ANEXO 1. SISTEMAS AGRO-PECUÁRIOS NA REGIÃO CENTRO Um retrato atualizado para melhor gestão dos efluentes pecuários no futuro

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ANEXO 1 SISTEMAS AGRO-PECUÁRIOS NA REGIÃO CENTRO Um retrato atualizado para melhor gestão dos efluentes pecuários no futuro

SISTEMAS AGRO-PECUÁRIOS NA REGIÃO CENTRO Um retrato atualizado para melhor gestão dos efluentes pecuários no futuro Daniela Valente S. dos Santos1), Maria Filomena P. Miguens1), Regina Esteves2), Idílio Neto2) 1) Departamento de Ambiente da Escola Superior Agrária de Coimbra 2) Direção Regional de Agricultura e Pescas do Centro No âmbito do projeto Boas práticas agrícolas para uso sustentado dos efluentes pecuários, financiado pelo Programa da Rede Rural Nacional PRODER, abrangendo as Regiões Norte e Centro, dada a importância económica da produção leiteira em ambas as regiões, foi elaborado pela Escola Superior Agrária de Coimbra e executado pela Direção Regional de Agricultura e Pescas do Centro, um inquérito a uma amostra aleatória de 108 produtores, retirada de um universo estratificado por classes de produção de leite, na Região Centro. Pretendeu-se uma atualização dos sistemas agro-pecuários e a recolha de informação que não é contemplada pelo Recenseamento Agrícola de 2009. amostra, é de 18,1 ha. Os sistemas de produção são essencialmente forrageiros. O milho para silagem é produzido por quase todos os agricultores. O azevém ou consociação do azevém com a aveia são cultivados em 37% das explorações como cultura de outono-inverno. As ferrãs e os ferrejos de gramíneas são também representativos nos sistemas agrícolas abordados, tendo ainda alguma expressividade o milho para grão e prados temporários. As hortícolas aparecem como cultura temporária secundária com uma importância reduzida, ocupando a batata 11% dos solos cultivados. A floresta corresponde a 61,4 ha no total das explorações. A época de rega estende-se, no máximo, de junho a setembro, mais concentrada nos meses de julho e agosto, sendo raro o agricultor ter o registo ou noção dos volumes de água consumidos durante a época de rega. Os sistemas de rega são maioritariamente por aspersão de média pressão e alguma rega localizada gota-a-gota. A pertinência do projeto prende-se com a necessidade de uma caracterização completa e atualizada dos sistemas de produção em ambas as regiões para a obtenção de indicadores que permitam perspetivar alternativas de gestão da elevada carga de efluentes pecuários produzidos nessas regiões. do Projecto 2 Os resultados do inquérito permitiram obter informação relativamente a: i) gestão dos efluentes pecuários tais como capacidade e tipo de armazenamento e utilização; ii) práticas de produção agrícola tais como a ocupação anual dos terrenos pelas diversas culturas, fertilização e regas; iii) dimensão e natureza do efetivo pecuário. Geograficamente as explorações dos agricultores inquiridos distribuem-se pelos concelhos de Cantanhede, Murtosa, Estarreja, Ovar, Montemor, Albergaria, Águeda, Coimbra, Anadia, Aveiro, Ílhavo, Oliveira do Bairro, Vagos e Figueira da Foz, abrangendo uma área total de 1 916 hectares (ha) de parcelas agrícolas cultivadas (Figura 1). Destes, os que contribuem com maior peso na amostra são os concelhos de Montemor (19%), Cantanhede (18%), Ovar (15%), Estarreja (11%), Figueira da Foz (10%) e Murtosa (6%). A representatividade do número de explorações que se encontram localizadas em zonas designadas como zonas vulneráveis à contaminação por nitratos é de 47%, pertencentes aos concelhos de Cantanhede, Estarreja, Murtosa e Mira. Relativamente aos sistemas de produção, a área média per capita cultivada nas explorações da 3 3 Impacte da estrutura fundiária nas explorações pecuárias Figura 1 Localização geográfica da área de estudo que inclui as zonas vulneráveis 2 (Estarreja e Murtosa) e 3 (Litoral Centro). // P. 2

