Anatomia patológica da rejeição de transplantes

Documentos relacionados
Resposta Imunológica celular. Alessandra Barone

Inflamação aguda e crônica. Profa Alessandra Barone

Universidade Federal Fluminense Resposta do hospedeiro às infecções virais

Resposta imune adquirida

HIPERSENSIBILIDADE DO TIPO IV. Professor: Drº Clayson Moura Gomes Curso: Fisioterapia

Imunidade adaptativa (adquirida / específica):

Imunidade adaptativa celular

REAÇÕES DE HIPERSENSIBILIDADE. Prof. Dr. Helio José Montassier

Hematopoiese. Aarestrup, F.M.

Células envolvidas. Fases da RI Adaptativa RESPOSTA IMUNE ADAPTATIVA. Resposta Imune adaptativa. Início da RI adaptativa 24/08/2009

Imunologia. Introdução ao Sistema Imune. Lairton Souza Borja. Módulo Imunopatológico I (MED B21)

O sistema imune é composto por células e substâncias solúveis.

Rejeições em transplantes renais. Henrique Machado de Sousa Proença Médico Patologista

Expansão clonal de Linfócitos T Helper

CITOCINAS. Aarestrup, F.M.

Resposta imune inata e adaptativa. Profa. Alessandra Barone

Resposta Imunológica humoral. Alessandra Barone

Resposta imune adquirida do tipo celular

!"#$%&'()%*+*!,'"%-%./0

INFLAMAÇÃO & REPARO TECIDUAL

Prof. Gilson C. Macedo. Fases da resposta de células T. Principais características da ativação de células T. Sinais necessários

Biologia. Transplantes e Doenças Autoimunes. Professor Enrico Blota.

3/15/2013 HIPERSENSIBILIDADE É UMA RESPOSTA IMUNOLÓGICA EXAGERADA A DETERMINADO ANTÍGENO. O OBJETIVO IMUNOLÓGICO É DESTRUIR O ANTÍGENO.

Noções de Imunogenética. Prof. Dr. Bruno Lazzari de Lima

Imunologia. Diferenciar as células e os mecanismos efetores do Sistema imune adquirido do sistema imune inato. AULA 02: Sistema imune adquirido

PLANO DE CURSO. 1. DADOS DE IDENTIFICAÇÃO Curso: Bacharelado em Enfermagem Disciplina: Imunologia Básica

Processos Inflamatórios Agudo e Crônico

Disciplina: Imunologia Tema: Imunologia Iniciando o Conteúdo

Princípios imunológicos do transplante renal

Bio12. Unidade 3 Imunidade e Controlo de Doenças. josé carlos. morais

!"#$%&'()%*+*!,'"%-%./0

MSc. Romeu Moreira dos Santos

INTRODUÇÃO LESÃO RENAL AGUDA

INFLAMAÇÃO. Prof a Adriana Azevedo Prof. Archangelo P. Fernandes Processos Patológicos Gerais

Reações de Hipersensibilidade

MSc. Romeu Moreira dos Santos

Prática 00. Total 02 Pré-requisitos 2 CBI257. N o. de Créditos 02. Período 3º. Aprovado pelo Colegiado de curso DATA: Presidente do Colegiado

e38 CAPÍTULO Atlas de Biópsias Hepáticas CAPÍTULO e38 Atlas de Biópsias Hepáticas Jules L. Dienstag Atul K. Bhan 38-1

Resposta imune inata (natural ou nativa)

Células do Sistema Imune

Ontogenia do Linfócito T

COMPLEMENTO. Universidade Federal da Bahia Faculdade de Medicina Departamento de Anatomia Patológica e Medicina Legal Disciplina de Imunologia MED 194

Rejeição Aguda Celular

Profº André Montillo

Aspectos Moleculares da Inflamação:

Resposta Inata. Leonardounisa.wordpress.com

PLANO DE APRENDIZAGEM. CH Teórica: 40h CH Prática: CH Total: 40h Créditos: 02 Pré-requisito(s): Período: IV Ano:

Universidade Federal da Bahia Faculdade de Medicina Departamento de Anatomia Patológica e Medicina Legal Disciplina de Imunologia MED 194

Reações de Hipersensibilidade. Profa.Alessandra Barone Prof. Archangelo P. Fernandes

03/03/2015. Acúmulo de Leucócitos. Funções dos Leucócitos. Funções dos Leucócitos. Funções dos Leucócitos. Inflamação Aguda.

