CARACTERIZAÇÃO MORFOLÓGICA DOS FRUTOS, SEMENTES E PLÂNTULAS DE Croton floribundus SPRENG. E DE Croton urucurana BAILL.

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Transcrição:

CARACTERIZAÇÃO MORFOLÓGICA DOS FRUTOS, SEMENTES E PLÂNTULAS DE Croton floribundus SPRENG. E DE Croton urucurana BAILL. (EUPHORBIACEAE) 1 ADELITA A.S. PAOLI 2, LEANDRO FREITAS 2 e JOSÉ MARCOS BARBOSA 3 Revista Brasileira de Sementes, vol. 17, n o 1, p. 57-68, 1995 RESUMO - Pormenores morfológicos dos frutos, sementes e plântulas de Croton floribundus Spreng. e Croton urucurana Baill (Euphorbiaceae) foram descritos e ilustrados, com ênfase no desenvolvimento das plântulas. Termos para indexação: Euphorbiaceae, frutos, sementes, plântulas MORPHOLOGICAL CHARACTERIZATION OF THE FRUITS, SEEDS AND SEEDLINGS OF Croton floribundus SPRENG. AND Croton urucurana BAILL. (EUPHORBIACEAE) ABSTRACT - Morphological aspects of the fruits, seeds and seedlings of Croton floribundus Spreng. and Croton urucurana Baill. (Euphorbiaceae) were described and illustrated, emphasizing these seedlings development. Index terms: Euphorbiaceae, fruits, seeds, seedlings INTRODUÇÃO Dentre as formações ripárias, a mata ripária, também chamada de ciliar ou de galeria, é a de maior distribuição no Estado de São Paulo (Mariano et al., 1982). A composição florística das matas ciliares possui características especiais sendo constituída de espécies adaptadas, tolerantes ou indiferentes a solos encharcados e/ou sujeitos a inundações temporárias (Kageyama et al., 1989). Entre as espécies selecionadas como típicas de regeneração das matas ciliares, de acordo com Bertoni & Martins (1987), Catharino (1989) e Barbosa et al. (1989), destacam-se Croton floribundus Spreng. e Croton urucurana Baill., ambas pertencentes à família Euphorbiaceae. C. floribundus é conhecida vulgarmente por capixingui, enquanto C. urucurana recebe as denominações: sangue de drago, sangria d água, sangra d água e urucurana. São espécies arbóreas nativas pioneiras, adaptadas às margens de rios, desde a beira d água até as bordas externas das matas ciliares, com ampla dispersão pelo Brasil (Cordeiro, 1985). Assad-Ludewigs et al. (1989) observaram que à medida que as matas ciliares no interior de São Paulo se tornam mais estreitas, é cada vez menor o número de espécies arbóreas, porém C. urucurana está quase sempre presente, a ponto de se encontrar somente esta espécie ao longo de trechos 1 Aceito para publicação em 10.03.95 2 Depto de Botânica - IB - UNESP, Caixa Postal 199, 13.506-900 - Rio Claro - SP 3 lnstituto de Botânica, Seção de Sementes e Melhoramento Vegetal, Caixa Postal 4.005, 01.061-970 - São Paulo - SP

de alguns rios. Também constataram, que esta espécie apresenta mudas de regeração natural, tanto próximas à praia do rio após as cheias, quanto nas bordas externas das matas ciliares, com dispersão através de deiscência explosiva dos frutos e, evidenciando-se a dispersão por hidrocoria. Salientaram, ainda, o rápido crescimento da espécie. Sendo, portanto, já constatado o elevado potencial de utilização de C. urucurana em plantios pioneiros na recuperação de margens degradadas de rios, os objetivos deste trabalho sao: 1. Apresentar informações comparativas sobre a morfologia dos frutos e das sementes de C. floribundus e de C. urucurana. 2. Acompanhar o desenvolvimento de plántulas das duas espécies em questão, a fim de selecionar características morfológicas que possam ser relevantes na identificação das plântulas no campo. 3. Apresentar informações sobre o padrão de venação das folhas cotiledonares e do eófilo de C. floribundus e de C. urucurana, utilizando-se como possível caracter na distinção das mesmas. MATERIAL E MÉTODOS O material de Croton floribundus Spreng. e de C. urucurana Baill. (ramos com frutos maduros próximos da deiscêneia) foi coletado e acondicionado em sacos plásticos, sendo então levado para o laboratório. A coleta foi efetuada em áreas de mata ciliar do Instituto Florestal, Reserva Biológica e Estação Experimental de Moji-Guaçú do Instituto de Botânica de São Paulo, situada no município de Moji-Guaçú, bairro de Martinho Prado, Estado de São Paulo. O material coletado foi examinado a fresco e as medições nos frutos e nas sementes foram efetuadas em amostras de 100 com auxílio de um paquímetro, registrando-se as médias. Para o estudo da plântula, as sementes foram colocadas para germinar em caixas tipo gerbox sobre papel de filtro umedecido com água destilada. Foram utilizadas amostras de 100 sementes para tratamento (4 x 25) mantidas em temperatura constante de ± 25 C, em germinador Fanem mod. 347G. As plântulas foram posteriormente transferidas para casa vegetação em sacos plásticos, acompanhando-se o desenvolvimento. As folhas cotiledonares, e o eófilo, foram diafanizadas utilizando a técnica de Fuchs (1963). As ilustrações referentes aos aspectos morfológicos foram obtidas com auxílio de uma câmara clara adaptada ao estereomicroscópio e estão acompanhadas da escala em milímetros. A terminologia adotada na descrição das plântulas, está de acordo com Ducke (1965 e 1969). Morfologia do fruto e da semente RESULTADOS O fruto de Croton urucurana (Figuras 1 a 3) e C. floribundus (Figuras 4 e 5) é seco, capsular, com deiscência explosiva elástica, separa-se em 3 cocas,

