DECLARAÇÃO DE IDADE EM INDÍGENAS NO CENSO DEMOGRÁFICO DE 2010(*)

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Transcrição:

DECLARAÇÃO DE IDADE EM INDÍGENAS NO CENSO DEMOGRÁFICO DE 2010(*) Barbara Coelho Barbosa da Cunha(**) Luciene Guimarães de Souza(**) Thatiana Regina Fávaro(**) Ludimila Raupp de Almeida da Silva(**) Geraldo Marcelo da Cunha (**) Resumo: Para povos culturalmente diferenciados, como os indígenas, a coleta de dados sobre idade nos levantamentos censitários apresenta desafios particulares, já que os sistemas de enumeração e marcação do tempo podem ser diferentes dos ocidentais. O objetivo deste trabalho é analisar, para os indígenas, a declaração de idade do Censo Demográfico de 2010 no Brasil. Trata-se de um estudo descritivo focando indígenas e não indígenas dos 167 municípios brasileiros com pelo menos 5,0% de indígenas. Além da declaração de idade (data de nascimento ou idade declarada), foram analisadas as seguintes variáveis a partir dos microdados: sexo, idade, tipo de informante, situação de domicilio, cor ou raça, renda e saber ler e escrever. Após análises descritivas quanto à forma de declaração de idade segundo as demais variáveis, foi investigada a ocorrência de associações através de regressão logística nos indivíduos maiores de 10 anos. A idade declarada é menos frequente do que a data de nascimento em indígenas e não indígenas de todas as macrorregiões Na área rural, as frequências de idade declarada foram mais elevadas em indígenas do que em não indígenas, o que também se observou na situação urbana, com exceção do Nordeste. Em relação ao informante, houve de maneira geral um predomínio de respostas de outro morador em ambas as populações. Para indígenas do Norte e Centro-Oeste, as frequências de resposta por não moradores se mostraram comparativamente mais elevadas. Para indígenas de algumas macrorregiões (Norte, por exemplo), o padrão apresentado pelo não morador foi o de informar com mais frequência a data de nascimento. Os resultados das análises de regressão confirmaram a existência de diferenças entre indígenas e não indígenas quanto a informar a data de nascimento (menos frequente nos indígenas). Conclui-se que há diferenças entre indígenas e não indígenas nos padrões de declaração de idade a partir dos dados censitários, destacando-se a influência das variáveis situação de domicílio e tipo de informante. Palavras-chave: Demografia indígena; Declaração de idade; Censo 2010. (*) Trabalho apresentado no XIX Encontro Nacional de Estudos Populacionais, ABEP, realizado em São Pedro/SP Brasil, de 24 a 28 de novembro de 2014. (**) Escola Nacional de Saúde Pública, Fundação Oswaldo Cruz.

Introdução Como bem conhecido, os dados censitários são frequentemente utilizados no cálculo dos indicadores socioeconômicos e, uma vez que visam a caracterização da população geral, derivam de perguntas e os padrões de medidas previamente estabelecidos e amplamente empregados (Pereira et al., 2012; Jannuzzi, 2005). Nesse contexto, algumas perguntas dos censos demográficos e de outros levantamentos oficiais podem apresentar dificuldades de captação, principalmente no caso de povos culturalmente diferenciados, como os indígenas, decorrente de diferenças linguísticas e do uso de categorias socioculturais que, concebidas em um contexto ocidental, não se aplicam necessariamente a eles (Pagliaro et al., 2005). A idade é uma variável largamente utilizada em indicadores demográficos, epidemiológicos e socioeconômicos (Horta, 2012; Paes & Albuquerque, 1999). Na determinação do estágio de desenvolvimento de uma pessoa, em contextos ocidentais, utiliza-se usualmente a medição da idade, que pode ser definida por critérios cronológicos ou fisiológicos/biológicos. No caso das culturas indígenas, o significado e a questão da definição de idade dos indivíduos geralmente se dão em outras bases, portanto não se traduzindo diretamente nas categorias de idade, de recorte cronológico, tão centrais para o cômputo dos indicadores demográficos (Pagliaro et al., 2009; Borges, 2004). No Brasil, a variável idade tem sido investigada desde o primeiro recenseamento nacional, em 1872 (Oliveira, 2003; IBGE, 2012). Desde o Censo de 1940, tem sido aplicadas duas perguntas: a data de nascimento, quando conhecida, ou a idade presumida ou declarada, quando não se conhece a data de nascimento (Horta, 2012). Este estudo se baseia na análise de dados do Censo 2010, com foco em indígenas e não indígenas em um conjunto de municípios selecionados pelo critério de pelo menos 5,0% de composição populacional indígena. Ao se abordar esse conjunto geográfico, visa-se enfocar áreas do país com mais pronunciada presença indígena, com vistas a tornar os resultados o mais comparativo possível com os contextos sócio-demográficos onde vivem. Além de uma abordagem descritiva, foram conduzidas análises multivariadas com vistas a comparar os padrões de resposta à pergunta sobre declaração de idade entre indígenas e não indígenas.

