As três fases do Romantismo Torna-se imprescindível que antes de aprofundarmos mais os nossos conhecimentos acerca de um determinado assunto em âmbito geral, façamos uma retrospectiva daquilo que já vimos anteriormente. Desta feita, temos que o Romantismo, assim como tantos outros movimentos literários, se deve à manifestação preconizada por outras estéticas literárias antecedentes e a fatores ligados ao contexto social da época em que foi disseminado. Caracterizando-se como uma espécie de repúdio às ideologias pregadas pela era Clássica, o movimento romântico cultua o amor com base na irracionalidade, o individualismo e o subjetivismo em detrimento às regras fixas proferidas pelo Classicismo. Aliada a tal objetivo, não podemos nos esquecer de que o contexto histórico também foi preponderante, principalmente em decorrência da Revolução Francesa e da Revolução Industrial. Essa última, a qual nos lembra diversas transformações ligadas ao campo econômico, gerou um clima de insatisfação por parte da sociedade. Os inventos tecnológicos foram, aos poucos, agilizando o modo de produção em substituição ao trabalho manufatureiro e, assim, fora surgindo uma nova classe a operária, que, consequentemente, cederia lugar para as máquinas. O resultado desse processo foi nada mais que uma concentração da riqueza nas mãos da Burguesia e seu sucessivo desenvolvimento. Surgia assim uma classe rica e influente que se consolidava em oposição aos padrões aristocráticos, manifestados por três séculos anteriores. Dessa forma, o Romantismo exala um verdadeiro descontentamento em se tratando da evidente
desigualdade social, gerando um inconformismo, desejo de solidão, anseios de justiça, e, sobretudo, a busca pela liberdade. Razões suficientes temos agora para compreendermos os aspectos peculiares que nortearam a fase romântica da Literatura. Mas ainda nos resta saber sobre mais uma delas: a de que o Romantismo se subdividiu em três fases: Primeira, segunda e terceira gerações. Partiremos para conhecê-las melhor: Primeira geração Nesta, o ufanismo, em decorrência da recente independência do país, fez com que prevalecesse um verdadeiro sentimento de nacionalidade, no qual o culto pela cultura primitiva, em especial à figura do índio, teve sua palavra de ordem. A título de representatividade, vejamos alguns fragmentos pertencentes a uma criação de Gonçalves Dias: Canção do exílio Minha terra tem palmeiras, Onde canta o Sabiá; As aves que aqui gorjeiam, Não gorjeiam como lá. Nosso céu tem mais estrelas, Nossas várzeas têm mais flores, Nossos bosques têm mais vida, Nossa vida mais amores. Em cismar, sozinho, à noite, Mais prazer encontro eu lá; Minha terra tem palmeiras, Onde canta o Sabiá. [ ]Gonçalves Dias Por meio de uma análise, podemos detectar as características anteriormente mencionadas, tais como a exaltação da natureza e o sentimento ufanista revelado pela valorização dos aspectos
nacionais. Segunda geração Também conhecida como ultrarromântica, em virtude do exacerbado egocentrismo e da contundente melancolia. Os representantes dessa geração eram extremamente pessimistas, e por levar uma vida desregrada, vivendo em ambientes sombrios e úmidos e fazendo parte da boemia, foram acometidos pelo chamado Mal do Século, morrendo precocemente em função de doenças adquiridas pelos maus hábitos. Observemos alguns trechos de um de seus representantes: Lembranças de Morrer Quando em meu peito rebentar-se a fibra, Que o espírito enlaça à dor vivente, Não derramem por mim nem uma lágrima Em pálpebra demente. E nem desfolhem na matéria impura A flor do vale que adormece ao vento: Não quero que uma nota de alegria Se cale por meu triste passamento. Eu deixo a vida como deixa o tédio Do deserto, o poento caminheiro Como as horas de um longo pesadelo Que se desfaz ao dobre de um sineiro; Como o desterro de minh alma errante, Onde o fogo insensato a consumia: Só levo uma saudade é desses tempos Que amorosa ilusão embelecia. Só levo uma saudade é dessas sombras Que eu sentia velar nas noites minhas De ti, ó minha mãe! pobre coitada Que por minha tristeza te definhas! [ ]Álvares de Azevedo
Detectamos um intenso pessimismo proferido pelo autor, no qual a natureza se torna cúmplice do sofrimento vivido por ele, servindo como pano de fundo para o revelar da desesperança em relação à plenitude da vida. Terceira geração Voltada para o social, preconiza o ideário de liberdade em relação às mazelas instituídas pela sociedade. Tem como seu principal representante o poeta Castro Alves, mais conhecido como o poeta dos escravos. Apenas lembrando que a ideologia referente a essa geração tem no poeta francês Vítor Hugo sua fonte de inspiração, principalmente pela sua grandiosa criação, Os Miseráveis.Analisemos um exemplo: Navio Negreiro I Stamos em pleno mar. Doudo no espaço Brinca o luar dourada borboleta; E as vagas após ele correm cansam Como turba de infantes inquieta. Stamos em pleno mar. Do firmamento Os astros saltam como espumas de ouro O mar em troca acende as ardentias, Constelações do líquido tesouro Stamos em pleno mar. Dois infinitos Ali se estreitam num abraço insano, Azuis, dourados, plácidos, sublimes Qual dos dous é o céu? qual o oceano? Stamos em pleno mar. Abrindo as velas Ao quente arfar das virações marinhas, Veleiro brigue corre à flor dos mares, Como roçam na vaga as andorinhas [ ]Castro Alves Constatamos uma verdadeira indignação por parte do autor no que se refere ao tema da escravidão brasileira, que por muito
tempo se perpetuou pelas entranhas da sociedade.