459 EROSÃO ACELERADA ASSOCIADA A RODOVIAS NA PORÇÃO NORTE DE ANÁPOLIS (GO) Sandra Sardinha Lemes 1,3 ; Homero Lacerda 2,3 1 Bolsista PIBIC/CNPq 2 Pesquisador Orientador 3 Curso de Geografia UnUCSEH UEG Resumo Esta pesquisa de iniciação científica teve como objetivo investigar a erosão acelerada associada às estradas na porção norte de Anápolis, sob a ótica da geomorfologia. Nesta área, a construção das rodovias provocou alterações nos processos do meio físico, desencadeados pela construção de aterros, instalação de caixa de empréstimo e aumento do escoamento superficial. Estas alterações resultaram no surgimento de erosões em aterros, em uma vertente onde foi instalada caixa de empréstimo e ao longo de um canal fluvial a jusante da rodovia. Palavras-Chave: Rodovias, Erosão Acelerada, Relevo. Introdução Esta pesquisa de iniciação científica teve como objetivo investigar as causas da erosão acelerada associada às estradas na porção norte de Anápolis, ao longo das rodovias BR-153 e Br-414 (Figura 1). A erosão é abordada sob a ótica da geomorfologia, ciência dedicada ao estudo das formas do relevo. 459
460 Figura 1: Localização da área e das erosões descritas. Materiais e Métodos O trabalho consistiu de pesquisa bibliográfica e cadastramento de erosões associadas a rodovias. No cadastramento foram utilizadas fichas adaptadas de Oliveira et al. (1990) e planta da cidade de Anápolis para localização em campo. Resultados e Discussão Neste tópico serão abordados os processos de erosão e assoreamento associados a estradas, sua prevenção e o estudo de caso. Erosão e assoreamento associados à rodovias: A erosão linear resulta em incisões na superfície do terreno na forma de sulcos, ravinas e voçorocas (ALMEIDA FILHO e RIDENTE JUNIOR, 2001). Sulcos são as incisões menores, com larguras e profundidades inferiores a 50cm e ravinas são incisões cujas larguras e profundidades ultrapassam aquelas dos sulcos sem que o lençol freático aflore. Voçorocas são caracterizadas pela interseção do lençol freático, com o aparecimento de surgências nas cabeceiras e nas laterais da incisão. Segundo BIGARELLA et al. (2003), as erosões em obras viárias podem ocorrer na plataforma, nos taludes de corte e de aterro e nas áreas adjacentes ao corpo estradal. A erosão nas bordas das plataformas, geralmente próximo à base dos taludes de corte, é devido as águas pluviais quando não são interceptadas antes de atingirem velocidades excessivas. A intensidade da erosão nos taludes de corte varia de acordo com o tipo de solo e as obras de proteção do talude, podendo evoluir para deslizamentos. Taludes de aterro também podem sofrer erosão acelerada, quando não contam com obras de drenagem e cobertura vegetal. As áreas adjacentes a estrada, representadas por caixas de empréstimo ou locais de lançamento das águas drenadas da rodovia, também podem ser foco de processos erosivos. O assoreamento consiste na acumulação de partículas sólidas em meio aquoso ou aéreo, quando a força do agente transportador natural é sobrepujada pela força da gravidade (INFANTI JÚNIOR e FORNASARI FILHO, 1998). Rodovias são fontes importantes de sedimentos para o assoreamento, tanto na fase de construção como na de operação (FORNASARI FILHO et al., 1992). Em estradas pavimentadas a produção de sedimento é maior na fase de construção, quando são realizadas as obras de terra. A produção tende a diminuir com o passar do tempo, desde que a estrada conte com obras destinadas a prevenção da erosão. Quando taludes de cortes e de aterros não são vegetados e não contam com obras de drenagem, e quando as águas drenadas da estrada são conduzidas e lançadas sem estruturas de dissipação, a produção de sedimentos continua elevada na fase de operação. 460
461 Prevenção da erosão viária: O controle preventivo da erosão relacionada à estrada realiza-se através da proteção vegetal dos cortes, aterros e terrenos adjacentes, da implantação de um sistema de drenagem eficiente e de medidas mitigadoras na instalação de caixas de empréstimo. Cunha (1991) cita as obras de um sistema de drenagem eficiente para evitar as erosões: implantação dos bueiros e galerias de modo que suas descargas sejam feitas dentro de canais naturais, utilizando dissipadores de energia no local de descarga; implantação de bueiros e/ou galerias de comprimento suficiente para um afastamento adequado da saia do aterro, providos de dissipadores de energia do tipo escada de concreto; instalação de meiosfios conjugados a sarjetas e descidas d água, nos taludes dos aterros e, para vazões maiores, implantar dissipadores na extremidade das descidas d água; monitorar os dispositivos de drenagem durante e após as chuvas fortes, para verificar o seu perfeito funcionamento. Como medidas mitigadoras dos impactos na abertura das caixas de empréstimo recomenda-se: projetar o greide o mais próximo possível do terreno natural para reduzir ao máximo os volumes do empréstimo; aproveitar o máximo possível os cortes como fonte de material para os aterros, de forma a reduzir os volumes adicionais a serem obtidos em