HISTÓRIA CA ECEME 2012 Maj Alexsandro



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HISTÓRIA CA ECEME 2012 Maj Alexsandro UD II - COLONIZAÇÃO: A PARTILHA DAS AMÉRICAS 1. ESTRUTURAS DO COLONIALISMO As estruturas colonialistas e as relações estabelecidas entre as metrópoles europeias e suas colônias americanas modificaram-se com o passar do tempo e de acordo com os acontecimentos vividos nas diferentes nações colonizadoras. As relações metrópole-colônia também foram influenciadas pelas relações desenvolvidas entre as potências (sejam coloniais ou não). A distinção dos projetos coloniais de cada potência definia de que forma as metrópoles iriam se relacionar com suas colônias e seus habitantes locais (nesse caso indígenas). As regras vigentes para o mercantilismo foram norteadoras para as atividades coloniais. A busca era por metais preciosos. O metalismo consistia em fator determinante para consolidação do Estado-nação nascente. O monopólio comercial ou no caso especifico colonial era chamado de exclusivo comercial. Este adotou formas diversas de acordo com o período e consistia na seguinte lógica: para enriquecer o país era necessário não permitir que os demais também o fizessem, garantindo o maior número de moedas em circulação dentro da nação. Na maior parte dos casos, a colonização se deu através das grandes propriedades, utilizando-se de mão-de-obra escrava. A relação foi desigual de dominação, atendendo aos interesses mercantilistas. A estrutura do sistema colonialista buscava uma relação bastante clara: a colônia deveria fornecer matéria prima à metrópole e, ainda, gerar um mercado consumidor, colaborando assim para uma balança comercial favorável. Por sua vez, os povos colonizados tiveram que aceitar a autoridade do Estado colonizador, pacificamente ou não. Nesse sentido, os países católicos possuíam um forte aliado: a Igreja, que tratava de impor efetivamente os preceitos da mesma e sucessivamente os do Estado. Porém, até mesmo a relação Estado Igreja foi abalada em diversos momentos do processo de colonização. Analisar a influência do Mercantilismo e do surgimento do Estado-Nação na Europa, no Sistema Colonial Português no Brasil, nos campos político e militar, destacando os aspectos principais gerados no Desenvolvimento da colônia brasileira (1500-1640). Definição de Mercantilismo. Protecionismo Alfandegário. Sistema Colonial Ferramenta do Mercantilismo. Monopólio Comercial da Metrópole com a Colônia. O Absolutismo e o Estado-Nação. A Expansão Marítima e Tordesilhas. Campo Político Estrutura do Sistema Colonial Português. O Exclusivo Comercial. As Feitorias. As Capitanias Hereditárias. O Governo Geral. A Política Colonial. Campo Militar Defesa da Costa. Feitorias e Fortins. As Capitanias Hereditárias. O Governo Geral e a Estrutura de Defesa. A União Ibérica. As Invasões Estrangeiras.

A Expansão além de Tordesilhas. A Defesa efetiva da Colônia. O Sistema Colonial. Feitorias, Capitanias e Governo Geral. Guerra aos Franceses e Holandeses. Sentimento Nativista. 2. A AMÉRICA PORTUGUESA Foram os portugueses os pioneiros nas grandes navegações e na colonização da América. Foram, ainda, os primeiros a transferir recursos humanos e financeiros da Europa para uma colônia, com o intuito de torná-la rentável. Inicialmente, o atrativo encontrado pelos lusos foi a comercialização do pau-brasil, que utilizou o escambo (troca sem uso de dinheiro) e a mão-de-obra indígena. Para isso foram instaladas na costa brasileira as feitorias, lugares que funcionavam como depósito da madeira que seria enviada parte para Portugal e parte negociada pelos participantes do consórcio de exploração. A madeira não despertou o interesse somente de portugueses. Franceses também vieram atrás do pau-brasil, pois toda a Europa importava esta matéria-prima do Oriente. Portugueses e franceses se associaram às diferentes tribos indígenas, que já possuíam relações conflituosas entre si. Os franceses se valeram desses conflitos para estabelecer concorrência com Portugal. Em função do novo cenário, Portugal sentiu a necessidade de povoar as terras brasileiras, para que fosse garantida sua posse: (...) O Brasil foi arrendado por três anos a um consorcio de comerciantes de Lisboa, liderado pelo cristão-novo Fernão de Loronha ou Noronha, que recebeu o monopólio comercial, obrigando-se em troca, ao que parece, a enviar seis navios a cada ano para explorar trezentas léguas (cerca de 2 mil quilômetros) da costa e construir uma feitoria(...). (FAUSTO, 2003, p.) Foi no ano de 1530 que se deu a efetiva ocupação da colônia, por meio da implantação do sistema de capitanias hereditárias, já utilizado pelos portugueses com êxito nas ilhas da Madeira e dos Açores. Nesse momento, o Brasil foi dividido em quatorze ou quinze capitanias hereditárias (a própria historiografia é divergente quanto ao número exato). Essas faixas de terras foram concedidas a donatários que, por sua vez, poderiam distribuir terras aos colonos - as chamadas sesmarias. Primeiramente foram doadas as terras e tudo que nelas contivesse; num segundo momento os donatários foram obrigados a pagar impostos. Os donatários tinham o dever de povoar e desenvolver o território, o que necessitava de investimento. Alguns donatários sequer chegaram ao Brasil para tomar posse da terra, enquanto outros não tiveram sucesso. A resistência indígena colaborou em muito para esse insucesso. O destaque ficou por conta das capitanias de Pernambuco e de São Vicente das poucas que obtiveram desenvolvimento econômico. Já numa terceira fase da colonização, foi criado o Governo-Geral. As pretensões da Coroa portuguesa pouco tinham mudado: o povoamento era ainda seu objetivo principal. Agora, porém, centralizando a política e a administração das capitanias que passavam para as mãos reais. Foram criados cargos administrativos nos setores: jurídico, de defesa e de finanças, superiores aos donatários. A capitania da Bahia foi a primeira capitania real escolhida para ser a sede do Governo-Geral. Tomé de Souza tornou-se o primeiro Governador-Geral. Esse foi o momento da chegada dos jesuítas ao território brasileiro e o início da catequização do indígena, projeto que teve continuidade nos outros governos. Jesuítas e o próprio Governo-Geral entraram em conflito direto com os donatários, em função da mão-de-obra indígena utilizada no período. A aceitação do governo por parte dos donatários não foi total. Alguns donatários questionaram as modificações, alegando que vinham de encontro aos acordos anteriormente firmados (capitanias hereditárias). Uma colônia de exploração, sem comercialização interna e sem comunicação eficaz entre as capitanias. Este é o retrato do Brasil no século XVI, o que dificultou a efetiva centralização de

