reservatórios d'água naturais ou artificiais. Ademais, no artigo 3 da Resolução do CONAMA nº 303/2002 são apresentados os valores para lagos e lagoas naturais, conforme apresentado a seguir: Art.2 : Para efeitos desta resolução, é adotada a seguinte definição: I - Nível mais alto: nível alcançado por ocasião da cheia sazonal do curso d água perene ou intermitente. Art. 3 Constitui Área de Preservação Permanente a área situada: III - ao redor de lagos e lagoas naturais, em faixa com metragem mínima de: a) Trinta metros, para os que estejam situados em áreas urbanas consolidadas. b) Cem metros, para as que estejam em áreas rurais, exceto os corpos d água com até vinte hectares de superfície, cuja faixa marginal será de cinquenta metros. (CONAMA, 2002). Com relação a este tema, na área em questão existe uma lagoa natural, a Lagoa do Quadros, portanto deve ser preservada uma faixa de 100 m da margem da lagoa. Além do Código Florestal Federal e da citada resolução, a Lei complementar n 003 de 16 de outubro de 2004 institui o Plano Diretor de

Righi et al. 39 Desenvolvimento Urbano Ambiental (PPDUA) do município de Capão da Canoa. O PPDUA considera como Área de Proteção Ambiental (APA) as áreas de preservação ambiental entre elas a margem da Lagoa dos Quadros, numa faixa de 50 m da média das cheias. A referida lei considera Área de Uso Especial (AUE) as áreas de Interesse Paisagístico, Histórico, Cultural e Turístico, entre elas a margem da Lagoa dos Quadros numa faixa de 150 m da média das cheias. Somente foi utilizado o Plano Diretor de Capão da Canoa, pois apesar dos demais municípios também possuírem plano diretor, não apresentam disposições a respeito dessa lei. Assim, o nível adotado para definição de 100 m de APP e 150 m de Interesse Paisagístico, Histórico, Cultural e Turístico foi o nível máximo conforme SEMA/DRH (2004). Portanto, o nível médio da Lagoa dos Quadros é de 0,67 m e o máximo nível atingido durante o período com medições (07/1988 a 12/1993) foi de 1,71 m (SEMA/DRH, 2004). O artigo 3 da Resolução do CONAMA nº 004 de 18 de setembro de 1985 define como sendo reserva ecológica as florestas e demais formas de vegetação natural situadas nas dunas, como vegetação fixadora. O artigo 3 da Resolução do CONAMA nº 303 de 20 de março de 2002 constitui Área de Preservação Permanente a área de duna. A Lei complementar n 003 de 16 de outubro de 2004 institui o PPDUA e consideram como área de proteção ambiental (APA) as áreas de preservação ambiental, entre elas as dunas. - Etapa IV Na etapa quatro foi realizada a análise multitemporal entre as imagens do Google Earth do ano de 2010 e a fotografia aérea de 1964 para verificar o deslocamento da ocupação urbana sobre as dunas. Esse mapeamento foi realizado através da análise visual da imagem e da fotografia. Para melhor entendimento foram sobrepostos os dois limites das áreas urbanas no mapa elaborado com a fotografia aérea. RESULTADOS E DISCUSSÕES O relevo próximo às margens da Lagoa dos Quadros possui baixa variabilidade altimétrica (Fig. 2A) e baixa declividade (Fig. 2B), excetuando a noroeste, contribuindo assim para um uso do solo intenso tanto para agricultura e pecuária, tanto para condomínios e loteamentos (Fig. 05). A B Figura 2. A) Mapa Altimétrico da área de entorno da Lagoa dos Quadros; B) Mapa de Declividade da área de entorno da Lagoa dos Quadros. Conforme a Figura 3, podemos observar que alguns usos em torno da Lagoa dos Quadros, chegam até as margens, situação que pode gerar inúmeros impactos ambientais. No Quadro 1 temos a quantificação das classes observadas. As classes que representam conflitos de uso

40 Alterações Ambientais dos Recursos Hídricos e das Dunas na Orla da Lagoa dos Quadros Litoral Norte do RS perfazem 80% do total da área de preservação permanente, salientando que as APPs possuem 528 ha de área total. Figura 3. Mapa da cobertura e uso do solo da área de estudo no entorno da Lagoa dos Quadros.

