COOPERATIVA DE MULHERES: DESAFIANDO AS DESIGUALDADES NO AGRESTE PERNAMBUCANO.

Documentos relacionados
Responsabilidade Social

E AUTONOMIA DAS MULHERES

CONFERÊNCIA REGIONAL DE POLÍTICAS PARA MULHERES

Palavras chave: economia solidária; empoderamento; participação; politização

ENFERMAGEM PROMOÇÃO DA SAÚDE. Aula 3. Profª. Tatiane da Silva Campos

A Câmara Municipal de São Bernardo do Campo decreta: CAPÍTULO I DA POLÍTICA DE FOMENTO À ECONOMIA SOLIDÁRIA E SEUS AGENTES

SÃO RAFAEL: UM TERRITÓRIO EM DESEVOLVIMENTO

GERENCIA DE APOIO À ECONOMIA SOLIDÁRIA, CRIATIVA E APLS

INSERÇÃO DA MULHER NO MERCADO DE TRABALHO ATRAVÉS DA ECONOMIA SOLIDÁRIA 1 INSERTING WOMEN IN THE LABOR MARKET THROUGH THE SOLIDARITY ECONOMY

Sistema de indicadores da. Fomentando redes de economia solidária e feminista para a sustentabilidade e o bem viver. economia feminista

EDITAL SELEÇÃO DE ESTAGIO ITCP/FURB 002/2017

PROJETO DE EXTENSÃO CAPACITAÇÃO PARA PREPARAR NEGÓCIOS: SEGUNDA ETAPA.

SELEÇÃO DE PROJETOS DE FORMAÇÃO, ARTICULAÇÃO E INCIDÊNCIA NA ÁREA DE ECONOMIA SOLIDÁRIA

ENFERMAGEM LEGISLAÇÃO EM SAÚDE. Humanização Parte 5. Profª. Tatiane da Silva Campos

A EXPERIÊNCIA DO GRUPO DE EXTENSÃO DEMOCRACIA ECONÔMICA EM CONJUNTO COM A COOPERATIVA DE CATADORES DE MATERIAIS RECICLÁVEIS DE FRANCA E REGIÃO

Estágio Integrado: Execução do Planejamento de Comunicação do Programa Tecnologias Sociais Para Empreendimentos Solidários da UNISINOS 1

Aluna do Curso de Graduação em Direito da UNIJUÍ, bolsista CNPq/UNIJUÍ, 3

3 º. S I M P Ó S I O M I N E I R O D E ASSISTENTES SOCIAIS T Â N I A MARIA R A M O S D E G. D I N I Z J U N H O D E

Curso Capacitação de Prefeitos Construção do Projeto de Governo. (Roteiro Mesa 2)

TEXTO PRELIMINAR PARA O WORKSHOP SOBRE A DEFINIÇÃO MUNDIAL DE TRABALHO SOCIAL DA FITS 1

Desenvolvimento Local com Justiça Social: Uma Estratégia Alternativa de Combate à Pobreza em Angola.

CEADEC 16 anos de história e de luta

Secretaria de Políticas para as Mulheres Presidência da República

CONTEÚDOS ABEPSS ITINERANTE 3ª EDIÇÃO Os Fundamentos do Serviço Social em debate: Formação e Trabalho Profissional

CURRICULO CULTURAL DO CECOM

RESOLUÇÕES DE QUESTÕES- TEMÁTICA DE GÊNERO, RAÇA E ETNIA, CONFORME DECRETO /2011

Incubadora Universitária de Empreendimentos Econômicos Solidários

ECONOMIA SOLIDÁRIA E SAÚDE MENTAL: A INCUBADORA DE EMPREENDIMENTOS SOLIDÁRIOS E OS USUÁRIOS DE UM CENTRO DE ATENÇÃO PSICOSSOCIAL