poder, que na prática estava nas mãos dos componentes das Câmaras Municipais (com três cargos de vereador ocupados pela elite local). Na tentativa de sanar as dificuldades encontradas para centralizar o poder nas mãos da coroa, a colônia foi dividida em dois governos-gerais: o do Norte e o do Sul. Tal medida também não trouxe resultado, havendo o retorno ao modelo anterior. Questões primordiais da colonização e da colônia propriamente dita, como a escravidão, o empreendimento canavieiro e o ciclo do ouro serão abordadas em outras unidades didáticas. O sistema colonial português implementado no Brasil com o sistema colonial português implementado na África, entre os séculos XVI e XIX. Expansão Ultramarina de Portugal no século XV e XVI. Feitorias e entrepostos portugueses na África. América Portuguesa. O Império Colonial Português entre os séculos XVI e XIX. Sistema Colonial Português no Brasil Estabelecimento da Colonização: implantação de feitorias e o empreendimento da canade-açúcar no território da colônia para a produção de açúcar. Economia colonial baseada em produtos como o pau-brasil (século XVI), açúcar (séculos XVI e XVII) e ouro (século XVIII). Tráfico Negreiro: o Brasil era o principal mercado consumidor dos escravos vindo da África portuguesa. O uso da mão de obra escrava vinda da África na economia colonial, devido ao fracasso do uso da mão de obra indígena. Território: a grande expansão territorial do Brasil colonial através das Entradas e Bandeiras. Administração colonial: o Brasil dentro do Império Português com uma máquina políticoadministrativa centralizada, aperfeiçoada durante o ciclo do ouro no século XVIII. Sociedade colonial a diversificação da sociedade no Brasil colonial, em especial após o ciclo do ouro, com o surgimento de profissionais liberais como professores, artesãos, advogados e mercadores, dentre outros. O grande prestígio do Brasil dentro no Império Português: elevado a Principado em 1645, com alta mobilidade social devido a sua importância política e econômica, tornou-se sede do Império com a vinda da Família Real em 1808. A política de assimilação dos nativos das colônias do Império Português: o Brasil se tornou um destino para a imigração de muitos portugueses, que consideraram a terra uma extensão da sua pátria. As relações entre o Brasil colonial e a África Portuguesa, especialmente a influência dos colonos luso-brasileiros em Angola. O Brasil como foco do Império Colonial Português, teve implementada uma forte estrutura político-administrativa, com uma sociedade diversificada. 3. A AMÉRICA ESPANHOLA Foi com a exploração colonial que os espanhóis tornaram-se uma potência europeia no século XVI. A mineração foi a principal fonte de rentabilidade das colônias espanholas, que praticaram fortemente o exclusivo comercial, obrigando os colonos a negociarem somente com a metrópole. A organização política, administrativa e territorial da América Espanhola deu-se com a divisão de suas terras em vice-reinos e capitanias-gerais. Foram eles: vice-reinos do Rio da Prata, da Nova Granada, do Peru e da Nova Espanha; e as capitanias do Chile, de Cuba, da Florida, da Guatemala e da Venezuela. No caso espanhol, a Igreja Católica também procedeu a catequização do indígena e instalou tribunais de Inquisição em dois vice-reinos, o que não aconteceu com colônias portuguesas. Podemos entender a Igreja Católica como legitimadora do poder do Estado, atribuindo a ele, inclusive, o poder divino (não podemos esquecer que estávamos vivendo o absolutismo na Europa). As ações dos reis católicos Isabel I de Castela e Fernando II de Aragão,

fossem quais fossem, foram justificadas pela igreja. Porém, a busca de enriquecimento rápido do Estado espanhol se contrapunha ao discurso católico, o que posteriormente provocou desacordo entre ambos.

As primeiras tentativas de explorar as colônias foram por meio de troca com os habitantes locais. Num segundo momento, a escravidão chegou a ser praticada, porém não teve boa aceitação por parte dos espanhóis. Outras motivações políticas, religiosas e principalmente administrativas da colônia fizeram os reis suspenderem o tráfico de escravos e declarar que colonos americanos eram livres. O intuito da coroa era não permitir que colonos aqui instalados construíssem um grande poder local. Os regimes de trabalho aplicados a partir de então assumiram diversas formas e nomes, porém ficaram evidentes as semelhanças com o escravismo, que minimamente podemos chamar de trabalho compulsório. Como o objetivo espanhol era extrair o máximo de riqueza das terras americanas no menor tempo possível, continuavam a valer-se da escravidão, agora indígena, como fonte de mão-de-obra, muito parecida com a escravidão africana. Porém, aqui, esta forma de trabalho recebeu o nome de encomienda (que poderia ser de trabalho ou de tributos). Os colonos podiam explorar os indígenas (certo número por colono) e tinham por obrigação convertêlos ao cristianismo. Outra forma de trabalho foi o repartimiento, onde certo número de nativos era distribuído para os funcionários reais, com o intuito de aumentar seus rendimentos. Posteriormente, surgiu a mita, que consistia na rotatividade de trabalhadores, surgida quando foram descobertas as minas de metais preciosos em colônias espanholas (nas regiões atuais do México e do Peru). Nesse novo regime de trabalho, os nativos trabalhavam, ou pelo menos deveriam trabalhar uma semana e descansar duas. Na prática não era exatamente o que ocorria. Esse regime levou à morte grande número de indígenas. Ainda em função da descoberta de minas, outra forma de trabalho surgiria: o cuatequil, em principio muito semelhante à mita. Decorrente da falta de atenção ao setor, a América Espanhola sofreu diretamente com a crise de abastecimento de alimentos, fato que também ocorria na Europa. Os colonizadores preocupavam-se apenas com metais e deixaram o campo abandonado à própria sorte. O indígena era retirado da terra produtiva para trabalhar nos regimes forçados destinados ao enriquecimento do Estado, o que colaborou para o agravamento do problema, associado ao crescente número de espanhóis que para região migravam. Posteriormente, os mineradores visualizaram na agricultura um negócio rentável e a ela se voltaram. Analisar o modelo de Colonização na América Espanhola, nos campos político e econômico, e os reflexos deste modelo nos processos de independência das Colônias Espanholas na América. No século XV o ápice da crise do feudalismo, a ascensão da burguesia e a centralização do Estado como solução da crise econômica. No final do século XV e início do século XVI a expansão Ultramarina financiada pelo estado e pelo capital privado. A formação do capitalismo tendo como prática o mercantilismo e o colonialismo. As colônias de Exploração e de Povoamento. a. Político do século XVI ao XIX A divisão política da América Espanhola proporcionada pela Coroa Espanhola: Vicereinados; audiências; capitanias gerais e os cabildos. A elite política e os antagonismos entre espanhóis nascidos na Europa ( Chapetone ) e os nascidos na América (Criollos). O Domínio dos espanhóis nascidos na Espanha na estrutura do poder colonial. A influência do cabildo ( criollos com maior poder econômico da localidade) e o surgimento das lideranças locais. A exclusão do povo na política interna da colônia. A Influência da Igreja nas resoluções do poder político da colônia. O Isolamento da colônia em função das regras da política do pacto colonial. Os antagonismos entre chapetones e criollos provocando o surgimento de uma elite política, de pouca afinidade com a metrópole, contribuindo, posteriormente, para o processo de independência.

b. Econômico do século XVI ao XIX As formas de trabalho: repartimiento ; encomienda e mita. A questão da mão-de-obra indígena. Sistema de exploração da colônia baseada na mineração. Economia baseada no metalismo. A Crise no abastecimento de alimentos. A concentração das terras das colônias e o surgimento das haciendas e da aristocracia rural. Ausência de trocas econômicas entre os Vice-reinos e as Capitanias Gerais. Exclusividade comercial entre a metrópole e a colônia. A Casa de Contratação. O Conselho das Índias. O surgimento da aristocracia rural, que contribui no processo de emancipação política das colônias. Desgaste das relações comerciais entre a metrópole e a colônia em função do pacto colonial, que favoreceu o processo de independência. Os antagonismos na política da colônia e a consequente influência no processo de independência. A extenuada relação política e econômica da metrópole com as suas colônias, como causa no processo de independência. O surgimento de uma forte aristocracia rural com tendências separatistas. UD III - BRASIL COLÔNIA (1530-1820) 6. REBELIÕES NATIVISTAS No final do século XVII, o Brasil começou a entrar numa fase de profundas transformações. Reinóis, nativos e escravos amalgamavam-se nas duras tarefas de conquistar a terra, domesticar o gentio e, sobretudo, expulsar invasores. Formava-se lentamente a argamassa do povo brasileiro, provocando movimentos sediciosos ainda inconsistentes e de fundo nitidamente econômico, uma reação contra o fiscalismo exagerado. A amplitude territorial e a heterogeneidade da população não permitiram a presença de movimentos amplos e sim regionais. (FROTA, 2000:205) 6.1. A REVOLTA DE BECKMAN (1684) O Estado do Maranhão foi criado em 1621, englobando as capitanias do Ceará, do Maranhão e do Grão-Pará. Existia nessa região uma constante perseguição aos índios para o trabalho na lavoura açucareira, já que os senhores encontravam dificuldades para conseguir escravos negros, desde a expulsão dos holandeses de Pernambuco. Os jesuítas, liderados pelo Pe. Antônio Vieira, reagiram em defesa dos índios que trabalhavam na colheita, dominada pela ordem religiosa, de drogas do sertão. Como a exploração de escravos indígenas não trazia lucro para Portugal, que se beneficiava muito do trafego negreiro, a metrópole acabou apoiando a reação dos jesuítas que despertaram o ódio nos senhores exasperados pela falta de escravos em suas lavouras. Liderados pelos irmãos Beckman, senhores de engenho da área organizaram-se numa revolta contra a companhia de comercio da região (responsável pelo comércio de escravos negros) e contra os jesuítas, que acabaram expulsos. Mas, mesmo assim, a escravização indígena acabou proibida. A grande migração de pessoas para as áreas de garimpo era uma preocupação constante da Coroa. Logo no início da atividade em Minas, a Câmara de São Paulo reivindicou, junto ao rei de Portugal, que somente os moradores da Vila de São Paulo (responsáveis pela descoberta das jazidas) tivessem a permissão para procurar ouro. Tratava-se, no entanto, de um pedido impossível, já que muitos se dirigiam à região, não só brasileiros (principalmente baianos) e portugueses, mas também de estrangeiros.