Righi et al. 41 Quadro 1. Quantificação das classes de cobertura e uso do solo. Classes Áreas (ha) Dunas 64,3 Campo 2.269,6 Mata arbórea nativa e exótica 1.056,0 Agricultura 703,4 Área com pequenas propriedades rurais 313,5 Área urbana 204,1 Essa intensa ocupação deve levar em consideração as áreas de preservação ambiental da Lagoa dos Quadros (Fig. 4), que é de 100 m ao entorno da Lagoa, e, particularmente para o município de Capão da Canoa que possui no Plano Diretor, também uma lei que deverá ser obedecido à distância de 150 m (os demais municípios também possuem Plano Diretor, mas não apresentam disposições a respeito dessa lei), salvo utilização voltada para lazer e contemplações, mantendo o caráter não urbanizável preconizado pelo Plano Diretor. Dentro do limite das APPs demarcadas verificou-se um intenso uso da agricultura irrigada, da pecuária e de vegetação exótica. Nos municípios de Maquiné e Terra de Areia é predominante usos de pequenas propriedades rurais. Nos setores leste e sudeste (municípios de Capão da Canoa e Xangri-lá) verifica-se a grande proliferação de loteamento e condomínios. A noroeste localiza-se a BR-101, que está em alguns locais dentro da APP de 100m da Lagoa, pois foi construída antes do Código Florestal Brasileiro Lei nº 4771/65, modificado em 2012 pela Lei nº 12.727. Na área de estudo, o papel das rodovias regionais foi determinante para o crescimento e para a formação da atual aglomeração urbana. A presença de vias antigas, como a BR-101 (RS-59 na década de 1950), por não acessarem diretamente a área urbana dos municípios, não foram indutores suficientes para o processo intenso do crescimento urbano que se verifica atualmente. Foram às estradas interpraias que forneceram a espinha dorsal do crescimento urbano dos municípios. Funcionando inicialmente como única via de ligação dos núcleos urbanos, elas possibilitaram o surgimento de novos balneários que se constituíram em novos núcleos. Com a abertura da Estrada do Mar RS-389 (década de 1990) verificou-se a proliferação de atividades comerciais às suas margens, (funcionou como um divisor de lagoas e praia, e polarizador da urbanização) para logo em seguida se notar a tendência de aproximação dos núcleos urbanos em sua direção, através, principalmente, das vias de acesso, o que parece acontecer agora, é que a própria rodovia está induzindo o desenvolvimento e o crescimento residencial, através da implantação de condomínios residenciais horizontais fechados em sua extensão (Strohaecker, 2007). Os condomínios fechados estão em plena fase de crescimento e demanda. Os indivíduos da classe alta, devido a um processo de segregação em relação às formas de ocupação da faixa litorânea, das altas densidades ali implantadas e da falta de segurança como fenômeno generalizado, deslocam-se em direção às faixas interiores da região, em empreendimentos de acesso controlado (Strohaecker, 2007). Esta forma de ocupação entra em conflito com a estrutura urbana existente, pois impõe descontinuidade de vias e diminui o grau de acessibilidade dentro da malha urbana. Além disto, o condomínio fechado ainda é um ponto de divergência, já que, devido à inexistência jurídica de tal instrumento, nada mais é do que um loteamento residencial com acesso restrito, onde os espaços públicos são privatizados. Entre os anos de 2000 e 2005, dois novos empreendimentos imobiliários se destacaram em Capão da Canoa: o loteamento Velas da Marina (Fig. 5), localizado nas margens da Lagoa dos Quadros e adjacente a outro empreendimento do mesmo grupo, o parque aquático Marina Park, da empresa Marina Park Empreendimentos Imobiliários Ltda.; e o condomínio horizontal Condado de Capão, do grupo Capão Novo, implantado nas margens da Estrada do Mar (Gruber, 2010).

42 Alterações Ambientais dos Recursos Hídricos e das Dunas na Orla da Lagoa dos Quadros Litoral Norte do RS Figura 4. Mapa de Restrições Ambientais áreas de preservação permanente dos recursos hídricos- no entorno da Lagoa dos Quadros.

