Financiamento de paisagens sustentáveis: Acre, Brasil

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Transcrição:

Financiamento de paisagens sustentáveis: Acre, Brasil RELATÓRIO COMPLETO 2017 1

Citação Autoras: Luciana Rocha, Simone Carolina Bauch e Gleice Lima. Favor citar essa publicação como: Rocha, L., S.C., e Lima, G. 2016. Financiando Paisagens Sustentáveis: Acre, Brasil. Relatório completo. Global Canopy Programme e CDSA, UK. Reconhecimentos Essa publicação é o resultado final de um trabalho em colaboração com os parceiros do projeto Desbloqueando Finanças Florestais. Agradecemos a Companhia de Desenvolvimento de Serviços Sociais do Acre (CDSA), o Instituto de Mudanças Climáticas (IMC) e os parceiros do projeto Desbloqueando Finanças Florestais no Acre, Brasil pela coleta de dados e coordenação do projeto. Nos também agradecemos o apoio de todos os parceiros técnicos e consultores que contribuíram significativamente nas análises que resultaram nesse relatório. O relatório foi editado por Arthur Girling da GCP e desenhado por Yannis Meletios. Recursos Esse projeto eh parte da International Climate Initiative (IKI). O Ministério Federal do Ambiente, da Conservação da Natureza, da Construção e Segurança Nuclear (BMUB) apoia essa iniciativa com base em uma decisão adotada pelo Bundestag alemão. Sobre o DFF O projeto Desbloqueando Finanças Florestais (DFF) reúne ONGs, institutos do setor de salvaguardas ambientais e sociais, especialistas financeiros e consultores estratégicos incluindo Credit Suisse, Banco Europeu de Investimento e Althelia Ecosphere. O DFF é gerenciado pela Global Canopy Programme, uma organização sem fins lucrativos com importantes antecedentes na implementação de projetos internacionais que tratam do desmatamento de florestas tropicais. O projeto contou vários parceiros locais: Companhia de Desenvolvimento de Serviços Ambientais (CDSA) no Acre, Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM) no Mato Grosso, Brasil e o Centro de Desenvolvimento e Pesquisa da Selva Alta (CEDISA) em San Martin, Peru. Outros parceiros implementadores e subcontratantes incluem: Universidade Nacional Agricola de La Molina (UNALM) em San Martin, Fundo Mundial para a Natureza (WWF-UK e outros escritórios da WWF), Climate Bonds Initiative (CBI), Vivid Economics, Helmholtz Center for Environmental Research (UFZ), Instituto Internacional para a Sustentabilidade (IIS), Instituto Internacional de Análise de Sistemas Aplicados (IIASA), Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais Centro de Ciência dos Sistemas da Terra (INPE-CCST). Sobre a CDSA A Companhia de Desenvolvimento de Serviços Ambientais do Acre (CDSA) foi criada no âmbito do Sistema Estadual de Incentivos a Serviços Ambientais (SISA). Trabalha para a sustentabilidade dos sistemas produtivos, bem como para a proteção dos recursos florestais e ambientais. A CDSA pretende fazer isso através de mecanismos inovadores para financiar uma economia de baixo carbono e alta inclusão social no estado do Acre. Sobre a Global Canopy Programme O Global Canopy Program é um grupo de pesquisa sobre as florestas tropicais que trabalha para demonstrar o argumento científico, político e empresarial para a salvaguarda das florestas como capital natural que sustenta a água, a alimentação, a energia, a saúde e a segurança climática para todos. Nossa visão é um mundo onde não há mais a destruição da floresta tropical. Nossa missão é acelerar a transição para uma economia livre de desmatamento. Para saber mais sobre o nosso trabalho, visite www. globalcanopy.org Global Canopy Programme e CDSA 2016. O conteúdo deste relatório pode ser usado por qualquer pessoa que forneça reconhecimento a Global Canopy Programme e à CDSA. Nenhuma representação ou garantia (expressa ou implícita) é dada pela Global Canopy Programme, CDSA, ou qualquer de seus contribuintes sobre a exatidão ou integridade das informações e opiniões contidas neste relatório. The Global Canopy Programme é um nome comercial da The Global Canopy Foundation, uma empresa de caridade do Reino Unido limitada por garantia, número da caridade 1089110. 2

Index Sumário 6 1. Introdução 9 2. Metodologia para a seleção do portfolio 10 3. Metodologia para as salvaguardas sociais e ambientais 11 4. A transição nas cadeias de produção sustentáveis 13 Açaí 15 Borracha 18 Castanha-do-Brasil 20 Extração sustentável de madeira tropical: Concessão de Florestas públicas estaduais e manejo florestal comunitário 22 Plantações florestais em terras degradadas 26 Piscicultura 27 5. A transição na conservação das florestas 30 6. A transição em meios de vida sustentáveis 33 7. Impactos esperados sobre o desmatamento e as emissões dos gases de efeito estufa no Acre 36 8. Conclusões 38 Referências 39 Apêndice A: Exemplo do Código de Conduta para a Concessão Florestal 41 3

Sumário Executivo Portfólio de Investimentos Sustentáveis em Cadeias Produtivas, atividades de conservação florestal e de apoio a meios de vida sustentáveis no Acre, Brasil O Estado do Acre apresenta inúmeras oportunidades de investimentos sustentáveis em atividades diversas que vão desde cadeias de valor consolidadas no Estado, passando pela conservação de florestas até a promoção de meios de vida sustentáveis. Com o objetivo de atrair investidores para compor o portfólio de investimento do Estado, este resumo apresenta os resultados de análises financeiras em: Sete cadeias produtivas: Açaí, Borracha, Castanha-do-brasil, Madeira Nativa proveniente da Concessão de florestas públicas e do Manejo Comunitário, Reflorestamento e Piscicultura. Estas cadeias já vêm sendo objetos de investimentos do Governo do Estado desde a década de 2000, utilizando, para isso, recursos próprios e de financiadores como BNDES, BID e KfW Duas atividades de conservação das florestas através da reestruturação do Serviço Estadual de Áreas Naturais Protegidas (SEANP) e a recuperação das APPs do Rio Acre Duas atividades de promoção de meios de vida sustentáveis: a elaboração dos Planos de Gestão das Terras Indígenas e de Desenvolvimento Comunitário. A equipe do UFF considerou os custos e os benefícios de cada intervenção. Foram calculados custos necessários para alcançar o cenário sustentável, analisados os fluxos de caixa, bem como dados sociais e ambientais, de forma a avaliar a viabilidade financeira, ambiental e social destes investimentos. Com base nesta análise foram feitas proposições sobre mecanismos finaceiros que poderão ser utilizados para canalizar investimentos e desembolsar recursos aos produtores. A tabela a seguir mostra as transições propostas por atividade. Para cada atividade, são apresentados o Valor Presente Líquido (VPL), Taxa Interna de Retorno (TIR) e período de repagamento (payback): 4

Cadeias Produtivas Atividade Transição VPL (R$ milhões) VPL (USD milhões) 1 TIR (%) Período de Repagamento (anos) Açaí Piscicultura Castanhado-brasil Concessão Florestal Madeira Reflorestamento Borracha Madeira Comunitária Aumentar a produção média anual de 30 mil ton/ano para 120 mil ton/ano em sistema agroflorestal. Aumentar a produção de tambaqui, pintado, piracuru e pirapitinga em 5 mil hectares de área degradada e oferecer capacitação para os produtores. Aumentar a coleta anual de 6 mil toneladas para 8 mil toneladas em áreas florestais com gestão sustentável. 240 mil hectares de floresta estadual com Planos de Manejo Sustentável. Reflorestar 20.000 hectares com plantio de eucalipto para produção de biomassa para energia. Aumentar a produção anual de 5 mil tons/ano para 10 mil tons/ano em florestas plantadas com seringueiras e promover a modernização das atividades extrativistas. 180,000 hectares of forests designated for community management projects. 21.67 6.45 12.9 9 35.67 10.62 10.1 11 5.19 1.55 98 2 0.68 0.20 9 13 11.73 3.49 9.8 14 8.60 2.56 8.6 17 0.42 0.13 8.2 13 TOTAL 83.96 24.99 1 Taxa de câmbio usada USD 1 = BRL 3.3905 (checada no dia 19 de dezembro de 2016). Conservação Atividade Transição Custos (R$ milhões) Custos (USD milhões) Revitalização do Rio Acre Sistema Estadual de Áreas Naturais Protegidas (SEANP) Apoiar a restauração florestal de 10.000 mil hectares em Área de Preservação Permanente da bacia do rio Acre e capacitar 900 produtores rurais, ribeirinhos e parceiros do programa em gestão de recursos hídricos, restauração de APPs. Elaborar planos de gestão para 30 Unidades de Conservação e fortalecer sua capacidade de fiscalização. 99.91 29.73 82.22 24.47 TOTAL 182.13 54.20 5

