A GESTÃO COMO ATO POLÍTICO-PEDAGÓGICO: A AÇÃO DOCENTE NO PROCESSO DE GESTÃO E NOS RESULTADOS DA QUALIDADE DA EDUCAÇÃO O QUE REVELA A PROVA BRASIL?

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Transcrição:

A GESTÃO COMO ATO POLÍTICO-PEDAGÓGICO: A AÇÃO DOCENTE NO PROCESSO DE GESTÃO E NOS RESULTADOS DA QUALIDADE DA EDUCAÇÃO O QUE REVELA A PROVA BRASIL? Resumo Rosa Lirane Godinho de Andrade 1 - UNICID - SP Grupo de Trabalho Políticas Públicas, Avaliação e Gestão da Educação Básica Agência Financiadora: não contou com financiamento O presente estudo discorre sobre uma pesquisa em desenvolvimento, junto ao Programa de Pós-Graduação em Educação. A pesquisa tem como objetivo apontar indicativos que possam promover reflexões sobre as novas tendências de gestão ante as necessidades sociais e educacionais, enfocando a ação docente no processo político e pedagógico que emerge no cotidiano das escolas. A análise parte do pressuposto da gestão democrática, considerada uma das dimensões dos Indicadores de Qualidade da Educação, desenvolvidos pelo Ministério da Educação/Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas - INEP, Fundo das Nações Unidas para a Infância - UNICEF, Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento - PNUD e Ação Educativa. Nesse sentido, faremos análises de conteúdo das informações registradas nos Questionários Contextuais da Prova Brasil, referentes aos níveis e formas de participação do docente nos processos de gestão da escola, nos projetos desenvolvidos, nos espaços coletivos de decisão, na construção do projeto político-pedagógico, nas formas de interação com a comunidade escolar e nos processos de monitoramento e de avaliação. Os Questionários Contextuais servem como instrumentos de coleta de informações sobre diversos aspectos do contexto da escola, oferecendo subsídios para a formulação, reformulação e monitoramento das políticas públicas voltadas para a Educação Básica. Além, de oferecer dados e indicadores que possibilitam a compreensão dos fatores intra e extraescolares que influenciam a qualidade da educação. O que nos revela a Prova Brasil sobre a gestão democrática e a atuação docente? A pesquisa será desenvolvida no município de Guarulhos, estado de São Paulo, analisando os Questionários Contextuais respondidos pelos professores da rede estadual. O estudo será realizado com base em autores como BOURDIEU (1975), LIBÂNEO (2001), PARO (2002), SANDER (1996) e VEIGA (2003). A pesquisa apresenta abordagem qualitativa. Palavras-chave: Ação Docente. Qualidade da Educação. Gestão Democrática. 1 Assessora e Consultora Educacional do Instituto de Cultura, Desenvolvimento Educacional, Promoção Humana e Ação Comunitária INDEPAC, Psicopedagoga Institucional, Pedagoga, Professora de Língua Portuguesa, Mestranda do curso de Pós-Graduação em Educação Políticas Públicas UNICID SP. E-mail: rosagod@hotmail.com.br ISSN 2176-1396

22177 Introdução A escola é uma instituição que recebe diversos atores sociais com diversos capitais diferentes: econômico, cultural, social e simbólico, que evidenciam pesos de variáveis na aprendizagem e na trajetória escolar dos alunos (BOURDIEU, 1975), e o grande desafio da gestão moderna escolar é o de atender às necessidades do ser humano que compõe essa organização. O estudo apresentará a trajetória histórica da gestão da educação, buscando indicativos para a reflexão das novas tendências de gestão ante as necessidades sociais (SANDER, 1996). Daremos destaque à ação docente frente à necessidade de concretizar sua participação efetiva no processo de gestão e do seu papel na consolidação de uma educação de qualidade. A presença efetiva do docente nas ações do cotidiano escolar tem um impacto importante na construção dos processos intra e extraescolares, pois na medida em que mobiliza e envolve a comunidade educativa, contribui para uma escola significativa e de qualidade. A gestão é um ato político e pedagógico, e representa uma dimensão condicionante para a qualidade (PARO, 2002). O exercício de participação na gestão é um movimento contínuo e permanente que não se define em decretos, mas em processos dialógicos e coletivos numa constante luta diária e política. A participação deve ser algo que estimule a cultura da inovação, que contagie os membros da comunidade de forma a buscar novas alternativas para o cotidiano escolar. A escola deve focar a dimensão humana, favorecendo a participação dos atores envolvidos no seu cotidiano. Para isso, são necessários que se criem espaços de decisão e de responsabilização na comunidade educativa, espaços que sejam compartilhados. A gestão deve se expressar por um compromisso pedagógico que considere a heterogeneidade social e cultural do aluno, promovendo atos políticos e processos que visem sua formação. No entanto, ao longo dos anos a participação dos atores no processo se apresenta apenas de forma legalista, para cumprir protocolos, e não de forma efetiva. A gestão democrática é considerada uma das dimensões que compõem os Indicadores de Qualidade da Educação, e implica processos de diálogo e participação efetiva para sua consolidação (BRASIL, 2005e).

