ALFABETIZAÇÃO CIENTÍFICA E O ENSINO DE FÍSICA NOS CURSOS TÉCNICOS



Documentos relacionados
A IMPORTÂNCIA DAS DISCIPLINAS DE MATEMÁTICA E FÍSICA NO ENEM: PERCEPÇÃO DOS ALUNOS DO CURSO PRÉ- UNIVERSITÁRIO DA UFPB LITORAL NORTE

OS CONHECIMENTOS DE ACADÊMICOS DE EDUCAÇÃO FÍSICA E SUA IMPLICAÇÃO PARA A PRÁTICA DOCENTE

Formação e Gestão em Processos Educativos. Josiane da Silveira dos Santos 1 Ricardo Luiz de Bittencourt 2

LURDINALVA PEDROSA MONTEIRO E DRª. KÁTIA APARECIDA DA SILVA AQUINO. Propor uma abordagem transversal para o ensino de Ciências requer um

SAÚDE E EDUCAÇÃO INFANTIL Uma análise sobre as práticas pedagógicas nas escolas.

DEMOCRÁTICA NO ENSINO PÚBLICO

CONTRIBUIÇÕES PARA UMA ALFABETIZAÇÃO CIENTÍFICA: ANALISANDO ABORDAGENS DA PRIMEIRA LEI DE NEWTON EM LIVROS DIDÁTICOS DE FÍSICA

Palavras-chave: Educação Matemática; Avaliação; Formação de professores; Pró- Matemática.

LEITURA E ESCRITA: HABILIDADES SOCIAIS DE TRANSCREVER SENTIDOS

Pedagogia Estácio FAMAP

PROGRAMA DE CAPACITAÇÃO E APERFEIÇOAMENTO PARA TUTORES - PCAT

Faculdade de Direito Ipatinga Núcleo de Investigação Científica e Extensão NICE Coordenadoria de Extensão. Identificação da Ação Proposta

Resgate histórico do processo de construção da Educação Profissional integrada ao Ensino Médio na modalidade de Educação de Jovens e Adultos (PROEJA)

LICENCIATURA EM MATEMÁTICA. IFSP Campus São Paulo AS ATIVIDADES ACADÊMICO-CIENTÍFICO-CULTURAIS

A FORMAÇÃO DO PROFESSOR E A EDUCAÇÃO INCLUSIVA: UMA BARREIRA ENTRE A TEORIA E A PRÁTICA

Pesquisa com Professores de Escolas e com Alunos da Graduação em Matemática

Projeto Pedagógico Institucional PPI FESPSP FUNDAÇÃO ESCOLA DE SOCIOLOGIA E POLÍTICA DE SÃO PAULO PROJETO PEDAGÓGICO INSTITUCIONAL PPI

PALAVRAS-CHAVE: Uso Racional de Medicamentos. Erros de medicação. Conscientização.

difusão de idéias A formação do professor como ponto

crítica na resolução de questões, a rejeitar simplificações e buscar efetivamente informações novas por meio da pesquisa, desde o primeiro período do

AS NOVAS DIRETRIZES PARA O ENSINO MÉDIO E SUA RELAÇÃO COM O CURRÍCULO E COM O ENEM

USO DAS TECNOLOGIAS DA INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO NA FORMAÇÃO DE PROFESSORES PRESENCIAL E A DISTÂNCIA

Bacharelado em Humanidades

Dados do Ensino Médio

A PRÁTICA PEDAGÓGICA DO PROFESSOR DE PEDAGOGIA DA FESURV - UNIVERSIDADE DE RIO VERDE

Trabalho em Equipe e Educação Permanente para o SUS: A Experiência do CDG-SUS-MT. Fátima Ticianel CDG-SUS/UFMT/ISC-NDS

SUGESTÕES PARA ARTICULAÇÃO ENTRE O MESTRADO EM DIREITO E A GRADUAÇÃO

CONSIDERAÇÕES SOBRE A EXPERIMENTAÇÃO DE QUÍMICA NO ENSINO MÉDIO

Faculdade de Ciências Humanas Programa de Pós-Graduação em Educação RESUMO EXPANDIDO DO PROJETO DE PESQUISA

REALIZAÇÃO DE TRABALHOS INTERDISCIPLINARES GRUPOS DE LEITURA SUPERVISIONADA (GRULES)