CARTA DE PORTO ALEGRE

DESIGUALDADES DE GÊNERO E FORMAÇÃO DO ASSISTENTE SOCIAL. Resumo: O debate sobre gênero no Brasil se incorporou às áreas de conhecimento a partir do

O conceito de Trabalho Decente

MINISTÉRIO DA AGRICULTURA, PECUARIA E ABASTECIMENTO DADOS

SERVIÇO PÚBLICO FEDERAL MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA PRÓ-REITORIA DE EXTENSÃO E CULTURA

Desenvolvimento, Trabalho Decente e Igualdade Racial

CURSO FORMATIVO PARA O FORTALECIMENTO DA REDE DE ECONOMIA SOLIDÁRIA EM RIBEIRÃO PRETO-SP

PROJETO ASÉ NOVO HORIZONTE

REDE DE SAÚDE MENTAL E ECONOMIA SOLIDÁRIA DE SÃO PAULO

VULNERABILIDADE SOCIAL E AS MULHERES NA POLÍTICA DE ASSISTÊNCIA SOCIAL

Programa de Promoção de Artes e Ofícios

Proposta de Programa Latino-americano e Caribenho de Educação Ambiental no marco do Desenvolvimento Sustentável. Resumo Executivo

- O Sujeito Autogestionario

1. Histórico institucional: 2. Missão: 3. Valores:

PREFEITURA MUNICIPAL DE GUARULHOS SECRETARIA DE SAÚDE REGIÃO DE SAÚDE DUTRA TRABALHADORES DISTRITO LAVRAS PROJETO GERAÇÃO DE RENDA

ENFERMAGEM PROMOÇÃO DA SAÚDE. Aula 2. Profª. Tatiane da Silva Campos

Movimentos Sociais e Educação Popular na América Latina Perspectivas e desafios da atualidade

aos desafios da sucessão familiar. vido o programa de Gênero e Geração do Cooperativismo Solidário com multiplicadoras presentes

CARTA DA PLENÁRIA ESTADUAL DE ECONOMIA POPULAR SOLIDÁRIA DE PERNAMBUCO AO MOVIMENTO DE ECONOMIA SOLIDÁRIA, AOS MOVIMENTOS SOCIAIS E À SOCIEDADE

NOVO PROGRAMA. Programa Petrobras SOCIOAMBIENTAL

Estamos vivendo um tempo de rupturas, de grandes transformações, um tempo de transito... PROJETO REDES SOLIDÁRIAS

LEI Nº 5.041, DE 6 DE MAIO DE 2004

Orgânicos e a Economia verde: Oportunidade e desafios.

Autores: Alexandre Nemes Filho; Ana Luisa Aranha e Silva; Anna Luiza Monteiro de Barros; Maria Cecília Galletti; Maria Elisabete Meola.

O QUE ORIENTA O PROGRAMA

Política Territorial da Pesca e Aquicultura

Câmara Municipal de São Carlos Rua 7 de Setembro, Centro - CEP São Carlos - SP

1. Referencial Teórico 2. Características do público-alvo e objetivos do projeto

ESTADO DE MATO GROSSO PREFEITURA MUNICIPAL DE COLIDER/MT CNPJ: /

PROGRAMA BOLSA DE INCENTIVO À EDUCAÇÃO NA REDE SESA: UMA EXPERIÊNCIA ALÉM DA PROFISSÃO UM ESTÁGIO PARA A VIDA

Família e Políticas Públicas: Limites e Possibilidades de Atuação do Assistente Social

UNESP AS DIFERENTES CONCEPÇÕES DE EXTENSÃO RURAL. Antonio Lázaro Sant Ana (Prof. Unesp Ilha Solteira)

III SIMPÓSIO MINEIRO DE ASSISTENTES SOCIAIS PLENÁRIA: POLITICAS EDUCACIONAIS E CONTRIBUIÇÕES DO SERVIÇO SOCIAL ELIANA BOLORINO CANTEIRO MARTINS