6.2. A GUERRA DOS EMBOABAS (1708-1709) Tal disputa se configurou num conflito civil localizado, que ficou conhecido como a Guerra dos Emboabas (1708-1709). De um lado paulistas, do outro, estrangeiros e baianos. Os paulistas não obtiveram a exclusividade pretendida, mas conseguiram a criação da Capitania de São Paulo e das Minas do Ouro, separada do Rio de Janeiro (1709), e a elevação da Vila de São Paulo à categoria de cidade (1711). Minas Gerais se tornou uma capitania separada somente no ano de 1720. 6.3. A GUERRA DOS MASCATES (1710-1711) Em Pernambuco, a rivalidade entre os decadentes agricultores da vila de Olinda e os progressistas comerciantes de Recife acabou explodindo em 1710. A dominação holandesa foi responsável por um grande desenvolvimento em Recife, que se tornou um movimentado porto. Mascate era como os ricos comerciantes portugueses de Recife eram denominados pela aristocracia de Olinda. Por solicitação popular, D. João V elevou Recife à categoria de vila em 19 de novembro de1709. A partir daí uma discordância a respeito da delimitação territorial entre as duas vilas acirrou a disputa. Um tiro disparado contra o governador, atingindo-o na perna, fez com que violentas medidas de repressão fossem tomadas contra os olindenses que, comandados pelo Capitão Pedro Ribeiro, acabaram cercando Recife, invadindo e demolindo o pelourinho (símbolo da transformação de Recife em vila). O governador fugiu para Salvador e os senhores de engenho de Olinda reunidos em assembleia decidiram acerca do futuro da região e sobre o substituto do governador. A tranquilidade durou sete meses, mas o conflito acabou retornando quando Recife foi cercada pelos comerciantes antes expulsos que se vingaram dos olindenses e retomaram o controle da região.

7. AS REVOLTAS COLONIAIS Aplacados os excessos das desavenças entre paulistas e emboabas, a região das minas passou pela administração eficiente de D. Braz Baltazar da Silveira; fundou vilas e ajustou uma fórmula de cobrança dos quintos. (FROTA, 2000:211). A cobrança dos quintos garantia à Coroa uma grande parte da produção de ouro da Colônia. Entretanto, existia uma altíssima taxa de sonegação do imposto. Circulava ouro em pó e em pepitas, que eram usados como moeda, facilitando a fuga da fiscalização. Por isso, a Metrópole resolveu criar, nas áreas das Minas, quatro casas de fundição (através da carta-régia de 19 de fevereiro de 1719), e proibir qualquer ouro não quintado de circular. Os habitantes, principalmente de Vila Rica (atual Ouro Preto, MG), não aceitaram as novas regras. A revolta, fundamentalmente um movimento econômico, no fim não conseguiu alcançar seu objetivo. A resistência contra a medida reguladora não se sustentou, mas conseguiu que fosse criada a Capitania Geral de Minas Gerais, separada da de São Paulo, em dezembro de 1720. As ideias que então sacudiram a França, produto de filósofos racionalistas, penetraram o Brasil trazidas por clérigos esclarecidos e por estudantes que haviam cursado as universidades europeias (...). A independência das Colônias Inglesas da América (1776) servia de exemplo pelo êxito alcançado (...). Formara-se em Vira Rica, sede da capitania, uma elite cultural (...) estes intelectuais se reuniam e discutiam a situação política. (FROTA, 213-215) Dentre essa elite cultural, referida por Frota, encontrava-se o Alferes Joaquim José da Silva Xavier, alcunhado de O Tiradentes. Ele participou do movimento que ficou conhecido como a Conjuração Mineira. Suas principais reivindicações foram: a separação política de Portugal; a instauração da república; a transferência da capital para o interior; a libertação dos escravos que aderissem ao movimento e a criação de uma universidade. A conspiração contra a administração colonial acabou revelada através de cartas-denúncias enviadas ao Visconde de Barbacena. Vários revoltosos foram presos, mas foi Tiradentes, após sete meses de prisão, que confessou ser o mentor do movimento. Cumpriu a sentença de pena de morte na forca em 21 de abril de 1789 e teve seu corpo esquartejado e exposto como exemplo, para desestimular novas insurgências. A conspiração não saiu do apertado círculo dos que a tramaram. Malograda, traduzia, contudo, uma atitude mental que principiava a amadurecer, de rebeldia nascente frente ao despotismo. Influiu no espírito político da época; a derrama deixou de ser aplicada e a Coroa aboliu o estanco do sal. (FROTA, 218) UD IV - O SÉCULO DAS LUZES E O SURGIMENTO DO MUNDO CONTEMPORÂNEO 1. A EUROPA NO SÉCULO XVIII: A CRISE DO ANTIGO REGIME E A CONSOLIDAÇÃO DA BURGUESIA Antigo Regime é a expressão utilizada para se referir ao modelo político, econômico e social praticado na Europa durante a Idade Moderna. O mercantilismo norteando as questões econômicas, o poder político nas mãos dos reis absolutistas e as questões sociais muito latentes como abordado na Unidade Didática I, compõem o que se convencionou, posteriormente, denominar de Antigo Regime. A duração temporal do Antigo Regime coincidiu com a Idade Moderna: do século XV ao XVIII, período marcado pela busca de acúmulo de capital realizado pelas nações. A crise do Antigo Regime esteve diretamente associada à burguesia emergente, que desempenhou papel primordial nos setores econômico e social. Quanto à política, não desfrutou de qualquer influência. A organização dos burgueses, fossem pequenos, médios ou grandes, ocorreu em toda Europa quase que simultaneamente. O intuito foi buscar igual relevância política na sociedade, transformar a política mercantilista que