HIPERSENSIBILIDADE. Acadêmicos: Emanuelle de Moura Santos Érica Silva de Oliveira Mércio Rocha

Questionário - Proficiência Clínica

Granulopoese. Profa Elvira Shinohara

Obrigada por ver esta apresentação Gostaríamos de recordar-lhe que esta apresentação é propriedade do autor.

Bases celulares, histológicas e anatômicas da resposta imune. Pós-doutoranda Viviane Mariguela

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO PAULO COMISSÃO DE EXAMES DE RESIDÊNCIA MÉDICA. Nome do Candidato Caderno de Prova 15, PROVA DISSERTATIVA

Reparo Tecidual: Regeneração e Cicatrização. Processos Patológicos Gerais Profa. Adriana Azevedo Prof. Archangelo P. Fernandes

φ Fleury Stem cell Mastócitos Mieloblastos Linfócito pequeno Natural Killer (Grande linfócito granular) Hemácias Linfócito T Linfócito B Megacariócito

Funções efetoras de linfócitos Th1. Downloaded from: StudentConsult (on 1 December :52 PM) 2005 Elsevier

Bases celulares, histológicas e anatômicas da resposta imune. Pós-doutoranda Viviane Mariguela

AULA #3 IMUNOGLOBULINAS E SISTEMA COMPLEMENTO BMI0255

Bases celulares, histológicas e anatômicas da resposta imune. Pós-doutoranda Viviane Mariguela

O SISTEMA IMUNITÁRIO

PRO-REITORIA DE ENSINO, PESQUISA E PÓS GRADUAÇÃO DIREÇÃO DE ENSINO COORDENAÇÃO DE ENSINO TÉCNICO PLANO DE ENSINO

Faculdade da Alta Paulista

COMPLEXO PRINCIPAL DE HISTOCOMPATIBILIDADE - MHC. Profa Valeska Portela Lima

PLANO DE ENSINO 1 IDENTIFICAÇÃO

IHQ em material fixado em formol e incluído em parafina ð Método de escolha

Faculdade de Ciências da Saúde de Barretos Dr. Paulo Prata

Guerreiros sempre alerta!

Avaliação dos efeitos da anestesia peridural torácica sobre as. alterações miocárdicas associadas à morte encefálica: estudo experimental.

Infecções congênitas. Prof. Regia Lira

Rejeição de Transplantes Doenças Auto-Imunes

BIOMEDICINA EMENTA DE DISCIPLINA

Ativação de linfócitos B mecanismos efetores da resposta Humoral Estrutura e função de imunoglobulinas

Biologia 12º ano Imunidade e controlo de doenças; Biotecnologia no diagnóstico e terapêutica

DISCIPLINA DE PATOLOGIA GERAL

Tópicos de Imunologia Celular e Molecular (Parte 2)

4ª Ficha de Trabalho para Avaliação Biologia (12º ano)

TECIDOS LINFÓIDES PRIMÁRIOS ONTOGENIA DE LINFÓCITOS

Indicações para Transplante de Fígado em Pacientes Adultos

Tecido Linfóide. Concentração anatômica de linfócitos MED, 2017

MECANISMOS DE IMUNIDADE CONTRA AGENTES INFECCIOSOS (Bactérias, Vírus, Parasitas) PROF. HELIO JOSÉ MONTASSIER / FCAVJ-UNESP

Resposta inicial que, em muitos casos, impede a infecção do hospedeiro podendo eliminar os micróbios

Receptores de Antígeno no Sistema Imune Adaptativo

Imunologia. Propriedades das Respostas imunes e órgãos linfóides. Bibliografia Básica. Introdução. Tipos de imunidade. Histórico 12/03/2012