Metodologia Delineamento do estudo Trata-se de estudo descritivo que compara indígenas e não indígenas (declarados brancos, pretos, pardos e amarelos) de 167 municípios brasileiros com no mínimo 5% de indígenas a partir dos microdados da amostra do Censo 2010. População de estudo Critérios de inclusão: A população deste estudo é composta por indivíduos não indígenas, ou seja, declarados no quesito cor ou raça como branco, preto, amarelo e pardo, e por indivíduos indígenas, declarados no quesito cor ou raça como indígena. Critérios de exclusão: Não foram considerados aqueles que foram classificados como ignorado nas variáveis: cor ou raça e tipo de informante. Fonte de dados e variáveis analisadas Os dados utilizados neste trabalho estão disponibilizados no site do IBGE (http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/censo2010/resultados_gerais_amos tra/resultados_gerais_amostra_tab_uf_microdados.shtm). As variáveis utilizadas foram: cor ou raça (V0606); macrorregião (V1001), declaração de idade (V6040); situação de domicílio (V1006); sexo (V0601); rendimento domiciliar (domicílio particular) per capita em número de salários mínimos em julho de 2010 (V6532); saber ler e escrever (V0627); tipo de informante (V0670) e a idade (V6036). As seguintes variáveis foram derivadas para fins de análise: a classe de idade da V6036 (idade), renda da V6532 (rendimento domiciliar (domicílio particular) per capita em número de salários mínimos em julho de 2010), e segmento populacional (indígena/não indígena) da V0606 (cor ou raça). No caso da investigação de rendimento, a abrangência foi em pessoas de 10 anos ou mais de idade. Para a apuração dos rendimentos, o IBGE considerou o valor de R$ 510,00 (quinhentos e dez reais) (IBGE, 2010). Cabe ressaltar, acerca das opções de respostas da variável forma de declaração de idade, que a idade declarada é aquela informada em anos completos ou meses, quando não se declara o mês e o ano de nascimento. Já a data de nascimento é aquela em que o informante declarou o mês e o ano de nascimento (IBGE, 2010). De acordo

com o manual do recenseador de 2010, o registro da idade declarada só poderia ser feita depois de esgotados todos os esforços para obtenção da data de nascimento (IBGE, 2010). Assim, a idade, nas respostas pela data de nascimento, foi calculada em relação à data de referência do Censo, que é 31 de julho de 2010 (IBGE, 2011). Seleção das unidades geográficas Para fins da seleção dos municípios a serem trabalhados, a meta principal foi selecionar, concomitantemente, o menor número de municípios que concentrasse o maior volume possível de população indígena. Desta forma, optou-se por utilizar a proporção de indígenas em cada município e não a frequência absoluta de indígenas pelo fato da última abranger um grande número de capitais e centros urbanos. Esta seleção, então, permitiu uma melhor aproximação com as áreas rurais, onde está concentrada a maior parte não só dos indígenas como das terras indígenas. Foi utilizado o critério de um mínimo de 5,0% de indígenas na população do município, tendo sido selecionados 167 municípios, o que incluiu 55,1% dos indígenas no país. Destaca-se que dentre os municípios selecionados para este estudo, somente 10 não possuíam Terra Indígena na listagem da Funai (2011). Análises estatísticas Foram realizadas utilizando o software IBM SPSS 20, considerando o desenho amostral do Censo 2010. A descrição das frequências absoluta e relativa da forma de declaração de idade foi realizada com as seguintes características sócio demográficas: situação de domicílio, sexo, e tipo de informante para indígenas e não indígenas dos 167 municípios segundo macrorregião. Devido ao número reduzido de indígenas na área urbana do Sudeste, optou-se por analisar o Sul e Sudeste conjuntamente. A associação da declaração de idade (data de nascimento) segundo a situação de domicílio e o informante dos indivíduos maiores de 10 anos foi analisada através de um modelo de regressão logística binária com as variáveis: segmento populacional, saber ler e escrever, classe de idade, renda e sexo. A Razão de Chances (RC) ajustada, com intervalo de confiança de 95%, foi utilizada como medida de associação. Resultados A população dos 167 municípios investigada deste estudo (58 no Norte, 35 no Nordeste, 6 no Sudeste, 31 no Sul e 37 no Centro-Oeste), é de 2.587.426 indivíduos,