Righi et al. 43 O Plano Diretor de Capão da Canoa incentiva à ocupação residencial da região às margens da Lagoa dos Quadros, além disso, permite o uso com comércio e serviços e atividades ligadas à recreação e turismo. Contudo, esses empreendimentos mantém a situação de inacessibilidade à orla lacustre da população em geral, sendo somente permitida a entrada dos moradores do loteamento. Figura 6. Pequena propriedade rural as margens da Lagoa dos Quadros no município de Maquiné. Figura 5. Faixa próxima à Lagoa dos Quadros (Loteamento Velas da Marina). A estruturação do espaço urbano dos municípios de Capão da Canoa e Xangri-lá se caracterizam tanto pela segregação socioeconômica quanto pela segregação espacial, indicando uma estruturação sócioespacial em faixas, tendo como valores paisagísticos principais o mar e a praia e, mais recentemente, a Lagoa dos Quadros. Nos municípios de Maquiné e Terra de Areia existe uma paisagem heterogênea, com usos rurais ou semi-rurais (Strohaecker (2007), também denominados rururbano, isto é, um entremeio de sítios e chácaras com loteamentos e edificações), indo até as margens da lagoa que são áreas de preservação (Fig. 6). Nos trabalhos de campo, verificou-se que a orla da Lagoa dos Quadros possui dezessete pontos identificados como dunas que estão sendo gradativamente destruídas pela ação eólica e antrópica (Fig. 7). A erosão por ação eólica ocorre nas bordas onde o sentido do vento é predominante. O maior número de dunas isoladas encontradas foi nos municípios de Capão da Canoa (nove) e Maquiné (sete), em Terra de Areia foi encontrado somente uma e em Xangrilá não foram observados pontos isolados de dunas. Observou-se que as dunas possuem morfologia suave e arredondada, cuja porção topograficamente mais elevada é caracterizada pela presença de depósitos eólicos que estão sendo gradativamente depletados (Fig. 8). O trabalho de campo permitiu verificar que na área estudada as barreiras litorâneas, correspondentes ao sistema Laguna-Barreira III, estão totalmente depletadas. Da mesma forma, os depósitos eólicos associados, correspondendo a pequenas elevações arenosas que antigamente ocorriam sobre as barreiras litorâneas (Villwock et al., 1986), também estão sendo rapidamente destruídos. A área estudada é constituída por uma interdigitação de depósitos arenosos, relacionados a diferentes processos. A quase totalidade da área caracteriza uma planície arenosa úmida, com lençol freático posicionado em baixas profundidades na maior parte do ano, pois o solo apresentava-se encharcado. Geneticamente, a área é caracterizada por extensos lençóis de areias (sands sheets) ao leste, descritos por Hesp et al. (2007) como transgressive dunefields, que formam grandes áreas planas. As areias são transportadas pelo vento a partir da barreira litorânea atual, posicionada para leste-nordeste da área, bem como, a partir dos depósitos lagunares existentes ao longo da margem da Lagoa dos Quadros, ao oeste.

44 Alterações Ambientais dos Recursos Hídricos e das Dunas na Orla da Lagoa dos Quadros Litoral Norte do RS Figura 7. Mapa de Restrições Ambientais Dunas - no entorno da Lagoa dos Quadros. Nas proximidades da Lagoa dos Quadros também existem depósitos arenosos, localizados em cotas mais elevadas, constituídos por areias finas, quartzosas, que sugerem retrabalhamento eólico. Associado às cotas mais baixas, no interior desses depósitos arenosos, se observa a existência de areias finas a médias, com matriz argilosa, relacionadas aos processos lagunares,

Righi et al. 45 conforme verificado nos trabalhos de campo e na Figura 9. as elevações individuais arenosas presentes na área, estão em intenso processo de depletação, devido a modificações na geometria e espessura das áreas elevadas, causadas pelo avanço da expansão urbana no sentido norte e oeste. Como resultado desse condicionamento morfodinâmico o modelamento atual dos depósitos arenosos tendem ao aplainamento da superfície, e, em alguns casos, atingem o nível base de erosão, que corresponde ao elevamento do lençol freático. Figura 8. Duna depletada pela ação humana. Figura 9. Nas cotas superiores se observa uma pequena duna, parcialmente revegetada. Na foto aérea de 1964 (Fig. 10) observa-se que a ocupação urbana estava concentrada na porção sul, na área onde atualmente estão situados os municípios de Xangri-lá e Capão da Canoa, e ainda não havia sido construída a Estrada do Mar (RS-389), nem desenvolvida a praia de Capão Novo. Podemos verificar que as dunas isoladas presentes na área, bem como as do entorno, começavam a apresentar superfícies de deflação, evidenciando a atuação de processos eólicos e/ou hídricos, caracterizando a erosão, de acordo com a terminologia empregada por Carter et al. (1990). Vê-se, também, que a mancha urbana se desenvolve ao longo da faixa costeira e aumenta no sentido norte. A relação entre a imagem do Google Earth do ano de 2010 (Fig. 4) e a fotografia aérea datada de 1964 (Fig. 10), permite verificar que Figura 10. Fotografia Aérea de 1964. CONSIDERAÇÕES FINAIS Os mapeamentos permitiram verificar os conflitos existentes entre as áreas de preservação permanente e os usos intensos com urbanização, agricultura, pequenas propriedades e plantio de indivíduos arbóreos exóticos. Quando se conjuga morfologias planas e erosivas, baixa cobertura vegetal à forte pressão de uso verificase a ocupação de áreas de preservação com forte degradação ambiental. A análise multitemporal e os trabalhos de campo realizados evidenciaram a depletação dos remanescentes isolados de dunas devido à intensa antropização ao longo da faixa costeira até a área de estudo. Salienta-se que os órgãos públicos, instituições, agentes imobiliários e a população em geral, conscientizem-se da degradação que