22178 O que nos revela a Prova Brasil? Para que a participação seja realidade, são necessários meios e condições favoráveis, ou seja, é preciso repensar a cultura escolar e os processos, normalmente autoritários, de distribuição do poder no seu interior [...] Outro dado importante é entender a participação como processo a ser construído coletivamente. Nessa direção, é fundamental ressaltar que a participação não se decreta, não se impõe e, portanto, não pode ser entendida apenas como mecanismo formal/legal (BRASIL,2005, e, p.15) Diante do contexto e da importância da gestão democrática na escola enfocaremos no estudo análises das informações dos Questionários Contextuais da Prova Brasil, os quais apresentam itens relacionados aos níveis e as formas de participação dos docentes nos processos de gestão da escola, nos projetos desenvolvidos; nos espaços coletivos de decisão; na construção do projeto político-pedagógico, nas formas de integração com a comunidade escolar e nos processos de monitoramento e avaliação. Os Questionários Contextuais são instrumentos de informação sobre diversos aspectos do contexto escolar, e oferecem subsídios para a formulação, reformulação e monitoramento das políticas públicas voltadas para a Educação Básica. Além, de oferecer dados e indicadores que possibilitam a compreensão dos fatores intra e extraescolares que influenciam a qualidade da educação. Diante da relevância dos dados obtidos pela Prova Brasil, o estudo se aprofundará no diagnóstico apresentado, sob uma abordagem qualitativa, apontando indicativos do que nos revela a Prova Brasil. A trajetória da gestão Os discursos em relação às formas de gestão são compreendidos ao longo da história à luz das teorias de uma sociedade capitalista, baseados nos princípios das teorias organizacionais clássicas e positivistas, com foco no poder centralizado e na função de formar sujeitos para a obediência, seguindo um modelo burocrático, com ações permeadas pelo tecnicismo. Nesse modelo de gestão, o professor apenas passa pela escola, cumprindo suas obrigações de forma alienada, mecânica, seguindo regras impostas, muitas vezes por realidade não condizente com o seu cotidiano. Após as transformações e lutas pela democratização da educação, a partir da década de 90, o modelo de gestão ocupa a centralidade nos debates e adquire novas características passando o poder a estar no todo, e a ser concretizado por processos dinâmicos construídos coletivamente. Pois, a escola passou a ser plural composta por diferentes tipos de capital: social, econômico, cultural e simbólico, e nesse contexto, surgem no dia-a-dia as mais

22179 diversas manifestações inerentes às relações interpessoais e grupais. Entretanto, quando a escola está inserida em um contexto democratizado, há o diálogo permanente em busca de alternativas possíveis para a convivência. A escola deve centrar-se na dimensão humana, focando as necessidades sociais. Assim, explicita SANDER: Minha leitura histórica divide-se em cinco fases seqüenciais, que correspondem a cinco enfoques conceituais e analíticos diferentes para estudar o processo de construção, desconstrução e reconstrução do conhecimento na administração da educação latino-americana. Nessa leitura, faço referência ao enfoque jurídico que dominou a gestão da educação durante o período colonial com seu caráter normativo e seu pensamento dedutivo; ao enfoque tecnocrático do movimento científico, gerencial y burocrático da escola clássica de administração desenvolvida no princípio do século XX à luz da lógica econômica que caracterizou o processo de consolidação da Revolução Industrial; ao enfoque comportamental da escola psicossociológica dos anos trinta e quarenta que informou a utilização da teoria do sistema social na organização e na gestão da educação; ao enfoque desenvolvimentalista, de natureza modernizadora, dos autores estrangeiros da pósguerra; e ao enfoque sociológico de teorias sociológicas e latino-americanas das últimas décadas, preocupados com a concepção de teorias sociológicas e soluções educacionais para atender às necessidades e aspirações da sociedade latinoamericana.(sander, 1996, p.138-151) A participação é um elemento essencial da democracia. Quando na gestão é possível vivenciar processos de presença, de manifestação de opiniões, de planejamento, o processo democrático se fortalece, e as situações dialógicas que surgem dessa participação propiciam os diversos pontos de vista, os interesses, as expectativas e o consenso nas tomadas de decisão. A gestão democrática é um princípio constitucional que tem como pressuposto a responsabilidade dos atores envolvidos e respectiva participação nas decisões. Quanto mais houver a participação democrática, mais será efetivada a corresponsabilização nos processos internos da instituição. Nessa perspectiva a ação docente é essencial para concretizar as ações, ou seja, a participação ativa do professor na tomada de decisões, nos colegiados, na construção do currículo, na construção do projeto político-pedagógico, e deve possuir um sentimento de pertencimento ao grupo. Vejamos o que explicita Veiga: O projeto é um meio de engajamento coletivo para integrar ações dispersas, criar sinergias no sentido de buscar soluções alternativas para diferentes momentos do trabalho pedagógico administrativo, desenvolver o sentimento de pertença, mobilizar os protagonistas para a explicitação de objetivos comuns definindo o norte das ações a serem desencadeadas, fortalecer a construção de uma carência comum, mas indispensável, para que a ação coletiva produza seus efeitos. (VEIGA, 2003ª, p.275).

22180 A participação efetiva do docente focaliza o compartilhamento de decisões, a preocupação com a comunidade educativa, com a qualidade, com a formação de valores. Com uma participação eficaz nos mecanismo instituídos na escola, todos os atores envolvidos percebem que quando os percursos são escolhidos pelo grupo as chances de resultados satisfatórios são bem maiores. Nessa direção, de acordo com Matsuura (2004, p. 1), uma escola de qualidade é aquela em que existe um clima favorável à aprendizagem, em que os professores e gestores são líderes animadores. Portanto, o docente tem um papel fundamental no processo educativo, cujo resultado não depende somente da gestão da aprendizagem, mas dos valores a serem construídos no cotidiano, da vivência e dos conceitos atitudinais. Para tanto, é imprescindível as condições de trabalho e o preparo do docente, razão pela qual se valoriza a garantia da formação do profissional. Assim, assevera Libâneo (2001, p.175) [...] precisamos imensamente de professores bem preparados, eticamente comprometidos, que tenham um envolvimento no projeto da escola e na execução e avaliação desse projeto. A gestão democrática pressupõe mudanças na estrutura organizacional e nas formas de gestão da escola, contribuindo significativamente para o desenvolvimento dos processos de aprendizagem, resultando em uma educação de qualidade. Cada escola tem um contexto sociocultural e, portanto deve reger-se pela sua autonomia promovendo ações e agindo na busca da qualidade da educação. Essa autonomia deve partir da própria comunidade educativa, pois quando os atores envolvidos discutem as propostas, de acordo com o seu contexto, e a implementação das ações são conjuntas, por meio de parcerias colaborativas os resultados podem ser melhores. Quando o professor se sente motivado, satisfeito, incentivado e engajado nas ações de gestão, pode realizar com maior satisfação e qualidade suas atividades na escola. Nesse sentido, articular a garantia de processos efetivos de participação e de formação e valorização do profissional é fundamental na condução das políticas públicas. Diversos estudos apontam que os resultados são mais positivos quando o ambiente permite o estabelecimento de relações interpessoais positivas, e valorizam atitudes e práticas educativas. Essa condição de participação favorece o desenvolvimento profissional, pois valoriza a autonomia e o coletivo da escola.

22181 Objetivo Analisar as formas de gestão apresentadas nas escolas, conforme as respostas informadas pelos professores nos Questionários da Prova Brasil. Promover subsídios para reflexões sobre o tema gestão como uma das dimensões condicionantes para a qualidade da educação. Apresentar por meio de estudos de revisão de literatura a importância da ação docente no cotidiano das escolas e de sua efetiva participação na gestão. Metodologia A pesquisa terá abordagem qualitativa. Em primeiro momento realizaremos revisão de literatura, de pesquisas que se dedicam a estudar com ênfase o tema abordado. Num segundo momento faremos levantamento de dados, por meio das informações registradas nos Questionários da Prova Brasil, realizado pelos professores da rede estadual do município de Guarulhos, estado de São Paulo, sistematizando dados e cotejando as informações. E finalizaremos a pesquisa com análises de conteúdo das informações coletadas, e considerações. Resultados Pretendemos com a pesquisa verificar os resultados que revelam a Prova Brasil, em relação aos itens que compõem a dimensão gestão democrática. Atualmente, nos contextos escolares há enfrentamentos dos mais diversos possíveis, e os fatores intra e extraescolares que afetam o cotidiano das escolas devem ser discutidos, avaliados e planejados pela equipe da comunidade educativa. Nas diretrizes nacionais da educação, observam-se diversos mecanismos que promovem a participação, no entanto pretendemos analisar, por meio das respostas dos professores se realmente ocorre uma efetiva participação nos processos de gestão e de aprendizagem ou se os mecanismos são apenas para cumprimento de normas e protocolos. Considerações Finais A escola é um espaço social, no qual diversos atores se relacionam a fim de construírem valores e conhecimento. Entretanto, o desafio é construir ambientes escolares,

22182 nos quais docentes, alunos e pais sejam atores ativos e participativos do processo. A ação docente é fundamental para a concretude desse processo nos contextos educacionais, a partir do diálogo que estabelecem no cotidiano. O conhecimento é vivo, mutável, partilhado e emerge das diversas formas da relação humana. Portanto, os mecanismos instituídos no contexto escolar para fomentar a participação, devem ser eficazes, passíveis de promoverem a transformação do ambiente, propiciando uma nova cultura escolar, na qual todos busquem ideais compartilhados para uma sociedade mais justa e igualitária. As análises realizadas dos indicadores do contexto escolar condizentes ao nível de participação dos docentes na construção de uma nova cultura escolar têm o intuito de promover subsídios para reflexões que possam redirecionar decisões administrativas e pedagógicas nas escolas. REFERÊNCIAS BOURDIEU, Pierre; PASSERON, Jean-Claude. A Reprodução. RJ: Francisco Alves, 1975. BOURDIEU, Pierre. Escritos de Educação. