A Criação da Especialização de Engenharia Rural e Ambiente na Ordem dos Engenheiros como Forma de Disciplinar a Profissão 1



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Transcrição:

A Criação da Especialização de Engenharia Rural e Ambiente na Ordem dos Engenheiros como Forma de Disciplinar a Profissão 1 I. Oliveira 1 ; F. R. Bisca 2 ; G. Leal 3 1 Centro Operativo e de Tecnologia de Regadio - Quinta da Saúde, Apartado 354-7801-904 Beja; e-mail: isaurindo.oliveira@cotr.pt 2 Prosistemas - Av. Dos Bombeiros Voluntários de Algés - Lote 110-42-SL/D 1495 Lisboa 3 IDRHa - Av. Afonso Costa, 3 1900 Lisboa 1 INTRODUÇÃO Desde a adesão de Portugal à então Comunidade Económica Europeia foram criados pelo Ministério da Agricultura, com base nos fundos europeus, incentivos ao investimento nas explorações agrícolas com vista à melhoria das infra-estruturas das explorações agrícolas. Contudo, a estagnação, ou mesmo o enfraquecimento da estrutura técnica dos organismos de apoio e avaliação, levou à diminuição das exigências ao nível do projecto, as quais, a maioria das vezes, se limitam a simples cartas de intenção com orçamento para o equipamento. Consequentemente, verificou-se também uma diminuição das exigências ao nível da formação dos engenheiros, deixando assim o caminho aberto para que a área de engenharia rural e ambiente seja ocupada por agentes sem formação adequada. Embora se tenha assistido nos últimos anos à introdução de novas tecnologias de produção e a um aumento da actividade profissional na área da engenharia rural e ambiente, a rendibilidade dos investimentos efectuados, embora por apurar, está certamente muito aquém do seu potencial. Nestas condições, impõe-se a normalização das exigências de procedimento técnico de projecto desta área e a consequente subida dos níveis de qualidade do projecto e formação dos engenheiros nela envolvidos, o que deverá passar por duas fases distintas: - fase académica - fase profissional A fase académica decorre da aquisição de conhecimentos e metodologias científicas, técnicas e tecnológicas que servirão de base à profissão. Esta fase é bastante importante, tanto mais que nos últimos anos apareceram várias escolas públicas com grau de licenciatura onde são ministrados curricula contendo disciplinas profissionalizantes de engenharia rural. 1 Comunicação apresentada no I Simpósio Nacional de Engenharia Rural, 13 e 14 de Novembro de 2003, Instituto Superior de Agronomia, Lisboa - 1 -

Se, por um lado, este facto pode contribuir para uma maior divulgação dos conhecimentos desta área, por outro, provocou um acréscimo do número de licenciados em engenharia com conhecimentos e preparação muito diversa, o que vem provocar uma necessidade crescente da adequação da formação universitária à actividade profissional. A fase profissional exige necessariamente um período inicial de enquadramento, ao qual se segue o de aquisição de experiência e prática profissional numa perspectiva de formação contínua. Embora esta fase seja essencial ao desenvolvimento equilibrado da actividade técnica nesta área, ela tem sido subvalorizada como acima foi referido. Assim, torna-se necessário sensibilizar os diversos agentes públicos e privados para: - a necessidade de introdução de regras nos procedimentos de execução dos projectos de engenharia rural e ambiente, com definição do seu nível de importância e do das obras que deverão ser assumidas pelos especialistas em Engenharia Rural e Ambiente - a obrigatoriedade de, nos estudos, nos projectos, e obras dos domínios especializados em Hidráulica Agrícola, Ordenamento, Construções Rurais e Mecanização Agrícola, se exigir a responsabilização do engenheiro da especialização de Engenharia Rural e Ambiente - a promulgação de legislação que consubstancie os objectivos considerados nos pontos anteriores. Tendo em vista o panorama português nesta área, pensou-se que uma possível medida impulsionadora de um novo caminho seria a criação de uma especialização em Engenharia Rural e Ambiente no âmbito da especialidade de Engenharia Agronómica, o que está previsto de acordo com o Art. 37 do Cap. V do Estatuto de Ordem dos Engenheiros, nomeadamente no estipulado no "Regulamento da Criação de Especializações e Outorga de Títulos de Especialista". 2 - FUNDAMENTAÇÃO DA CRIAÇÃO DA ESPECIALIZAÇÃO EM ENGENHARIA RURAL E AMBIENTE 2.1 - Definição do Âmbito do Exercício Profissional do Engenheiro Agrónomo Especializado em Engenharia Rural e Ambiente O exercício da actividade do engenheiro agrónomo na área da Engenharia Rural tem longa tradição no país, traduzida no planeamento, estudo, projecto, realização e exploração de inúmeros - 2 -