TÍTULO: ALUNOS DE MEDICINA CAPACITAM AGENTES COMUNITÁRIOS NO OBAS CATEGORIA: CONCLUÍDO ÁREA: CIÊNCIAS BIOLÓGICAS E SAÚDE

FORMAÇÃO DOCENTE: ASPECTOS PESSOAIS, PROFISSIONAIS E INSTITUCIONAIS

APRENDER A LER PROBLEMAS EM MATEMÁTICA

Escola Superior de Ciências Sociais ESCS

111 ENSINO FUNDAMENTAL

CURSO TECNOLÓGICO EM GESTÃO HOSPITALAR

FUNDAÇÃO CARMELITANA MÁRIO PALMÉRIO FACIHUS FACULDADE DE CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS Educação de qualidade ao seu alcance SUBPROJETO: PEDAGOGIA

O olhar do professor das séries iniciais sobre o trabalho com situações problemas em sala de aula

SIGNIFICADOS ATRIBUÍDOS ÀS AÇÕES DE FORMAÇÃO CONTINUADA DA REDE MUNICIPAL DE ENSINO DO RECIFE/PE

Carga Horária :144h (07/04 a 05/09/2014) 1. JUSTIFICATIVA: 2. OBJETIVO(S):

REFORÇO AO ENSINO DE FÍSICA PARA CURSOS TÉCNICOS INTEGRADOS DO INSTITUTO FEDERAL FARROUPILHA

EDUCAÇÃO E CIDADANIA: OFICINAS DE DIREITOS HUMANOS COM CRIANÇAS E ADOLESCENTES NA ESCOLA

Curso de Tecnologia em Gestão de Recursos Humanos

Programa de Desenvolvimento Local PRODEL. Programa de Extensão Institucional

CURSINHO POPULAR OPORTUNIDADES E DESAFIOS: RELATO DE EXPERIÊNCIA DOCENTE

UMA EXPERIÊNCIA EM ALFABETIZAÇÃO POR MEIO DO PIBID

ITINERÁRIOS DA EDUCAÇÃO MATEMÁTICA: O ESTÁGIO SUPERVISIONADO E A FORMAÇÃO DO PROFESSOR DE MATEMÁTICA

O uso de Objetos de Aprendizagem como recurso de apoio às dificuldades na alfabetização

UNCME RS FALANDO DE PME 2015

PROJETO DE IMPLANTAÇÃO DE BIBLIOTECAS ESCOLARES NA CIDADE DE GOIÂNIA

OBJETIVO Reestruturação de dois laboratórios interdisciplinares de formação de educadores

ESCOLA, LEITURA E A INTERPRETAÇÃO TEXTUAL- PIBID: LETRAS - PORTUGUÊS

Atividades CTS em uma abordagem argumentativa: a reflexão de um futuro professor

Dimensão 1 - Organização Didático-Pedagógica do Curso

Sugestão de Roteiro para Elaboração de Monografia de TCC

softwares que cumprem a função de mediar o ensino a distância veiculado através da internet ou espaço virtual. PEREIRA (2007)

O Projeto Político Pedagógico. Norteadores para uma Gestão Democrática na Escola: PPP e Regimento Escolar

QUALIFICAÇÃO E PARTICIPAÇÃO DE PROFESSORES DAS UNIDADES DE ENSINO NA ELABORAÇÃO DE PROGRAMAS FORMAIS DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL

QUANTO VALE O MEU DINHEIRO? EDUCAÇÃO MATEMÁTICA PARA O CONSUMO.

ATUAÇÃO DO MACROCAMPO PARTICIPAÇÃO ESTUDANTIL EM SOCIOLOGIA NO SEVERINO CABRAL

Unidade II FUNDAMENTOS HISTÓRICOS, TEÓRICOS E METODOLÓGICOS DO SERVIÇO SOCIAL. Prof. José Junior

COMISSÃO PRÓPRIA DE AVALIAÇÃO DA FACULDADE ARAGUAIA

introdução Trecho final da Carta da Terra 1. O projeto contou com a colaboração da Rede Nossa São Paulo e Instituto de Fomento à Tecnologia do

11 de maio de Análise do uso dos Resultados _ Proposta Técnica

OBSERVATÓRIO DE GESTÃO DA INFORMAÇÃO. Palavras-chave: Gestão da Informação. Gestão do conhecimento. OGI. Google alertas. Biblioteconomia.

Gestão do Conhecimento A Chave para o Sucesso Empresarial. José Renato Sátiro Santiago Jr.