Resultados dos Projetos

PORTARIA Nº 249, DE 10 DE MAIO DE 2013

Políticas territoriais e desenvolvimento econômico local

Desenvolvimento Capitalista e Questão Social. Profa. Roseli Albuquerque

COPATROCINADOR UNAIDS 2015 UNESCO ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS PARA A EDUCAÇÃO, A CIÊNCIA E A CULTURA

Centro de Convivência da Pessoa Idosa

Carta de Fortaleza Rede Brasileira de Bancos Comunitários

PROCESSOS DE TRABALHO NA ÁREA DA SAÚDE A DIMENSÃO ÉTICA

- AÇÕES ADMINISTRATIVAS E PARTICIPATIVAS NA COMUNIDADE DE SÃO BENEDITO POCONÉ/MT

ORIENTAÇÕES PARA ELABORAÇÃO DE PROJETOS DE EXTENSÃO

Curso de Formação de Conselheiros em Direitos Humanos Abril Julho/2006

MULHERES TRANSFORMANDO A ECONOMIA. Cartilha sobre Economia Solidária e Feminista

Diretoria de Ensino Guarulhos Norte PROJETO POLÍTICO PEDAGÓGICO. 1 - E.E Jardim Santa Cecilia

UNESP AS DIFERENTES CONCEPÇÕES DE EXTENSÃO RURAL. Antonio Lázaro Sant Ana (Prof. Unesp Ilha Solteira)

Homem Trabalho Processo de Hominização. Transformação da Natureza. Produz. Produz o próprio homem

ENFERMAGEM PROMOÇÃO DA SAÚDE. Aula 5. Profª. Tatiane da Silva Campos

AGENDA 21: DESAFIOS PARA UMA CIDADE SUSTENTÁVEL 1

O Serviço Social na cena contemporânea. Profª. Jussara Almeida

Lei Nº de 12 de março de Institui a Política de Fomento à Economia Solidária e dá outras providências Itajaí, Santa Catarina

Versão 21 de dezembro de 2016

CAPACITAÇÃO DE MULHERES EM ASSENTAMENTOS RURAIS DE SOSSEGO/PB NA PERSPECTIVA DA ECONOMIA SOLIDÁRIA

Lucas Aguiar Tomaz Ferreira 1 Daniela Seles de Andrade 2 Fernanda Viana de Alcantara 3 INTRODUÇÃO

A partir de nossas análises e estudos, preencha adequadamente as lacunas da sentença abaixo, na respectiva ordem:

PLANO BIENAL DE TRABALHO DA DIRETORIA (2014/2015) (Art. 15, inciso II do Estatuto da ANPEd)

REDE ECOVIDA AGROECOLOGIA E CERTIFICAÇÃO PARTICIPATIVA NO SUL DO BRASIL. Florianópolis, setembro de 2004

Considerando as peças constantes no Processo nº /09-00, dentre elas o parecer favorável do Conselheiro Relator,

5º Seminário Internacional de Convivência com o Semiárido

AS POLÍTICAS PÚBLICAS DE ESPORTE E LAZER PARA AS ESCOLAS MUNICIPAIS DO RECIFE: SUAS PROBLEMÁTICAS E POSSIBILIDADES

Política Nacional de Formação Rumo ao Sistema Nacional de Formação dos Profissionais da Educação Básica

Questão de gênero no Serviço Social é abordada por prof.ª em entrevista ao CRESS-MG

53 o CONSELHO DIRETOR

feminismo espaço e neoliberalismo

FÓRUM DE SUPERVISORES DE ESTÁGIO DO CURSO DE SERVIÇO SOCIAL: FORTALECENDO A POLÍTICA DE ESTÁGIO E FORMAÇÃO PROFISSIONAL

29º Seminário de Extensão Universitária da Região Sul CONHECENDO OS QUE FAZERES DA INCUBADORA TECNOLÓGICA DE COOPERATIVAS POPULARES INTECOOP FURG.

