2º SIMPÓSIO BRASILEIRO DE SAÚDE & AMBIENTE Belo Horizonte, 19 a 22 outubro de 2014 Experiência Comunitária e Movimento Social Eixo 3. Direitos justiça ambiental e política públicas Vigilância e Controle de Simulideo no Rio Grande do Sul Lucia Beatriz Lopes Ferreira Sagot Veterinária Sanitarista, Dra. Zoologia Secretaria da Saúde/Centro Estadual de Vigilância em Saúde lucia-sagot@saude.rs.gov.br 1
Resumo Introdução: No Rio Grande do Sul (RS), o ataque de insetos da família Simuliidae (DIPTERA NEMATOCERA) causam grande clamor popular devido aos agravos à saúde decorrente de suas picadas, em especial na área rural dos municípios, motivo pelo qual fazem parte da política de Saúde do governo do estado, sendo alvo de controle com coordenação da Secretaria Estadual da Saúde(SES). O programa capacita equipes municipais no controle do inseto que desde 1980 utiliza larvicidas biológico a base de Bacillus thuringiensis var. isralensis garantindo a preservação do meio ambiente e da fauna associada aos criadouros do inseto, cursos de água corrente. O manejo ambiental, controle mecânico e educação ambiental também fazem parte das diretrizes do programa e são desenvolvidos pelos municípios. O RS soma 207 municípios vinculados ao Programa. Embora o controle biológico tenha se mostrado eficiente desde sua implantação, a degradação das condições ambientais vem mantendo o ataque do inseto. Para avaliar este ataque foi criado um indicador epidemiológico.objetivo:avaliara resposta dos indicadores epidemiológicos aplicados aos municípios de 2011 a 2013. Metodologia: Aplicação de fichas epidemiológicas em residências na área rural dos municípios que relatam ataque. Resultados: Foram analisadas 6269 fichas de agravo de 70 municípios, correspondendo a 34% do total de municípios vinculados ao programa estadual entre 2011 a 2013. Foi relatado ataque do inseto em 100% dos entrevistados e destes 47%, 2973 fichas, desenvolveram manifestações alérgicas graves e infecções secundárias. Em 74% do total das fichas, 4652 pessoas, desenvolviam atividades ligadas a agricultura no momento do ataque e dos que desenvolveram algum tipo de agravo, todos desenvolviam atividades agrícolas. Conclusão. Fica justificado pelos dados epidemiológicos o enquadramento como agravo à saúde relacionado às reações alérgicas e demais manifestações que as picadas deste inseto provocam na população e, portanto, sua inclusão como uma política de saúde da SES. Palavras-chave: saúde Ambiental, controle, SIMULÍDEOS. Experiência Profissional 2
Introdução SIMULÍDEOS são insetos cosmopolitas que no Brasil recebem o nome vulgar de pium no norte e borrachudos no sul e sudeste (HAMADA & MARDINI, 2011). A família Simuliidae (DIPTERA, NEMATOCERA) apresenta grande importância médica e veterinária por sua implicação na transmissão de doenças e pelo incômodo que suas picadas provocam. Estes insetos são considerado o segundo grupo em importância no mundo pela transmissão de doenças como a Oncocercose e a Manzonelose além de arboviroses. Estes insetos apresentam ampla tolerância aos fatores ambientais, podendo ser encontrados em diferentes ambientes, desde o nível do mar até grandes altitudes. Em torno de 10% das espécies descritas no mundo podem picar e sugar o sangue de animais ou humano Algumas espécies da família Simuliidae são antropofílicas (GAONA; ANDRADE 1999). No Brasil, estão implicados na transmissão da Oncocercose na região Amazônica. Nos outros estados são responsáveis pelo desconforto de suas picadas. Os ataques destes insetos no Rio Grande do Sul, além de extremo desconforto, geram agravos à saúde com o desenvolvimento de reações alérgicas e infecções secundárias causadas por suas picadas (MARDINI, 2009). O controle destes insetos envolve manejo ambiental, controle entomológico da fase larval com inseticidas biológicos e educação ambiental. Por sua conotação de agravo à saúde, o Governo do Estado, em 1º de agosto de 1983, editou o Decreto 31.211 (Rio Grande do Sul, 1983) incluindo os SIMULÍDEOS nas ações de promoção e recuperação da saúde. A coordenação estadual deste Programa está a cargo da Secretaria da Saúde no Centro Estadual de Vigilância em Saúde (SES/CEVS) e tem como objetivo assessorar os municípios na implantação de ações que resultem na diminuição do ataque do inseto. Atualmente 42% dos municípios do estado estão vinculados ao Programa Estadual de Controle do Simulídeo, que faz parte da Vigilância Ambiental em Saúde, no Centro Estadual de Vigilância em Saúde (CEVS), Secretaria da Saúde do Rio Grande do Sul. O Programa tem como objetivos diminuir o ataque destes insetos às populações humanas, minimizando o agravo à saúde provocado por suas picadas e 3