Meios de Vida Sustentáveis Atividade Transição Custos (R$ milhões) Custos (USD milhões) Planos de Desenvolvimento Comunitário Planos de Gestão de Terras Indígenas Elaboração e implementação de 400 Planos de Desenvolvimento Comunitário e oferecer 4.300 lugares em cursos de capacitação comunitária. Elaboração e implementação de 118 Planos de Gestão de Terras Indígenas (PGTIs) e formar 100 agentes agroflorestais indígenas. 115.15 34.27 42.93 12.78 TOTAL 158.08 47.05 Tabela 1: Atividades, intervenções e fatores econômicos Podemos ver na Tabela 1, acima, que grande parte das atividades propostas (todas as de cadeias produtivas) tem uma taxa interna de retorno positiva para o capital privado. Algumas destas dependem de políticas públicas de incentivo ou blending com recursos concessionais ou doações para se tornarem atraentes como é o caso do manejo florestal comunitário. Este sumário pretende apresentar o portfólio diversificado de investimentos no estado do Acre, onde taxas de retorno positivas aliadas à salvaguardas sociais e ambientais pode garantir o desenvolvimento sustentável do estado. 6

1. Introdução Desenvolvimento e sustentabilidade podem caminhar juntos As cadeias produtivas do Estado do Acre oferecem uma série de oportunidades de investimento sustentável, com retornos financeiros, sociais e ambientais positivos. A organização e o fortalecimento do desenvolvimento sustentável das cadeias produtivas que garantem impactos sociais e ambientais positivos é um dos principais focos do estado do Acre. Recursos públicos oriundos do tesouro estadual, empréstimos e de parcerias foram direcionados a Obras de infraestrutura e beneficiamento Compra de equipamentos e veículos Pessoal para assistência técnica rural e florestal Capacitações Fomento O resultado desse esforço para a estruturação da base produtiva pode ser visto em diversas áreas, incluindo as indústrias de beneficiamento de castanha-do-brasil e borracha gerenciadas pela Cooperativa Central de Comercialização Extrativista do Acre (Cooperacre), as unidades de produção primária nas propriedades privadas, a unidade de alevinagem, processamento de ração e de pescados da Peixes da Amazônia; e a infraestrutura de Polos Madeireiros. Nesse contexto de desenvolvimento, esta publicação visa divulgar oportunidades de negócios com grandes benefícios sociais e ambientais em diversas atividades produtivas e de conservação do estado. Este portfolio foi desenvolvido e refinado pelo projeto Unlocking Forest Finance (UFF ou Desbloqueando Finanças Florestais). Este projeto, financiado pela Iniciativa Internacional de Clima desde 2013, é liderado pelo GCP (Global Canopy Programme) e outros 12 parceiros, sendo a CDSA o parceiro local no Acre. A parceria também inclui o Instituto de Mudanças Climáticas e Regulação de Serviços Ambientais (IMC) e da SEMA Secretaria de Meio Ambiente. As oportunidades de investimentos são apresentados em três eixos: 1. Fortalecimento de Cadeias Produtivas Sustentáveis: piscicultura, borracha, açaí, castanha-dobrasil, reflorestamento, manejo sustentável de madeiras tropicais em florestas comunitárias e concessões de florestas estaduais. 2. Conservação das Florestas: fortalecimento do Sistema Estadual de Áreas Naturais Protegidas (SEANP) e o programa de recuperação de áreas alteradas (Bacia do Rio Acre). 3. Meios de Vida Sustentáveis: planos de gestão de Terras Indígenas e de Desenvolvimento Comunitário. Algumas dessas cadeias já são bastante consolidadas, mas podem melhorar sua eficiência e sustentabilidade. Outras podem agregar valor aos papéis estratégicos que ocupam na conservação da biodiversidade, mitigação das mudanças climáticas e redução do desmatamento. Embora nem todas as cadeias gerem retornos econômicos significativos, as empresas ainda podem estar interessadas em investir devido a seus fortes impactos sociais e ambientais positivos. Para muitas das intervenções consideradas neste relatório, existem potenciais riscos ambientais. Estes são considerados na estrutura de salvaguardas (seção 3). Os benefícios ambientais esperados são considerados separadamente, das seções 4 a 6. 7

2. Metodologia para a seleção do portfolio Esta seção descreve como o portfólio de investimentos foi selecionado e refinado. Este processo foi um intenso exercício de pesquisa, envolvendo membros de órgãos governamentais estaduais e federais, empresas, cooperativas, organizações da sociedade civil e representantes de associações de classe foram essenciais para a coleta e organização dos dados e informações. Eles também forneceram informações que ajudaram a equipe do Projeto DFF a compreender as estruturas econômicas do Estado do Acre. A partir daí, projeções financeiras foram realizadas para para as cadeias produtivas e atividades de conservação priorizadas. As intervenções planejadas nas cadeias de produção foram formuladas com base em considerações como a proporção de agricultores em uma determinada cadeia que são membros de uma associação de produtores, as tecnologias disponíveis, a situação fundiária, os serviços ecossistêmicos, os riscos e benefícios ambientais e as estratégias disponíveis para cada cadeia ou atividade priorizada. Analisamos os potenciais custos e benefícios da implementação dessas intervenções. Este processo identifica as ações a serem priorizadas, recursos e prazos, benefícios e impactos esperados, bem como as barreiras para a transição. Levantamento de informações A equipe do DFF preparou modelos de fluxo de caixa e estudos de viabilidade econômica para cada cadeia de produção. Foi necessário a coleta de informação para cada cadeia ou atividade sobre: 1. Receitas anuais de produção e processamento (oferta, preço, produtividade, demanda); 2. Custos anuais de produção e processamento (operacionais, fixos, variáveis e despesas); 3. Investimentos necessários para a transição para a sustentabilidade 4. Gargalos e desafios; 5. Metas do governo estadual. Os fluxos de caixa incluíram os custos relevantes e estabeleceram um período de investimento adequado para o ciclo de investimento para cada cadeia de produção, atividades de conservação florestal e atividades de meios de vida sustentáveis. Embora as duas últimas categorias não gerem nenhuma receita, elas devem ser incluídas no portfólio por seus importantes efeitos sociais e ambientais. Para estimar a viabilidade econômica da transição como um todo de cada cadeia, os custos foram incorporados de forma gradual nos fluxos de caixas. E, com base no cálculo dos seguintes indicadores, verificou-se a atratividade financeira por cadeia: Valor Presente Líquido (VPL); Taxa Interna de Retorno (TIR); Período de repagamento (Payback). 8

3. Metodologia para as salvaguardas sociais e ambientais O Estado do Acre atingiu um alto padrão na salvaguarda das pessoas e do meio ambiente. Em 2015, foi a primeira região a concluir um processo de salvaguarda em 10 etapas para projetos REDD + (REDD + SES, 2015). Enquanto este processo deve assegurar que o Programa de Incentivo aos Serviços de Carbono Ambiental dentro da região (conhecido como Isa Carbono) atenda a um alto padrão, o projeto DFF criou uma estrutura de salvaguarda complementar adaptado às intervenções particulares na área. O objetivo é garantir que o portfólio de investimentos tenha os máximos benefícios sociais e ambientais. Como primeira etapa, a equipe do DFF realizou uma série de análises de impacto sobre os efeitos socioeconômicos e ambientais das intervenções. As avaliações de impacto ambiental das intervenções propostas no Acre ajudaram a identificar as atividades que poderiam causar a degradação dos ecossistemas e os serviços que prestam. Esse processo identificou riscos que devem ser considerados ao projetar as intervenções. Para entender os benefícios sociais das atividades de transição, foram analisados três indicadores: o número de famílias que seriam positivamente afetadas (em termos de renda adicional e capacitação), o montante médio de renda gerado por família e o esperado aumento de empregos. A tabela acima mostra que, de uma perspectiva social, a piscicultura é a cadeia de suprimentos com potencial de gerar o maior rendimento para as famílias envolvidas na transição. As melhores práticas de manejo propostas para a castanha-do-brasil gerariam um aumento moderado na renda. A borracha teria o menor aumento de renda, mas poderia beneficiar o maior número de famílias. Do ponto de vista ambiental, as intervenções no açaí poderiam ter os maiores benefícios. Códigos de Conduta para Agricultores Com os riscos acima em mente, a equipe preparou Códigos de Conduta para mitigar esses riscos e reduzir o impacto ambiental gerais dos processos de produção. Como primeira etapa, o projeto revisou vários padrões de sustentabilidade existentes criados por outras organizações, que vão desde acordos políticos mundiais, como por exemplo, os das Convenções da OIT a padrões ou códigos de conduta para projetos ou produção agrícola no campo. Os Códigos de Conduta são um importante elemento de salvaguarda que visa assegurar que estas intervenções possam ser implementadas de forma a abordar os riscos ambientais identificados na avaliação de impacto das intervenções. Os Códigos de Conduta devem fazer parte de uma estratégia de monitoramento que garanta que os objetivos ambientais e sociais sejam atingidos no nível da paisagem, mantendo altos níveis de biodiversidade e os serviços ecossistêmicos prestados pelas áreas florestais e regenerando terras degradadas. Os Códigos de Conduta incidirão especialmente nos indicadores com impacto negativo ou sem impacto significativo. Para a concessão madeireira, por exemplo, os três indicadores ambientais (carbono, biodiversidade e hidrologia) parecem ter um impacto negativo ou não significativo em relação à situação atual (Tabela 2). Portanto, o Código de Conduta para concessões madeireiras tem requisitos rigorosos para mitigar ou melhorar as práticas atuais protegendo espécies raras e 9

