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Boletim de Pesquisa 201 e Desenvolvimento ISSN 1676-340 Dezembro, 2007 SEGUNDA ATUALIZAÇÃO DA FLORA VASCULAR DA FAZENDA SUCUPIRA, BRASÍLIA - DF

ISSN 0102 0110 Dezembro, 2007 Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento Boletim de Pesquisa e Desenvolvimento 201 SEGUNDA ATUALIZAÇÃO DA FLORA VASCULAR DA FAZENDA SUCUPIRA, BRASÍLIA - DF Vale, G.D. Fontes C.G. Pereira J.B. Vieira R.C. Walter B.M.T. Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia Brasília, DF 2007

Exemplares desta edição podem ser adquiridos na Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia Serviço de Atendimento ao Cidadão Parque Estação Biológica, Av. W/5 Norte (Final) Brasília, DF CEP 70770-900 Caixa Postal 02372 PABX: (61) 448-4600 Fax: (61) 340-3624 http://www.cenargen.embrapa.br e.mail:sac@cenargen.embrapa.br Comitê de Publicações Presidente: Sergio Mauro Folle Secretário-Executivo: Maria da Graça Simões Pires Negrão Membros: Arthur da Silva Mariante Maria de Fátima Batista Maurício Machain Franco Regina Maria Dechechi Carneiro Sueli Correa Marques de Mello Vera Tavares de Campos Carneiro Supervisor editorial: Maria da Graça S. P. Negrão Normalização Bibliográfica: Maria Iara Pereira Machado Editoração eletrônica: Daniele Alves Loiola 1ª edição 1ª impressão (2007): Todos os direitos reservados A reprodução não autorizada desta publicação, no todo ou em parte, constitui violação dos direitos autorais (Lei nº 9.610). Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia S 456 Segunda atualização da flora vascular da Fazenda Sucupira, Brasília - DF / G.D. Vale... [et al.]. -- Brasília, DF: Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, 2007. 10 p. -- (Boletim de pesquisa e desenvolvimento / Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, 1676-1340; 201). 1. Fazenda Sucupira - flora vascular - atualização. 2. Fazenda Sucupira - informações florísticas. I. Vale, G. D. II. Série. 581.98174 - CDD 21.

SEGUNDA ATUALIZAÇÃO FLORA VASCULAR DA FAZENDA SUCUPIRA - DF- Vale, G.D. 1 Fontes C.G. 1,2 Pereira J.B. 2 Vieira R.C. 2 Walter B.M.T. 2 INTRODUÇÃO O Cerrado é tido como uma das savanas mais ricas do mundo (MENDONÇA et al., 1998: MENDONÇA et al., no prelo) e possui vasta diversidade de ambientes e paisagens. Trata-se de um bioma que vem sendo objeto de diversas pesquisas botânicas e ecológicas, as quais pretendem definir aspectos estruturais que caracterizam a sua vegetação, tanto em termos de paisagens quanto de espécies (WALTER e SAMPAIO, 1998; WALTER, 2006). Por apresentar elevado endemismo de espécies e alto grau de ameaça dos seus ambientes naturais remanescentes, o Cerrado foi classificado como um hotspot de biodiversidade (MYERS et al., 2000). O Distrito Federal (DF) está localizado na área nuclear do bioma Cerrado e tem sofrido acelerada ação depredatória de seus recursos naturais (CAVALCANTI e RAMOS, 2001). A vegetação remanescente, ainda coberta por elementos florísticos autóctones, é basicamente constituída por áreas privadas utilizadas para diversos usos, restando apenas 1,6% de áreas legalmente protegidas, as quais são insuficientes para a proteção dos recursos biológicos (UNESCO, 2002). Segundo o documento UNESCO (2002), o DF já perdeu 57,65% da sua cobertura vegetal original, o que compromete a qualidade de vida da sua população e a conseqüente perda de biodiversidade. Há cerca de uma década, já era volumosa a literatura publicada sobre ecologia, taxonomia, levantamentos florísticos e fitossociológicos, além de estudos de caracterização vegetacional no DF (WALTER e SAMPAIO, 1998). A maior parte desses estudos era, e ainda tem sido feito nas Unidades de Conservação (UC s), sejam Áreas de Proteção Ambiental (APA s), parques, reservas ou estações ecológicas, permanecendo escasso o conhecimento das áreas fora daquelas Unidades. Pelo acelerado antropismo, 1 Universidade Federal de Brasília (Graduação), Departamento de Engenharia Florestal, Brasília, DF, Brasil. (gabrielfloresta@gmail.com) 2 Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, Herbário, Brasília, DF, Brasil.

