A ORDEM NOBRE MEDIEVAL E SUA RELAÇÃO COM O PODER E A SABEDORIA. MEDIEVAL NOBLE ORDER AND ITS RELATION WITH THE POWER AND WISDOM. Amanda Lopes Blanco 1. RESUMO Este artigo se propõe analisar as obrigações de um Rei medieval da Dinastia de Avis. Como material de pesquisa foi utilizado o livro da Virtuosa Benfeitoria do Infante D. Pedro. O objetivo de tal livro é conciliar o poder do monarca com a sabedoria de governar o povo. O monarca aproveita a justificativa divina para obter favores de seus súditos. Nesse contexto, existe uma relação de reciprocidade entre o Rei, os aristocratas e o povo. Com isso, observa-se uma dependência simultânea dos aristocratas com o Rei. Onde há uma distribuição de poder que obedece a graus de hierarquização. Dessa forma a nobreza medieval é constituída na Dinastia de Avis. PALAVRAS CHAVE: sabedoria, poder, nobreza. ABSTRACT This article if considers to analyze the obligations of a medieval King of the Dynasty of Avis. As research material Peter was used the book of the Virtuous Improvement of Infant D. Pedro. The objective of such book is to conciliate the power of the monarch with the wisdom to govern the people. The monarch uses to advantage the divine justification to get 1 Graduanda do curso de História- UFRRJ/IM.
favors of its subjects. In this context, a relation of reciprocity between the King, the aristocrats and the people exists. With, a simultaneous dependence of the aristocrats with the King is observed. Where it has a distribution of being able that it obeys the hierarquy degrees. Of this form the medieval nobility is constituted in the Dynasty of Avis. So in conclusion its how the power used in this time. KEY- WORDS: Wisdom, power, nobility. DIVISÃO SOCIAL NO PERÍODO MEDIEVAL A sociedade medieval representava a si mesma como dividida em três ordens: os oratores, os bellatores e os laboratores. A razão da divisão trifuncional é motivo de estudo entre os pesquisadores, muitos querem saber o motivo da separação da sociedade em três divisões. Tal mentalidade tripartida surgiu no feudalismo e perdurou durante séculos, atuando nos antigos regimes monárquicos. Georges Duby justifica as três ordens dizendo que o clero, diante de uma sociedade que se transformava no séc XI, precisava de divisões hierarquizadas, procurando dar sentido e equilíbrio.assim, tal discurso insistia no fato de que em uma sociedade é necessário possuir ordem, pois até mesmo a sociedade celestial seria perfeitamente hierarquizada. 2 A constante comparação que o homem faz com os seres celestiais pode justificar a divisão tripartida, visto que a mais perfeita divisão está em três: Pai, Filho e Espírito Santo. Dentro desse contexto, também é comparada a hierarquia celestial com seus anjos e arcanjos. 2 DUBY, Georges, 1982. 2
Em uma sociedade também é necessário haver disciplina, pois segundo os princípios medievais, sempre irá existir o senhor e os servos, existirá sempre alguém para governar e alguém para obedecer. Com isso, é possível afirmar que a disciplina gera a desigualdade, onde o povo da Idade Média encontra-se em desvantagem. Estabelecendo a disciplina estão as ordens medievais. Essas encontram-se de forma hierarquizada, onde o Clero se apresenta no topo do triângulo social. A questão principal do artigo é abordar uma dessas três ordens: A Nobreza. AS FUNÇÕES ARISTOCRÁTICAS Como chefe soberano desta ordem está o rei e em seguida estão distribuídas as outras funções aristocráticas. Assim, por meio destas divisões e subdivisões multiplicadas,se faz das diversas ordens uma ordem geral (e eis a inflexão que conduz às três funções) e de vários estados um Estado bem dirigido, onde existe perfeita harmonia e consonância e uma correspondência de relações do mais baixo para o mais alto, de forma a que, enfim, por meio da ordem, uma ordem inumerável culmine na unidade. 3 Com essas divisões, a Nobreza se forma. Todos com seu grau de importância e relação de interdependência. Ao observar tais subdivisões é possível identificar a importância de micro poderes descritos por Michel Foucault. Apesar de Foucault ter analisado outro tipo de sociedade 4. Nesse contexto existe um entrelaçamento de práticas de poder onde todos se auxiliam e se completam. Nessa relação de força, existem alguns lugares preponderantes que produzem o efeito de supremacia. Essa difusão do poder foucaultiana pode ser considerada também uma característica da sociedade feudal, visto que houve uma fragmentação do poder real, onde o rei concedia 3 DUBY, Georges, 1982, pág. 15. 4 Sociedade capitalista. 3
terras para obter a fidelidade dos senhores. Com isso, surgiam novas relações de poder, todas obedecendo a graus de hierarquia. Assim, muito rapidamente, à hierarquia entre os indivíduos corresponde uma outra hierarquia, a dos direitos sobre a terra devida a uma fragmentação extrema dos direitos de propriedade. Por último, dada a fragmentação do próprio poder público, existe em cada país uma hierarquia de instâncias autônomas que exercem e proveito próprio poderes normalmente detidos pelo Estado. 5 monárquica. Assim, os aristocratas atuavam em conjunto com o rei, constituindo a ordem OBRIGAÇÕES INDIVIDUAIS DO REI Para analisar as obrigações do rei foi utilizado o Livro da Virtuosa Benfeitoria- Obras dos Príncipes de Avis escrito por D. Pedro. Nessa obra, existe uma relação entre poder e sabedoria. Segundo o livro, a bondade traz o saber, as boas obras são práticas do poder, tais atitudes precisam ser voluntárias, ou seja, o rei precisa nascer com a vontade de ajudar e não apresentar cansaço. O rei não pode ser mesquinho, não deve guardar o seu patrimônio e sim distribuir suas terras para aqueles que precisam. Os que recebem serão sempre gratos e devedores de favores. O recebedor possui a missão de ajudar a quem o bem lhe faz. Para exercer tal poder, o governante utiliza a justificativa teológica em que o cargo foi dado por Deus. E para aqueles que se esquecem das benfeitorias feitas pelo rei, D. Pedro em seu livro apresenta respostas bíblicas e filosóficas, como exemplo no livro de Josué, onde está escrito que aqueles que se esquecem das benfeitorias feitas por Deus, perecem. 5 GUY, Fourquin, 1987, pág. 11. 4
Deste modo, o recebedor será sempre grato e devedor ao rei:... e os recebedores verdadeyramente maginem que tal pagamento fazem por o bem que ouveram, que sempre em mais ficam devedores. 6 Com isso, solidifica-se a relação entre poder e sabedoria do rei, onde ele distribui seus bens e recebe em troca favores. E para a manutenção de sua autoridade, também conta com o apoio das subdivisões da nobreza formando a ordem hierarquizada da nobreza medieval. BIBLIOGRAFIA DUBY, Georges. As Três Ordens ou o Imaginário do Feudalismo.Lisboa: Estampa, 1982. FOUCAULT, Michel. Microfísica do poder. Tradução Roberto Machado. Rio de Janeiro, Graal, 2005. FOURQUIN, Guy. Senhorio e Feudalidade na Idade Média. Lisboa: Edições 70, 1987. O Livro da Virtuosa Benfeitoria. In: As Obras dos Príncipes de Avis. HALP, n. 07, Séc. XV, setembro, 1998. 6 Virtuosa Benfeitoria, 1998, pág. 11. 5