Processamento antigênico e Ativação de linfócitos T e Mecanismos efetores da resposta imunológica Celular. Professora Patrícia Albuquerque

MECANISMOS DE IMUNIDADE CONTRA AGENTES INFECCIOSOS (Bactérias e Vírus) PROF. HELIO JOSÉ MONTASSIER / FCAVJ-UNESP

Faculdade da Alta Paulista

Células do Sistema Imune

TECIDO CONJUNTIVO. Depto de Morfologia, IB/UNESP-Botucatu

Tecido Conjun,vo I: células. Patricia Coltri

Curso de Ciencias Biologicas Disciplina BMI-296 Imunologia basica. Aula 5 Inflamaçao. Alessandra Pontillo. Lab. Imunogenetica/Dep.

10/02/2011 VACINAS IMUNIZAÇÃO. Referências Bibliográficas:

Processo Inflamatório e Lesão Celular. Professor: Vinicius Coca

PLANO DE ENSINO EMENTA

A Resposta Imune Adaptativa

Transcrição:

Anatomia patológica da rejeição de transplantes Transplantes de Órgãos e Tecidos Aspectos inflamatórios e imunológicos da rejeição Daniel Adonai Machado Caldeira Orientador: Prof. Nivaldo Hartung Toppa

Introdução Rejeição Reconhecimento do órgão enxertado como estranho e elaboração de resposta imunológica. É uma resposta fisiológica. Redução da sobrevida do enxerto Uso de imunossupressão Linfócitos T Principais responsáveis pela reação de rejeição

Introdução Rejeição Alterações anátomopatológicas Reconhecimento da rejeição Determinação do tipo de rejeição Determinação da gravidade da rejeição Abordagem terapêutica Diferenciação de outros mecanismos de lesão do enxerto

Imunopatogênese Reconhecimento dos antígenos HLA pelos linfócitos T HLA I Reconhecidos pelos linfócitos T CD8+. Presentes em todas as células HLA II Reconhecidos pelos linfócitos T CD4+. Presentes nas células apresentadoras de antígenos: células dendríticas, macrófagos e linfócitos B

Estágios da rejeição 1º estágio: mecanismo aferente Interação do receptor do linfócito T (RCT) com as moléculas de HLA Via direta: molécula de HLA das CAAP do doador Via indireta: HLA do receptor Interação entre LT CD4+ e HLA II Localização das CAAP associam-se com os locais de alterações morfológicas.

Estágios da rejeição 1º estágio: mecanismo aferente Moléculas de adesão Adesão, migração e promoção de mecanismos efetores ICAM, LFA, VCAM, VLA Moléculas de co-estimulação Fundamentais para a ativação completa dos linfócitos T CD28 (LT) e CD80, CD86

Estágios da rejeição 2º estágio: ativação das células T e liberação de citocinas Sinais intracelulares proteínas mitogênicas, receptores e citocinas Início 6 a 24 horas após o transplante Proliferação e diferenciação dos LT

Estágios da rejeição 2º estágio: ativação das células T e liberação de citocinas Recrutamento de outras células efetoras Padrão Th1 (geração de LT citotóxicos, ativação de macrófagos e regulação de moléculas co-estimuladoras B7 (CD 80 e CD86)) predomina sobre o padrão Th2 (diferenciação de LB em plasmócitos, recrutamento de mastócitos e eosinófilos) Interleucina-2

Estágios da rejeição 3º estágio: mecanismos efetores na rejeição do enxerto Lise celular: indução de apoptose Via perforina/ granzima: fusão de grânulos Via perforina/ granzima: fusão de grânulos citolíticos à membrana da célula-alvo, com polimerização da perforina e entrada de granzima, granulisina, com ativação das caspases e apoptose.

Estágios da rejeição 3º estágio: mecanismos efetores na rejeição do enxerto Via Fas/ Fas-ligante: indução de apoptose pela ativação de caspases Recrutamento de células efetoras: neutrófilos, células NK, macrófagos. Possível associação com rejeição crônica (mastócitos)

Classificação Rejeição hiperaguda Presença de anticorpos pré-formados contra antígenos do enxerto Transfusões prévias, gravidez, transplantes, grupo ABO Minutos a horas após o transplante É evitada por meio das provas de reação cruzada.