Estado da Arte: Diálogos entre a Educação Física e a Psicologia

EDITAL PARA PUBLICAÇÃO REVISTA PESQUISA E DEBATE EM EDUCAÇÃO

OS CONHECIMENTOS MATEMÁTICOS NO ENSINO SUPERIOR: OUTRAS POSSIBILIDADES PARA A PRÁTICA DO PROFESSOR

ESTRATÉGIAS DE ENSINO NA EDUCAÇÃO INFANTIL E FORMAÇÃO DE PROFESSORES. Profa. Me. Michele Costa

Curso de Especialização Docente em Educação Ambiental (Lato Sensu)

Agenda Estratégica Síntese das discussões ocorridas no âmbito da Câmara Técnica de Ensino e Informação

MATRIZES CURRICULARES MUNICIPAIS PARA A EDUCAÇÃO BÁSICA - MATEMÁTICA: UMA CONSTRUÇÃO COLETIVA EM MOGI DAS CRUZES

FORMANDO AS LIDERANÇAS DO FUTURO

MANUAL DE ATIVIDADES COMPLEMENTARES PARA O CURSO DE FISIOTERAPIA

Rompendo os muros escolares: ética, cidadania e comunidade 1

Relatório da IES ENADE 2012 EXAME NACIONAL DE DESEMEPNHO DOS ESTUDANTES GOIÁS UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS

VESTIBULAR: Uma escolha profissional que interliga a família e a escola

WALDILÉIA DO SOCORRO CARDOSO PEREIRA

Desafios da EJA: flexibilidade, diversidade e profissionalização PNLD 2014

ENSINO FUNDAMENTAL. De acordo a LDB 9394/96 o Ensino Fundamental, juntamente com a Educação Infantil e o Ensino Médio, compõe a Educação básica.

OLIMPÍADA BRASILEIRA DE MATEMÁTICA DAS ESCOLAS PÚBLICAS (OBMEP): EXPERIÊNCIAS VIVENCIADAS A PARTIR DO PIBID UEPB MONTEIRO

MÍDIAS NA EDUCAÇÃO Introdução Mídias na educação

CURSO DE ODONTOLOGIA DA FACIPLAC PROJETO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA

DESENVOLVIMENTO DE PROJETOS NO ENSINO DE FÍSICA.

Linha 2- Desenvolvimento e Conflitos Sociais:

POR QUE FAZER ENGENHARIA FÍSICA NO BRASIL? QUEM ESTÁ CURSANDO ENGENHARIA FÍSICA NA UFSCAR?

Projeto Pedagógico: trajetórias coletivas que dão sentido e identidade à escola.

Projetos de informatização educacional. Ketiuce Ferreira Silva 3º Período G1 Professora: Gilca

A IMPORTÂNCIA DA GESTÃO DE CUSTOS NA ELABORAÇÃO DO PREÇO DE VENDA

UNIVERSIDADE ESTADUAL DE GOIÁS UNIDADE UNIVERSITÁRIA DE CIÊNCIAS SÓCIO-ECONÔMICAS E HUMANAS DE ANÁPOLIS

AS SALAS DE TECNOLOGIAS EDUCACIONAIS E A PRATICA DOCENTE.

USANDO A REDE SOCIAL (FACEBOOK) COMO FERRAMENTA DE APRENDIZAGEM

ENSINO JURÍDICO DEMOCRÁTICO EDITAL PARA SELEÇÃO DE CANDIDATOS AO PROJETO ENSINO JURÍDICO DEMOCRÁTICO A PARTIR DE CURSO DE APRIMORAMENTO DOCENTE

José Fernandes de Lima Membro da Câmara de Educação Básica do CNE

Campanha Nacional de Escolas da Comunidade Mantenedora da Faculdade Cenecista de Campo Largo

INSTITUTOS SUPERIORES DE ENSINO DO CENSA PROGRAMA INSTITUCIONAL DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA PROVIC PROGRAMA VOLUNTÁRIO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA

educação ambiental: estamos caminhando... EDUCAÇÃO AMBIENTAL: ESTAMOS CAMINHANDO...

Perguntas Frequentes

DIREITOS HUMANOS E CIDADANIA: e os museus com isso? Museu Antropológico da Universidade Federal de Goiás (MA/UFG)

Transcrição:

ALFABETIZAÇÃO CIENTÍFICA E O ENSINO DE FÍSICA NOS CURSOS TÉCNICOS Marlene Santos Socorro Programa de Pós-Graduação em Educação Científica e Tecnológica PPGECT Universidade Federal de Santa Catarina UFSC RESUMO O trabalho exposto nas linhas a seguir corresponde a um dos pontos a serem abordados na dissertação de mestrado, que versará sobre o ensino de física nos cursos técnicos ministrados nos Centros Federais de Educação Tecnológica (CEFETS), na perspectiva de analisar o contexto da Alfabetização Científica (AC) contido nos programas de Física. A pesquisa analisará documentos que norteiam essa categoria de ensino, como a própria Lei de Diretrizes e Base da Educação Nacional (LDB), as Diretrizes Curriculares Nacionais da Educação Profissional dos Cursos Técnicos (DCT) além dos programas dos cursos selecionados e proposta pedagógica dos mesmos. O ponto a ser abordado neste primeiro ensaio versa sobre as categorias de análise que serão utilizadas no estudo dos documentos, utilizando como referencial teórico Gerard Fourez. Palavras Chaves: Alfabetização Cientifica, Ensino de Física, Categorias de Análise. INTRODUÇÃO Licenciada e bacharel em Física pela Universidade Federal da Bahia (UFBA), iniciei no ano de 1986 minha trajetória como professora de Física na Escola Técnica Federal da Bahia (ETFBA), atual Centro Federal de Educação Tecnológica da Bahia (CEFETBA). Na época, os cursos técnicos possuíam sete semestres, sendo que a disciplina Física era ministrada até o quarto semestre, num total de quatro aulas teóricas e duas aulas de laboratório semanais, sendo que o primeiro semestre era básico para todos os cursos. Depois os cursos técnicos passaram a ser anuais e desse modo a carga horária da disciplina sofreu uma redução, passando a quatro aulas semanais incluindo as aulas de laboratório.na década de 1990 com o decreto 2208, os cursos técnicos foram reduzidos a quatro semestres, e a carga horária de Física foi suprimida em alguns cursos e reduzida em outros. Durante aproximadamente duas décadas a prática em sala de aula exigia transformações, sejam pelas reformulações institucionalmente impostas ou pela necessidade crescente de alternativas frente à crise que mergulhou o ensino de ciências. Como professora de Física em uma instituição pública de ensino de inegável importância no cenário nacional, a responsabilidade em minimizar essa crise tornou-se inevitável, vários são os fatores que certamente alimentam essa crise, mas me detive em um deles que acredito ser o responsável pela investigação aqui proposta: o programa de física desenvolvido na sala de aula e o seu afastamento dos temas atuais, dificultando desse modo a formação de um cidadão crítico, capaz não só de opinar mas também definir de forma consciente o rumo da nossa sociedade frente aos desafios do mundo atual Historicamente os cursos técnicos foram produtos de uma visão tecnicista, onde o objetivo principal era atender ao mercado de trabalho com uma mão de obra barata, atingindo os filhos dos menos favorecidos

socialmente. Hoje, mesmo com toda crise que envolve a educação no nosso país, essa visão tem sido alvo de críticas e de muitas pesquisas que propõem alternativas que consolidem um ensino técnico voltado não exclusivamente para o mundo do trabalho, mas principalmente na formação de um cidadão crítico, consciente do seu papel nos desafios que envolvem a sociedade atual. O problema da investigação aqui proposta tenta atender a preocupação levantada no parágrafo anterior e pode ser expresso pelo seguinte questionamento: Como os programas de Física nos cursos técnicos do nível médio dos CEFETS têm incorporado as orientações educacionais contidas na LDB e na DCT na perspectiva de alfabetizar cientificamente os estudantes? Com esse questionamento, o objetivo principal é investigar a contribuição da LDB e dos DCT na construção dos programas de Física na perspectiva de alfabetizar cientificamente os estudantes do ensino médio. ALFABETIZAÇÃO CIENTÍFICA (AC) Acreditamos que será um desafio discutir o significado da AC, como promovê-la de fato nas nossas aulas de ciências. Este desafio vem já há algum tempo fazendo parte do cenário das pesquisas acadêmicas, não só no Brasil, mas em outros paises, como Estados Unidos, Inglaterra, Portugal. Um dos fatores para a emergência desse tema é a própria globalização que acelera de forma assustadora as informações e corrida ao desenvolvimento cientifico. Delizoicov, no artigo Alfabetização Cientifica nas series iniciais chama a atenção da tradução do termo em inglês cientific literacy, onde literacy é traduzido como alfabetização quando deveria ser alfabetismo cuja diferença se dá de forma bastante sutil. O autor salienta em seu artigo que ao adotar o termo alfabetização não supõe um estágio término, e sim, uma atividade vitalícia.... quando se fala em alfabetização, normalmente não se percebe que a expressão ser alfabetizado apresenta dois significados diferentes: um, mais denso, estabelece uma relação com a cultura, a erudição. Por conseguinte, o indivíduo alfabetizado é aquele que é culto, erudito, ilustrado. O outro fica reduzido à capacidade de ler e escrever ( MILLER, apud DELIZOICOV, 1991) Várias são as definições de AC, discutiremos as definições que mais se aplicam à contextualização dos cursos ministrados nos CEFETS. Iniciaremos com a definição de Gerard Fourez que introduz a Alfabetização Científica e Técnica (ACT), o autor o termo designa um tipo de saber, de capacidade ou de conhecimento e de saber-ser que, em nosso mundo técnico-científico, seria uma contraparte ao que foi alfabetização no último século. Para Fourez a perspectiva de AC está relacionada aos fins humanísticos, sociais e econômicos. O objetivo humanista está diretamente ligado ao universo técnico-científico onde a ciência constitui-se em uma ferramenta para decodificar o mundo, ou seja, a realidade, construindo a autonomia crítica. Os objetivos ligados ao social possuem como perspectiva a diminuição das desigualdades decorrentes da falta de conhecimento e compreensão das tecno-ciências que certamente contribui na participação das discussões e decisões que exigem conhecimentos e senso crítico. Os objetivos ligados ao econômico e ao político incentivam a participação na produção do mundo industrializado, incentivando as vocações científicas e tecnológicas. Fourez usa o termo tensão, ao discutir a controvérsia em torno de uma ACT individual ou coletiva.