aproveitamentos hidroagrícolas das mais variadas dimensões. São exemplos disso os numerosos regadios colectivos, de carácter público, que foram sendo construídos ao longo de várias décadas e de que se destacam os integrados no Plano de Rega do Alentejo, que tiveram grande incremento nos anos 50 e 60. Nos anos seguintes, esta actividade sofreu um certo decréscimo, situação que se manteve até meados dos anos 80. Com a adesão de Portugal à então Comunidade Económica Europeia, inverteu-se de certo modo esta tendência tendo, de novo, sido fortemente impulsionada em resultado da criação de incentivos ao investimento na agricultura. Com a aprovação dos programas PEDAP, Regulamento 797, PAMAF e mais recentemente, do AGRO e AGRIS, tomou-se possível retomar e acelerar a implementação de novos regadios, bem assim como das várias infra-estruturas a eles ligados (rega e drenagem, caminhos rurais, electrificação agrícola, conservação do solo, etc.), e de melhorar os já existentes, quer de carácter privado, quer de natureza pública, de que se destaca, pela sua dimensão e importância nacional e regional, o Empreendimento de Fins Múltiplos do Alqueva. É do consenso geral que uma das medidas, para tomar a agricultura portuguesa mais competitiva, após a sua integração na PAC, passa pelo incremento das culturas regadas. Os estudos, projectos e obras de tais regadios, assim como a reabilitação e modernização dos existentes, bem como a sua posterior gestão, exploração e conservação, exigem conhecimentos técnicos multidisciplinares, que devem ir além da engenharia hidráulica e da gestão dos recursos hídricos, devendo, cada vez mais, as componentes ambiental e de conservação dos recursos assumir uma importância decisiva. Considera-se que os engenheiros agrónomos da área da Engenharia Rural e Ambiente, devido à sua formação base quer em hidráulica agrícola, quer em ordenamento rural, complementada com vastos conhecimentos na conservação e cartografia dos solos, na hidrologia agrária e na qualidade da água, deverão ser os técnicos constituintes do núcleo central das equipas que terão a seu cargo a implementação e gestão deste tipo de obras. O ensino da Hidráulica Agrícola também com larga tradição no nosso país, esteve durante muitos anos limitado ao Instituto Superior de Agronomia. Porém, nas últimas décadas, tem-se assistido à criação de numerosos cursos noutras universidades onde são leccionadas disciplinas relacionadas com a Engenharia Rural. Sendo positivo o aparecimento de um muito maior número de técnicos com conhecimentos nestas matérias, e que ambicionam ter um papel activo na resolução dos problemas da Engenharia Rural e Ambiente, torna-se simultaneamente necessário definir regras para a valorização das suas - 3 -

capacidades técnico-científicas, como membros da Ordem dos Engenheiros, tendo em conta a sua formação universitária e a respectiva experiência profissional. A interdisciplinaridade de todas estas componentes justifica uma clara definição da figura de coordenador/gestor de projecto cuja capacidade operacional deverá, pela sua experiência, responder a todos os requisitos que estão subjacentes à prática tradicional deste tipo de projectos. Alguns desses projectos, pela sua natureza, terão de ser coordenados por um engenheiro do ramo de especialização de Engenharia Rural e Ambiente. Outros, pela sua dimensão e especificidade, dificilmente se poderá defender que só estes engenheiros os podem coordenar, importando então assegurar que a equipa de trabalho conte com a participação de um deles. 2.2 - Domínios que integram a Especialização em Engenharia Rural e Ambiente A actividade do Engenheiro Agrónomo no âmbito da Especialização em Engenharia Rural e Ambiente poderá desenvolver-se ao nível da concepção e projecto, planeamento, regulamentação e normalização, exploração, ensino e investigação nos seguinte domínios: a) - Hidráulica Agrícola - rega - drenagem - caminhos rurais - estruturas hidráulicas - conservação e qualidade do solo - hidrologia agrária - qualidade da água - manutenção de espaços verdes - aproveitamento de águas residuais - reutilização de biosólidos - injecção de aquíferos b) - Aproveitamentos Hidroagrícolas c) - Planeamento e Gestão de Recursos Hídricos d) - Construções Rurais e)- Mecanização Agrária 1) - Ordenamento Rural - ciências do solo - 4 -