não beneficiava o crescimento desses grupos. Para tanto, a política precisava ser alterada a fim de possibilitar maior lucro e negociações mais rentáveis aos burgueses. Na Idade Moderna, uma das grandes consequências da crise do Antigo Regime foi a Revolução Inglesa do século XVII, que eclodiu com o esgotamento do modelo político, econômico e social. Foi com a Revolução Puritana (primeira parte da Revolução Inglesa) no século XVII que a burguesia ascendeu ao poder na Inglaterra. A Revolução teve início com questionamento do aumento da carga tributária promovida pelo então rei Carlos I, sem a consulta de praxe ao Parlamento. Com isso, desencadeou-se a Guerra Civil Inglesa, entre os partidários do rei Carlos I e o Parlamento, liderado por Oliver Cromwell e apoiado pela burguesia. Começada em 1642, acaba com a condenação à morte de Carlos I em 1649. Antes da revolução, o poder do rei era absoluto e contestá-lo era um sacrilégio. Depois da revolução, o poder do rei se viu reduzido: o rei existe e reina, mas não governa; quem governa é o Primeiro-Ministro, através do Parlamento. Antes da Guerra civil, o Parlamento não era um órgão permanente da política inglesa, mas uma assembleia temporária e aconselhadora. O monarca inglês podia ordenar a sua dissolução. O Parlamento era composto por representantes da pequena nobreza e tinha o cargo de recolher os impostos e taxas do rei. O rei recebia os avisos do Parlamento por intermédio dos chamados Bill of Rights (declaração de direitos), mas o rei não tinha obrigação de segui-los. De grande influência nessa guerra, e na Revolução Puritana, foi Oliver Cromwell, líder calvinista que recebeu o título de Lorde Protetor da "Commonwealth" da Inglaterra, Escócia e Irlanda, que organizou e liderou o exército que venceu o Rei. Posteriormente, como ditador, procedeu da mesma forma, fechando o parlamento. O retorno à monarquia ocorreu após sua morte, em 1660, porém, com outra configuração, agora controlada pela burguesia, que buscou eliminar o Mercantilismo e implantar o Liberalismo Econômico. A crise no Antigo Regime foi consolidada com a Revolução Gloriosa. Foi um evento histórico que ocorreu no Reino Unido entre 1685 e 1689, na qual o rei Jaime II da dinastia Stuart (católico) foi removido do trono da Inglaterra, Escócia e País de Gales, substituído por sua filha, Maria II e pelo seu genro, o nobre holandês Guilherme, Príncipe de Orange. A Revolução Gloriosa foi um dos eventos mais importantes na longa evolução dos poderes do parlamento e da Coroa inglesa. Com a passagem no parlamento da Bill of Rights, foi tornado impossível o retorno à monarquia por um católico, e acabaram as tentativas de retorno ao absolutismo monárquico, ao circunscrever os poderes do monarca. O evento marcou a supremacia do parlamento sobre a coroa. O poder da burguesia foi confirmado na sociedade, na economia e na política inglesa do século XVII. Todos esses fatores compuseram o quadro benéfico criado para o pioneirismo inglês na Revolução Industrial do século seguinte. Na realidade, foi a Revolução Inglesa que criou, via Revolução Industrial, as condições para a instauração do modo de produção capitalista, e permitiu à marinha inglesa controlar os mercados mundiais. 2. ILUMINISMO: CRÍTICA AO ABSOLUTISMO O Iluminismo, Esclarecimento ou Ilustração teve seus primórdios no Renascimento, identificando a razão humana como a luz (daí o nome do movimento), a busca pela explicação racional dos fenômenos. Os filósofos iluministas, como ficaram conhecidos os pensadores do período, tiveram como alvo principal a monarquia absolutista. Combateram também o privilegio de classes e buscaram a liberdade religiosa, através de uma separação clara da Igreja do Estado, tornando-o laico. O Iluminismo era uma atitude geral de pensamento e de ação. Os iluministas admitiam que os seres humanos estavam em condição de tornar o mundo melhor, mediante introspecção, livre exercício das capacidades humanas e do engajamento político-social. A razão, o conhecimento e a cientificidade foram o caminho percorrido para sair das trevas, como chamaram o período anterior. Por isso, o século XVIII ficou conhecido como o século das luzes.

O movimento iluminista foi o marco efetivo da transição do feudalismo para o capitalismo. O movimento criticou severamente o Antigo Regime. A liberdade de expressão, de pensamento e da economia foram anseios que formataram, posteriormente, o Estado liberal. Um dos principais ideais iluministas foi o da igualdade entre os seres humanos, o que contrastava diretamente com o formato da sociedade da época, onde poucos detinham o privilégio, como aqueles desfrutados pelos nobres. Fato que ficou bastante evidente neste trecho de Arruda (2007): (...) Para eles, todos os seres humanos nascem iguais e são portadores de direitos naturais. As desigualdades teriam sido provocadas pelo próprio ser humano, no processo de formação da sociedade. Assim, para corrigir as desigualdades, torna-se necessário mudar a sociedade e garantir os direitos naturais do individuo, entre os a liberdade, a igualdades perante a lei(...). Dentre os expoentes iluministas destacaram-se: Montesquieu (1689-1755); Voltaire (16941778); Rousseau (1712-1778) e Diderot (1713-1784); e foi com o Barão de Montesquieu que a sociedade conheceu a proposta de divisão da organização do Estado em três poderes: o legislativo, o executivo e o judiciário, forma de organização praticada até os dias atuais. Sua ideia foi a divisão do poder, provocando um rompimento com sistema que estava em vigor na época: a centralização do poder nas mãos de uma pessoa (o rei). Cada filósofo ou economista em sua área de atuação teve seu papel relevante. Porém, alguns atingiram ampla notoriedade, como foi o caso de John Locke, considerado o pai do iluminismo. O empirista inglês foi o autor da teoria da tabula rasa, na qual o homem viria ao mundo sem nenhuma noção de saber, conhecimento ou qualquer outro elemento. Para ele, eram os homens todos iguais, tornando-se um produto de suas experiências e vivências. Tomou posição contraria ao absolutismo monárquico e foi o primeiro a pregar o liberalismo. Na atualidade, talvez um dos mais conhecidos seja Jean-Jacques Rousseau. O mais radical dos iluministas pode ser considerado o precursor do socialismo. Dos iluministas, o crítico mais feroz ao absolutismo acreditava que o poder era do povo e não do soberano, e que este seria apenas um funcionário do Estado a serviço da vontade da maioria. Era defensor ferrenho da república como sistema de governo. Rousseau atribuiu à propriedade privada a desigualdade entre as classes e, por isso, os socialistas e comunistas desenvolveram, posteriormente, uma ligação estreita com seus ideais. Outro importante expoente iluminista foi Diderot, que contou com a colaboração dos demais pensadores já citados para organizar a famosa Enciclopédia, com 28 volumes. O francês Denis Diderot, de inspiração racional e material, combatente feroz das explicações mágicas, organizou essa obra conjunto de estudos, que teve sua circulação relegada à clandestinidade, considerada pelo governo como promotora dos ideais iluministas. Mesmo nessas condições, a obra teve boa aceitação, considerando também o número mínimo de pessoas letradas no período. Por esta razão, os iluministas também são conhecidos como enciclopedistas. O também francês François-Marie Arouet, de pseudônimo Voltaire, tornou-se famoso pelas agitações que promovia. Crítico do absolutismo (serviu, porém, a diversos reis) e da igreja, acreditava que o conhecimento, a razão e a cientificidade eram o melhor caminho a ser trilhado pela sociedade. Paralelamente ao surgimento dos ideais filosóficos surgidos no Século das Luzes e seus expoentes, surgiram novos debates econômicos. Os economistas fisiocratas, como eram conhecidos aqueles que não concordavam com a política intervencionista desenvolvida pelo Estado (preceito do mercantilismo), pregavam a liberdade de comércio e da produção industrial, e acreditavam que a riqueza estava na agricultura. Em oposição às práticas econômicas do Estado e diferindo mais fortemente ainda que o grupo econômico dos fisiocratas, surgiu Adam Smith, considerado na contemporaneidade o expoente máximo do liberalismo econômico, doutrina abordada em sua obra: A riqueza das nações (1766), onde pregou que o trabalho livre, sem interferência do Estado, em setores da economia, seria a única saída para diminuir a desigualdade entre as condições sociais. Pregou que o mercado econômico ideal deveria ser norteado pela lei da oferta e procura. Os ideais iluministas foram amplamente difundidos na Europa e, decorrente disso, surgiu o despotismo esclarecido (ou iluminado), que seria a associação do iluminismo e do poder