Projeto Comunitário Jornal Jardim Carolina: Uma experiência comunitária e cidadã

27/08/2014. Direitos Humanos e Sociedade de Classes. Parte 1 Prof. Me. Maurício Dias

ASSISTENTE SOCIAL E SUAS CONDIÇÕES DE TRABALHO NO CAMPO DA ASSISTÊNCIA SOCIAL

Transcrição:

COOPERATIVA DE MULHERES: DESAFIANDO AS DESIGUALDADES NO AGRESTE PERNAMBUCANO. Maria do Socorro Freire * Niedja Lima Silva ** Manuelle Araújo Holanda *** Thallyta Mota Gois **** Victor Montenegro ***** Resumo Os desafios colocados para as mulheres nas relações de trabalho expressam a necessidade de políticas públicas para essa categoria social. A exploração da mulher, sua invisibilidade e opressão são colocadas em evidência nas relações de gênero que permeiam a posição das mulheres seja no lar ou no trabalho. Neste contexto, o presente trabalho visa descrever de maneira reflexiva o processo de consolidação de uma cooperativa de mulheres artesãs situada no município de São Joaquim do Monte, agreste pernambucano. Este apoio ao empreendimento é executado à luz da compreensão do importante papel que a economia solidária assume na promoção da saúde e no desenvolvimento sustentável de comunidades. Tendo um potencial real de emancipação social, a cooperativa de mulheres consegue, através de processos organizativos, desenvolver as potencialidades já existentes na própria comunidade, enquanto estratégia de enfrentamento das desigualdades sociais e de gênero. Palavras-chave: Gênero. Relações de Trabalho. Cooperativismo. Desenvolvimento Sustentável. 1 INTRODUÇÃO A partir de uma perspectiva ampliada, as iniciativas de promoção da saúde se direcionam a reduzir as desigualdades e iniquidades na saúde da população e garantir oportunidades e recursos de forma igualitária para que as pessoas realizem seu potencial de saúde. Dessa forma, segundo a Carta de Ottawa de 1986 a promoção da saúde é o processo de capacitação da comunidade para atuar na melhoria de sua qualidade de vida e saúde, incluindo uma maior participação no processo. * Universidade Federal de Pernambuco. Possui graduação em Serviço Social pela Universidade Federal de Pernambuco (1978). Especialista em Saúde Pública pela ENSP/FIOCRZ (1987) e em Associativismo e Cooperativismo pela Universidade Federal Rural de Pernambuco (2004) Mestre em Serviço Social pela Universidade Federal de Pernambuco (1996). Desde 1997 é pesquisadora e desenvolve atividades de ensino e extensão no Núcleo de Saúde Pública e Desenvolvimento Social da Universidade Federal de Pernambuco. E- mail: socorromfreire@gmail.com ** Universidade Federal de Pernambuco. Graduanda do curso de Serviço Social da Universidade Federal de Pernambuco. Estagiária do Núcleo de Saúde Pública e Desenvolvimento Social (NUSP/UFPE), também é Integrante do Núcleo Comunicação e Direitos humanos da UFPE onde é bolsista de iniciação científica. E-mail: niedjasun@gmail.com *** Universidade Federal de Pernambuco. Estudante de graduação em Enfermagem. Estagiária do Núcleo de Saúde Pública e Desenvolvimento Social. E-mail: manuelleholanda@hotmail.com **** Universidade Federal de Pernambuco. Estudante de graduação em Terapia Ocupacional. Estagiária do Núcleo de Saúde Pública e Desenvolvimento Social. E-mail: thallytamota@gmail.com ***** Universidade Federal de Pernambuco. Estudante de graduação em Ciências Sociais. Estagiário do Núcleo de Saúde Pública e Desenvolvimento Social. E-mail: victorxhugo@msn.com