uniloculadas com 1 semente por lóculo, dispostas longitudinalmente. O endocarpo seco e lignificado, participa da ejeção das sementes, pelo secamento das paredes, não acompanhadas pela coluna central, que permanece rija. A coloração do fruto maduro é castanha, a superfície é rugosa, coberta de tricomas estrelados. Os frutos de C. urucurana medem em geral 5,0mm de diâmetro por 4,0mm de altura e os de C. floribundus medem aproximadamente 9,0mm x 8,0mm de altura.

A semente de C. urucurana (Figuras 6 a 10) e de C. floribundus (Figuras 11 a 15) é ovada, albuminosa, coriácea, com carúncula castanho-clara pouco desenvolvida, hilo visível na base e, rafe bem marcada longitudinalmente sobre a face plana da semente. Em C. urucurana a rafe é saliente, de coloração mais clara quando comparada com a coloração do tegumento. Em C. floribundus, a rafe possui a mesma coloração que o restante do tegumento, sendo apenas mais fina quando comparada com a rafe em C. urucurana. A superfície da testa é pouco variegada, apresentando uma gradação na tonalidade: com colorações que variam de pardo-brilhantes, a castanho-claras, castanho-escuras, e pretas sem brilho. As sementes de C. urucurana medem em média 3,2mm de comprimento por 2,7mm de largura, enquanto que as de C. floribundus 4,7mm x 4,4mm de largura. O embrião (Figuras 8 a 10 e 13 a 15) é axial, espatulado (Martin, 1946), isto é, reto com um eixo hipocótio-radícula cilíndrico, curto, e dois cotilédones foliáceos arredondados e grandes. A base dos cotilédones de C. urucurana é mais ou menos cordiforme e em C. floribundus, a base é reniforme. Quanto ao ápice, nas duas espécies não apresenta diferenças e, o tamanho dos mesmos nas duas espécies é semelhante, sendo proporcional ao tamanho das sementes. O endosperma do tipo oleaginoso, envolve o embrião totalmente, sendo rico em óleos graxos e cristais do tipo drusa.

Morfologia e desenvolvimento da plântula de Croton floribundus Os estágios sequenciais de desenvolvimento da plântula de C. floribundus são mostrados nas figuras 16 a 22 sendo, a germinação faneroepígea (os cotilédones emergem dos envoltórios acima da superficie do solo).

A germinação se dá com a emergência da radícula, na região micropilar (Figura 16). A partir do quarto dia, ocorre o rompimento do tegumento, da semente e observa-se que os cotilédones são envoltos inteiramente (inclusive os bordos) pelo endosperma, relativamente espesso, de coloração creme a levemente rosada (Figuras 17 e 18). No sétimo dia, ocorre a queda do tegumento, a raiz primária mede 1,8cm de comprimento (Figura 19). Com dez dias de idade, o hipocótilo piloso mede 2,0cm de comprimento, e o endosperma (com muitos cristais do tipo drusa, amido e óleo) se projeta para fora do tegumento, rompendo-se lateralmente, com a expansão das folhas cotiledonares (Figura 20). As folhas cotiledonares são ovadas, pilosas, margem lisa, ápice e base obtusas, pecioladas, peninérveas, com nervuras salientes na face abaxial. O padrão de venação é acrobroquidódromo (Figura 31). Observa-