- ordenamento do espaço rural - estruturação fundiária - detecção Remota - sistemas de informação geográfica (SIG) 2.3 - Inserção nas Classificações e Designações Reconhecidas A actividade dos engenheiros agrónomos especializados em Engenharia Rural e Ambiente insere-se no âmbito das actividades desenvolvidas por diversas organizações técnico-científicas nacionais e estrangeiras, das quais se destacam: a) - Organizações Nacionais Associação Portuguesa de Recursos Hídricos (APRH) Comissão Nacional Portuguesa de Irrigação e Drenagem (CNPID) Sociedade Portuguesa de Ciência do Solo (SPCS) Sociedade de Ciências Agrárias (SCA) Associação Portuguesa para Estudos de Saneamento Básico (APESB) b) - Organizações Internacionais International Commission of Irrigation and Drainage (ICID) American Society of Agricultural Engineers (ASAE) Irrigation Association (IA USA)) European Irrigation Association (EIA - UE) Asociacion Española de Riegos y Drenages (AERYD) International Water Association (IWA) European Water Resources Association (EWRA) 2.4 - Adequação aos Interesses do Desenvolvimento do País Considera-se que a criação desta nova especialização vai ao encontro dos interesses do desenvolvimento do País nos domínios em que a mesma deverá ser exercida. Como se disse, desde a adesão de Portugal à então Comunidade Económica Europeia foram criados pelo Ministério da Agricultura, com base nos fundos europeus, incentivos ao investimento na agricultura e nas explorações agrícolas com vista à melhoria das suas infra-estruturas. - 5 -

Contudo, a estagnação ou mesmo o enfraquecimento da estrutura técnica dos organismos de apoio e avaliação, levou à diminuição das exigências ao nível do projecto, as quais, a maioria das vezes, se limitam a simples cartas de intenção com orçamento para o equipamento, quando se trata de investimentos nas explorações agrícolas. Consequentemente, verificou-se também uma diminuição das exigências ao nível da formação dos engenheiros, deixando assim o caminho aberto para que a área de Engenharia Rural tenha sido ocupada por agentes sem formação adequada, quando se trata de pequenos projectos da responsabilidade dos agricultores. Assim, embora se tenha assistido nos últimos anos à introdução de novas tecnologias de produção e a um aumento da actividade profissional na área da Engenharia Rural, a rendibilidade dos investimentos efectuados, embora por apurar, está certamente muito aquém do seu potencial. Havendo que pôr termo a esta situação, impõe-se a normalização das exigências de procedimento técnico de projecto desta área e a consequente subida dos níveis de qualidade do projecto e gestão dos empreendimentos, para o que a formação académica dos engenheiros e a sua qualificação profissional são fundamentais 2.5 - Condições Existentes no País para a Viabilidade da Especialização As prioridades para o país decorrentes da PAC, e definidas pelo Ministério da Agricultura Desenvolvimento Rural e Pescas, consideram a melhoria dos regadios existentes e a introdução dos novos regadios, nomeadamente os decorrentes da implementação do Alqueva, como uma actividade de primordial importância para o desenvolvimento económico-social do país. Contudo, a introdução dos novos regadios, acompanhada da introdução de culturas mais exigentes em nutrientes, não pode deixar de ser feita de modo sustentado, visando a conservação e protecção do solo e da água, quer superficial, quer subterrânea. Esta situação cria um largo campo de acção no âmbito da especialização que se propõe, o que aliada à existência já de um número considerado de profissionais com formação universitária de base, bastante distinta, e á necessidade de regulamentação e formação de profissionais de engenharia que, permitam criar uma experiência sólida assente em metodologias específicas, constituem, no entender dos signatários, razões suficientes para a criação da especialização em Engenharia Rural e Ambiente. 2.6 Conclusões - 6 -