Esta conceituação sugere que a criação de estratégias que consideram a saúde como um recurso para a vida, contribuindo para o desenvolvimento social, econômico e pessoal, fazendo com que fatores econômicos, políticos, culturais, sociais e ambientais sejam favoráveis à saúde. É nesta perspectiva que as ações são realizadas nos municípios de Barra de Guabiraba e São Joaquim do Monte, no âmbito do projeto Incubação de Cooperativas de Mulheres Artesãs da Rede Pernambucana de Municípios Saudáveis, cujos objetivos principais foram: a) promover a sustentabilidade de duas cooperativas de artesãs nos municípios de Barra de Guabiraba e São Joaquim do Monte por meio de incubação tecnológica visando a sua consolidação no mercado e no desenvolvimento local; b) incentivar a equidade de gênero e o empoderamento das mulheres artesãs da Rede Pernambucana de Municípios Saudáveis através de trocas de experiências nos Encontros da Rede e participação na FENEARTE;c) articular equidade de gênero as questões de trabalho e renda, qualidade de vida e políticas públicas saudáveis, nas ações e interações dos participantes e parcerias; c) fortalecer as capacidades produtivas e gerenciais das duas organizações cooperativas através de capacitações em planejamento, gestão e comercialização Dessa forma o referido projeto intervém nas condições fundamentais para obtenção de uma vida saudável como educação, renda, ecossistema estável, recursos sustentáveis, justiça social e equidade. Assim, a partir das experiências de cada comunidade e de suas potencialidades, foi formada em cada município, uma cooperativa de mulheres artesãs, objetivando gerar confiança, solidariedade, geração de renda e empoderamento, contribuindo para o desenvolvimento local. Neste contexto, este trabalho tem por objetivo apresentar as discussões e resultados desse projeto de extensão nas cooperativas, promovendo a sustentabilidade das ações das cooperadas e fortalecendo as potencialidades locais. 2 METODOLOGIA São utilizadas estratégias metodológicas participativas de incubação tecnológica (FRANÇA FILHO,2009) nos processos de planejamento e gestão democrática de organizações cooperativas. O trabalho conta com o apoio do planejamento operacional e ação reflexiva do Método Bambu (MENEZES FILHO, 2006) utilizado como um instrumento de mobilização dos grupos, monitoramento e avaliação das capacidades desenvolvidas e lições aprendidas

3 REFERENCIAL TEÓRICO 3.1 GERAÇÃO DE RENDA COM GRUPO DE MULHERES: A MULHER FRENTE EMPREENDIMENTOS COLETIVOS. Com os estudos realizados sobre o tema e a partir do conhecimento dos municípios incluídos neste projeto, foram contempladas as questões que embasam as intervenções necessárias para uma vida saudável. Estas, dizem respeito ao desenvolvimento social, econômico e pessoal e incluem de forma mais precisa a pobreza, a desigualdade social e de gênero que fazem parte da problemática que abrange a comunidades envolvida na ação. Em primeiro lugar, faz-se necessário refletir que tais problemas são construções sóciohistóricas abordadas como expressões da questão social, e esta é apreendida enquanto o conjunto das expressões das desigualdades da sociedade capitalista, resultante da disputa da riqueza socialmente produzida, mas desigualmente apropriada (Iamamoto, 2009). Sendo a pobreza uma das manifestações da questão social, que Yazbek (2012), a situa como expressão direta das relações sociais, não se reduzindo a privações materiais, mas como categoria política que expressa a carência de direitos, de oportunidades e possibilidades. A autora ainda relata que a pobreza, em sua qualidade relativa, gira em torno da desigualdade social e de suas outras condições, seja de gênero, etnia ou outros aspectos. No que diz respeito à pobreza, ela se torna ainda mais presente no cotidiano do público alvo deste projeto: as mulheres. As dificuldades no mercado de trabalho desafiam esta categoria, já que ainda representam mais da metade da população desempregada e ainda recebem de forma inferior aos homens, mesmo quando realizam as mesmas atividades. (AGÊNCIA CONDEPE/FIDEM; DIEESE 2012) Os novos desafios que estão sendo colocados para as mulheres nas relações de trabalho são construídos historicamente. A submissão da mulher, sua exploração, invisibilidade e opressão são colocadas em evidência nas relações de gênero que permeiam a posição das mulheres seja no lar ou no trabalho. Portanto as desigualdades de gênero cercam o contexto feminino, isso justifica a necessidade de políticas públicas para essa categoria social e a importância das cooperativas de mulheres artesãs como um instrumento de empoderamento e enfrentamento da pobreza. Diante disso, a estratégia de Municípios Saudáveis que o NUSP vem atuando, propõe a participação popular no desenvolvimento local, neste projeto especificamente, com atividades de geração de renda com mulheres do interior pernambucano. A iniciativa de ação