sendo 450.453 indígenas e 2.136.973 não indígenas. Destaca-se que quase metade da população de estudo deste trabalho se concentra no Norte (41%), que também apresenta o maior número de municípios selecionados. É também no Norte onde se localizam a maior quantidade de municípios (oito) cujas populações são constituídas de 50% de indígenas. Com relação à situação de domicílio, os não indígenas residem majoritariamente na área urbana e os indígenas na área rural, 95,1 e 67,7%, respectivamente. A concentração da população indígena, segundo a frequência absoluta, é maior na área rural do que na área urbana em todas as macrorregiões. O oposto acontece com a população não indígena, uma vez que, em números absolutos, a concentração é maior na área urbana. Em indígenas e não indígenas, a idade declarada é menos frequente do que a data de nascimento em todas as macrorregiões (Figura 1). No entanto, embora a diferença das magnitudes seja mais expressiva no Sul/Sudeste, os indígenas apresentam frequências mais elevadas de idade declarada em todas as macrorregiões. Na situação urbana, as frequências de idade declarada são maiores nos indígenas do que nos não indígenas, com exceção do Nordeste. Os indígenas da área rural apresentam, com exceção do Sul/Sudeste, porcentagens de idade declarada mais próximas daquelas para não indígenas. Os resultados referentes ao informante mostram há predominância de outro morador. Entretanto, os indígenas da área rural apresentaram frequências de respostas por não moradores mais elevadas do que as observadas para não indígenas em todas as macrorregiões (Figura 2). Na área urbana, em todas as macrorregiões, as frequências de respostas por não moradores para indígenas se mostraram menos pronunciadas. Chama atenção que as macrorregiões Norte e Centro-Oeste exibem, para indígenas, porcentagens acima de 15% de respostas por não morador. No Nordeste e Sul/Sudeste, as frequências foram inferiores a 10%, mas ainda assim superiores àquelas observadas para os não indígenas. As frequências de idade declarada quando a própria pessoa informou são as mais baixas em todas as macrorregiões (Figura 3). No entanto, o informante mais frequente para indígenas e não indígenas é outro morador (Figura 2), e as frequências de idade declarada neste caso aumentaram em relação àquela apresentada pela própria pessoa em todas as macrorregiões (Figura 3).

O não morador, como esperado, informa mais a idade declarada em todas as macrorregiões. Contudo, para indígenas, das áreas rural do Norte (ambos os sexos) e do Centro-Oeste (ambos os sexos) e da área urbana (sexo masculino) do Centro-Oeste, o padrão apresentado pelo não morador foi o inverso, ou seja, o não morador tendeu a reportar a data de nascimento. As análises das associações da declaração de idade (data de nascimento) pela situação de domicílio e pelo informante evidenciam a existência de diferença entre a chance do indígena comparado com o não indígena de informar a data de nascimento. Quando o informante é outro morador, na área urbana do Norte e Sul/Sudeste, os indígenas possuem menor chance de informar a data de nascimento em comparação aos não indígenas (Figura 4). O mesmo ocorre na área rural de todas as macrorregiões (Figura 5). O resultado para o informante a própria pessoa das macrorregiões Norte, Sul/Sudeste, e Centro-Oeste revela que os indígenas da área rural possuem também menor chance de informar a data de nascimento em comparação aos não indígenas. No entanto, quando o informante é não morador, o padrão se inverte para os indígenas da área rural do Nordeste e do Centro-Oeste, ou seja, a chance dele informar a data de nascimento é maior em comparação aos não indígenas. Considerações finais Os resultados deste estudo evidenciaram que, no conjunto de municípios analisados, a idade declarada foi menos frequente em indígenas do que em não indígenas. Não obstante, as diferenças não se mostraram pronunciadas, uma vez que menos de 10% dos indivíduos, indígenas e não indígenas, apresentaram idade declarada. Não se pode deixar de considerar, contudo, que para indígenas, em particular em áreas rurais do Norte e Centro-Oeste, é relativamente comum a emissão de documentos, que incluem data de nascimento, quando as pessoas já são adultas (Souza & Santos 2001). Com relação ao informante, os indígenas apresentam frequências de não moradores respondendo maiores do que as dos não indígenas em todas as regiões, e estas são maiores na área rural. Adicionalmente quando o informante foi não morador, como esperado, a frequência de idade declarada aumentou de maneira geral em todas as regiões. Contudo, para indígenas de algumas macrorregiões o padrão apresentado pelo não morador foi o inverso, ou seja, o não morador reportava a data de nascimento. É possível que esses não moradores sejam profissionais de educação e de saúde que