Indicadores Sociais Indicadores Ambientais Setor Número de famílias positivamente afetadas (pelo aumento na renda e capacidade técnica) Aumento na renda por família uma vez que o investimento se torna positivo (R$) Aumento em empregos durante o período de transição da atividade Proposta Inicial Balanço de Carbono Com Salvaguardas Proposta Inicial Biodiversidade Com Salvaguardas Efeitos hidrológicos (qualidade e quantidade de agua) Proposta Inicial Com Salvaguardas Açaí 3,000 3,206 970 Piscicultura 1,000 44,060 15,000 Castanha-do-brasil 2,500 3,997 2,422 Borracha 4,000 1,658 1,341 Concessão Florestal 0* 0 432 Madeira Comunitária 1,800 0 TOTAL 12,300 20,165 Impacto muito positive quando comparado com a situação atual Impacto positivo quando comparado com situação atual Nenhum impacto significativo Impactos positivos e negativos equilibram-se mutuamente Impacto negativo quando comparado com a situação atual Impacto muito negativo quando comparado com a situação atual * Este número refere-se a famílias diretamente envolvidas na atividade. Enquanto um aumento no emprego é esperado, este número é zero aqui porque o investimento virá de empresas, não de famílias Tabela 2: Análise dos indicadores sociais e ambientais das intervenções nas cadeias produtivas ameaçadas na unidade de manejo e adotando medidas para proteger fontes de água da sedimentação através da implementação de faixas de proteção ao longo de rios e riachos na área da concessão. Para garantir que os requisitos incluídos nos Códigos de Conduta são seguidos, o projeto inclui um plano de monitoramento para a fase de transição. Continuando com o exemplo da madeira, a implementação será monitorada através de padrões de certificação já em uso na região, como as normas FSC que exigem que o operador passe por um processo de auditoria a cada cinco anos. 10

4. A transição nas cadeias de produção sustentáveis Esta seção descreve as cadeias de produção de agricultura, silvicultura e aquicultura incluídas na carteira de investimentos. Cadeias Produtivas Atividade Transição VPL (R$ milhões) VPL (USD milhões) 1 TIR (%) Período de Repagamento (anos) Açaí Piscicultura Castanhado-brasil Concessão Florestal Madeira Reflorestamento Borracha Madeira Comunitária Aumentar a produção média anual de 30 mil ton/ano para 120 mil ton/ano em sistema agroflorestal. Aumentar a produção de tambaqui, pintado, piracuru e pirapitinga em 5 mil hectares de área degradada e oferecer capacitação para os produtores. Aumentar a coleta anual de 6 mil toneladas para 8 mil toneladas em áreas florestais com gestão sustentável. 240 mil hectares de floresta estadual com Planos de Manejo Sustentável. Reflorestar 20.000 hectares com plantio de eucalipto para produção de biomassa para energia. Aumentar a produção anual de 5 mil tons/ano para 10 mil tons/ano em florestas plantadas com seringueiras e promover a modernização das atividades extrativistas. 180.000 hectares of forests designated for community management projects. 21.67 6.45 12.9 9 35.67 10.62 10.1 11 5.19 1.55 98 2 0.68 0.20 9 13 11.73 3.49 9.8 14 8.60 2.56 8.6 17 0.42 0.13 8.2 13 TOTAL 83.96 24.99 1 Taxa de câmbio usada USD 1 = BRL 3.3905 (checada no dia 19 de dezembro de 2016). 11

Conservação Atividade Transição Custos (R$ milhões) Custos (USD milhões) Revitalização do Rio Acre Sistema Estadual de Áreas Naturais Protegidas (SEANP) Apoiar a restauração florestal de 10.000 mil hectares em Área de Preservação Permanente da bacia do rio Acre e capacitar 900 produtores rurais, ribeirinhos e parceiros do programa em gestão de recursos hídricos, restauração de APPs. Elaborar planos de gestão para 30 Unidades de Conservação e fortalecer sua capacidade de fiscalização. 99.91 29.73 82.22 24.47 TOTAL 182.13 54.20 Meios de Vida Sustentáveis Atividade Transição Custos (R$ milhões) Custos (USD milhões) Planos de Desenvolvimento Comunitário Planos de Gestão de Terras Indígenas Elaboração e implementação de 400 Planos de Desenvolvimento Comunitário e oferecer 4.300 lugares em cursos de capacitação comunitária. Elaboração e implementação de 118 Planos de Gestão de Terras Indígenas (PGTIs) e formar 100 agentes agroflorestais indígenas. 115.15 34.27 42.93 12.78 TOTAL 158.08 47.05 Tabela 3: Atividades, intervenções e fatores econômicos 12

Açaí Aliando extrativismo e produção em sistemas agroflorestais O Estado do Acre pode se envolver em um mercado em rápido crescimento através do plantio do açaí. A cultura pode ser consorciada com outras frutas e espécies florestais e processada pelas agroindústrias COOPERACRE e CAET (Cooperativa Agroextrativista de Tarauacá). Na região Amazônica, a polpa do açaí é extraída de duas espécies: Euterpe oleracea e Euterpe precatoria. A primeira cresce em touceiras, com várias estipes na mesma planta, enquanto a segunda gera apenas uma estipe. A frutificação de ambas ocorre em épocas alternadas 1, assim, apesar da primeira produzir mais frutos, a produtividade do plantio é ampliada com a combinação das duas. A produção da polpa, a partir do fruto do açaí in natura, tem grande importância nutricional e socioeconômica para as populações ribeirinhas e tradicionais da Amazônia, que também usam os caroços como adubo orgânico ou para artesanatos; o palmito como alimento; e as folhas para cobertura de casas. Mais do que um alimento A demanda de açaí aumentou na Amazônia, assim como em São Paulo, no Rio de Janeiro e nas regiões Sul e Centro-Oeste do país. Ele também aumentou no exterior, devido à descoberta de seus benefícios nutricionais e o fato de que ele pode ser congelado. O açaí é amplamente considerado como um superalimento, e é usado como ingrediente pelas principais indústrias de alimentos, farmacêuticas e cosméticas, tanto no Brasil quanto no exterior. A produção nacional de açaí em 2014 foi de 198.149 toneladas de fruto. Pará e Amazonas juntos foram responsáveis por quase 90% desse total. O Acre produziu apenas 2%. Apesar de reduzida em comparação a outros estados, a produção de açaí no Acre, impulsionada pelo aumento do consumo e dos preços no mercado local, chegou a 4.020 toneladas em 2014 (IBGE, 2015). O município de Feijó no Acre, aumentou sua participação de mercado ao produzir mais de um terço desse total. O fortalecimento da cadeia produtiva na região através da gestão de plantios e bosques selvagens pode reduzir a degradação ambiental, os incêndios florestais e a extração e venda de palmito, que implicam o corte das palmeiras. 1 A espécie Euterpe precatoria (açaí solteiro, mais comum no Acre) frutifica no 1º semestre; já a Euterpe oleracea, frutifica no 2º semestre. 13

Investimentos gerais Com recursos do Ministério da Integração Nacional, o governo do Acre vem realizando desde 2013: (i) o mapeamento do potencial do manejo e cultivo de açaí no estado; (ii) assistência técnica e capacitações para a implantação de sistemas agroflorestais; (iii) elaboração de planos de negócio e de eventos promocionais. E com recursos do BNDES foram construídas agroindústrias em Rio Branco e Tarauacá. A fábrica da COOPERACRE produz, além da polpa pasteurizada e congelada de açaí, polpas de outras frutas como: cupuaçu, cajá, abacaxi, maracujá, caju e graviola, enquanto a agroindústria da Cooperativa Agroextrativista de Tarauacá (CAET), produz polpas de açaí e de cupuaçu. Ambas visam à comercialização desses produtos nos mercados local, regional e nacional. A intervenção para o fortalecimento da cadeia de suprimento de açaí no Acre envolve o plantio de 10 mil hectares em consórcio com outras espécies e árvores frutíferas, o que deve significar que a produção média anual do estado se aproximará a 60 mil toneladas/ano. O investimento do BNDES pode apoiar o agronegócio em geral, por exemplo, no processamento. O investimento proposto aqui baseia-se neste objectivo, visando aumentar a oferta de matéria-prima. Isso será feito pelo valor adicionado aos produtos locais, capacitando indústrias extrativas e agricultores familiares. Para os agricultores, visa apoiar boas práticas de gestão em áreas como plantação, colheita e pós-colheita. Oferecerá assistência técnica em todas as etapas da produção, incluindo a entrega do açaí aos processadores, e facilitará a pesquisa e o desenvolvimento tecnológico para a cadeia. Viabilidade econômica Sem qualquer intervenção, é provável que a demanda por açaí continue a crescer, mas a produção estatal não aumenta rápido o suficiente para atender às demandas dos consumidores e das agroindústrias locais. No cenário sustentável, 10.000 hectares de açaí são plantados em sistemas agroflorestais com outras espécies frutíferas e florestais, em um horizonte de 20 anos. Espera-se que isso aumente a produção estadual para uma média anual de 60.000 toneladas. Após o sexto ano de plantio, espera-se que as duas empresas de processamento de polpa de frutas já estabelecidas no Estado sejam totalmente abastecidas. Serão incorporados 2.500 hectares por ano durante um período de transição de quatro anos e envolverá aproximadamente 3.000 fazendeiros no projeto, pelo menos 50% dos quais serão agricultores familiares. A partir do ano nove (em um horizonte de análise de 20 anos), o VPL de transição se Polpa de Frutas (Açaí) Capacidade de processamento Açaí - Input (t/ano) Produção Açaí - Output (t/ano) Capacidade de processamento Outras Frutas - Input (t/ano) Produção Outras Frutas Output (t/ano) Cooperacre (Rio Branco) 144 72 ND(*) ND(*) Caet (Tarauacá) 144 72 30(**) 17(**) Total 288 144 30 17 Tabela 4: Capacidade atual para o processamento da polpa Fonte: Dados da pesquisa. (*) informação não disponível. (**) cálculo considerando o rendimento do cupuaçu. 14