A utilização do estrume e chorume como fertilizantes e corretivos orgânicos do solo restringe-se essencialmente às culturas forrageiras e aos prados temporários. A prática mais corrente é aplicar o estrume e incorporá-lo imediatamente no solo. O chorume é aplicado na mesma área média do estrume e nas explorações em zonas vulneráveis é utilizado por 35% dos agricultores. 96% das explorações têm de recorrer à adubação química, ou sintética, para garantir as melhores produções, sendo que 85% dos que aplicam adubos sintéticos, utilizam adubos de libertação lenta e 56% das explorações usam também adubos convencionais. A área média de aplicação dos adubos sintéticos é equivalente à área de aplicação de chorume e estrume, ou seja, cerca de 18 ha. A área média de aplicação de adubos convencionais é apenas de 1,5 ha. Em 86% da área total das explorações o adubo total ou parte do adubo é aplicado à sementeira, sendo que em 45% da área fazem aplicações em cobertura. Relativamente à manutenção das instalações e gestão dos efluentes pecuários, registou-se que 28% dos sistemas de limpeza dos estábulos possuem algum automatismo, sendo que em 14% das explorações procedem à separação da fração sólida da líquida. A remoção dos dejetos é feita prioritariamente com um trator, em 61% dos casos; seguindo-se a manual em 16% das situações e explorações de menor dimensão, em 12% há o encaminhado para o canal de recolha, em 10% o arrastamento é mecânico e numa exploração de grandes dimensões foi registado um sistema de recolha hídrico (flushing) completamente automatizado. 81% do escoamento da fração líquida é gravítico, apenas 19% recorrem a sistema de bombagem da fração líquida. 97,8% dos efluentes pecuários são utilizados na exploração. Quanto à capacidade de armazenamento e retenção dos efluentes, o volume médio das nitreiras é de 193 m3, e o das fossas ou tanques é de 198 m3 sendo a distribuição por percentis a seguinte: percentis nitreiras m 3 fossas 5 490 1000 10 430 508 20 290 213 50 107 63 90 31 18 A capacidade média das lagoas, que aparecem com muito menor representatividade, é de 1194 m3. 78% das explorações dispõem de nitreiras, sendo que 81% destas são estanques e feitas em alvenaria de tijolo com revestimento. Os tanques são na mesma proporção 83% estanques e maioritariamente construídos em alvenaria de tijolo. Foram registadas apenas 8 explorações com lagoas estanques, tendo uma delas capacidade de 9 000 m3. 63% das águas de lavagem são encaminhadas para tanques ou fossas autónomas e 37% vão para o mesmo local de armazenamento do chorume. Tendo sido a amostra retirada do universo dos produtores de leite da região Centro, o efetivo pecuário é constituído essencialmente por vacas para a produção de leite, tendo muito pouca representatividade as demais espécies tais como as registadas: ovinos e caprinos, suínos, aves, coelhos e equinos. A média per capita de vacas leiteiras é de 48 vacas/exploração, sendo a média do efetivo pecuário bovino por hectare de 4,24 animais. Considerando a média de 48 vacas leiteiras por exploração e que cada uma produza anualmente 23 m3 de chorume (de acordo com tabela do Anexo 2 do Código de Boas Práticas Agrícolas (CBPA, 1997)) e fazendo-se a diluição mínima recomendada com as águas de lavagem de 1:1 para o chorume com todos os excrementos sólidos, corresponderá a um volume médio anual de 46 m3 por animal. Para a capacidade média de armazenamento instalada de 193 m3 em nitreiras e 198 m3 dos tanques ou fossas, haverá a necessidade de esvaziar pelo menos 6 vezes por ano as estruturas de armazenamento, o que corresponderia a aplicações de efluentes pecuários nos terrenos com uma frequência de 2 meses. Tal não permitiria o cumprimento do disposto no Programa de Ação para a recuperação das zonas vulneráveis, que obriga a uma capacidade de armazenamento de pelo menos 120 dias (4 meses). Para o cumprimento do previsto no Programa de Ação das zonas vulneráveis seria necessário duplicar a capacidade média de armazenamento. Atualmente apenas 10% das explorações possuem nitreiras e fossas com capacidades acima do dobro das apresentadas, permitindo cumprir com o disposto no Programa de Ação. A quantidade de azoto total média produzida e disponível para utilização pelas culturas em cada exploração seria de 2 429 a 3 312 kg/ano (de acordo com valores do N disponível no Anexo V da Portª. 256/2012). Considerando a área média de 18 hectares para a aplicação dos efluentes em cada exploração, seriam fornecidos de 135 a 184 kg N/ha em cada ano. Fazendo-se um exercício equivalente para a quantidade de fósforo (P2O5) e para a quantidade de potássio (K2O) disponíveis, estariam disponíveis a serem utilizados pelas culturas em cada exploração, 110 kg P2O5/ha e 491 kg K2O/ha. No entanto, os resultados relativos a uma campanha de recolha de amostras de estrume e de chorume em explorações agro-pecuárias (no âmbito do projeto Agro 10, 2005) na antiga zona vulnerável de Aveiro, abrangendo as freguesias de Oliveirinha, Santa Joana, Eixo, São Bernardo e Nossa Senhora de Fátima, no distrito de Aveiro; demonstraram que as concentrações médias de azoto do estrume e chorume dos efluentes pecuários da região são ligeiramente mais elevadas do que as de referência do Código de Boas Práticas Agrícolas e da Portª 256/2012. As concentrações de fósforo são ligeiramente superiores e as concentrações de potássio são mais reduzidas. Os valores de matéria orgânica, N total, P2O5 e K2O são os apresentados na Tabela 1. // P. 3