Classificação Rejeição hiperaguda: achados histopatológicos Arterite, arteriolite, trombose vascular e necrose isquêmica: necrose fibrinóide da parede, estreitamento e oclusão completa da luz pela precipitação de fibrina ou debris celulares, além da deposição de IgG, IgM e complemento

Classificação Rejeição aguda celular Tipo mais comum (30% a 70%) Primeiros dias ou semanas, mas pode ser tardio Não há critério clínico diagnóstico Na vigência de manifestações clínicas ou alterações laboratoriais, a biópsia é diagnóstica.

Classificação Rejeição aguda celular achados histopatológicos Infiltrado de células mononucleares: LT, plasmócitos, poucos LB e macrófagos. Edema e focos de hemorragia recente Quando atinge a parede de vasos: venulite ou endotelialite (restrita ao endotélio vascular)

Classificação Rejeição aguda celular achados histopatológicos Localização varia de acordo com o órgão Rim: peritubular, atingindo parede do túbulo (tubulite) Fígado: portal, lesão em ductos biliares. Provocam isquemia e necrose do enxerto

Classificação Rejeição aguda vascular (humoral) Consideravelmente menos comum Duas primeiras semana aos dois primeiros meses, mas pode ocorrer em qualquer momento. Associada à interrupção da imunossupressão. Coexiste com a rejeição aguda celular

Classificação Rejeição aguda vascular (humoral): achados histopatológicos Vasculite subaguda acentuado espessamento intimal pela proliferação de fibroblastos, miócitos e macrófagos espumoso, com estreitamento e obliteração da luz vascular. Arterite necrotizante, com necrose endotelial, infiltração de neutrófilos, depósitos de imunoglobulinas, fibrina e complemento, além de trombose.

C4d C4d

Classificação Rejeição crônica Causa mais comum de perda do enxerto Evolui de forma insidiosa e não é passível de reversão com tratamento Pode surgir em poucas semanas A identificação de mecanismos patogenéticos é difícil O diagnóstico é difícil em biópsias porque as alterações ocorrem em grandes vasos.

Classificação Rejeição crônica: aspectos histopatológicos Lesões arteriais Coração: vasculopatia e fibrose subendocárdica Fígado: arteriopatia obliterativa e ductopenia Rim: fibrose intimal dos vasos (artérias corticais) Infiltrado intersticial com plasmócitos e eosinófilos, além de focos de fibrose.

Classificação TIPO TEMPO MECANISMO Hiperaguda Aguda celular Aguda humoral Crônica Minutos/horas Dias a semanas Dias a semanas Meses a anos Anticorpos pré-formados Ativação das células T Anticorpos Ativ. de cels.t e anticorpos

Papel do patologista cirúrgico Correlação entre achados histopatológicos e alterações clínicas e laboratoriais Desenvolvimento de protocolo

Papel do patologista cirúrgico Distinção clínica e patológica difícil: Lesões de preservação Rejeição Infecções oportunísticas Complicações secundárias Recorrência da doença primária Integração contínua entre a equipe

Referências bibliográficas Toppa NH. Anatomia patolíogica da rejeição de transplantes. In: Pereira WA. Manual de transplantes de órgãos e tecidos. MEDSI / Guanabara Koogan, 2004, 3ª edição. www.tpis.upmc.edu Jiang H, Chess L. Regulation of immune responses by T cells. N Engl J Med 2006; 354: 1166-76. Church AC. Clinical advances in therapies targeting the interleukin-2 receptor. Q J Med 2003; 96: 92-102. Portman B, Koukoulis G. Pathology of the liver allograft. Curr Top Pathol, 1999: 62-105. Wieers G, Gras J, Bourdeaux C, et al. Monitoring tolerance after human liver transplantation. Transpl Immunol 2007; 17: 83-93.