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ALELUIAS
RAIMUNDO CORREIA ALELUIAS Introdução, fixação do texto e notas Maria da Penha Campos Fernandes EDICŌESECOPY
Autor: Raimundo Correia Título: Aleluias Introdução, fixação do texto e notas: Maria da Penha Campos Fernandes Coleção: Cruzeiro do Sul ISBN da edição impressa: 978-989-656-224-3 ISBN da edição digital: 978-989-656-223-6 Depósito Legal: 366521/13 Data: 2013 Biblioteca Nacional de Portugal Catalogação na Publicação CORREIA, Raimundo, 1859-1911, e outro Aleluias / Raimundo Correia, Maria da Penha Campos Fernandes. (Cruzeiro do sul ; 2) ISBN 978-989-656-224-3 I - FERNANDES, Maria da Penha Campos, 1945- CDU 821.134.3(81)-1 18 091.0 808.2 Obra publicada com o apoio do Ministério da Cultura do Brasil Fundação Biblioteca Nacional EDICŌESECOPY Rua Actor Ferreira da Silva, 373/381 4200 301 Porto edicoes.ecopy@macalfa.pt www.edicoesecopy.pt Impressão e acabamento: Publito, Braga.
«Raimundo Correia [ ] prefigura o Mário de Sá-Carneiro de Nossa Senhora de Paris ou o Pessoa de Pauis. Até mesmo o inventário é o dos futuros modernistas portugueses [ ]. E as praças hoje abandonadas têm a cor de uma pintura metafísica». (Luciana Stegagno-Picchio, 1997, 2.ª ed. 2004: 314).
INTRODUÇÃO
Alleluias Aleluias, Raimundo Correia mais alto que «As pombas» Alleluias Aleluias, Raimundo Correia mais alto que «As pombas» «Um dia, um jornal de Lisboa publicou o soneto Vae-se a primeira pomba despertada Vae-se outra mais mais outra E eram tão lindos os versos e tanto diziam aos corações, que aldeia, em que se fale a formosa língua, conhece o primor, transcripto, mil vezes reeditado, por muitos arrecadado como joia. A Raymundo Corrêa chamavam o Poeta das Pombas.» (D. João da Câmara, «Prólogo», in Raymundo Corrêa, Poesias) 1 Em 1898, Raymundo Corrêa atualmente escreve-se Raimundo Correia publica em Lisboa o seu quinto livro, Poesias, constituído por uma centena de poemas que seleciona com o apoio de amigos, um deles D. João da Câmara, que apresenta a coletânea, outro o republicano Dr. Joaquim Francisco de Assis Brasil, Ministro da Legação do Brasil em Portugal, na qual o poeta exercia as funções diplomáticas de Segundo Secretário desde o ano anterior. Esta edição das Poesias compreendia, além do «Prólogo» do escritor português, um conjunto de poemas retomados às três últimas obras do Poeta das Pombas Symphonias (1883), Versos e Versões (1887), Alleluias (1891), mais cinco poemas inéditos e uma «Nota», em que o autor explicitava pertencer «o menor contingente» dos textos ao primeiro destes três livros e que os dois seguintes, embora revelassem «algum progresso e mais independência», não lograram alcançar o êxito daquele, que fora acolhido com «honrosos elogios» por «ilustres escriptores» brasileiros e portugueses. Um dado que Raimundo Correia não 11
Introdução regista nesta nota, mas que se mostra verificável, é que cerca da metade dos poemas presentes nesta primeira edição de Poesias provinha de Alleluias: um pequeno acervo que demonstra o apreço do poeta por esta obra a que fora a mais silenciada pela crítica da época, mas que é também aquela que o poeta então distingue para ilustrar a sua maturidade poética. Durante o tempo de vida de Raimundo Correia, Poesias teve mais duas edições, em 1906 e em 1910, embora esta tenha vindo a público apenas no ano seguinte, após a morte do autor. Ambas as edições foram por ele ampliadas, a segunda com cinco poemas e a terceira com três, sem que a preponderância numérica dos poemas provenientes das Alleluias fosse ultrapassada. Esta última razão e ainda a ressonância direta ou sub-reptícia da poesia de Raimundo Correia na poesia portuguesa finissecular e moderna justificam que se rememore a sua obra, dando a conhecer uma outra vez em Portugal um livro seu. Muito embora com a convicção da importância de outros livros do poeta e com a consciência de que, desde 1891, se passaram mais de doze décadas de profunda mudança das mentalidades, com todas as implicações culturais que este fato tenha, nomeadamente as linguísticas, o que exige uma reedição atualizada das Aleluias (assim se escrevemos hoje) e que se apresente uma breve panorâmica do universo poético do autor. 2 Raimundo Correia (S. Luís, Maranhão, 13 de maio de 1859 Paris, 13 de setembro de 1911) é um escritor brasileiro a cuja obra, como um ímã, afluíram as principais linhas de força da poesia oitocentista. Nasceu no mar, como Vénus, muito embora a bordo e não numa concha; viveu em diferentes terras e morreu em viagem, no estrangeiro, tendo sido o seu corpo transladado com o apoio da Academia Brasileira de Letras, para o Rio de Janeiro, onde foi 12
Introdução sepultado em 28 de dezembro de 1920. Embora seja um escritor lusodescendente, apenas por um quase nada ainda presente no atual estado da memória literária, a ressonância da sua poesia pode ser atestada por textos de António Nobre, Antero de Quental, Eça de Queirós, Cesário Verde, Camilo Pessanha, Mário de Sá-Carneiro, Fernando Pessoa, como o saberão constatar os seus leitores. O movimento, nomeadamente as deslocações e relocalizações frequentes, assinalou os diferentes tempos do poeta, o que muito possivelmente contribuiu para selar a sua obra com a percepção da mudança e da efemeridade, inclusive dos bens interiores mais arraigados, tal como sugere o seu famoso soneto «As pombas», onde se armazenam os leitmotive mais recorrentes em sua poesia, a exemplo do voo, dos sonhos e do azul. As obras de Raimundo Correia selecionadas como pilares da referida seleta de 1898, todas publicadas na multifacetada oitava década de Oitocentos no Brasil, são conduzidas por uma sensibilidade artística hábil no traçado de imagens sensoriais e narrativas do mundo, as quais, mesmo quando dão a perceber uma feição como que objetiva deste, estão profundamente comprometidas com a perscrutação do humano, do próprio âmago poético e do alheio, o que, frequentes vezes, caracteriza o autor maranhense como um poetafilósofo. Ilustram este tratamento lírico do mundo poemas que integram as Aleluias, publicadas adiante, ou noutras obras, conforme é visível nas seguintes amostras, em que se podem ler uma alegoria da vida e outra da arte: A chegada Vimos de longe; o guia vai na frente; É longa a estrada Aos ríspidos estalos Do impaciente látego, os cavalos Correm veloz, larga e fogosamente 13