De acordo com Parágrafo 2 do Art.3 do Regulamento da Criação de Especializações e Outorga de Títulos de Especialista, esta proposta, caso se torne como tal, deverá ser posta à apreciação de todos os interessados afim de serem recebidos comentários, que permitam, posteriormente, dar seguimento aos tramites estipulados no regulamento supracitado. 3 - CONDIÇÕES DE ADMISSÃO NA ESPECIALIZAÇÃO DE ENGENHARIA RURAL E AMBIENTE 3.1 - Organização Interna Caso a proposta mereça consenso e se transforme em realidade dever-se-á pensar na regulamentação de Admissão de Candidatos na Especialização, bem assim como na qualificação dos Engenheiros habilitados ao exercício dos domínios abrangidos pela Especialização proposta. No Quadro 1 é apresentado o formato da especialização em Engenharia Rural e Ambiente. São referidos os cinco grandes domínios exigíveis: Hidráulica Agrícola; Ordenamento Rural; Construções Rurais; Mecanização Agrária, Ambiente e Ecologia e explicitado, de forma indicativa e não exaustiva, os estudos, projectos e obras da competência própria desta especialização. 3.2 - Competências Exigíveis O exercício da actividade do engenheiro agrónomo especialista em Engenharia Rural e Ambiente exige formação académica em licenciatura acreditada pela Ordem os Engenheiros e contendo curricula afins dos domínios anteriormente referidos. O esquema proposto articula-se com a organização interna do ramo de especialização (Quadro 1), de acordo com os seguintes princípios: - A inscrição de qualquer engenheiro da especialidade de engenharia agronómica na especialização de Engenharia Rural e Ambiente pressupõe uma formação académica básica equilibrada nos cinco domínios exigíveis. Chega-se assim a um conjunto de disciplinas técnicas designadas no Quadro 2 por - disciplinas de base - que terão necessariamente que integrar os curricula dos cursos que pretendam enquadrar-se neste ramo de especialização. - A inscrição na especialização de Engenharia Rural e Ambiente pressupõe ainda a detenção de conhecimentos aprofundados em um (ou mais) dos seus domínios específicos. Assim, os engenheiros candidatos à inscrição neste ramo da especialização - 7 -

terão de possuir formação académica avançada num segundo conjunto de disciplinas técnicas complementares em pelo menos um dos domínios atrás referidos. No Quadro 2 indicam-se quatro conjuntos de disciplinas da área de trabalho, correspondentes a cada uma dessas áreas. - A ausência de formação técnica adequada à inscrição no ramo de especialização de Engenharia Rural e Ambiente, ou numa nova área de trabalho dentro deste ramo, pode ser suprida das seguintes formas: - Formação pós-graduada nas disciplinas em falta, conferida por instituição nacional ou internacional reconhecida como idónea pelo Colégio da Especialidade de Engenharia Agronómica. - Experiência profissional relevante no, ou nos domínios a que se pretende referir a inscrição na especialização. Aquela experiência será avaliada pelo Colégio da Especialidade de Engenharia Agronómica, mediante entrevista de avaliação curricular. - Prestação de provas específicas nas disciplinas em falta, a realizar sob controlo do Colégio da Especialidade de Engenharia Agronómica. 4 - QUALIFICAÇÃO DOS ENGENHEIROS DA ESPECIALIZAÇÃO DE ENGENHARIA RURAL E AMBIENTE Importa definir critérios para a definição de cada tipo de projecto segundo a sua complexidade. Poder-se-á optar por uma definição uni ou multi-critério. À partida foram criados alguns critérios a utilizar: área afectada, número de utilizadores, caudal, comprimento, altura, volumetria, volume de investimento, etc.. A classificação acima descrita, e a sua relação com o grau de competência técnica exigível, terá de ser devidamente articulada com uma outra preocupação e carácter igualmente classificativo: a existência de grandes projectos multidisplinares que tem de integrar especialistas de diferentes ramos do saber. Alguns desses projectos, pela sua natureza, terão de ser coordenados por um engenheiro do Ramo de Especialização de Engenharia Rural e ambiente. Outros, pela sua dimensão e especificidade, dificilmente se poderá defender que só estes engenheiros os podem coordenar, importando então assegurar que a equipa de trabalho conte com a participação de um deles. A necessidade de incentivar a melhoria da qualidade da Engenharia Rural e Ambiente reclama a clarificação e reformulação dos princípios de qualificação profissional a exigir aos autores e coordenadores dos projectos de engenharia rural. - 8 -