trabalham e residem nas comunidades indígenas e que, por conhecerem a população residente, podem ter atuado como mediadores das entrevistas censitárias (Marinho et al., 2011; Souza & Santos, 2001; 2009). As análises da associação da declaração de idade com as demais covariáveis sintetizam os resultados de frequência e reforçam a existência da diferença na chance em indígenas em relação aos não indígenas de informar a data de nascimento como também a influência da situação de domicílio e o informante. Em conclusão, os resultados deste trabalho sugerem que há diferenças nos padrões de respostas da declaração de idade e as demais covariáveis na população indígena em comparação ao segmento não indígena no conjunto dos municípios analisados. Observou-se também que as variáveis situação de domicílio e informante se mostraram particularmente importantes nos padrões de resposta. Agradecimento: Este trabalho insere-se no projeto de pesquisa Demografia Antropológica e Saúde de Indígenas a partir do Censo Demográfico de 2010, coordenado pelo Dr. Ricardo Ventura Santos (Escola Nacional de Saúde Pública/ Fiocruz e Departamento de Antropologia, Museu Nacional/ UFRJ, Rio de Janeiro), apoiado pela Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro FAPERJ (E-26/102.352/2013 Bolsa "Cientista de Nosso Estado"). Referências bibliográficas BORGES, J. C. O retorno da velha senhora ou a categoria de tempo entre os Krahô. Dissertação (Mestrado em Antropologia Social) - Instituto de Ciências Sociais, Departamento de Antropologia, Universidade de Brasília, Brasília, 2004. Funai (Fundação Nacional do Índio). Listagem de Terras Indígenas, 2011. Disponível em: <http://6ccr.pgr.mpf.mp.br/documentos-e-publicacoes/terras-indigenas/tis/listagemde-terras-indigenas-funai-2011.xls/view> Acesso em: 14 out. 2013. HORTA, G. Idade Declarada nos Censos Demográficos e a Qualidade da Informação. In: XVIII Encontro Nacional de Estudos Populacionais, Águas de Lindoia - SP, p 1-19, 2012. IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Síntese das etapas da pesquisa. Rio de Janeiro: IBGE, 2010.

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Figura 1: Percentual de idade declarada em não indígena e indígena nos 167 municípios selecionados, por macrorregião e situação de domicílio - (A) urbano e (B) rural, Censo Demográfico de 2010. Fonte: IBGE, Censo Demográfico 2010.

Figura 2: Percentual do informante na população indígena e não indígena, segundo sexo, por situação de domicílio e macrorregião, dos 167 municípios selecionados no Censo Demográfico 2010. Fonte: IBGE, Censo Demográfico 2010. Figura 3: Percentual de idade declarada na população indígena não indígena segundo sexo e informante, por situação de domicílio e macrorregião dos 167 municípios selecionados, Censo Demográfico de 2010. Fonte: IBGE, Censo Demográfico 2010. Obs.: M se refere ao sexo masculino e F ao feminino.

Figura 4: Fatores associados (RC e IC 95%) a forma de declaração de idade (data de nascimento) em relação ao não indígena, segundo o informante ( a própria pessoa (1), outro morador (2) e não morador (3) ), na área urbana em todas as macrorregiões para indivíduos acima de 10 anos, Censo Demográfico 2010. O ajuste foi feito para as variáveis: segmento populacional, renda, sexo, classe de idade, ler e escrever. Fonte: IBGE, Censo Demográfico 2010. OBS.: NO Norte, NE Nordeste, SU/SE Sul/Sudeste, CO Centro-Oeste. Não há resultado para SU/SE para o informante (3) devido ao N reduzido. Figura 5: Fatores associados (RC e IC 95%) a forma de declaração de idade (data de nascimento) em relação ao não indígena, segundo o informante ( a própria pessoa (1), outro morador (2) e não morador (3) ), na área rural em todas as macrorregiões para indivíduos acima de 10 anos, Censo Demográfico 2010. O ajuste foi feito para as variáveis: segmento populacional, renda, sexo, classe de idade, ler e escrever. Fonte: IBGE, Censo Demográfico 2010. OBS.: NO Norte, NE Nordeste, SU/SE Sul/Sudeste, CO Centro-Oeste.