DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO. Competência Internacional e Cooperação Judiciária Internacional. Prof. Renan Flumian

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Transcrição:

DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO Competência Internacional e Cooperação Judiciária Internacional Prof. Renan Flumian

1. Competência Internacional - O juiz deve aplicar uma RC para determinar o direito aplicável ao caso com elemento estrangeiro - Mas só poderá aplicar o DIPr brasileiro se for competente para julgar o caso misto - Antes do conflito de leis no espaço, existiria um conflito internacional de jurisdição, que deve ser resolvido com suporte na lex fori (artigo 12 da LINDB e nos artigos 21, 23 e 24 do NCPC) - O rol do NCPC não é exaustivo (STJ) (i) interesse da judiciário brasileiro no julgamento da causa; (ii) possibilidade de execução da sentença (p. da efetividade); (ii) na concordância dos envolvidos em submeter o litígio à jurisdição nacional (p. da submissão)

1.1. Competência Concorrente -Disciplinada: arts. 12, caput, da LINDB e 21 do NCPC 1.1.1. Hipóteses: a) o réu, qualquer que seja sua nacionalidade, estiver domiciliado no Brasil (art. 21, I, NCPC) - O princípio informador desta regra é o actio sequitor forum rei. Em outras palavras, a competência do juiz nacional é determinada pelo critério domiciliar, não importando a condição de estrangeiro do réu - Importante: reputa-se domiciliada no Brasil a pessoa jurídica estrangeira que aqui tiver agência, filial ou sucursal (art. 21, parágrafo único, do NCPC) b) ação sobre obrigação, contratual ou extracontratual, que deva ser cumprida no Brasil (art. 21, II, NCPC)

- Esta regra prescinde do critério domiciliar. Nesse sentido, o STJ decidiu que é vedado às partes dispor (ex.: cláusula de eleição de foro) sobre a competência concorrente de juiz brasileiro por força das normas fundadas na soberania nacional, não suscetíveis à vontade dos interessados (REsp 804.306-SP/STJ) - Ex.: contrato internacional que estipule sua execução no Brasil. Tal situação torna o juiz brasileiro competente, mas, ao mesmo tempo, não torna incompetente, por exemplo, o juiz do país onde a obrigação foi constituída c) o fundamento seja fato ocorrido ou de ato praticado no Brasil (art. 21, III, NCPC)

- O art. 22 do NCPC expressamente atribui como parte da competência relativa da autoridade judiciária brasileira julgar ações de alimentos quando (i) o credor tiver domicílio ou residência no Brasil ou (ii) o réu mantiver vínculos no Brasil, tais como posse ou propriedade de bens, recebimento de renda ou obtenção de benefícios econômicos. O juiz brasileiro ainda é relativamente competente para julgar as seguintes ações: decorrentes de relações de consumo, quando o consumidor tiver domicílio ou residência no Brasil (inciso II do art. 22); e em que as partes, expressa ou tacitamente, se submeteram à jurisdição nacional (inciso III do art. 22) - Art. 25 NCPC exclusão de competência

1.2. Competência Exclusiva - Arts. 12, 1º, da LINDB e 23 do NCPC 1.2.1. Hipóteses: a) ação relativa a imóvel situado no Brasil (inc. I) - O princípio informador desta regra é o forum rei sitae (foro de situação da coisa) - Significa que nenhuma outra jurisdição poderá conhecer de ação que envolva bem imóvel situado no Brasil. Logo, sentença estrangeira sobre bem imóvel situado no Brasil nunca irradiará efeitos no Brasil - Inform. 586 STJ: é possível a homologação de sentença penal estrangeira que determine o perdimento de imóvel situado no Brasil em razão de o bem ser produto do crime de lavagem de dinheiro

b) na sucessão hereditária, confirmar testamento particular e o inventário e à partilha de bens situados no Brasil, ainda que o autor da herança seja de nacionalidade estrangeira ou tenha domicílio fora do território nacional (inc. II) c) em divórcio, separação judicial ou dissolução de união estável, proceder à partilha de bens situados no Brasil, ainda que o titular seja de nacionalidade estrangeira ou tenha domicílio fora do território nacional (inc. III) - Art. 964 NCPC: não será homologada a decisão estrangeira na hipótese de competência exclusiva da autoridade judiciária brasileira

2. Cooperação Judiciária Internacional - Muitas são as situações em que um juiz depende do judiciário de outro país para efetuar uma diligência judiciária ou qualquer ato desprovido de carga executória - O instrumento pelo qual um juiz doméstico pede auxílio a um juiz estrangeiro denomina-se carta rogatória - O juiz que pede é denominado rogante (carta rogatória ativa), e o que recebe rogado (carta rogatória passiva) - Arts. 26 e 27 do NCPC

1.1. Carta Rogatória Art. 12, 2º, da LINDB 1.1.1. Conceito: é meio processual adequado para a realização de diligências fora da jurisdição de um determinado estado 1.1.2. Abrangência: compreende tanto os atos ordinatórios (exs: citação, notificação, intimação etc.) como os instrutórios (ex: coleta de provas) - Art. 960, 1º, NCPC: possibilidade de executar, via carta rogatória, a decisão interlocutória estrangeira que concede medida de urgência 1.1.3. Fundamento: é um tratado regulando o instituto processual ou o princípio da reciprocidade

1.1.4. Competência para conceder exequatur: STJ (art. 105, I, i, da CF). Após a concessão de exequatur, a carta rogatória é remetida para o juiz federal competente cumpri-la (art. 109, X, CF) 1.1.5. Importante: a carta rogatória deve respeitar a lei do país em que será cumprida (lex fori do juiz rogado) e nunca pode violar a ordem pública 1.1.6. Importante: os efeitos do cumprimento ou da denegação da carta rogatória fazem apenas coisa julgada formal, ou seja, permitem a reapresentação da carta rogatória

É caso de competência exclusiva do judiciário brasileiro: a) ação sobre obrigação, contratual ou extracontratual, que deva ser cumprida no Brasil b) ação ajuizada contra réu domiciliado no Brasil c) ação relativa a imóvel situado no Brasil d) ação com fundamento em fato ocorrido ou de ato praticado no Brasil