tornará positivo e deverá gerar um VPL total para a cadeia produtiva de R$ 21 milhões (US $ 6,2 milhões), com uma TIR de 12,9%. Os benefícios totais desta transição são detalhados abaixo. Benefícios da transição Benefícios socioeconómicos esperados: 970 empregos adicionais criados durante o período de transição. Renda estável para os produtores com uma safra anual; Valor agregado através da produção agroindustrial já estabelecida no Estado; Capacitação de mais de 3.000 produtores e agricultores familiares em boas práticas de manejo, incluindo plantio, colheita e pós-colheita. Impacto ambiental esperado: Redução da degradação ambiental, queimadas e desmatamento, através do uso de áreas previamente desmatadas e seus arredores; Aumento da biodiversidade através da implementação de sistemas agroflorestais; Redução do uso de fertilizantes, reduzindo a contaminação do solo e da água. O extrativismo não-madeireiro agrega valor à floresta Uma alternativa à extração e venda de palmito, que tem impactos ambientais negativos mais altos; A cultura pode ser cultivada juntamente com outras espécies de frutos e plantas em sistemas agroflorestais; 15

Borracha Uma cadeia produtiva com tradição A borracha já foi símbolo da história econômica da Amazônia e do Acre, bem como da luta dos seringueiros pela criação das reservas extrativistas. Atualmente o Acre quer aumentar a produtividade dessa cadeia para alavancar sua participação no mercado de borracha natural, assim como ampliar e diversificar a produção da fábrica de preservativos masculinos Natex. Originária da Amazônia, Hevea brasiliensis é a árvore produtora do látex, a matéria-prima da borracha natural. Entretanto, em 2012, Tailândia, Indonésia, Malásia, Índia e Vietnã, respondiam por cerca de 80% da produção mundial de borracha. Nesse mesmo ano, com plantios concentrados em São Paulo, Mato Grosso e Bahia, o Brasil contribuiu com apenas 1,5% desse total, atendendo menos da metade do consumo nacional. A borracha é utilizada, principalmente, pelas indústrias de pneumáticos, que consomem cerca de três quartos da sua produção. O restante vai para a construção civil, calçados, brinquedos, autopeças, materiais bélicos, hospitalares, maquinário agrícola e artefatos emborrachados em geral. No Acre, a maior parte do extrativismo do látex das seringueiras nativas se destina à fábrica de preservativos masculinos de Xapuri 2 (NATEX), às usinas que transformam o cernambi virgem prensado (CVP) em granulado escuro brasileiro (GEB), uma das matérias-primas para a fabricação de pneus, e à produção de folhas defumadas líquidas (FDL), usadas em solas de calçados e artefatos emborrachados em geral. Plantio de seringueiras aliado ao extrativismo No Acre, a seringueira é uma espécie protegida, conforme Art. 10 da Portaria n 48, de 10 de Julho de 1995. Com o intuito de reativar os seringais nativos, na década passada, o governo do Acre investiu na implantação da NATEX; em assistência técnica para a atividade; e na criação de subsídios para o extrativismo da borracha. Assim, a produção atual de látex no estado provém de seringais nativos, chamados de colocações e ocorre, principalmente, em Reservas Extrativistas (RESEX) ou Projetos de Assentamento Agroextrativistas (PAE). A NATEX, um empreendimento gerido pela Fundação de Tecnologia do Acre (FUNTAC), com capacidade para produzir 100 milhões de camisinhas/ano, é a única fábrica de preservativos do mundo que utiliza látex proveniente de seringais nativos como matéria-prima. Toda a produção é comprada pelo Ministério da Saúde do Brasil. A demanda atual por borracha natural demonstra a necessidade de incentivar o plantio de seringueiras, visando ao aumento da produção, da produtividade e, consequentemente, da oferta da matéria-prima. A previsão é de que os sistemas de monoculturas sejam implantados em 30% da área total de borracha e que os sistemas agroflorestais cubram os restantes 70%. Neste último sistema, os agricultores cultivarão árvores de borracha ao lado de açaí, cupuaçu, caju, acerola, graviola, banana, papaia, maracujá e café, diversificando assim as culturas em produção. Apesar da produção nacional não atender sua demanda, o extrativismo da borracha natural na Região Amazônica vem sobrevivendo com apoio de políticas de subvenção econômica, através de diversos mecanismos, incluindo preços mínimos cumulativos estabelecidos pelos governos federal, estadual e de alguns municípios. 2 Cidade natal do líder seringueiro Chico Mendes. 16

Investimentos gerais No modelo proposto, que também prevê o uso de recursos do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), o plantio ocorrerá em uma área mínima de 3 hectares por agricultor. O estado arcará com o preparo da área e as mudas e o produtor com os custos do plantio, manutenção e colheita da produção. Para reduzir a probabilidade da contaminação pelo mal das folhas, 15 clones com características mais homogêneas, resistentes e com alta produtividade de látex foram selecionados pela EMBRAPA-Acre para compor os plantios, propiciando melhores resultados econômicos. Viabilidade econômica Na ausência de investimentos, é provável que a produção de borracha extrativista do Acre permanecerá baixa e será incapaz de atender às exigências do estado. No cenário sustentável, prevê-se que a cadeia produtiva de borracha seja melhorada plantando 10.000 hectares de seringueiras, localizadas de acordo com o zoneamento ecológico-econômico do estado. Isso exigirá 2.000 hectares por ano durante um período de transição de cinco anos, e envolverá quase 4.000 fazendas familiares. O prazo para a fase agrícola do projeto é de 30 anos, com o objetivo de ser capaz de gerar uma média de 11.000 toneladas / ano de látex após o sexto ano de plantio. O VPL para a transição é de R $ 8,6 milhões (USD 2,6 milhões), com uma TIR de 8,6%, que se tornará positiva no ano dezessete. Benefícios da transição Benefícios socioeconómicos esperados: 1.341 empregos adicionais criados durante o período de transição. Expansão de fontes de renda para produtores e agricultores extrativistas; Mais de 1.341 produtores que recebem assistência técnica para produzir em sistemas florestais mistos. Impacto ambiental esperado: Redução da pressão sobre florestas nativas; Apoio à recuperação de terrenos degradados; Apoio à mitigação de riscos ambientais em áreas onde a produção de borracha nativa se senta ao lado de outras espécies florestais; Apoio a serviços ecológicos como água, biodiversidade e sequestro de carbono. 17

Castanha-do-Brasil Uma cadeia de valor exemplar O extrativismo da castanha-do-brasil no Acre comprova que, com uma boa gestão cooperativista, é possível aliar conservação da floresta, inclusão social e geração de renda No Acre, estima-se que atualmente, mais de 2.500 famílias estão envolvidas no extrativismo da castanha-do-brasil. No entanto, isso nem sempre foi o caso. A organização em associações e cooperativas locais e o fortalecimento da COOPERACRE como central de comercialização foram fundamentais para o desenvolvimento dessa cadeia de valor no Estado nos últimos 15 anos. Desde o ano 2000, com os investimentos em produção, armazenamento e a construção de 3 unidades de processamento no estado, a produção de castanha no Acre cresceu em 70%, chegando a aproximadamente 14.000 toneladas em 2014. O que significa que o Acre tornou-se líder do ranking nacional, respondendo por mais de um terço da castanha produzida no país, seguido pelo Amazonas e Pará (IBGE, 2015). Apesar desse sucesso, o desmatamento e a conversão de florestas em pastagens e áreas agrícolas continuam sendo as principais ameaças a atividade. Para manter essa trajetória ascendente e os benefícios ambientais e econômicos associados para o Estado, foi desenvolvido um conjunto de Boas Práticas de Manejo da castanha pela EMBRAPA, profissionais de assistência técnica e extrativistas. Pequenos investimentos, grandes resultados Desde que o estado incorporou essa cadeia em suas prioridades, a COOPERACRE começou a acessar as políticas públicas de apoio à comercialização e vem investindo em estruturas de armazenamento e processamento da castanha, o que tem ampliado sua capacidade de negociação junto aos compradores quando a safra termina e os preços de mercado sobem. Com isso, além do preço pago por quilo na entrega da castanha, definido na assembleia dos associados, há mais de 10 anos, a COOPERACRE vem oferecendo valores adicionais aos extrativistas, além de investir em melhorias de infraestrutura. A COOPERACRE gerencia 3 indústrias capazes de processar 10.000 toneladas/ano de castanhas com casca, ou 75% da produção média estadual, que vem girando entre 12 e 14 mil toneladas/ano, o que inclui castanha proveniente dos estados de Rondônia e Amazonas, além da Bolívia. O restante é beneficiado pelas 4 indústrias privadas existentes no estado. Os extrativistas associados já receberam treinamento em boas práticas de gestão. Por conseguinte, para aumentar a sua produtividade em 30%, os investimentos nesta cadeia concentramse no armazenamento, distribuição e transporte (veículos e animais de carga). Tipo de investimento Quantidade Custo Total em 10 anos (R$) Custo Total em 10 anos (USD) Investimentos para implementar a transição Construção de armazéns 3 546.307 162.580 Compra de conjunto de barcos e motores 3 84.400 24.522 Compra de animais de carga 20 4.850 1.443 Compra de veículos utilitários 12 202.900 60.383 Total - 838.457 249.524 Tabela 5: Investimentos necessários para a transição de castanha-do-brasil Fonte: COOPERACRE, SEAPROF, CDSA, 2016. 18

Viabilidade econômica O extrativismo da castanha-do-brasil pode ser considerado uma atividade produtiva intrinsecamente sustentável, uma vez que para sua execução é essencial a manutenção da floresta em pé e com diversos de seus serviços ecossistêmicos em equilíbrio. Já existe no Acre, uma cadeia de valor estruturada desde o extrativismo até o processamento e comercialização da castanha beneficiada. A cadeia de produção atualmente gera resultados satisfatórios em termos socioeconômicos, se comparados à produção de castanha em outros estados da região. No cenário sustentável, a sustentabilidade e os benefícios da cadeia de valor aumentam ao longo de 30 anos. A produção de castanha-do-brasil é otimizada, aumentando a produção em 30%. A produção das indústrias extrativas ligadas à COOPERACRE (abrangendo mais de 80% do total do estado) poderá aumentar da média atual de 6,5 toneladas / ano para cerca de 8,4 toneladas / ano durante um período de transição de cinco anos e fornecer para as 3 fábricas de transformação no Estado. Este aumento da produtividade seria o resultado de novos veículos e armazéns em locais estratégicos. Neste cenário, o VPL por produtor é de R$ 12 mil (USD 3.571) com uma TIR de 21%, contribuindo para um VPL total da cadeia de quase R$ 5.2 milhões (USD 1.5 milhões), com uma TIR de 98%. O período de pagamento do fluxo de caixa é de 2 anos. Benefícios de transição Benefícios socioeconómicos esperados: 2.422 empregos adicionais criados no período de transição. Capacitar mais de 2.500 famílias em boas práticas na colheita da castanha-do-brasil. Aumento da receita da safra, devido ao aumento dos preços pagos pelo produto; Maior apreciação das ligações entre plantações da castanha-do-brasil e manutenção florestal; Melhoria da quantidade e da qualidade da colheita da castanha-do-brasil, reduzindo os custos de processamento; Expansão da infraestrutura de armazenamento e distribuição do estado; Maior emprego e renda nas usinas de processamento e nas áreas de produção; Incentivos económicos através de associações e cooperativas; Impacto ambiental esperado: Reforço da prestação de serviços ecológicos, incluindo água, biodiversidade e aumento do estoque de carbono. Melhoria do manejo florestal nas áreas de coleta. Manutenção e valorização da biodiversidade local e dos serviços prestados pelo ecossistema florestal. 19

Extração sustentável de madeira tropical: Concessão de Florestas públicas estaduais e manejo florestal comunitário Manejo florestal sustentável: uma fonte de oportunidades Seja em florestas públicas ou em áreas comunitárias, o manejo florestal pode garantir a sustentabilidade da indústria madeireira do Acre. A estratégia do governo do Acre para ampliar a oferta de madeira legal no mercado local se baseia em duas oportunidades: (i) a expansão e consolidação das florestas públicas estaduais como áreas de concessão para que empresas privadas realizem o manejo sustentável, e (ii) o apoio ao manejo de pequena escala executado pelas comunidades nas florestas de seu entorno. Para isso, estruturou-se um modelo que inclui o desenvolvimento do arcabouço legal e das capacidades técnicas, de gestão e de comercialização da madeira para ambas as escalas de extração, visando à sustentabilidade socioeconômica e ambiental da cadeia de valor de madeira no Acre. A norma que orienta a concessão de florestas públicas De acordo com a Lei Federal de Gestão de Florestas Públicas (nº 11.284/2006), a concessão florestal é o direito que o governo concede, mediante licitação, para que empresas nacionais ou comunidades, organizadas em pessoas jurídicas, possam manejar uma determinada área pública, seja ela estadual, municipal ou da União, usando seus produtos e serviços florestais de forma sustentável. As organizações participantes do processo de concessão florestal devem atender às condicionantes de um edital público, demonstrando que possuem capacidade para o desempenho de suas atividades durante um período préestabelecido de 25 a 30 anos. A organização habilitada deve devolver a unidade de manejo nas condições descritas no contrato assinado previamente. A concessão não prevê a transferência da titularidade da terra, assim, a floresta continua sendo pública. No Acre, a exploração da madeira em áreas de concessão florestal é feita por Manejo Empresarial 3, com um ciclo de exploração de 30 anos e um volume médio de madeira a ser explorado de 15 m3/ha. Se planeja a concessão de 240.000 hectares de florestas estaduais, com um Plano Operacional Anual (POA) de 8.000 hectares/ano, estima-se que o volume médio de produção anual será de 120.000,00 (m³/ano): 3 No Brasil, o manejo pode ser empresarial, comunitário ou individual. 20

Descrição Unidade Coeficiente Área de PMFS em Florestas Estaduais ha 240.000 Ciclo de exploração Ano 30 Plano Operacional Anual ha 8.000 Volume médio m³/ha/ano 15 Volume médio de produção anual m³/ano 120.000 Tabela 6: Parâmetros silviculturais para concessão florestal Fonte: Estudo Preliminar Manejo florestal comunitário O Manejo Florestal Comunitário, por sua vez, inclui um conjunto de procedimentos técnicos e de gestão para produzir madeira e produtos não-madeireiros com o mínimo de danos à floresta. Nesta modalidade, os comunitários assumem o compromisso de gerir a exploração florestal com o intuito de conservar a biodiversidade e gerar renda para investir em projetos que beneficiem a coletividade nos aspectos ambientais, sociais, econômicos e legais. O manejo florestal comunitário no Acre tem um ciclo de exploração de 10 anos, com um volume médio de madeira a ser explorado de 10 m 3 /ha. Como a área prevista para esta atividade é de 180.000 ha de florestas, com um Plano Operacional Anual (POA) de 18.000 hectares/ano, estima-se que o volume médio de produção anual será de 180.000 m³/ano: Descrição Unidade Coeficiente Área de PMFS em Florestas Comunitárias ha 180.000 Ciclo de exploração Ano 10 Plano Operacional Anual ha 18.000 Volume médio m³/ha/ano 10 Volume médio de produção anual m³/ano 180.000 Tabela 7: Parâmetros silviculturais para o manejo florestal comunitário Fonte: Estudo Preliminar 21

Investimentos Gerais Utilizando fundos estaduais e do BID para expandir e consolidar florestas estaduais e comunitárias para a produção sustentável de madeira, o governo do Acre vem realizando diversas atividades, incluindo Investimento na regulação da posse da terra Desenvolvimento de planos de manejo para florestas públicas estaduais Criação de infraestrutura básica para a produção florestal Pesquisando e desenvolvendo a cadeia de valor Formação de trabalhadores Financiamento de planos de manejo florestal e planos operacionais anuais Fornecer certificação florestal para a gestão comunitária Realização de estudos de viabilidade técnica para o manejo florestal em áreas isoladas. O objetivo é envolver mais de 1.000 famílias nesta atividade. Além disso, para o escoamento da produção das áreas de concessão são necessárias estradas e um sistema de comunicação para a emissão eficiente do documento de origem florestal (DOF). Em áreas certificadas, também é importante rastrear a cadeia de custódia desde o momento da identificação das árvores na floresta. De forma complementar, para que o manejo comunitário gere benefícios coletivos é essencial investir na formação de lideranças para assumir a gestão das atividades de manejo e a negociação do preço da madeira. Viabilidade Econômica Na ausência de investimentos espera-se que a extração florestal se mantenha irregular e desordenada, a produção madeireira não pouco padronizada, a terra seja usada para o gado e / ou a agricultura, e as áreas comunitárias públicas sejam apropriadas ilegalmente com documentação falsa. No cenário sustentável, em um período de transição de 5 anos, os investimentos são direcionados para o fortalecimento da cadeia produtiva da madeira tropical em duas linhas de ação articuladas: 1. As áreas habilitadas para a concessão florestal são ampliadas em 240.000 hectares nas florestas públicas estaduais, propiciando o manejo florestal sustentável e certificado, com um horizonte de tempo de 36 anos. VPL: R$ 670 mil e TIR: 9%. O período de repagamento do fluxo de caixa é de 13 anos. 2. São habilitados, certificados e explorados 180.000 hectares de Planos de Manejo Florestais Comunitários, com um horizonte de tempo de 17 anos, envolvendo mais 1.000 famílias na atividade. VPL: R$ 41 mil e TIR: 8.2%. O período de repagamento do fluxo de caixa é de 13 anos. Para atrair empreendedores que realizem o beneficiamento da madeira, o governo do Acre, com recursos do Banco Nacional de Desenvolvimento (BNDES), investiu em duas bases industriais e na infraestrutura de pavimentação, energia elétrica e escritórios no interior do estado. Isso inclui 15 armazéns particulares e uma serraria compartilhada entre todas as empresas da cidade de Cruzeiro do Sul, que produz tábuas de madeira para decks, portas, e assim por diante. No município de Tarauacá existem 12 galpões individuais que produzem madeira para a exploração básica e de compensados. 22