monárquico. Os reis queriam colocar em prática o uso das novas ideias surgidas como uso da razão, a liberdade religiosa, o melhor acesso à educação e um menor intervencionismo na economia, sem deixar, porém, de centralizar o poder em suas mãos. Em linhas gerais podemos dizer que o iluminismo contribuiu para modernização do Estado em alguns setores, principalmente nos países mais jovens ou nos de economia mais atrasada. Ao contrário da justificativa anterior dos reis, os déspotas se justificavam no poder por serem detentores do saber, da razão. Vários foram os reinados que adotaram o despotismo esclarecido, como os do leste europeu (onde a burguesia era fraca); a Rússia de Catarina II onde as modificações foram muito poucas, como por exemplo, a liberdade de culto; a Prússia muito influenciada por Voltaire, onde, no governo de Frederico II, o ensino básico tornou-se obrigatório; a Áustria que, sob o governo de José II, pode ser considerado o país que promoveu as transformações mais significativas, como o fim da escravidão e a obrigatoriedade do serviço militar. Potências colônias como Portugal e Espanha também experimentaram o despotismo esclarecido. As ações dos reis foram muitas, menos no que diz respeito à economia. Os preceitos mercantilistas continuavam a vigorar. Os ideais iluministas também estiveram presentes na colônia brasileira. Os pensamentos de liberdade e igualdade foram premissas observadas nas revoltas coloniais como a de Vila Rica e a da Inconfidência Mineira, como vimos na Unidade Didática anterior de Brasil Colônia. Naquele momento os ideais iluministas transitaram em diversos países. A rejeição às tradições do Antigo Regime e seus demais preceitos abriu caminho para a Revolução Francesa, inspirou seus líderes e forneceu o lema principal da Revolução, muito conhecido em todo o mundo na atualidade: "Liberdade, igualdade e fraternidade". 3. REVOLUÇÃO INDUSTRIAL: AS GRANDES TRANSFORMAÇÕES SOCIOECOÔMICAS (SÉCULOS XVIII-XIX) Se analisarmos as principais revoluções da história da humanidade pelo viés econômico e social, podemos concluir que a Revolução Industrial trouxe as modificações mais estruturais para as finanças até hoje ocorridas. Foi na Inglaterra que se estabeleceu o capitalismo industrial, base econômica instituída pela Revolução Industrial, marco econômico da história mundial. A burguesia de maior influência na Europa do século XVIII, a inglesa, que alcançou posição de destaque depois da Revolução Inglesa (Revolução Puritana somada à Revolução Gloriosa), comandou essa transformação. O primeiro país a percorrer o caminho da industrialização desenvolveu o cenário necessário para o pioneirismo em revoluções burguesas. Após a Revolução Inglesa, o poder permaneceu nas mãos da gentry, que promoveu o efetivo cercamento das terras coletivas, beneficiando os grandes proprietários. As terras que couberam aos camponeses, os yeomen, não foram suficientes para a sobrevivência familiar, o que provocou grande êxodo rural. A vasta oferta de mão-de-obra disponível na Inglaterra, devido aos cercamentos de terras, provocou a migração dos camponeses para as cidades em busca de emprego. Porém, a substituição de homens por máquinas resultou na redução do número de trabalhadores necessários para indústria. Obviamente, se comparado ao necessário anteriormente, quando o trabalho era realizado artesanalmente, a redução foi mais expressiva. O capital excedente, que estava nas mãos da burguesia que se consolidava, foi destinado ao aumento da produtividade. Nesse caso, a produção artesanal, que terminava sendo feita em baixa escala, já não era mais suficiente para atender a procura de produtos. O crescimento populacional exigiu maior oferta, ponto onde a burguesia identificou, na industrialização, a chance de aumentar seus lucros. Além do mercado interno crescente, foi de grande relevância para os ingleses o controle dos mares em que esse mercado se desenvolveu. Essa supremacia marítima garantiu a conquista de espaços do além mar. Negociavam a matéria prima com as colônias (as colônias do norte e inclusive o Brasil), levavam a mesma para a Inglaterra, produziam a baixo custo e comercializavam os produtos novamente com as colônias - porém, já industrializados, o que

gerava grande lucro. Conseguiram assim criar um mercado consumidor externo, onde puderam comercializar produtos praticando preços inatingíveis por outras nações. O tráfico de escravos africanos - pratica de extrema relevância para acumulação da riqueza desenvolvida pelos ingleses, facilitou sua influência e poderio mundiais quando comparada a outras nações do período. Todos esses fatores associados aos demais antecedentes já apresentados forneceram a explicação suficiente para o pioneirismo inglês na Revolução Industrial. A primeira fase da Revolução Industrial (única que neste momento nos foi relevante) é datada de 1760-1850 e foi vivida apenas pela Inglaterra, que na época era chamada de oficina do mundo. Representou a passagem da manufatura para a maquinofatura. Neste sentido, um dos principais fatores determinantes para o pioneirismo ou sucesso experimentado pelos ingleses na Revolução Industrial, foi a existência de grandes reservas naturais de carvão, a energia que movimentava as máquinas a vapor. A produtividade aumentou quando o trabalho foi dividido. Cada trabalhador ficou responsável por uma parte da produção de determinado artigo, ou seja, ele se especializou em alguma parte produtiva e se alienou das demais. A consolidação da Revolução Industrial ocorreu quando a burguesia centralizou os meios de produção e apenas a força produtiva ficou por conta dos camponeses, agora proletariado ou operariado. Segundo Arruda (2007), a consolidação da Revolução Industrial teria se dado com a não detenção pelo operariado do saber total da produção. A alienação do trabalhador fabril contribuiu, e muito, para o sucesso da indústria. O surgimento das fábricas em substituição ao trabalho familiar, das ferramentas manuais por máquinas, gerou uma nova relação: burguesia industrial x proletariado, o próprio marco divisório representado pelo capital industrial no lugar do mercantil, foram fatores que promoveram um embate de classes bastante vigoroso, até mesmo mais latente do que aqueles vividos durante a Idade Moderna, tendo em vista sua larga escala. Mulheres e crianças foram utilizadas como força produtiva. Num dado momento os ideais revolucionários franceses penetraram na sociedade inglesa e construíram organizações, de caráter reivindicatório, com o intuito de amenizar e de regular os regimes trabalhistas. Com relação ao regime de trabalho, os operários das fábricas trabalhavam em torno de dezoito horas/dia, num ambiente inóspito. Trabalhadores e desempregados, em sua maioria os últimos, formaram grupos para lutar por melhores condições de trabalho, criando assim uma espécie de sindicato, embrião do que hoje conhecemos. Foi neste período que iniciou a instituição e o caos do desemprego, levando países a passarem por diversas crises em momentos históricos diferentes, em todo o mundo, todos sofrendo com a pouca oferta de emprego. 4. A INDEPENDÊNCIA DOS EUA Decorrente da crise do Antigo Regime e dos ideais iluministas, o continente americano experimentou sua primeira independência, marco na historia mundial e principalmente das Américas. A colonização inglesa na América do Norte estava divida da seguinte forma: as colônias do Norte, ou Nova Inglaterra (como também era chamada): Massachusetts, Nova Hampshire, Rhode Island e Connecticut; do Centro: Pensilvânia, Nova York, Nova Jersey e Delaware; e do Sul, ou Virgínia, Maryland, Carolina do Norte, Carolina do Sul e Geórgia, como podemos visualizar no mapa abaixo. Ao todo, o território estava ocupado por mais de 2 milhões de colonizadores. O crescimento colonial despertou especial interesse da metrópole e surgiram atritos, inclusive, fruto da Guerra dos Sete Anos (1756-1763), na Europa, onde ingleses se apoderaram das colônias francesas localizadas a oeste de suas colônias do norte, na América. Em função dos custos gerados pela guerra, os ingleses iniciaram as modificações na política praticadas na Nova Inglaterra. O aumento de taxas e impostos, associado ao controle militar que começava a se configurar e ao surgimento de novas cobranças (a Lei do Açúcar, do Selo, do Chá e as Leis Intoleráveis) foram decisivos para aumentar o descontentamento nas colônias.