46 Alterações Ambientais dos Recursos Hídricos e das Dunas na Orla da Lagoa dos Quadros Litoral Norte do RS está ocorrendo e gerenciem de forma que essas áreas sejam conservadas, tomando as seguintes medidas: não ocupação das matas nativas em bom estado de conservação existente, o que resulta na manutenção de áreas exigido por lei; Manutenção de área de preservação permanente de 100 e 150 m a partir da cota de inundação da lagoa dos quadros; e, Preservação de remanescente isolados/dunas. Com essas análises, pretendemos contribuir com um trabalho técnico para os municípios, pois serve de base para estudos posteriores que venham a indicar ações pontuais para cada caso. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BRASIL 2002. Resolução do CONAMA nº 303/2002. Dispõe no artigo 3 os valores das áreas de preservação permanente para lagos e lagoas naturais. Diário Oficial da República Federativa do Brasil], Brasília. BRASIL 2012. Lei nº 12.727. Dispõe no Capítulo II das áreas de preservação permanente. Seção I da delimitação das áreas de preservação permanente. Diário Oficial [da República Federativa do Brasil], Brasília. CARTER, R.W.G.; HESP, P.A. & NORDSTROM, K.F. 1990. Erosional landsforms in coastal dunes. In: NORDSTROM, K.F.; PSUTY, N.P. & CARTER, R.W. (eds.). Coastal Dunes: Form and Process. Chichester: Wiley, Chapter 11, p. 217-250. GRUBER, N.L.S. 2010. Diagnóstico para o Plano de Manejo das Dunas Frontais do Município de Capão da Canoa. Porto Alegre: CECO UFRGS. 98 p. HASENACK, H. & FERRARO, L.W. 1989. Considerações sobre o Clima da Região de Tramandaí, RS. Pesquisas, 22(1): 71-88. HESP, P.A.; DILLENBURG, S.R.; BARBOZA, E.G.; CLEROT, L.C.P.; TOMAZELLI, L.J. & AYUP-ZOUAIN, R.N. 2007. Morphology of the Itapeva to Tramandai transgressive dunefield barrier system and mid- to late Holocene sea level change. Earth Surface Processes and Landforms, 32, 407-414. KÖPPEN, W. 1948. Climatologia: con un estudio de los climas de la tierra. Fondo de Cultura Econômica. México. 479p. NOVO, E.M.L.M. 2008. Sensoriamento Remoto: princípios e aplicações. São Paulo: Edgard Blucher. PLANO DIRETOR 2004. Secretaria de Administração. Lei complementar Nº 003, de 16 de outubro. Fl.-01. Institui o Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano Ambiental do Município de Capão da Canoa. SEMA/DRH. 2004. 1 a Etapa do Plano da Bacia Hidrográfica do Rio Tramandaí; Relatório Temático A.2. Diagnóstico das Disponibilidades Hídricas. Porto Alegre. SEMA, Secretaria Estadual do Meio Ambiente. 2003. Relatório da Bacia do Rio Tramandaí. SEMA, DRH. STROHAECKER, T.M. 2007. A Urbanização no Litoral Norte do Estado do Rio Grande do Sul: contribuição para a gestão urbana ambiental do município de Capão da Canoa. Tese (Doutorado). Porto Alegre, Programa de Pós-Graduação em Geociências, UFRGS. 2 Vol. Ilust., 398p. <http://hdl.handle.net/10183/10086>. STROHAECKER, T.M. & TOLDO Jr. E.E. 2007. O litoral norte do Rio Grande do Sul como um pólo de sustentabilidade ambiental do Brasil meridional. Revista Electrónica de Geografía y Ciencias Sociales. Vol. XI, núm. 245 (39). TOMAZELLI, L.J.; DILLENBURG, S.R.; BARBOZA, E.G. & ROSA, M.L.C.C. 2008. Geomorfologia e Potencial de Preservação dos Campos de Dunas Transgressivos de Cidreira e Itapeva, litoral Norte do Rio Grande do Sul, Brasil. Pesquisas em Geociências, 35 (2): 47-55. VILWOCK, J.A. & TOMAZELLI, L.J. 1995. Centro de estudos de geologia costeira e oceânica. Notas técnicas, 8, p.1-45. VILLWOCK, J.A.; TOMAZELLI, L.J.; LOSS, E.L.; DEHNHARDT, E.A.; HORN FILHO, N.O.; BACHI, F.A. & DEHNHARDT, B.A. 1986. Geology of the Rio Grande do Sul Coastal Province. In: RABASSA, J. (ed.). Quaternary of South America and Antartic Peninsula, 4, p. 79-97. WEBER, E.; HASENACK, H. & FERREIRA, C.J.S. 2004. Adaptação do modelo digital de elevação do SRTM para o sistema de referência oficial brasileiro e recorte por unidade da federação. Porto Alegre, UFRGS Centro de Ecologia. Disponível em: <http://www.ecologia.ufrgs.br/labgeo>. Acesso: 20 de Março de 2012.