Benefícios da Transição Ambientais Sociais Manejo comunitário Redução dos danos à floresta durante a exploração florestal; Redução dos incêndios florestais; Melhoria da conservação das funções ecossistêmicas, diversidade da floresta e regulação do clima. Geração de emprego e renda nas comunidades; 800 famílias recebendo treinamento em gestão florestal sustentável. Redução dos acidentes de trabalho; Fortalecimento das organizações comunitárias. Concessão florestal Redução dos danos à floresta durante a exploração florestal; Monitoramento da dinâmica de crescimento e recuperação da floresta; Aumento da diversidade de espécies exploradas, reduzindo a pressão sobre as espécies mais visadas. Geração de 432 empregos em concessão florestal durante o período de transição; Investimentos em infraestrutura; Ocupação planejada de terras públicas. Valorização dos produtos florestais; Econômicos Fornecimento de matéria-prima para a indústria local. Redução dos desperdícios; Melhoria no controle e fiscalização da atividade madeireira. Tabela 8: Benefícios da gestão sustentável da madeira Source: COOPERACRE, SEAPROF, CDSA, 2016. 23

Plantações florestais em terras degradadas Produção de biomassa para Energia Sustentável Investimentos públicos e privados no plantio de Eucalyptus vão contribuir para mudar a matriz energética do Acre Aproximadamente 650.000 hectares de terras foram degradados através de extensa atividade agrícola e pecuária no Acre. Grande parte desta terra tem potencial para recuperação e uso econômico com base em atividades produtivas, como o reflorestamento utilizando espécies como o Eucalyptus, cuja biomassa pode ser uma fonte de energia limpa e renovável, reduzindo a dependência do diesel na matriz energética do estado. A madeira proveniente de florestas plantadas representa uma alternativa à exploração das florestas nativas no Acre. Além de gerar empregos, o plantio pode propiciar maior competitividade à indústria local, abastecendo as empresas que, atualmente, consomem lenha para geração de energia elétrica, como: Frigoríficos e abatedouros: localizados no entorno de Rio Branco: usam lenha nas caldeiras para aquecimento da água utilizada diariamente na higienização de ambientes e equipamentos; Olarias e cerâmicas: a demanda por tijolos e blocos cerâmicos no Acre é crescente, impulsionando a produção e a necessidade de lenha para os fornos desse tipo de empresa; Indústria madeireira: as duas principais madeireiras do Acre estão instalando caldeiras para utilizar os resíduos da produção na geração de energia, vislumbrando a possibilidade de vender o excedente. Investimentos Gerais Para implementar o plantio de 20 mil hectares de Eucalyptus em áreas degradadas no Acre o Governo do Acre vem realizando estudos sobre os arranjos produtivos e modelos inovadores de negócio para essa cadeia. No primeiro ciclo de produção, serão necessários investimentos iniciais para a formação florestal e para a qualificação da mão-de-obra local nas atividades de reflorestamento, já que a silvicultura não tem tradição no estado e irá concorrer diretamente com o espaço destinado à pecuária. Também é importante levar em conta a infraestrutura limitada das rodovias dentro do estado e no entorno, especialmente no período do inverno amazônico. Viabilidade Econômica Se nada mudar os processos de erosão e degradação do solo continuarão a intensificar-se nas áreas de pastagem. No cenário sustentável, o plantio de 20 mil hectares de terras degradadas com eucalipto pode gerar uma quantidade significativa de biomassa para a produção de energia ao longo de um período de 36 anos. Serão incorporados, em média, 2.000 hectares/ ano, em um período de 10 anos de transição, envolvendo, principalmente, grandes e médios agricultores. O VPL dessa atividade é de 12 milhões, com uma TIR de 9,8%. O período de repagamento do fluxo de caixa é de 14 anos. Benefícios da Transição Benefícios socioeconómicos esperados: Um setor florestal fortalecido pode reduzir a pressão sobre as florestas nativas através de sinergias e produção complementar; Aumento das oportunidades de emprego, qualificação florestal e formação de trabalhadores; Produção de biomassa, que terá um impacto positivo na diversificação do mix energético do estado. Impacto ambiental esperado: Contribuição significativa na restauração de terras degradadas, juntamente com a redução da pressão sobre florestas nativas; As monoculturas de eucaliptos podem ter impactos negativos sobre a biodiversidade e a disponibilidade hídrica. O projeto visa mitigar esses impactos através de um Código de Conduta especificando faixas de proteção em torno de fazendas e corpos de água e medidas para controlar a extração de água. 24

Piscicultura Proteína Animal de Baixo Carbono Duas modernas unidades de processamento no estado aumentam a atratividade da piscicultura, tornando-a uma boa oportunidade de investimento A piscicultura diminui a pressão da pesca em estoques naturais e é uma fonte alternativa de proteína animal que tem os mesmos nutrientes como carne vermelha e níveis mais baixos de colesterol e gordura saturada. Portanto, a aquicultura é capaz de gerar benefícios socioeconômicos e ambientais, usando áreas significativamente menores do que aquelas necessárias para a criação de gado. No entanto, em 2013, o Acre produziu menos de quatro toneladas de peixe (IBGE, 2015). Em geral, essa baixa produtividade se devia, principalmente, aos baixos níveis de tecnologia da piscicultura no estado, ao uso de tanques inadequados, à alta taxa de mortalidade de alevinos e a uma dieta inadequada para os peixes. Diante desse histórico, o governo do Acre tem como objetivo incentivar a piscicultura investindo na verticalização da produção em pequenas, médias e grandes propriedades, construindo tanques de acordo com padrões tecnológicos apropriados para a região, na especialização da assistência técnica e extensão rural, organizando centros de produção e padronização da qualidade e quantidade de alimentos e alevinos. O foco será nas espécies pirarucu, tambaqui, pintado e pirapitinga. Investindo na mudança Entre 2012 e 2015 foram utilizados fundos do Estado, BNDES e investidores privados para construir dois viveiros para as espécies prioritárias, uma fábrica de ração para atender a demanda do estado e duas unidades de processamento de peixe. Além disso, partindo do Plano de Recursos Hídricos do Estado, o Zoneamento da Piscicultura determinou as regiões adequadas para a atividade, visando produzir, na região de Rio Branco, 20 mil ton/ano em 5 anos. Produção Anual Estimada Ano 1 Ano 2 Ano 3 Ano 4 Ano 5 Produção total projetada (ton/ano) 6.500 9.000 13.000 17.000 20.000 Tambaqui 45% 40% 40% 35% 30% Pintado 35% 35% 30% 30% 30% Pirarucu 10% 15% 20% 25% 30% Espécies secundárias (pirapitinga, etc) 10% 10% 10% 10% 10% Total (%) 100% 100% 100% 100% 100% Tabela 9: Projeção de produção anual de pescados, por espécie/ano, no Estado do Acre Fonte: Documentos internos do Governo Estadual do Acre 25

O complexo industrial de Rio Branco, chamado de Peixes da Amazônia, está focado na comercialização de peixes limpos, filetados e congelados para o mercado local, Região Sudeste e, mercado internacional, tais como: Ásia, EUA e Europa. Fonte: SEDENS, (2014). Principais produtos Frigorífico Fábrica de Ração Centro de Alevinagem (Tambaqui, Pintado e Pirarucu) Capacidade anual 20.000 toneladas 40.000 toneladas 10.000.000 unidades Tabela 10: Complexo industrial Peixes da Amazônia Por sua tradição na produção local de pescados e pela distância em relação a Rio Branco, a unidade de Cruzeiro do Sul, chamada Juruá Peixes, tem sua produção direcionada ao mercado do estado do Acre e Amazonas (80%) e ao mercado internacional, com destaque para a região do Departamento de Pucallpa, no Peru. Fonte: SEDENS, 2014. Principais produtos Frigorífico Centro de Alevinagem Capacidade anual 2.000 toneladas 1.000.000 unidades Tabela 11: Complexo industrial Juruá Peixes Investindo na melhoria do padrão da produção Para viabilizar a transição para uma produção mais sustentável, o portfólio inclui investimentos na construção de viveiros e tanques de engorda, juntamente com as instalações de filtração de água na proporção de 1.000 hectares / ano ao longo de cinco anos. Isso proporcionaria um total de 5.000 hectares de laminas d água administrados de acordo com padrões estabelecidos pelas boas práticas de manejo na criação de peixe para a melhoraria da produtividade. Estes investimentos terão de estar ligados a uma assistência técnica adequada. Espera-se que os investimentos criem uma demanda por negócios locais para fornecer alevinos e rações, gerando incentivos econômicos para os produtores rurais investirem nessa área. Isso pode reduzir a necessidade de limpar novas áreas de floresta para a criação de gado. Espera-se também que a intervenção reduza a pesca selvagem. Viabilidade econômica Sem intervenções para mudar esta indústria, a produção incipiente de ração e alevinos e as limitadas tecnologias de processamento provavelmente continuarão a dificultar a provisão regular de peixe no Acre. No cenário sustentável, a produtividade da piscicultura melhora devido à construção de 5.000 hectares de tanques padronizados ao longo de um período de transição de cinco anos. Isso requer que aproximadamente 1.000 produtores estejam envolvidos no projeto, pelo menos 50% dos quais devem ser agricultores familiares. Os VPLs por hectare variam entre as espécies prioritárias: de R$ -79.000 (USD -23.000) para Tambaqui a quase R $ 220.000 (USD 65.000) para Pirarucu após 20 anos. Ao longo de 20 anos, o cenário sustentável se mostra viável, gerando um VPL total de aproximadamente R$ 36 milhões (USD 10,7 milhões), com uma TIR de 10%. O prazo de reembolso do fluxo de caixa é de 11 anos. 26