Decorrente da nova postura assumida pela metrópole, ocorreu a reação colonial. De início as revoltas e ações ficaram por conta dos comerciantes que viram seus negócios diminuírem. Num segundo momento, quando as ações inglesas incidiram sobre os agricultores, não tardaram esses em unir-se aos primeiros. O momento nas colônias, principalmente nas do Norte, foi de contestação de todos os gêneros, fossem o do direito legislativo do Parlamento inglês, ou mesmo da Lei de Aquartelamento, a qual exigia dos colonos alojamento e transporte para as tropas inglesas quando enviadas à colônia, e que esses se recusavam a cumprir. Na verdade, a questão primordial era a própria rigidez que tinha atingido o pacto colonial. A metrópole vivia agora no capitalismo e não podia permitir o crescimento das colônias. Tinha que bloquear a concorrência que se estabeleceu entre o comércio colonial e o metropolitano. Foi nas colônias do Norte que houve a primeira ruptura com a Inglaterra. A tal autonomia de que desfrutavam essas colônias e as do Centro propiciaram um distanciamento das relações coloniais, devido ao modelo de produção que ali se desenvolveu. Esses colonos desenvolveram parcerias comerciais, visto que a metrópole, até então, não praticava na região o exclusivo comercial. Surgiram triangulações comerciais; os colonos compravam manufaturas, trocavam por escravos, negociavam mercadorias com outras colônias e, inclusive, com a própria Inglaterra, exportando sua produção, mesmo que familiar. Influenciados pelos ideais iluministas, a independência dos EUA é considerada o primeiro movimento emancipatório colonial, caracterizando a ascensão da burguesia já constituída no poder. Mesmo com as diferenças regionais (colônias do sul, centro e norte), a América do Norte uniu-se com único fim: a independência. Com o intuito de banir as Leis Intoleráveis, os colonos realizaram o Primeiro Congresso Continental da Filadélfia em 1775 (o segundo em 1776 - este último separatista), onde já contavam com a colaboração de Thomas Jefferson (autor da Declaração de Independência), então delegado eleito pela colônia da Virginia. Uma série de reivindicações foi encaminhada à coroa inglesa, e dentre elas, a solicitação de representação no Parlamento inglês. O não atendimento das solicitações coloniais por parte da metrópole fez eclodir de fato a luta armada, além do definitivo boicote aos produtos ingleses. Protestos e movimentos de independência estavam em toda parte, nesse momento. As colônias do sul se posicionaram pró-independência. O conflito foi inevitável. Os colonos, num primeiro momento, perderam algumas batalhas. A primeira vitória, na batalha de Saratoga, deulhes novas perspectivas, somada, é claro, à participação fundamental da França que, por sua vez, buscou apoio Espanhol. Primeiramente a França, seguida da Espanha, entraram na guerra e reconheceram a independência dos EUA. Tinham por objetivo enfraquecer a Inglaterra no cenário internacional, que na época era a potência absoluta. O apoio de nações constituídas foi decisivo para o sucesso da independência. França e Espanha também obtiveram benefícios locais com a independência dos EUA. Receberam territórios no cenário pós-independência. Foi, no dia 04 de julho de 1776, que as colônias inglesas na América declararam sua independência. Visivelmente, os preceitos utilizados por Jefferson foram, uma associação do liberalismo inglês com o iluminismo francês. Nela estão contidos os pensamentos que integraram o novo campo das ideias. Após cinco anos de conflito armado, a independência de fato ocorreu, particularmente, pelas nas mãos de George Washington. Os EUA, uma República, experimentou a teoria da divisão dos três poderes de Montesquieu. Somente dois anos mais tarde os ingleses assinaram o Tratado de Versalhes, onde reconheceram a independência das treze colônias americanas, agora EUA, a primeira colônia independente da América. A Constituição dos EUA já havia sido promulgada, imbuída de espírito republicano. A Constituição Americana perdura até os dias atuais, influenciando fortemente constituições de outros países, inclusive a brasileira. Justificar a expansão territorial, demográfica e econômica dos Estados Unidos da América, de sua independência (1776) até a ocupação da Costa Oeste (1848). As Treze Colônias. A influência do Iluminismo nas Treze Colônias.

A Guerra de Independência dos Estados Unidos da América (EUA). O Tratado de Paris (Versalhes) de 1783: fim da guerra, reconhecimento da independência e e ganhos que levaram o território dos EUA até o Rio Mississípi. A ideologia do Destino Manifesto : os Estados Unidos tinham o direito de se expandir, como povo eleito por Deus para governar o mundo. O Estatuto do Noroeste (1787): regras para a anexação de novos territórios aos EUA. As negociações com a França e a compra da Louisiana em 1803. As negociações com a Espanha e a compra da Flórida em 1819. O papel dos pioneiros : fazendeiros, caçadores e comerciantes de peles que avançam além do Mississípi e ocupavam os territórios, em busca de riquezas e terras para plantio. A ação dos pioneiros como base para ocupação e anexação dos territórios do Oeste pelos EUA. As guerras contra as populações nativas e as remoções de tais populações para outras áreas com fins de construção de ferrovias e fundação de vilas e cidades nas terras indígenas. O incentivo a imigração de brancos europeus para os EUA, e o sentimento de superioridade frente a indígenas, negros e latinoamericanos. A divisão econômica dos EUA: o Norte industrializado e urbano; o Sul rural e escravocrata; e o Oeste das pequenas propriedades agrícolas. Anexação do Texas: a República do Texas foi anexada pelos EUA em 1845, após uma guerra desta contra o México. A anexação do Território do Oregon (1846), após negociações com a Grã-Bretanha, que definiu a fronteira dos EUA com o Canadá. A Guerra Mexicano-Americana (1846-1848): os EUA bateram o México e conquistaram o Novo México e a Califórnia. A Corrida do Ouro: com o achado de ouro na Califórnia, mais de 300 mil pessoas se moveram para aquele território em busca de riquezas e oportunidades, gerando a ocupação da terra e fundação de cidades. 5. A REVOLUÇÃO FRANCESA A França, ao final do século XVIII, possuía uma organização social remanescente da Idade Média, uma monarquia absolutista e relações do tipo feudal. Mesmo assim não ficou imune aos ideais iluministas e à influência da Revolução Industrial Inglesa, que tomaram de assalto a Europa. A organização social francesa dividia os componentes da sociedade em três estados. O primeiro estado composto por clérigos (pequena porcentagem), o segundo pelos nobres (número também inexpressivo) e o terceiro estado, este composto pela maioria absoluta da população. Eram pertencentes a este último estado a burguesia, detentora dos recursos financeiros que sustentavam os demais estados. O recolhimento era efetuado por uma rede de impostos e taxas cada vez maior, necessários para manter os privilégios do clero e da nobreza. O embate entre a burguesia, que sustentava o estado francês (e seu aparato) e o sistema absolutista era acentuado. A burguesia responsável pela arrecadação financeira do estado reivindicou participação política e o fim dos privilégios mantidos pelo primeiro e segundo estados. O sistema vigente, o absolutista, não teve como ser conciliado com os anseios burgueses, cada vez mais latentes. Os fatores que se somaram para eclosão da Revolução foram diversos: condições naturais adversas, produtividade versus preço dos produtos, beneficiamento através de reduções alfandegárias a entrada de produtos industriais estrangeiros no país, não permitindo concorrência, visto a pequena indústria francesa comparada à inglesa. A burguesia não foi a única a ser atingida pela crise francesa. As classes populares também sentiram os efeitos da política praticada pela Nação: desemprego, fome, déficit decorrente do apoio francês à guerra de independência das treze colônias norte-americanas, em suma o Estado francês ficou falido e alguém precisou pagar a conta. A saída encontrada pelo primeiro e segundo estados foi aumentar a tributação sobre o terceiro estado. Este foi o momento da proclamação da Assembleia Nacional (que posteriormente

transformou-se em Assembleia Constituinte) pelo terceiro estado, com o apoio de alguns nobres e clérigos atingidos pelo iluminismo. A Constituição previu modificações estruturais na organização da sociedade, confisco de bens, abolição da servidão (porém, a escravidão colonial foi mantida), descentralização do poder e outras, nos mais diversos setores. Mas não havia como a monarquia permanecer no poder. A Revolução se alastrava com os camponeses fazendo parte do movimento. Quanto ao primeiro e segundo estados, o quadro ficou crítico: propriedades foram tomadas, bens confiscados e inclusive o próprio Palácio de Versalhes foi tomado, obrigando o então Rei Luís XVI a refugiar-se em Paris. O embate emanou de três setores que compunham a Revolução: os sans-cullotes (populares), os girondinos (alta burguesia) e os jacobinos (pequena e média burguesia). Os sanscullotes queriam a estabilização de preços dos alimentos e eram a maioria, enquanto os girondinos não queriam a ascensão dos populares e ainda apoiavam-se na monarquia e no Rei. Por sua vez, os jacobinos eram moderados e estavam entre os dois grupos anteriores. Os ideais revolucionários se espalharam pela Europa e outros Estados também experimentaram movimentos revolucionários. Ameaçados, os déspotas se uniram para realizar a contra-revolução. Foi nesse cenário social que se deu a invasão austro-prussiana, com apoio oculto de Luís XVI, na tentativa de retomar o controle e o poder do território francês. No entanto, os invasores foram fortemente combatidos e exterminados pelos populares. O poder ficou nas mãos dos jacobinos, para o temor da nobreza e de todos os contrários ao ideário revolucionário. Tribunais instaurados julgaram, condenaram e executaram todos aqueles considerados inimigos da Revolução. Cada vez mais ameaçados, os outros Estados europeus formaram a Primeira Coligação, novamente com o intuito de retomar a França das mãos dos revolucionários. As monarquias europeias ficaram em pânico. O Tribunal o qual todos temiam cometeu excessos e executou, inclusive, os apoiadores da Revolução, aumentando em muito a ruptura entre os grupos participantes. Os interesses comuns das distintas classes que compunham o terceiro estado começaram a entrar em conflitos. Inicialmente todos lutaram pelos mesmos ideais, mas a partir dessa ruptura os interesses se distanciaram. Esse foi um cenário de grandes transformações sociais na França. Essas transformações influenciaram e repercutiram na Europa. Os gêneros alimentícios foram tabelados, houve a criação de escolas e uma ampla reforma agrária. Nas Américas foi abolida a escravidão colonial francesa. Porém, as modificações não reduziram as condenações à morte de um número crescente de partidários da Revolução, o que resultou na perda de apoio das massas aos jacobinos. Com isso, houve o retorno da alta burguesia ao poder pelas mãos dos girondinos. A cada novo comando uma nova constituição era promulgada. Transformações retornaram o modelo anterior, e os populares perderam muito com isso, principalmente em função da liberação do preço dos alimentos. As colônias francesas também retrocederam e a escravidão foi reinstaurada. Observando o bom momento para as classes mais altas, nova tentativa de golpe ocorreu, para a restauração da monarquia, o que acabou viria a conduzir ao fim da Revolução. Os contrarevolucionários foram vencidos pelo General Napoleão Bonaparte, convidado, posteriormente, a fazer parte do governo. No ano de 1799, Bonaparte deu o golpe de Estado e autoproclamou-se imperador Napoleão I. A Revolução Francesa diferiu por sua intensidade e teve como marco inicial a tomada da Bastilha (local onde o Rei aprisionava os opositores) no ano de 1789. Por mais que efetivamente a Revolução tenha sido promovida por populares, foi sem dúvida de origem burguesa.

UD V - O SÉCULO XIX NAS AMÉRICAS 1. O PROCESSO DE INDEPENDÊNCIA NAS AMÉRICAS O processo de independência das colônias da América Latina pode ser melhor compreendido se abordado como parte da crise do Antigo Regime e do sistema colonial europeu. Alguns eventos históricos que vinham ocorrendo na Europa tiveram papel fundamental para a sucessão de fatos ocorridos nas colônias do Novo Mundo. Dentre eles podemos destacar: a Revolução Industrial Inglesa, o rompimento do equilíbrio político do velho continente devido às Guerras Napoleônicas, o próprio desenvolvimento interno das colônias e a difusão dos ideais iluministas, associados aos acontecimentos da Revolução Francesa de 1789. Os interesses econômicos ingleses na emancipação das colônias ibéricas nas Américas relacionavam-se, primeiramente, com o desenvolvimento da Revolução Industrial, tendo em vista que representou o início de uma profunda transformação no sistema político e econômico daquele país (o surgimento do capitalismo como sistema, o que se ampliaria mais tarde para o resto do mundo), que passou a enxergar as colônias da América hispânica e portuguesa como potenciais mercados consumidores para seus produtos industrializados. Para tanto, deveria apoiar o fim do sistema colonial ibérico e o exclusivismo comercial que impunham aos territórios dominados. Além desses fatores econômicos, a Inglaterra tinha também interesses políticos no apoio às emancipações, devido aos acontecimentos relacionados com as Guerras Napoleônicas (ver HIST/UD IV). No curso de sua guerra contra Napoleão, a Grã-Bretanha, perante a necessidade de responder ao Bloqueio Continental, desenvolveu uma política de expansão comercial dirigida para os mercados do Novo Mundo. Após 1815, ela avalia a estreiteza dos escoadouros europeus e choca-se com o protecionismo, ao qual corresponde a tarifa dos Estados Unidos; assim, a ilha mercantil sofre uma crise interna que a impele a arrancar ao Pacto Colonial ibérico a clientela de um imenso continente. Ao mesmo tempo, a marinha de Sua Majestade aproveita para exercer no Atlântico o direito de visita que os tratados de 1815 lhe outorgaram a fim de combater o tráfico. (CROUZET, 1996: 140). Além disso, com as Guerras Napoleônicas o rei da Espanha, Fernando VII, foi destronado e substituído por José Bonaparte, irmão mais velho de Napoleão Bonaparte, o que levou a um enfraquecimento do controle da metrópole sobre suas colônias. Em Portugal, como veremos na próxima Unidade Didática (HIST/UD VI), as Guerras Napoleônicas e a Revolução Liberal do Porto levaram a família Real portuguesa a se transferir para o Rio de Janeiro, sendo um dos fatores que culminariam no processo de independência política das colônias da América portuguesa. No entanto, é preciso lembrar que mesmo antes de ter início o processo emancipatório das colônias, uma série de revoltas surgiam nas Américas hispânica e portuguesa, lideradas por grupos de colonos que passaram a questionar os princípios mercantilistas que norteavam as relações entre metrópole e colônia, ensejando obter vantagens comerciais e maior liberdade. Os interesses dos colonos começaram, então, a entrar em choque com os da Metrópole. Ainda assim, de início, as revoltas coloniais não assumiram um caráter separatista, mas desnudavam apenas uma crescente insatisfação dos colonos com a política metropolitana, na medida em que as próprias colônias alcançavam algum grau de desenvolvimento. Por fim, devemos destacar também a influência dos ideais iluministas na formação dos projetos de independência. É preciso lembrar que na grande maioria dos casos tais projetos foram formulados e encampados pelas elites locais, os criollos (descendentes de espanhóis nascidos na América) que, muitas vezes, tinham em sua formação uma passagem pela Europa ou, ao menos, contatos com os ideais que lá eram gestados. Relacionado com este aspecto, podemos destacar o peso da emancipação das treze Colônias da América do Norte, ocorrida em 1776 e fortemente influenciada pelo iluminismo (ver HIST/UD IV). A independência dos Estados Unidos da América, o primeiro país do continente a se emancipar, teve marcante influência sobre o processo de independência política das demais colônias, pois representava uma nova possibilidade de estruturação política e administrativa independente das metrópoles europeias.

Por outro lado, os próprios Estados Unidos, por sua vez, passaram a ter interesse na emancipação política do restante do continente, pois, entendia que com o fim da colonização europeia a América Latina poderia passar a ser uma privilegiada área de influência. Desta maneira, o presidente norte-americano James Monroe decretou em 1823 a famosa Doutrina Monroe, que tinha como máxima a defesa da América para os americanos. Segundo Alves (2004: 88): Em princípio, a Doutrina Monroe teria resultados poucos práticos, representando, isto sim, um efeito simbólico, porque nem a Europa modificou seu rumo, nem as repúblicas hispânicas ou o Brasil deram muito peso à proclamação, como um fator de garantia da independência conseguida e ameaçada, já que todos acreditavam mais na esquadra britânica. (...) Foi somente com o crescimento do poderio econômico dos Estados Unidos que a doutrina foi sendo posta em prática, mudando seu conteúdo à medida que se concretizava, ou seja, de inspiração progressista, passou a ser utilizada como justificativa intervencionista como um disfarce para a recolonização da América Latina. A Doutrina Monroe surgiu em reação à Santa Aliança e à Restauração na Europa, que defendia a volta dos princípios do absolutismo e, consequentemente, dos domínios coloniais. A ideia do Destino Manifesto, de que falaremos mais adiante, também foi uma das bases para a Doutrina Monroe. Apesar do intuito de estabelecer o restante do continente americano como área de influência estadunidense, a Doutrina Monroe construía a imagem dos Estados Unidos apesar das ações imperialistas do mesmo como o bastião do pan-americanismo e o anteparo na defesa dos países do continente (ALVES, 2004: 91). Obedecendo cada um aos seus próprios interesses, portanto, Estados Unidos e GrãBretanha contribuíram para a emancipação das colônias ibéricas inclusive com o provimento de material de guerra (CROUZET, 1996: 141), além do pronto reconhecimento das novas nações independentes. Dentre os países surgidos com a independência das colônias da América ibérica devemos destacar a emancipação política do Haiti, primeiramente por seu pioneirismo, mas também, e principalmente pela especificidade deste processo. A Ilha de São Domingos, antiga Hispaniola, colonizada pelos espanhóis, teve sua parte ocidental cedida à França em 1697, recebendo o nome de Saint Dominique. Na banda francesa da ilha viviam mais de 500 mil habitantes, sendo a imensa maioria da população composta de escravos de origem africana. A base econômica era a produção de açúcar. Havia um governador-geral, principal representante da Coroa francesa e responsável pela administração colonial, um intendente, a quem cabia gerir as finanças da colônia, e uma assembleia colonial, formada pela diminuta elite local branca, que representava os interesses locais (KOSHIBA, 1992). Em 1791 os escravos da ilha, influenciados pelos ideais da Revolução Francesa e almejando que a França colocasse em prática também nas colônias as propostas revolucionárias de liberdade, igualdade e fraternidade, se rebelaram contra o domínio colonial, sob a liderança do ex-escravo Toussaint L Ouverture. Em 1794, na fase mais radical da Revolução, durante o governo jacobino, foi decretado o fim da escravidão em todas as possessões francesas. Em 1801, L Ouverture assumiu o governo da ilha e proclamou uma Constituição independente. Os franceses reagiram ao movimento enviando tropas para invadir a ilha e aprisionam o líder da rebelião. Ainda assim, o movimento continuou com um novo líder, também ex-escravo, JeanJacques Dessalines. Sob a liderança de Dessalines foi proclamada a independência da ilha em 1804, sob o nome Haiti (nome indígena). No entanto, a França só veio a reconhecer o Haiti como país independente em 1825, quando uma elite mulata passou a dominar o processo político, marginalizando a maioria negra. Já a região oriental da ilha foi novamente dominada pela Espanha em 1814, conseguindo sua independência em 1821. No entanto, em 1822 foi submetida por tropas haitianas, que dominaram a região até 1844, quando foi proclamada novamente sua independência, sob o nome de República Dominicana. Em 1861 o país foi novamente anexado à Espanha, reconquistando sua independência apenas em 1865. O processo de independência do Haiti teve um forte impacto sobre o restante do continente. Ao tempo em que servia de exemplo por seu pioneirismo, criou uma onda de medo

não só por parte das Metrópoles, mas também próprias das elites locais. Temiam que o exemplo haitiano inspirasse processos emancipatórios conduzidos pelas classes populares ou pelos próprios escravos, como no caso da ilha. O medo do haitianismo fez com que as elites locais se preocupassem ainda mais em estar à frente dos projetos de independência que iam tomando corpo portodo o continente. Deste modo, as independências do restante do continente se deram, de modo geral, sob o comando das elites locais. No Vice-Reino de Nova Espanha (atual México) houve duas tentativas frustradas de independência, lideradas pelo padre Hidalgo, em 1811 e 1813. Mas a emancipação só foi alcançada em 1821, liderada pelo general Itúrbide. O Vice-Reino de Nova Granada, foi fragmentado em três países: Venezuela, Colômbia e Equador, que alcançaram suas independências em 1817, 1819 e 1822, respectivamente, todos sob a liderança de Simon Bolívar. O Vice-Reino do Peru, por sua vez, se dividiu em Peru, Chile e Bolívia. O Chile obteve a independência em 1818, sob a liderança de O Higgins e San Martín. O Peru tornou-se independente em 1824, com San Martín e o lorde inglês Cochrane à frente do processo. E, por fim, a Bolívia emancipou-se da metrópole espanhola em 1825, liderada por Bolívar e Antonio José de Sucre. O Vice-Reino do Prata, que corresponde aos atuais Argentina, Uruguai e Paraguai teve seu processo de independência iniciado com a deposição do vice-rei espanhol pelos criollos de Buenos Aires, formando-se uma junta provisória. A independência foi obtida em 1816, no Congresso de Tucumã (República das Províncias Unidas do Rio da Prata, mais tarde, Argentina), e liderada pelo general San Martín. A elite criolla da região do Paraguai proclamou sua independência da junta de Buenos Aires em 1811. O Uruguai, antiga Banda Oriental, foi ocupado por luso-brasileiros e anexado ao Brasil sob o nome Província Cisplatina. Tornou-se independente em 1828, sob o nome de República Oriental do Uruguai. Na América Central, da Guatemala ao Panamá, os países foram submetidos à audiência guatemalteca. Em 1821 uma Assembleia popular, reunida na Guatemala, proclama a liberdade de toda a América Central. No mesmo ano, no entanto, são incorporados ao México. Em 1823 conseguem separar-se, formando as Províncias Unidas da América Central, integradas por Guatemala, El Salvador, Nicarágua, Honduras e Costa Rica. As Províncias Unidas se dissolveram em 1839. Diante da situação, o rei de Espanha Fernando VII pediu apoio à Santa Aliança para tentar conter e reverter os movimentos emancipatórios em suas colônias. No entanto, como já explicitado anteriormente, Inglaterra e Estados Unidos apoiaram os movimentos de independência, pois ambos tinham interesses políticos e comerciais no surgimento das novas nações. O fim do império colonial espanhol estava relacionado diretamente com a própria situação da Espanha e a consequente reforma do pacto colonial nos setores comercial e administrativo, que foi ainda mais centralizado, em detrimento dos criollos, gerando descontentamento por parte destes. No entanto, podemos avaliar que as independências foram, de certo modo, políticas, tendo em vista que os novos países assumiram um lugar subalterno dentro do capitalismo mundial que se gestava. Emancipadas, as ex-colônias integraram-se na órbita da expansão do capitalismo industrial assumindo as funções de fornecedoras de matéria-prima, mercado consumidor, local de exportação de capital e ponto estratégico para o novo equilíbrio internacional que já começava a definir-se e no qual Estados Unidos e Inglaterra ocuparam posição de liderança na América e na Europa, respectivamente. (KOSHIBA, 1992: 74) Os criollos, elites locais que lideraram os processos de independência, mantiveram, de certo modo, as estruturas coloniais, rompendo apenas os laços políticos com a metrópole. Não houve ruptura nos níveis social ou econômico. Os novos países ficaram então sob a influência do capitalismo inglês e, posteriormente, norte-americano. Desta maneira, foram preservadas a grande propriedade (concentração fundiária), a monocultura, o trabalho compulsório (servidão, semi-servidão e escravidão), a produção em larga escala voltada para o abastecimento do mercado externo. A América Latina, recém-liberta do domínio colonial, integrou-se como área periférica e subordinada, pois a industrialização aparecia como solução absolutamente inviável: pesava-lhe a herança colonial. (...) para sobreviver nessa nova fase da expansão do capitalismo, a América