Tradicionalmente o nosso ensino possui como perspectiva a educação do indivíduo, mas para Fourez esse indivíduo estará inevitavelmente interagindo com o coletivo e dessa forma uma coletividade pode ser alfabetizada em relação a questões que inicialmente foram tratadas individualmente, significando a construção de uma cultura formada de saber, saber-fazer e saber ser, facilitando um debate democrático, logo, as questões tratadas de forma coletiva fortalecem a cultura cidadã. Outro aspecto tratado pelo autor e que podemos associar às competências e habilidades constantes na LDB, diz respeito à formação para as competências tratadas pelo autor de modo geral, levantando aspectos como: Fazer um bom uso dos especialistas, conseguindo manter um diálogo produtivo; Fazer um bom uso das caixas pretas pode considerar que a caixa preta seriam as variáveis ocultas que estariam envolvidas em certo contexto, sabendo quando é interessante ou não abri-la; Fazer um bom uso de modelos simples, em outras palavras, facilitar a compreensão do que está posto;fazer um bom uso das metáforas ou comparações que envolvem os conceitos científicos;fazer um bom uso das traduções, ou seja, saber estudar um problema por uma ótica diferente, de uma perspectiva para outra;fazer um bom uso da negociação, saindo da posição passiva para uma ativa, vale ressaltar que essa negociação atinge um patamar que envolve pessoas, normas e técnicas;fazer um bom uso da articulação entre saberes e decisões;fazer um bom uso dos debates técnicos, éticos e políticos;fazer uso e também criar modelos interdisciplinares; Na verdade, apesar de constar na LDB, percebemos que formar para essas competências é um grande desafio, principalmente quando nos deparamos com a nossa formação que deixou muitas lacunas, já que pertencemos a uma formação bancária, onde os resultados eram imediatistas e descontextualizados. Uma vez percebido que nós possuímos implicitamente alguns indicadores do domínio de tais competências, torna-se possível ver que entre ensinar estas competências e outras, mais clássicas, como resolver uma equação do segundo grau, as diferenças não são essenciais. Isto porque, antes que se consiga formalizar o que a resolução das equações do segundo grau implica o ensino a este respeito pode parecer tão desfocado que se assemelhe à competência ter o bom uso dos especialistas antes que esta tenha sido conceituada (Gerard Fourez no artigo Crise no ensino de ciências?). Não resta dúvida que a ensinabilidade dessas competências possui um compromisso social, principalmente quando falamos da educação da população menos favorecida que necessita da escola para entender e elaborar sua opinião sobre diversos temas. Certamente, todos esses questionamentos não possuem respostas imediatas e simples, principalmente em nosso país onde a educação não se constitui uma prioridade, mesmo com todos os avanços que têm acontecido nos últimos anos, com programas e alguns investimentos. Mas, do ponto de vista prático que envolve o dia a dia da sala de aula, poderemos considerar um grande avanço se esse debate chegar à equipe de professores, que em sua grande maioria não participou desse tipo de discussão na sua formação.