restabelecendo a qualidade de vida das comunidades nas áreas onde o inseto é considerado problema (RIO GRANDE DO SUL, 2006). Objetivo: Avaliar a resposta dos indicadores epidemiológicos e ambientais aplicados aos municípios que realizam controle do inseto de 2011 a 2013. Metodologia: Sorteio amostral de residências a serem visitadas, em número estatisticamente validado, na área rural dos municípios que apresentam ataque de insetos da família simuliidae. Visitas domiciliares por agentes comunitárias de saúde nas residências sorteadas e aplicação do instrumento de avaliação epidemiológica em 100% dos moradores. Encaminhamento das fichas preenchidas pelas agentes comunitárias de saúde ao setor de Vigilância em Saúde da Prefeitura. Análise das Fichas Epidemiológicas de Agravo, aplicadas individualmente aos moradores da área rural dos municípios entre 20011 a 2013. Resultados:Foram analisadas fichas de 2011 a 2013 num total de 6269 formulários provenientes de 70 municípios. Os resultados da análise das fichas epidemiológicas indicam que todos os 6269 entrevistados haviam sido picados pelo inseto e destes 2973, equivalendo a 47% desenvolveram reações alérgicas. Em 74% das fichas o ataque se deu durante atividades ligadas aos afazeres agrícolas ou domésticos próximos a residência, como o corte de grama, trabalho na horta e outros. 4
Discussão e Conclusões: No RS o ataque de insetos da família Simuliidae é um agravo epidemiológicamente comprovado. A partir da introdução da análise epidemiológica foi possível qualificar as ações de controle entomológico, atendendo comunidades com comprovado problema de agravos a saúde. Com base nestes dados, as Secretarias Municipais de Saúde são orientadas pelo Programa Estadual de Controle do Simulídeo a elaborar projeto de manejo e controle do inseto, envolvendo diferentes setores da prefeitura. A eficácia das ações de manejo e controle entomológico com redução do ataque deste inseto às pessoas é determinada pelas Agentes Comunitárias de Saúde na reaplicação da Ficha Epidemiológica, evidenciando a importância do trabalho conjunto entre a Vigilância em Saúde e a Atenção Básica. 5
Referências: GAONA, J.C.; ANDRADE, C.F.S. Aspectos da entomologia médica e veterinária dos borrachudos (Díptera:Simuliidae) Biologia, importância e controle. LECTA, v.17.n.1:51-65.1999. HAMADA, N.; MARDINI, L.B.L.F. Entomologia médica e veterinária. Ed. Atheneu org. Carlos Brisola Marcondes. p.71-93, 526p. 2011. MARDINI, L.B.L.F. História do Programa Estadual de Controle de SIMULÍDEOS no Rio Grande do Sul: da década de 70 aos dias atuais.2009. 67f. Trabalho de Conclusão de Curso (Especialização em Saúde Pública) Escola Nacional de Saúde Pública Sérgio Arouca em convênio com Escola de Saúde Pública do Estado do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2009. RIO GRANDE DO SUL. Secretaria Estadual da Saúde. Centro Estadual de Vigilância em Saúde. Guia para Orientação aos Municípios sobre Manejo Integrado, Controle e Gestão de Insetos da Família Simuliidae (Diptera, Nematocera) no Rio Grande do Sul. Porto Alegre, CEVS, 2006.41p. Anexo 1. PROGRAMA ESTADUAL DE CONTROLE DO SIMULÍDEO SES/VAS 6
Ficha Epidemiológica de Ataque de Simulídeo 1. DADOS CADASTRAIS CRS ( ) Município: Data: / / Nome do entrevistado: Sexo: Masculino [ ]; Feminino [ ]; Idade: [ ] anos Endereço: (Localidade/Linha/Vila/Bairro): 2. DADOS EPIDEMIOLÓGICOS 2.1 ATIVIDADE QUANDO ATACADO PELO BORRACHUDO: [ ]agrícolas (roça, ordenha, capina, criação animais, horta); [ ]domésticas (atividades próximas a residência como corte de grama, jardinagem; [ ]lazer 2.2 HORÁRIO QUE CONSIDERA DE MAIOR ATAQUE: [ ] Manhã (entre 9 e 12 horas); [ ] Tarde (entre 12 e 17 horas); [ ] Todo dia (entre 9 e 17 horas ou até mais tarde no verão). 2.3 Nº DE PICADAS RECENTES ESTIMADAS: [ ] Menos de 10 picadas; [ ]10 a 20 picadas; [ ] 20 a 50 picadas; [ ]Mais de 50. 2.4 TIPO DE LESÃO OBSERVADA: [ ] Picadas simples (só a picada); [ ] Picadas com reação alérgica, edema, coceira, com infecção secundária, inflamação da ferida, febre, etc; Usa repelente? Sim ( ) ;Não ( ) Solicita atendimento na UBS? Sim ( ) ;Não ( ) OBSERVAÇÕES: Responsável pelas Informações: Anexo 2. Mapa da área que realiza controle de SIMULÍDEOS no Rio Grande do Sul 7
Figura 1: Municípios do Rio Grande do Sul que realizam controle de Simulídeos. 8