O Decreto n 73/73 de 28 de Fevereiro, consagrou a qualificação exigível aos autores de projectos, contudo, a evolução verificada na área dos diversos domínios da engenharia rural e ambiente, a multiplicação e diversificação dos técnicos envolvidos na respectiva elaboração, bem como a ausência prática de normas, são factores que justificam a sua revisão, designadamente à luz de padrões mais elevados de qualificação profissional. Neste documento, fixam-se as condições mínimas de qualificação a exigir aos autores de projectos, sem por em causa o envolvimento de profissionais com formação diversificada e complementar, de que resultará certamente a sua maior qualidade. Não obstante as regras fixadas, entendeu-se conveniente criar um regime excepcional que salvaguarde as legítimas expectativas de quantos exercem actualmente actividades de projecto sem que possuam as habilitações agora exigíveis. Assim, entende-se por autor do projecto o técnico que elabora a totalidade ou parte de um projecto. Sempre que uma obra integre um conjunto de projectos de diferentes domínios, deve existir um coordenador técnico de projecto que assegure a sua articulação, de modo a que os projectos sejam compatíveis. O coordenador do projecto deve ser escolhido de entre os técnicos que integram a equipa de projecto. Quando não seja indicado coordenador técnico, presume-se que a responsabilidade dessa função é assumida pelo autor do domínio com maior ênfase. Os projectos, bem como os correspondentes termos de responsabilidade, são subscritos pelos respectivos autores. A verificação da conformidade das qualificações oficiais legalmente exigidas aos autores de projectos cabe às entidades competentes para a respectiva aprovação. As qualificações oficiais dos técnicos autores de projectos devem ser verificadas mediante a apresentação do respectivo diploma de curso ou fotocópia do mesmo, no caso das Obras do Tipo I (ver ponto 5), e apresentação do comprovativo da validade da sua inscrição na Especialização de Engenharia Rural e Ambiente do Colégio de Engenharia Agronómica da Ordem dos Engenheiros. Os diplomas de curso a que se refere o parágrafo anterior, são emitidos por escolas portuguesas, oficiais ou particulares reconhecidas pelo Ministério da Ciência e Ensino Superior, ou por escolas estrangeiras, devendo, neste caso, ter obtido equivalência por entidades habilitadas para o efeito, ou, no caso de serem oriundos de países da União Europeia, ser credenciados pelas autoridades competentes nos termos do diploma de transposição das respectivas directivas. - 9 -

5 - CLASSIFICAÇÃO DA COMPLEXIDADE DOS PROJECTOS Pretende-se criar um sistema de classificação dos estudos, projectos e obras assente na sua complexidade e grau de exigência técnica. Para cada um dos tipos de projecto listado no Quadro 3 serão definidos três graus de complexidade crescente: a) O primeiro grau corresponde a estudos, projectos e obras engenharia rural de natureza simples e de concepção fácil em que não sejam exigidas grandes justificações e, em que devido à natureza, dimensão e importância dos materiais, equipamentos e custos envolvidos, as questões de sobredimensionamento não sejam relevantes. O responsável técnico respectivo poderá ser um engenheiro de qualquer especialidade da Ordem dos Engenheiros, ou ainda um engenheiro técnico agrário. b) O segundo grau corresponde a estudos, projectos e obras correntes baseadas em programas correntes de exigências funcionais, instalações e equipamentos correspondentes a soluções sem complexidade específica. Soluções de concepção e construção sem condicionamentos especiais de custos. O seu responsável técnico terá de estar inscrito no Ramo de Especialização de Engenharia Rural e Ambiente, embora possa não ter currículo adequado ao domínio respectivo. c) O terceiro grau corresponde a estudos, projectos e obras complexos em que a elaboração do projecto está condicionada por dificuldades relativamente às obras da categoria - II - Em função de: 1. - Concepção fundamentada em programas funcionais com exigências funcionais. 2. - Instalações e equipamentos que, pela sua complexidade técnica, tornem necessários o estudo de soluções pouco correntes ou complexas 3. - Sujeição de limites de custo que obriguem à pesquisa de várias soluções que conduzam a sistemas e métodos e à aplicação de materiais e elementos de construção diferentes das soluções tradicionais. O seu responsável técnico terá de estar inscrito no Ramo de Especialização de Engenharia Rural e Ambiente, integrado no domínio relativo ao tipo do projecto em causa. - 10 -