se também, neste estágio, o início do desenvolvimento do primeiro eófilo e, ainda, não houve a formação de raízes secundárias. Com um mês de idade, o epicótilo mede 2,0mm de comprimento e o hipocótilo 2,5cm. As folhas cotiledonares não apresentam sinais de senescência. O primeiro eófilo é piloso, ovado-lanceolada, ápice agudo, margem inteira, levemente ondulada, base obtusa e nervuras salientes na face adaxial. O padrão de venação é semicraspedódromo (Figura 32). O primórdio da outra folha já é evidente. Neste estágio, o sistema radicular bem mais desenvolvido, mostra raízes secundárias e terciárias (Figura 22). Com dois meses de idade, observa-se visivelmente a ocorrência de látex no hipocótilo, as folhas cotiledonares mostram sinais de senescência. A plântula conta com 5 folhas simples. Aos três meses (Figura 36), a disposição das folhas no caule é alternada quinconcial e já ocorreu a queda das folhas cotiledonares. A planta está com 7 folhas expandidas e duas ainda dobradas. O caule com 25cm de comprimento, mostra muitas lenticelas. Uma planta com seis meses de idade pode ser observada na Figura 35 enquanto que a Figura 37, evidencia a ocorrência de látex e de lenticelas no caule. Morfologia e desenvolvimento da plântula de Croton urucurana Os estágios sequenciais da germinação de C. urucurana estão reunidos nas Figuras 23 a 40. A germinação é faneroepígea. Na plântula com 4 dias, a raiz primária apresenta, caracteristicamente, 4 pólos de raízes secundárias, saindo na mesma altura e ao mesmo tempo (Figura 24). Com seis dias de idade, o hipocótilo começa a se desenvolver, e os cotilédones estão parcialmente encobertos pelo tegumento, embora se encontrem inteiramente envoltos pelo endosperma de coloração creme-rosada (Figura 25). Com dez dias, o endosperma ainda não foi lançado para fora do tegumento (Figura 26). Após 12 dias (Figura 27) as folhas cotiledonares se expandem, sendo possível verificar o resto do endosperma, ainda preso sob uma das folhas cotiledonares. Essas são arredondadas, de margem lisa e com curto pecíolo sulcado. O padrão de venação é acrobroquidódromo (Figura 33). Com 20 dias, a plântula está com o sistema radicular bem desenvolvido (Figura 28). O hipocótilo é piloso e mede 3cm de comprimento. As folhas cotiledonares não apresentam sinais de senescência, e o primeiro eófilo já está expandido. Eófilo cordiforrne, de margem serreada, ápice agudo, base cordiforme, piloso, com pecíolo arredondado e piloso. O padrão de venação é actinodromo (Figura 34).

Com 3 meses de idade, já ocorreu a queda dos cotilédones, o caule da planta mede 10cm de comprimento e o sistema radicular está bastante desenvolvido. Parte do caule encontra-se suberificado, sendo visíveis lenticelas. A planta, neste estágio, está com seis folhas expandidas (Figura 29), sendo característico a ocorrência de dois nectários extra-florais pateliformes, pedunculados, de coloração vermelha, localizados na porção distal do pecíolo dos primeiros eófilos (Figuras 30 e 40). Com o desenvolvimento da planta, os nectários aumentam em número, ocorrendo também sobre a nervura principal, próxima à base da folha, que são apedunculadas. Ocorre látex em toda a planta, o qual, quando exudado, mostra coloração amarela. As folhas se inserem no caule alternadamente, com disposição quinconcial (Figuras 38 e 39). DISCUSSÃO Segundo Roosmalen (1985), o fruto de Euphorbiaceae é, em geral, uma cápsula, algumas vezes, uma drupa, ou até, uma baga. Dos 31 gêneros