CATEGORIAS DE ANÁLISE A Associação de Professores dos Estados Unidos, NSTA (National Science Teachers Association), elaborou uma declaração relativa à educação científica para os anos 80 onde são propostos critérios para a promoção da ACT. Dentre eles destacamos: 1- Utilizar conceitos científicos e integrar valores e conhecimentos para tomar decisões responsáveis na vida cotidiana; 2- Saber reconhecer a diferença entre os resultados científicos e as opiniões pessoais; 3- Conhecer os principais conceitos, hipóteses e teorias científicas e ser capaz de aplicá-los; 4- Compreende as aplicações das tecnologias e as implicações ocasionadas pela sua utilização; Fourez acrescenta mais um item: Ter certa compreensão da maneira como as ciências e as tecnologias foram produzidas ao longo da história. A justificativa para esta inclusão diz respeito à consciência que o indivíduo necessita ter sobre a história da construção humana das ciências e tecnologias, levando em conta as dimensões culturais, econômicas e sociais. Levando em consideração os aspectos levantados nos últimos parágrafos, utilizarei como categorias de análise: 1- A abordagem sobre a relação Ciência, Tecnologia e Sociedade; tendo como subcategoria: elementos que contribuam para a busca do envolvimento entre temas a serem abordados e a tríade ciência, tecnologia e sociedade; 2- A divisão entre cursos de ciências e cursos de tecnologia; tendo como subcategoria: contextualização dos componentes teóricos da disciplina e o estudo das tecnologias; 3- A relação entre os objetivos pedagógicos e as questões sociais dos estudantes; tendo como subcategoria: a busca da relação entre o tema a ser abordado e a realidade do estudante; CONCLUSÃO Acreditamos que discutir a Alfabetização Científica no contexto do ensino da disciplina Física, em cursos técnicos nos CEFETS, nos levará a muitos caminhos para discutir mudanças na prática de sala de aula, passando pela discussão dos currículos, dos documentos norteadores e das propostas pedagógicas. Após este ensaio o sentimento aflorado é de um caminhar muito longo para conseguir efetivamente a promoção de uma educação que alfabetize cientificamente e tecnologicamente os nossos estudantes, sendo um primeiro passo para sua formação crítica, cidadã. Não podemos deixar de falar na importância da nossa formação, preocupação dos pensadores aqui citados, que nos capacite pelo menos como mediadores de debates éticos, políticos, envolvendo questões gerais e específicas do nosso dia a dia. Podemos perceber que uma pessoa que possua certo grau de compreensão sobre temas científicos não obteve tal conhecimento em uma disciplina específica, e sim, em todo um contexto que vai do currículo escolar ao desenvolvimento de projetos que envolvam ações que incentivem a investigação, a leitura, experiências em

laboratório e etc. Não resta dúvida para nós que essa discussão certamente contribuirá na conjuntura atual onde todos os CEFETS estão reestruturando seus cursos técnicos com vistas na implantação do decreto 5154 que prevê duas modalidades de ensino técnico: o subseqüente e o integrado. O primeiro será oferecido para os estudantes que concluíram o ensino médio ou estão no último ano do ensino médio, o segundo integra o ensino médio ao ensino técnico. REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS AULER, D. e DELIZOICOV, D., Alfabetização Científico-Tecnológica para quê? In: ATAS DO II ENCONTRO NACIONAL DE PESQUISA EM EDUCAÇÃO EM CIÊNCIAS, 2001, Atibaia, São Paulo. CHASSOT, A., Alfabetização Científica: questões e desafios para a educação, 2001, Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul. FOUREZ, G., Alfabetización Científica y Tecnológica : Acerca de las finalidades de la enseñanza de las ciencias, 1997, Buenos Aires, Argentina. PINHEIRO, T. F.; PINHO ALVES, J. & PIETROCOLA, M. Um exemplo de Construção de uma Ilha de Racionalidade em torno da noção de energia. Ata Eletrônica do VII ENPEF. Florianópolis, março, 2000. SCHMITZ, C. Elementos de interdisciplinares e etapas das ilhas de racionalidade. In:. Desafio docente: as ilhas de racionalidade e seus elementos interdisciplinares, 2004, p. 28-129. Dissertação de Mestrado, Universidade Federal de Santa Catarina.