nas cooperativas, partiu da necessidade de enfrentamento das expressões da questão social que se manifestam como a pobreza, exclusão social, desigualdade social e de gênero. Parafraseando a Política Nacional de Promoção da Saúde o projeto tem por finalidade promover a qualidade de vida, reduzindo riscos à saúde que estão relacionados ao modo de viver, condições de trabalho, habitação, ambiente, educação, lazer, cultura, acesso a bens e serviços essenciais (BRASIL, 2006). A partir desta perspectiva, trabalhar com geração de renda para melhoria da qualidade de vida é uma estratégia, observando-se atualmente diversas mudanças no mundo do trabalho, avanços e retrocessos que nos colocam diante da necessidade de observar tais contradições. De acordo com Antunes (2011), presencia-se uma nova fase de desconstrução do trabalho, com o aumento da informalidade e em uma nova era de precarização estrutural do trabalho em escala global. Ou seja, a precarização do trabalho ocorre tanto em países capitalistas desenvolvidos, como em países em desenvolvimento, atingindo todas as formas de trabalho, sejam elas na área urbana ou na rural. Por ser o trabalho uma prática social, ele se inclui de forma diferenciada nas relações sociais entre os sexos. Diante dessa afirmação, a divisão sexual do trabalho, tem em si, a existência das relações de poder que são construídas históricas e socialmente, persistindo a valorização do trabalho do homem, enquanto há uma desvalorização e invisibilidade do trabalho feminino. Mesmo que essa produção se dê na mesma medida, a mulher ainda contém em si a centralidade da vida doméstica das tarefas de cuidados e pela procriação, ou seja, atividades vinculadas às qualidades que as mulheres devem ter, como um ser que se dedica harmoniosamente com o seu sentimento maternal a vida reprodutiva e a esfera da reprodução do trabalho. (CARLOTO; GOMES, 2011) Para tanto, a alternativa para superação das desigualdades e invisibilidade do trabalho feminino em São Joaquim do Monte, resulta do acúmulo de capital social, surgindo a iniciativa dessas mulheres para formalização das duas organizações cooperativas. Essa opção pelo cooperativismo nos remete a Paul Singer (2002), afirmando que para ter uma sociedade em que predomine a igualdade é preciso uma economia solidária ao invés de competitiva. Para ele a economia solidária tem como princípios básicos a propriedade coletiva do capital e o direito à liberdade individual. Mas o tema no Nordeste é considerado frágil diante do investimento de capital e da mão de obra não qualificada, assim como há um declínio da participação das mulheres em organizações cooperativas. (FRANCO DE SÁ, 2008) A proposta deste trabalho de incubação, ou seja, de assessoria à organização popular, visa fortalecer a cooperativa incentivando processos de autogestão. As cooperativas resultam