estudados por este autor, 27 possuem frutos do tipo capsular, 3 do tipo drupa e 1 apenas com fruto do tipo baga. Entre os gêneros citados, destacam os seguintes: Acalypha sp, Alchornea sp, Amanoa sp, Croton sp, Mabea sp, Phyllanthus sp, etc., como exemplos de gêneros com frutos capsulares. Roth (1977) comentou sobre o mecanismo de deiscência da cápsula de Hura creptans, uma Euphorbiaceae, onde cada mericarpo separa-se do adjacente, bem como da coluna central, quando o fruto seca, abrindo-se abruptamente, através da sutura dorsal. Os frutos capsulares de Croton floribundus e C. urucurana possuem três cocas, correspondendo cada coca a um carpelo com deiscência semelhante a dos frutos de H. creptans, sendo que os carpelos separam-se também do eixo. Comer (1976) discutiu a similaridade entre a carúncula e o arilo micropilar pulposo, existente na semente de alguns representantes de Euphorbiaceae, cujo desenvolvimento se dá após a fertilização e, não deve ser confundido com o obturador que se desenvolve antes da fertilização, e normalmente seca sem aumentar com o desenvolvimento da semente. Salientou, ainda, que no gênero Croton, a carúncula pode apresentar um desenvolvimento conspícuo, ou ser ausente. As sementes de C. floribundus e C. urucurana possuem carúncula e diferem apenas nas dimensões, na espessura e coloração da rafe, e no formato da base dos cotilédones. Com relação ao estudo de plântulas, o período juvenil é o maior e o mais crítico do ciclo de vida de muitas espécies (Kozlowski, 1971; Ducke & Polhili, 1981), já que um fracasso dos processos adaptativos nesses estágios poderia levar a espécie a extinção (Amo-Rodrigues & Gomez-Pompa, 1976). Além de crítica, a fase de plántula é também pouco conhecida. O reconhecimento dos estágios juvenis na mata pode ser relevante para o estabelecimento da dinâmica de populações da mesma e o manejo silvicultural de muitas matas semelhantes. A morfologia e o desenvolvimento de plântulas associado a resultados sobre a velocidade de germinação de sementes, fornecem subsídios úteis para os trabalhos em viveiros e sobre armazenamento de sementes e regeneração de florestas (Ng, 1978). A maioria dos representantes da família Euphorbiaceae caracteriza-se por apresentar germinação epígea fanerocotiledonar com cotilédones longopeciolados (Duke, 1969). Castro Oliveira & Pereira (1987) apresentaram informações sobre o desenvolvimento da plântula de alguns representantes de Euphorbiaceae, os quais apresentaram germinação fanerocotiledonar, sendo que, apenas em Hevea brasiliensis, a germinação foi criptocotiledonar. Dentre os gêneros estudados por esses autores, Aleurites e Cnidosculus, embora com germinação fanerocotiledonar, apresentaram diferenças morfológicas marcantes entre si e peculiares aos gêneros. Já entre Aleurites fordii e A. moluccana, o desenvolvimento das plântulas foi praticamente idêntico. Em C. floribundus e em C. urucurana foi constatado diferenças morfológicas marcantes e passíveis de discriminações a nível específico. Dentre essas, podem ser destacadas: a variação na forma e no padrão de venação do eófilo, a presença de nectários em C. urucurana, bem como o

desenvolvimento mais acentuado da plântula em C. urucurana. Em nível genérico, merece ser destacado o fato do endosperma, ser lançado para fora do tegumento da semente, durante o desenvolvimento da plântula. Estes caracteres, em conjunto, sem dúvida, fornecem subsídios que facilitam o reconhecimento de plântulas no campo, do material em questão, tanto em nível de gênero como de espécie. As plântulas de C. floribundus e de C. Urucurana, sendo faneroepígeas, com cotilédones foliáceos, podem ser enquadradas no tipo Macaranga, na qual também pertence a metade das espécies lenhosas de dicotiledôneas (Vogel, apud Duke & Polhill, 1981). REFERÊNCIAS AMO-RODRIGUES, Z.S.; GOMEZ-POMPA, A. Crescimento de estados juveniles en plantas de Selva Tropical Alta Perennifolia. ln: INVESTIGACIONES SOBRE LA REGENERACIÓN DE SELVAS ALTAS EN VERACRUZ, MÉXICO. Editorial Continental. Xalapa, 1976. p.549-565. ASSAD-LUDEWIGS, I.Y.; PINTO, M.M.; SILVA F, N.L.; GOMES, E.C. & KANASHIRO, S. Propagação, crescimento e aspectos ecofisiológicos em Croton urucurana Baill. (Euphorbiaceae), arbórea nativa pioneira de mata ciliar. Simpósio sobre mata ciliar. Anais... Campinas: Fundação Cargill, 1989. p.284-298. BARBOSA, J.M.; BARBOSA, L.M.; ANDREANI-JR, R.; SILVA, T.S.; VERONESE, S.A. & ZELLER, M.F.B. Estudos dos efeitos da periodicidade da inundação sobre o vigor das sementes e desenvolvimento de plântulas para oito espécies ocorrentes em mata ciiar. In: SIMPÓSIO SOBRE MATA CILIAR. Anais... Campinas: Fundação Cargill, 1989. p.310-3l9. BERTONI, J.E.A. & MARTINS, F.R. Composição florística ripária na Reserva Estadual de Porto Ferreira, SP. Acta Botânica Brasílica, Brasília, 1(1):17-26, 1987. BERTONI, J.E.A. Composição florística e estrutura fitossociológica do interior do E.S.P.: Reserva Estadual de Porto Ferreira. Campinas, 1985. 250p. (Dissertação Mestrado). CATHARINO, E.L.M. Florística de matas ciliares. In: SIMPÓSIO SOBRE MATA CILIAR. Anais... Campinas, 1989. p.61-87. CORDEIRO, I. A família Euphorbiaceae na Serra do Cipó, MG, Brasil. São Paulo: IB/USP, 1985. 261p. (Dissertação de Mestrado). CORNER, E.J.H. The seeds of dicotyledons. Cambridge: Cambridge Univ. Press., v.1, 1976. 331p.

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