6 - NOTA FINAL Esta comunicação representa o resultado final do estudo realizado em 1998 por um Grupo de Trabalho criado no seio do Colégio de Engenharia Agronómica da Ordem dos Engenheiros tendente à criação de uma Especialização em Engenharia Rural e Ambiente, cujo trabalho, contudo, ficou esquecido. Neste Grupo de Trabalho participaram, além dos signatários, entre outros, os Eng. Costa Rodrigues, Casau e Santos Júnior. Posteriormente, em 2003, e por iniciativa do Centro Operativo e de Tecnologia de Regadio, este tema voltou a ser discutido por um conjunto de entidades convidadas (Eng. Quintão Pereira e António Campeã da Mota - IDRHa, Eng. José Beltrão UA, Eng. Vicente Sousa UTAD, Eng. Luis Leopoldo UE -, Eng. Francisco Correia - DRAAL, Eng José Manuel Gonçalves - ESAC, Eng. Ricardo Braga - ESAE, Eng. Sofia Ramoa - ESAB ) e ligadas a esta problemática, tendo sido aprovada esta proposta e a necessidade da sua passagem a uma discussão mais generalizada antes da sua apresentação junto da Ordem dos Engenheiros, razão pela qual a mesma se apresenta à discussão desta Assembleia. - 11 -

QUADRO 1: ÁREAS DE TRABALHO E TIPOLOGIA DOS PROJECTOS DOMÍNIOS HIDRÁULICA AGRÍCOLA ORDENAMENTO RURAL CONSTRUÇÕES RURAIS MECANIZAÇÃO AGRARIA TIPOLOGIA DOS PROJECTOS - Projectos de captação, elevação, condução e distribuição de água para a rega - Projectos de reabilitação de regadios - Projectos de adaptação de terras ao regadio (nivelamento e sistematização de terras) - Estudos de avaliação do desempenho de sistemas de rega - Projectos de defesa. enxugo e drenagem - Projectos de limpeza de cursos de água - Projectos de caminhos agrícolas e rurais - Projectos de pequenas barragens e açudes - Estudos de previsão e avaliação da erosão - Projectos de conservação do solo e da água - Estudos de previsão, avaliação e gestão da utilização consumtiva da água - Estudos de caracterização e prevenção de ocorrências hidrológicas extremas - Estudos de planeamento dos recursos hídricos - Estudos de caracterização agro-metereológica - Estudos de caracterização e prevenção da degradação da qualidade dos sistemas hídricos - Estudos de avaliação e definição das técnicas de rega adaptadas a águas salinas - Projectos de recuperação de solos quimicamente degradados - Projectos de rega com águas de reutilização - Cartografia de solos - Cartografia de capacidade de uso dos solos - Estudos de avaliação de terras - Elaboração de S.I.G. para o planeamento e a gestão do espaço rural - Projectos de ordenamento agro-florestal de pequenas bacias hidrográficas em zonas rurais - Projectos de emparcelamento rural - Projectos de ordenamento fundiário - Estudos de caracterização e evolução da ocupação agrícola - Estudos de levantamento dos recursos (solos, vegetação, etc.) - Estudos de previsão de colheitas - Projectos de instalações agrícolas. - Projectos de instalações pecuárias - Projectos de condicionamento ambiental - Projectos de tratamento e destino final de resíduos agro-pecuários - Projectos de instalações de produção de estrume - Projectos de habitação rural - Controle de odores - Ensaios e experimentação de maquinas agrícolas - Estudos de parâmetros de planeamento de máquinas agrícolas: períodos culturais e dias disponíveis; tempos-padrão; análise de custos de utilização. - Projectos de mecanização para: explorações agrícolas; desenvolvimento a nível regional; organizações de utilizações em comum de máquinas agrícola - 12 -

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