Benefícios da transição Benefícios socioeconómicos esperados: 60.000 empregos criados no período de transição. 1.000 produtores treinados em produção sustentável, reduzindo riscos de contaminação de água e solo. Maior produtividade e rentabilidade por hectare Melhoria da segurança alimentar urbana e rural; Uma dieta mais saudável, substituindo carne por peixe. Impacto ambiental esperado: Os tanques serão construídos em áreas já limpas; Redução da pressão sobre florestas nativas; Melhoria da qualidade da água e do solo, utilizando as boas práticas especificadas nos Códigos de Conduta. Redução da pesca selvagem. 27

5. A transição na Conservação das Florestas Fluxo de financiamento contínuo para a conservação e recuperação ambiental Investir na conservação das florestas e na recuperação de áreas degradadas são ações fundamentais para reduzir os impactos das atividades produtivas sobre a biodiversidade, para a melhoria da qualidade de vida da população e manutenção dos estoques de carbono nas florestas. A seguir, são apresentadas as propostas do governo do Acre para fortalecer as áreas naturais protegidas do Estado e restaurar as áreas alteradas dentro da bacia do Rio Acre. A manutenção do alto valor de conservação das reservas florestais do Acre exigirá investimentos em ferramentas de gestão, infraestrutura, restauração florestal e treinamento. Fortalecimento do sistema estadual de áreas naturais protegidas (SEANP) O Sistema Estadual de Áreas Naturais Protegidas (SEANP), criado pela Lei Estadual nº 1.426 de 27/12/2001, é promulgado por meio de Áreas Protegidas estaduais e municipais (APs). A lei também reconhece as APs federais e as Reservas Indígenas (IRs). Isso representa cerca de 47% do território do Acre, com 31,10% constituídos por APs (9,52% são designados como APs de proteção integral e 21,58% são APs de uso sustentável) e 14,55% para RIs. Em 1998, as UC no Acre totalizaram 3.075 bilhões de hectares, que cresceram para 7.498 bilhões de hectares em 2010, com crescimento de 144%. Investimentos Gerais Para manter as taxas de desmatamento o mais baixo possível, é necessário um investimento de BRL 82 milhões (USD 24,3 milhões) durante um período de transição de dez anos para fortalecer e administrar a SEANP e contribuir para a sustentabilidade ambiental nas 22 APs do Acre, a partir de ações como: A criação e / ou implementação de Conselhos de Gestão; A preparação e / ou revisão dos planos de gestão; Monitoramento e supervisão de APs; A criação de uma nova AP nacional; A criação de um website e banco de dados da SEANP, Equipe mínima, infraestrutura e orçamento operacional para a SEANP. Dados da SEMA mostraram que as APs contribuíram com 3% e as IRs 1% para a área total desmatada em 2014. A SEMA sugere que isso foi causado pela abertura de novas estradas e estradas causando a extração ilegal da madeira, assentamentos e expansão agrícola, exacerbado pela falta de reforço da posse de terra. Veja a tabela abaixo. 28

CATEGORIA Área (Km 2 ) Percentual do Estado (%) Órgão Gestor I - Proteção Integral PARNA Serra Divisor 7.840,79 4,77 ICMBio Estação Ecológica Rio Acre 843,87 0,51 ICMBio P.E. Chandless 6.953,03 4,23 SEMA Subtotal 15.637,69 9,52 II - Uso Sustentável Área de Proteção Ambiental Igarapé São Francisco 300,04 0,18 SEMA Área de Proteção Ambiental Lago do Amapá 52,24 0,03 SEMA Área de Proteção Ambiental Raimundo Irineu Serra 9,09 0,01 SEMA ARIE Seringal Nova Esperança 25,76 0,02 ICMBio Reserva Extrativista Alto Juruá 5,384,92 3,28 ICMBio Reserva Extrativista Chico Mendes 9.302,03 5,66 ICMBio Reserva Extrativista Alto Tarauacá 1.511,99 0,92 ICMBio Reserva Extrativista Cazumbá-Iracema 7.336,80 4,47 ICMBio Reserva Extrativista Riozinho da Liberdade 3.201,18 1,95 ICMBio Floresta Nacional Macauã 1,770.47 1,08 ICMBio Floresta Nacional Santa Rosa do Purus 1.525,75 0,93 ICMBio Floresta Nacional São Francisco 191,39 0,12 SEMA Floresta Estadual do Antimary 456,39 0,28 SEMA Floresta Estadual Mogno 1.438,97 0,88 SEMA Floresta Estadual Rio Liberdade 773,03 0,47 SEMA Floresta Estadual Rio Gregório 2.160,62 1,32 SEMA Subtotal 35.440,67 21,58 III - Reservas Indígenas 23.901,12 14,55 Total de Áreas Naturais Protegidas 74.979,48 45,66 Tabela 12: Áreas naturais protegidas do estado do Acre, 2006 Fonte: Acre, 2012 29

Programa de recuperação de áreas alteradas na bacia do rio Acre Aproximadamente 13% do território de 164.220 km² do Acre é desmatado. Dessa área, 72% estão concentrados na bacia do Rio Acre. Isso se deve principalmente à aglomeração populacional, já que a capital Rio Branco e outros municípios dentro da bacia abrigam mais de 60% da população do estado. Cerca de 60 mil hectares de Áreas de Preservação Permanente (APPs), incluindo nascentes e margens de rios e igarapés já foram desmatados nessa área, aumentando a vulnerabilidade da população durante eventos climáticos extremos, como grandes secas ou inundações, uma vez que é perceptível que o nível das águas vem se alterando drasticamente ao longo dos anos no Acre, gerando impactos negativos tanto nas secas mais drásticas e frequentes, que prejudicam o transporte e reduzem a quantidade de água tratada. Inundações também afetaram áreas urbanas. Assim, o financiamento às atividades de recuperação da bacia do Rio Acre, com base em sua revitalização com espécies nativas e na promoção do uso sustentável da biodiversidade local, são fundamentais para reverter o atual quadro de degradação, aumentando a disponibilidade e a qualidade da água e melhorando as condições socioambientais da região. Investimentos Gerais Em um período de transição de 10 anos, este projeto pretende investir R$ 100 milhões em ações como: Promover a adesão de 2.000 famílias de agricultores e ribeirinhos do Rio Acre e das sub-bacias prioritárias (mananciais de abastecimento público); Elaborar um plano de comunicação e mobilização social para o programa; Apoiar a restauração florestal de 10.000 hectares na APP da bacia do rio Acre; Capacitar 900 agricultores e ribeirinhos em gestão de recursos hídricos, restauração de APP, agroecologia e mudanças climáticas. SEANP Rio Acre Ambientais Sociais Econômicos Incentivo à pesquisa e conhecimento da biodiversidade nas áreas protegidas; Uso sustentável da biodiversidade; Instrumentos de monitoramento e controle sobre o território; Redução das emissões de carbono por desmatamento e degradação ambiental nas áreas protegidas; Regularização fundiária nas APs; Recomposição/proteção das áreas protegidas; Participação nos Conselhos Gestores das áreas protegidas; Mudança no uso atual do solo para alternativas sustentáveis; Identificação de cadeias de valor com potencial de desenvolvimento dentro das APs. Recuperação gradativa dos serviços ecossistêmicos das APPs da bacia do Rio Acre; Redução dos processos erosivos na calha do Rio Acre; Conectividade entre fragmentos florestais, permitindo o movimento dos organismos, sementes e pólen, beneficiando a reprodução das espécies; Prestação de serviços ambientais como melhora na qualidade da agua, controle da erosão; Acesso aos serviços públicos e à assistência técnica; Redução da migração urbana. Implantação de Sistemas Agroflorestais (SAFs) dentro das APPs, aumentando a renda familiar. Tabela 13: Benefícios das atividades de conservação 30