Tabela 1 Teores médios de Ntotal, P2O5 e K2O em 20 amostras de estrume e chorume de explorações agro -pecuárias no concelho de Aveiro (análises realizadas pelo Laboratório de Química Agrícola Rebelo da Silva). % da matéria seca M.O. N total P 2 O 5 K 2 O Estrume 75,56 2,94 1,43 2,03 Chorume 62,73 5,96* 1,88 10,53 média 69,15 6,44 1,66 6,28 kg/t ou kg/m3 M.O. N total P 2 O 5 K 2 O Estrume 158,67 6,17 2,99 4,25 Chorume 56,46 5,36* 1,69 9,48 média 107,57 5,765 2,34 6,87 *- valores de concentração de N depois de retirados os 40% de perdas consideradas na Portaria nº 259/2012. Corrigindo os valores para as concentrações médias das 20 amostras de estrume e chorume analisadas na região, as quantidades médias de Ntotal, P2O5 e K2O disponíveis para as culturas em cada exploração seriam de 265 kg N/ ha, 129 kg P2O5/ha e 358 kg K2O/ha. Observa-se essencialmente que os teores de fósforo incorporado são mais elevados e os de potássio mais reduzidos do que a referência considerada no CBPA. Considerando a SAU do último Recenseamento Agrícola (RA 2009) que é de 30 534 ha e as respetivas culturas instaladas, as necessidades totais de N para exportação, estimado de acordo com o Manual de Fertilização (2006), seriam cerca de 4 370 toneladas. Portanto, o N total disponibilizado pelos efluentes pecuários produzidos na região, que de acordo com o estimado acima estariam no intervalo de 4 122 a 5 618 ton/ano, corresponderiam à quantidade suficiente confortável para satisfação das necessidades totais em azoto na região. Da análise global dos indicadores obtidos a partir do inquérito realizado, pode-se referir essencialmente que: a) As culturas produzidas são grandes consumidoras de azoto e na generalidade os terrenos mantem-se em produção durante a totalidade do ano, tendo sido registado como prática comum a instalação de culturas de primavera-verão e culturas de outono-inverno; b) A adesão elevada à utilização de fertilizantes de libertação lenta e/ou controlada demonstra que os agricultores da região estão bem informados relativamente às vantagens económicas e ambientais destes fertilizantes comparativamente aos convencionais; c) A correta gestão da rega não parece ser uma prioridade para a generalidade dos agricultores que demonstraram não saber a quantidade de água aplicada por ano. No entanto, especialmente em zonas vulneráveis, este fator de produção devia estar bem controlado e os sistemas de rega a funcionarem com elevadas eficiências, garantindo a minimização da lixiviação, uma vez que o transporte dos nitratos para os lençóis freáticos só ocorre se houver água infiltrada para além da profundidade radicular média; d) Nas explorações localizadas em zonas vulneráveis à contaminação por nitratos ainda é prática corrente o espalhamento de estrume e chorume ao longo de todo o ano, o que não corresponde ao cumprimento do previsto no Programa de Ação para a recuperação dessas zonas; e) Os sistemas de recolha e tratamento dos efluentes pecuários apresentam ainda um baixo nível de automatismo, o que dificulta ou impede o correto encaminhamento dos mesmos, obriga a uma maior quantidade de mãode-obra e eventualmente resulta numa maior perda de N por volatilização e até mesmo por infiltração através de pavimentos permeáveis; f) A capacidade média de produção de efluentes pecuários das explorações, considerando as 48 vacas/ exploração e produção média de 23 m3 de chorume com diluição de 1:1, corresponde a 46 m3 de efluente, o que obrigaria a apresentação de um processo REAP e respetivo PGEP por ultrapassar largamente os 200 m3/ano; g) Poderá haver diferenças importantes entre os valores de nutrientes incorporados pelos efluentes considerados no CBPA, à falta de registos e análises nacionais, e a composição química real dos efluentes pecuários nacionais. Nas amostras de estrume e chorume da região, observaram-se diferenças importantes relativamente aos teores de azoto e potássio. Os teores médios de azoto do estrume e chorume são 21% superiores aos de referência do CBPA e os de potássio são 27% menores; h) Numa primeira abordagem, os valores de azoto estimados como fornecidos pela totalidade dos efluentes pecuários produzidos na região, apontam para uma satisfação das necessidades totais de azoto das culturas produzidas. No entanto, são valores que necessitam de validação cuidada, a ser realizada no âmbito deste projeto. Referências bibliográficas: Código de Boas Práticas Agrícolas (1997) para a proteção da água contra a poluição com nitratos de origem agrícola. Lisboa: Ministério da Agricultura, do Desenvolvimento Rural e das Pescas Manual de Fertilização das Culturas (2006) Laboratório Químico Agrícola Rebelo da Silva, INIAP. Lisboa: Ministério da Agricultura, do Desenvolvimento Rural e das Pescas Programa de Ação para a recuperação das zonas vulneráveis Portaria nº 259/2012 de 28 de agosto Projeto Agro 10 (2005) - http://www.drapc.min-agricultura. pt/base/projectos/agro/projecto_agro_10.htm Recenseamento Agrícola Nacional (2009) Instituto Nacional de Estatística // P. 4

// P. 5

// P. 6

// P. 7