principalmente urbanização, conhecer esses remanescentes no DF tornou-se demanda urgente. O presente trabalho objetivou atualizar a flora vascular da Fazenda Sucupira (FS), visando ampliar as informações florísticas sobre aquela área. As coleções botânicas na Fazenda tiveram início em meados da década de 1990, resultando em uma listagem preliminar publicada por Walter e Sampaio (1998). Posteriormente, houve uma atualização divulgada por Guarino et al. (2000), após o que as coletas sistemáticas tiveram paralisação entre 2001 e 2005, sendo retomadas em 2006. Trata-se, portanto, da segunda atualização da listagem, cuja divulgação anterior, foi registrada há sete anos. MATERIAL E MÉTODOS Área de estudo - A Fazenda Sucupira é uma propriedade da União Federal (Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento MAPA), que cedeu direitos de uso à Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária). Sua área total é de 1.763,118 hectares (WALTER e SAMPAIO, 1998) e localiza-se a sudoeste da cidade de Brasília (Figura 1). O clima predominante na região é do tipo Aw de Köppen (tropical chuvoso), com invernos secos e verões chuvosos. A altitude média é de 1.100m e a precipitação anual média de aproximadamente 1.493mm. Um dos afluentes formadores do Lago Paranoá, o córrego Riacho Fundo cruza a FS em seu trecho médio, e a Mata de Galeria deste córrego, hoje, só se encontra preservada dentro da área da Fazenda. Além do Riacho Fundo, se encontram totalmente inclusos na FS os córregos Açudinho e Açudinho I, ambos afluentes do Riacho Fundo (WALTER e SAMPAIO, 1998). Das vegetações nativas ainda são encontrados trechos muito bem preservados com Mata de Galeria, Cerrado sentido restrito (com os subtipos Típico, Ralo e Rupestre), Campo Sujo e Campo Limpo, ambos com os subtipos Seco e Úmido, além de pequeninos trechos com Vereda e Mata Seca (sensu RIBEIRO e WALTER, 1998). Levantamento florístico - Como já mencionado, coleções na FS vêm sendo obtidas desde a década de 1990, cujos maiores esforços aconteceram entre 1995 e 2000, sendo retomadas em 2006. No período agosto de 2006 a agosto de 2007 foram realizadas coletas quinzenais de material botânico. Os levantamentos se concentraram nas formações savânicas e campestres, buscando-se não repetir locais já coletados. Anteriormente, prioridade havia sido dada às formações florestais. Nos levantamentos, foram realizadas caminhadas aleatórias em todas as áreas representativas de cada fisionomia. Todas as espécies vasculares observadas com material reprodutivo, dos estratos arbóreo, arbustivo e herbáceo, além de epífitas (ultimamente enfatizando arbustos e ervas) foram coletadas, mesmo que já tivessem sido obtidas em

outras fitofisionomias. Foram coletados de três a cinco duplicatas por número de coleta, e todo o material obtido vem sendo incorporado ao Herbário do Cenargen (CEN). (A) (B) Figura 1. (A). Mapa da Fazenda Sucupira (DF), indicando os principais tipos de vegetação e demais paisagens (Fonte: WALTER e SAMPAIO, 1998). (B). Imagem obtida através do software Google Earth indicando as delimitações da Fazenda. Processamento dos dados - Foram revisadas as exsicatas de todos os espécimes botânicos coletados na Fazenda, a fim de localizar táxons ainda não incluídos na lista, ou que sofreram modificações de identificação. Procurou-se determinar as espécies não identificadas, assim como encaminhá-las à especialistas dos respectivos grupos. Os dados florísticos foram acrescentados ao primeiro check list, atualizado por Guarino et al. (2000), além de agregar novas coleções obtidas no período 2006/2007, assim como números de coleta incorporados no Herbário UB, oriundos de outras pesquisas (p.ex. AMARAL et al., 2006). Aqui as famílias foram consideradas no sentido de Cronquist (1988), exceto Leguminosae (sensu POLHILL et al., 1981). Pteridófitas seguiram o tratamento de Tryon e Tryon (1982). Resultados e Discussão Considerando os dados compilados até o momento, na Fazenda ocorrem 1.250 espécies, pertencentes a 525 gêneros e 131 famílias (120 fanerógamas e 11 pteridófitas) (Tabela 1). Comparado à lista publicada por Walter e Sampaio (1998), houve acréscimo de 28 famílias, 218 gêneros e 698 espécies. Mesmo na comparação com os números indicados por Guarino et al. (2000), houve o significativo acréscimo de 14 famílias, 114 gêneros e 437 espécies. A Figura 2 ilustra esse crescimento, que sugere que ainda não estão

N. de táxons esgotadas as possibilidades de novas citações de ocorrência para a Fazenda, desde que seja mantido um programa sistemático de coletas na área. Tabela 1. Distribuição das espécies entre os grupos vegetais ocorrentes na Fazenda Sucupira, Brasília/DF. GRUPO FAMÍLIAS GÊNEROS ESPÉCIES GIMNOSPERMAS 1 1 2 PTERIDÓFITAS 11 15 25 ANGIOSPERMAS 119 509 1.223 Monocotiledôneas 16 100 262 Dicotiledôneas 103 409 961 Total 131 525 1250 1400 1200 1000 800 600 400 200 0 1250 826 565 412 526 308 103 117 131 1998 2000 2007 Família Gênero Espécie Figura 2. Número de táxons registrados na Fazenda Sucupira, Brasília, DF. 1998 (WALTER e SAMPAIO, 1998); 2000 (GUARINO et al., 2000); 2007 (presente estudo). As famílias mais ricas na Fazenda são: Asteraceae (130), Leguminosae (127), Poaceae (101), Orchidaceae (70), Rubiaceae (60), Melastomataceae (54), Myrtaceae (43), Cyperaceae (42), Malpighiaceae (36) e Euphorbiaceae (32) (Tabela 2, Figura 3A). Estas 10 famílias compreendem 55% do total de espécies amostradas.

(A) (B)

(C) 400 350 300 250 374 324 261 200 172 150 100 50 0 Ca Ce Mg 52 45 Ant Ce/Mg Ce/Ca 20 Mg/Ms Ce/Mg/Ca Mg/Ca 9 6 Figura 3. (A) Distribuição de espécies nas dez famílias mais ricas na Fazenda Sucupira. (Ast = Asteraceae/Compositae; Leg = Leguminosae/Fabaceae; Poa = Poaceae/Gramineae; Orc = Orchidaceae; Rub = Rubiaceae; Mel = Melastomataceae; Myr = Myrtaceae; Cyp = Cyperaceae; Malpighiaceae; Eup = Euphorbiaceae; Out = Outras famílias). (B) Número de espécies distribuídas nas seguintes formas de vida (Erva = Ervas rasteiras, terrestres, decumbentes, rupícolas e epífitas; Suba = Subarbustos; Árvo = Árvores; Arbu = Arbustos; Lian = Lianas; Arvt = Arvoretas; Palm = Palmeiras; Hemi = Hemiparasitas). (C) Distribuição das espécies por habitats (Mg = Mata de Galeria; Ce = Formações savânicas (cerrados denso, típico, ralo, rupestre); Ca = Formações campestres (campos limpo, sujo e rupestre, úmido e/ou seco); Ms = Mata Seca; Ant = Ambiente Antrópico). Siglas separadas por barra (ex. Ce/Mg) = espécies amostradas nos dois habitats.

A maioria das espécies amostradas pertence ao estrato herbáceo. Quando agrupadas, as ervas rasteiras, terrestres, decumbentes, rupícolas e epífitas resultam em 34,3% (434 espécies) de toda a riqueza florística da Fazenda. A proporção de espécies lenhosas (subarbustos, arbustos, arvoretas e árvores) para não lenhosas (ervas, lianas, hemiparasitas) é de 1,4:1, enquanto a proporção do estrato herbáceo-arbustivo (ervas, subarbustos, arbustos) para o arbóreo (árvores e arvoretas e palmeiras) é de 3,2:1. As Matas de Galeria (com trechos inundáveis e não-inundáveis) apresentaram o maior número de espécies, 374 (29,6%), seguidas por 324 (25,6%) no Cerrado sentido restrito (denso, típico, ralo, rupestre). As formações campestres (Campos limpo, sujo e rupestre, úmido e/ou seco) possuem 261 espécies (20,6%). Há espécies que ocorrem em mais de uma fitofisionomia. Por exemplo, 172 (13,6%) estão presentes tanto em formações savânicas quanto nas campestres. O mesmo é observado em áreas de transição Mata de Galeria/Cerrado, com 52 espécies (4,1%). (Figura 3C). A lista de espécies relacionadas para a Fazenda corresponde a 10,8% do total citado para o bioma Cerrado (MENDONÇA et al., no prelo) e 39,6% da flora do DF (PROENÇA et al., 2001) (Tabela 2). Comparando a Fazenda com outras Unidades de Conservação do DF, a listagem atualizada revela uma das mais ricas áreas desta unidade da federação. Tabela 2. Número de espécies e posição em importância das dez famílias mais ricas na Fazenda Sucupira, no Distrito Federal (PROENÇA et al., 2001) e no bioma Cerrado (MENDONÇA et al., no prelo). FAMÍLIAS FAZ. SUCUPIRA DISTRITO FEDERAL BIOMA CERRADO Asteraceae 130 308 1.074 Leguminosae 127 390 1.174 Poaceae 101 287 510 Orchidaceae 70 215 666 Rubiaceae 60 105 376 Melastomataceae 54 83 511 Myrtaceae 43 86 344 Cyperaceae 42 88 217 Malpighiaceae 36 72 234 Euphorbiaceae 32 80 340 Outras 555 1.474 6.181 Total 1.250 3.188 11.627 Dentro do DF e entorno, espécies como Barbacenia flavida Goethart & Henrard (Velloziaceae), Habenaria culicina Rchb.f. & Warm. (Orchidaceae), Pleurothallis aff. laciniata Barb. Rodr. (Orchidaceae) e Wunderlichia mirabilis Riedel (Asteraceae), hoje, só são conhecidas pelas populações da Fazenda. Além de espécies raras ou ameaçadas de extinção no DF, casos de Cariniana estrellensis (Raddi) Kuntze (Lecythidaceae),

Gymnopogon doelli Boechat & Valls (Poaceae) e Lychnophora ericoides Mart. (Asteraceae), foram encontradas espécies novas para a ciência, como Hyptis tacianae Harley, e outras que se encontram em processo de descrição. Das Orchidaceae, pelo menos três espécies são novas para a ciência. CONCLUSÕES Os resultados de mais de uma década de coletas botânicas ampliaram significativamente as informações florísticas sobre a Fazenda Sucupira, evidenciando que aquela área atua como importante repositório de diversidade vegetal no DF. Sua vegetação atua decisivamente no sistema hidrológico da bacia do Riacho Fundo, especialmente pela presença dos córregos Açudinho e Açudinho I, com suas exuberantes Matas de Galeria. Neste sentido, a inclusão da Fazenda entre as Unidades de Conservação do DF é questão premente. Atualmente, a área está submetida à intensa pressão imobiliária, que ameaça a conservação da sua notável flora. A listagem florística completa pode ser obtida com os autores, e uma abordagem detalhada do presente estudo, incluindo a listagem, será divulgada oportunamente. Agradecimentos A Embrapa Cenargen e equipe de pesquisadores, bolsistas e funcionários do Herbário CEN. Aos coletores que atuaram na Fazenda, em especial Ernestino de Souza Gomes Guarino, Marta Camargo de Assis e Alexandre Bonesso Sampaio, dentre outros. O primeiro autor agradece ainda ao Glocimar P. Silva por valiosos momentos de aprendizado. REFERÊNCIAS AMARAL, A. G.; PEREIRA, F. F. O.; MUNHOZ, C. B. R. Fitossociologia de uma área de Cerrado rupestre na Fazenda Sucupira, Brasília, DF. Cerne, Lavras. v. 12, n. 4, p. 350-359, 2006. CAVALCANTI, T. B.; RAMOS, A. E. (Org.). Flora do Distrito Federal, Brasil. Brasília, DF: Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, 2001. v. 1. 359 p. CRONQUIST, A. The evolution and classification of flowering plants. Bronx, US: The New York Botanical Garden, 1988. 2 nd. ed. 555 p. GUARINO, E. S. G.; PEREIRA, J. B.; SANTOS, A. A.; VIEIRA, R. da C.; VIEIRA, J. G. A.; WALTER, B. M. T. Flora vascular da Fazenda Sucupira: primeira atualização da listagem. In: ENCONTRO DO TALENTO ESTUDANTIL DA EMBRAPA RECURSOS GENÉTICOS E BIOTECNOLOGIA, 5., 2000, Brasília, DF. Anais: resumos dos trabalhos. Brasília, DF: Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, 2000. p. 57. MENDONÇA, R. C.; FELFILI, J. M.; WALTER, B. M. T.; SILVA JÚNIOR, M. C.; REZENDE, A. V.; FILGUEIRAS, T. S.; NOGUEIRA, P. E. Flora vascular do Cerrado. In: SANO, S. M.;

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