primeiramente das potencialidades locais e também das intervenções realizadas pela equipe do NUSP. 4 CONCLUSÃO Algumas capacitações foram promovidas através da intervenção da equipe do NUSP e do Núcleo de Design do Centro Acadêmico do Agreste CAA/UFPE, como as oficinas de Design que promoveram a qualidade dos produtos para a FENEARTE, articulando o conhecimento já adquirido das cooperadas com o dos estudantes, oficinas sobre cooperativismo e apoio técnico na elaboração dos estatutos e na realização das assembleias de fundação das cooperativas bem como o acompanhamento dos procedimentos legais de registro das cooperativas e exposição na FENEARTE. Neste segundo semestre serão realizadas oficinas bambu para reforçar o sentimento de pertencimento, compromisso e atualizar o processo de autogestão com os novos membros das cooperativas com oficinas de planejamento. Dessa forma, as capacitações terão como foco a autonomia das cooperativas e seu reconhecimento, assim como o sentimento de pertencimento das cooperadas de modo que sejam fortalecidas as potencialidades, promovendo equidade de gênero e o enfrentando da exclusão social. Esperam-se como principais resultados a sustentabilidade das cooperativas de artesãs, o que promoverá geração de renda, equidade de gênero e inclusão social. No que diz respeito às particularidades das cooperativas, acredita-se nas seguintes mudanças: Conclusão do processo de legalização e visibilidade das cooperativas concernentes à melhora na produtividade e facilitação na comercialização dos produtos.na autonomia das cooperativas através da capacidade de autogestão. Espera-se impulsionar o sentimento de pertencimento e apropriação do trabalho realizado, para que elas se reconheçam naquilo que fazem e produzem. REFERÊNCIAS ANTUNES, Ricardo. Os modos de ser da informalidade: rumo a uma nova era da precarização estrutural do trabalho? In: Serviço Social & Sociedade, n. 107, p.405-419, jul./set. São Paulo: Cortez 2011 BRASIL. Política Nacional de Promoção da Saúde. Brasília: Ministério da Saúde, 2006.

CARLOTO, Maria Cássia; GOMES, Anne Grace. Geração de renda: enfoque nas mulheres pobres e divisão sexual do trabalho. In: Serviço Social & Sociedade, n. 105, p.131-145, jan./mar.. São Paulo: Cortez 2011. CARTA DE OTTAWA. Primeira conferência internacional sobre promoção da saúde. Ottawa, novembro de 1986. In: Cadernos de formação de promotores de municípios saudáveis e promoção da saúde.org: FRANCO DE SÁ, Ronice [et al]. Recife: Ed. Universitária da UFPE, 2008. DIARIO DE PERNAMBUCO. Desemprego atinge mais mulheres, segundo o Dieese. Recife, 06 de março de 2012. Site: http://www.old.diariodepernambuco.com.br/nota.asp?materia=20120306125721 Acessado em: 24/09/12. FRANCO DE SÁ, Ronice [et al]. Projeto Municípios Saudáveis no Nordeste do Brasil: histórico, avaliação e repercussão. Recife: Ed. Universitária da UFPE, 2008. FRANCO DE SA, R. M. P; MOYSES, S. T. O processo avaliativo em promoção da saúde como estratégia de empoderamento e desenvolvimento de capacidades. Boletim Técnico do SENAC, v. 35, p. 29-35, 2009. IAMAMOTO, Marilda Vilela. As Dimensões Ético-políticas e Teórico-metodológicas no Serviço Social Contemporâneo. In: Serviço social e saúde: formação e trabalho profissional. Org: MOTA, Ana Elizabete da. [et al]. São Paulo: Cortez, 2009. PROEXT / SIGPROJ - NUSP. Incubação de Cooperativas de Mulheres Artesãs da Rede Pernambucana de Municípios Saudáveis. MEC-SESu. Recife, 2012. SINGER, Paul. Introdução à economia solidária. São Paulo: Editora Fundação Perseu Abramo, 2002. YAZBEK, Maria Carmelita. Pobreza no Brasil contemporâneo e formas de seu enfrentamento. In: Serviço Social e Sociedade, n 110, p. 288-322, abr./jun. São Paulo: Cortez, 2012.