6. A transição em meios de vida sustentáveis Aliando mitigação das mudanças climáticas, uso sustentável da biodiversidade com a qualidade de vida no meio rural Capacitação dos povos indígenas e comunidades tradicionais através de planos de manejo para suas áreas, para apoiar decisões relacionadas a biodiversidade, conservação e mitigação das alterações climáticas. Povos indígenas, as comunidades tradicionais e os agricultores familiares constituem a maioria da população rural do Acre e, em geral, são altamente vulneráveis socioeconomicamente. Por conseguinte, têm uma capacidade limitada de lidar com os impactos das mudanças climáticas sobre sua segurança alimentar, produção e renda. Os PGTI s e PDC s descritos abaixo são propostas do governo do Acre para identificar alternativas e implementar ações para melhorar a qualidade de vida dos povos indígenas e populações tradicionais. O processo de planejamento deve ser participativo e adaptado a cada contexto comunitário. Planos de gestão de terras indígenas (PGTIs) Os Planos de Gestao de Terras Indígenas podem ajudar a melhorar o patrimônio indígena material e nãomaterial e conservar e restaurar a biodiversidade. Isso pode ter o efeito de melhorar os padrões de vida, apoiar a diversidade cultural dos povos indígenas e atenuar as mudanças climáticas. Suas finalidades principais são: Dar uma base para grupos indígenas para planejar o uso da terra compatível com a biodiversidade. Servir de referência para as políticas públicas voltadas para esse público. Além disso, identificar a ajuda financeira e técnica necessária para que essas políticas funcionem. Os PGTIs pautam-se nos princípios da sustentabilidade: Ambiental: promover o uso sustentável da biodiversidade (produtos florestais não-madeireiros, agricultura, pesca, caça, etc) permitindo sua regeneração, e mitigação das mudanças climáticas; Econômica: gerar riquezas suficientes para atender às necessidades de todos os moradores de uma Terra Indígena a partir do uso sustentável da biodiversidade; Social: realizar o projeto étnico da Terra Indígena, a partir de relações sociais internas e externas equilibradas (com vizinhos, órgãos públicos, outras instituições, etc); Cultural: assegurar que as múltiplas práticas culturais do povo: ritos, linguagem, religião, organização social, indumentária, transmissão de conhecimento possam ser reproduzidas. 31

As diretrizes que orientam a elaboração dos PGTIs no Acre são: Garantir a proteção ambiental e territorial das terras indígenas; Propiciar o desenvolvimento socioeconômico dos povos indígenas; Auxiliar na organização do uso e produção dos recursos, tanto os atuais quanto em uma perspectiva de médio e longo prazo; Auxiliar na definição de assistência técnica e financeira para as demandas indígenas; Apresentar as demandas e buscar parcerias para solução de problemas de infraestrutura das aldeias; Apresentar alternativas socioeconômicas; Auxiliar na identificação dos problemas inerentes às práticas econômicas e seus potenciais impactos; Refletir sobre as formas de garantir alimentação de qualidade; Auxiliar na reflexão sobre revitalização e valorização cultural; Auxiliar processos de regularização fundiária, como a demarcação, identificação e revisão de limites das Terras Indígenas; Identificar as demandas tecnológicas e administrativas das aldeias; Identificar as demandas de formação para gestão; Identificar ações capazes de conferir maior aproveitamento das potencialidades econômicas das terras indígenas; Ajudar a consolidar os debates, as práticas cooperativas e o aprofundamento de mecanismos de aprendizado e inovação. Ampliar o diálogo com organizações governamentais e não-governamentais Fortalecimento das organizações indígenas para reduzir o conflito interno nas aldeias. O processo participativo, baseado na consulta das lideranças, agentes indígenas e demais atores que influenciam a tomada de decisões é o elemento principal para a construção dos PGTIs, garantindo o consentimento e a legitimidade para sua implementação. 1º Etapa Diagnóstico Levantamento socioeconômico; Mapeamento participativo; 2º Etapa Construção do Plano Revisão dos indicativos de gestão; Debates internos nas aldeias; Reunião geral de elaboração do Plano de Gestão; Definição da equipe editorial 3º Etapa Publicação do Plano de Gestão Distribuição para agentes públicos e interessados em geral; Distribuição do Plano de Gestão para as famílias indígenas Figura 1: Processo de construções dos PGTIs Reuniões preliminares e preparação logística Preparação logística Fonte: SEMA (2010). Source: SEMA (2010). Os PGTIs resultam em Cartas de Intenções ou Acordos Coletivos que incluem, mas não se limitam aos seguintes componentes: Salvaguarda, planeamento de proteção e zoneamento do território Permissão para o uso do solo Uso sustentável da biodiversidade para geração de renda Aproveitando o conhecimento e a cultura tradicionais dos povos indígenas e ajudando na sua difusão entre gerações Exigir melhorias nas áreas de educação, saúde e promoção social Assim, em um horizonte de tempo de 10 anos, com um investimento de cerca de R$ 43 milhões (USD 13 milhões), este projeto pretende contribuir com a execução das seguintes metas: Meta 01: Elaboração e Revisão dos PGTIs: Elaboração de 118 PGTIs; Meta 02: Implementação dos PGTIs: Implementação de 36 PGTIs; Formação e remuneração de 100 Agentes Agroflorestais Indígenas (AAFI); 3 profissionais de Assistência Técnica e Extensão Rural para as Terras Indígenas; 32

Planos de desenvolvimento comunitário (PDCs) Grandes e médios fazendeiros vêm sendo os principais vetores do desmatamento e da mudança do uso da terra na Amazônia. Entretanto, não se pode descartar a participação dos pequenos agricultores. A abertura de roças para subsistência, para ampliar a produção ou para garantir a posse se torna relevante, quando há concentração territorial. As estimativas feitas pelo Zoneamento Econômico-Ecológico do Acre (ZEE) indicavam que, no início deste século, 60% dos desmatamentos ocorriam em áreas de até 10 hectares, 35% em áreas de 10 a 60 hectares e 5% em áreas acima de 60 hectares (Governo do Estado do Acre, 2010b)). Tendo em vista que 27% da população do Acre, ou aproximadamente 40 mil famílias de produtores familiares sendo: extrativistas, ribeirinhos, agricultores que vivem no meio rural e florestal, a implementação de uma estratégia de inclusão sócio produtiva, pode garantir, além da renda, o uso sustentável da biodiversidade em regiões isoladas e vulneráveis. Por isso, o Governo do Estado vem fomentando a elaboração de instrumentos de ordenamento e gestão para comunidades rurais, denominados PDCs. O PDC é uma ferramenta de planejamento que, observando a vocação econômica e cultural de cada comunidade, procura identificar as expectativas e as necessidades locais em um determinado horizonte de tempo. Os PDCs procuram retratar o estilo de vida dos comunitários, seu nível de organização social, as condições da segurança alimentar e nutricional, socioeconômicas, ambientais, a infraestrutura disponível, a capacidade de adaptação aos eventos extremos, como secas e inundações, além das potencialidades, necessidades e anseios das comunidades, dando base para a implementação das políticas públicas. A concretização deste plano exigirá um investimento de pouco mais de R $ 115 milhões (USD 34 milhões) em 10 anos. Isso financiará a criação e implementação de PDCs em 400 comunidades do Acre, bem como para monitorar e avaliar os resultados desses planos. Para tanto, será necessário treinar 400 Oficiais de Desenvolvimento Comunitário. Estes Oficiais trabalharão com o apoio de especialistas em assistência técnica para orientar os grupos locais de acordo com o que for estabelecido nos PDCs. Ambientais Sociais Econômicos PGTI Monitoramento, controle e gestão do território (sensibilização da população do entorno e aumento da fiscalização) Manejo dos recursos naturais; Recuperação de áreas degradadas usando espécies nativas. Acesso a assistência técnica e extensão rural; Formação de agentes agroflorestais indígenas; Valorização do conhecimento tradicional. Capacitação das associações para elaboração de projetos, prestação de contas e comercialização de produtos; Participação em feiras de produtos extrativistas e da agricultura familiar; Plantios de frutíferas para fornecimento às agroindústrias; Valorização dos produtos indígenas. PDC Diagnóstico da situação ambiental do entorno; Identificação de estratégias de adaptação aos eventos extremos, como secas e inundações; Controle do desmatamento e mudanças do uso do solo. Acesso a assistência técnica e extensão rural; Formação de agentes de desenvolvimento comunitário. Capacitação das associações para elaboração de projetos, prestação de contas e comercialização de produtos; Participação em feiras de produtos extrativistas e da agricultura familiar; Plantios de frutíferas para fornecimento às agroindústrias. Tabela 14: Benefícios das atividades de meios de vida sustentáveis 33

7. Impactos esperados sobre o desmatamento e as emissões dos gases de efeito estufa no Acre Em comparação com o cenário tendencial, o plano de transição deverá levar a uma redução do desmatamento de aproximadamente 275.000 hectares, o que reduziria as emissões de gases de efeito estufa do Estado em quase dois terços. Esta seção explica como essa estimativa foi calculada. Metodologia No plano de transição, várias atividades ocorrem no interior da floresta, que incluem concessões 34 florestais e áreas de manejo comunitário, e outras atividades estão planejadas para expandir em terras já degradadas, como áreas de extração de açaí e borracha. Para efeitos de análise da utilização do solo, presume-se que conduzam a uma degradação insignificante. O principal impacto do plano de transição advém do fortalecimento das cadeias de fornecimento de produtos florestais não-madeireiros. Investir no sector dos produtos florestais não madeireiros pode aumentar o valor da floresta em pé, do ponto de vista da utilização do solo. Nossas análises pressupõem precisamente que: o aumento pretendido na área dos produtos não-madeireiros