áreas de empréstimo; implantar a área de empréstimos com os cuidados necessários para a sua posterior recuperação; não abrir caixas com comprimento superior a 100m, principalmente em locais com declividade superior a 5%; implantar as caixas de empréstimo de forma a que funcionem como bacias dissipação. Estudo de Caso: As erosões descritas são representativas de erosão em caixa de empréstimo na vertente, em canal fluvial e em aterro. A erosão em caixa de empréstimo foi cadastrada na BR-414, onde foi implantada uma caixa de empréstimo paralela à estrada e ao longo da declividade da vertente, sem tomar as medidas necessárias para evitar erosões. Na caixa de empréstimo existe uma voçoroca com cerca de 700m de comprimento e 3m de profundidade e também foram observados sulcos nos acostamentos. Em alguns pontos da erosão existem manilhas, representando possíveis obras de contenção. Também como tentativa de contenção foi feito um corte, para aterrar parte de uma rua e parte da voçoroca. O corte não apresenta nenhum cuidado para conter processos erosivos, está na margem da caixa de empréstimo e, se não forem tomadas medidas corretivas, a voçoroca tende a aumentar, conectando-se ao corte. A erosão foi também parcialmente aterrada com entulho (Figura 2A) e todo material erodido está sendo transportado e depositado no leito do Córrego Reboleiras, provocando o seu assoreamento. 461
462 Uma erosão em canal fluvial foi cadastrada na BR-153 na transposição do Córrego Correias. A jusante da estrada o canal do córrego está sendo entalhado e a erosão apresenta aproximadamente 12m de profundidade e 30m de largura. Está muito ativa na sua cabeceira, próximo a estrada, onde se observa movimentos de massa nas laterais da incisão (Figura 2B). Para evitar a erosão remontante, que destruiria a pista, foram realizados trabalhos de contenção compreendendo aterro, pavimentação e construção de galerias de águas pluviais na rua a montante, bueiro com escada d água na transposição do córrego e barreiras de cimento nas cabeceiras (Figura 2C). Observações de campo indicam que a obra necessita de acompanhamento pois a enxurrada passa por sobre as barreiras e está erodindo o aterro na cabeceira da erosão. Todo o material desagregado da erosão, bem como o lixo e entulho depositado dentro dela é transportado e acumula-se no leito do Córrego Correias, provocando o assoreamento. 2A 2B 2C 2D Figura 2: Erosão acelerada associada a rodovias: Aterramento de parte da erosão da BR-414, com lixo e material retirado do próprio terreno (2A); Movimento de massa na margem da erosão no Córrego dos Correias na BR-153 (2B); Escada d água na transposição do Córrego dos Correias, na BR-153 (2C); Erosão em aterro, com trincas na pista lateral da BR-153 (2D). 462
463 Uma erosão em aterro foi observada na BR-153, no viaduto próximo ao Córrego Reboleiras, onde parte do aterro não tem revestimento vegetal e não há um sistema de drenagem adequado. A erosão, na forma de sulcos e ravinas, está destruindo o aterro e o pavimento da pista lateral, que já apresenta trincas em suas bordas (Figura 2D). Todo o material desagregado da erosão é transportado e acumula-se no leito do córrego Reboleiras. Um bueiro construído para captar as águas da BR-153 joga suas águas dentro da erosão, provocando seu aumento. Conclusão Com a construção das rodovias na parte norte de Anápolis houve alterações nos processos geomorfológicos, desencadeados pela remoção da vegetação, construção de aterros, instalação de caixas de empréstimo e aumento do escoamento superficial. Estas alterações implicaram no surgimento de erosões aceleradas, pois não se tomaram as medidas necessárias para evitálas e os locais são áreas de risco geológico/geomorfológico. Na BR-414 a implantação da caixa de empréstimo foi feita ao longo da declividade da encosta, sem trabalhos de contenção do escoamento superficial, dando origem a uma voçoroca. Os aterros não têm cobertura vegetal nem sistema de drenagem eficiente no viaduto da BR-153, próximo ao Córrego Reboleiras. Na transposição do canal fluvial do Córrego dos Correias as águas drenadas da BR-153 provocaram erosão acelerada no canal fluvial a jusante da estrada. Referências Bibliográficas ALMEIDA FILHO, G. S. de ; RIDENTE JÚNIOR, J. L. Erosão: Diagnóstico, Prognóstico e Formas de Controle. Goiânia: VII Simpósio Nacional de Controle de Erosão, Minicurso, ABGE, 2001. BIGARELLA, J.J. et al. Estrutura e origem das paisagens tropicais e subtropicais. Florianópolis: Editora da UFSC, 2003. CUNHA, M.A. Ocupação das encostas. São Paulo: IPT, 1991. FORNASARI FILHO et al. Alterações no Meio Físico Decorrentes de Obras de Engenharia. São Paulo: IPT, 1992. INFANTI JUNIOR, N.; FORNASARI FILHO, N. Processos de Dinâmica Superficial. In: OLIVEIRA, A. M. S.; BRITO, S. N. A. de (Org.). Geologia de Engenharia. São Paulo: ABGE,1998, p131-152. OLIVEIRA, A. M. S. et al. A caracterização de boçorocas urbanas: Uma proposta de cadastro. In: Simpósio Latino-Americano Sobre Risco Geológico Urbano, I, 1990, São Paulo. Anais... São Paulo: ABGE, 1990, p.126-139. 463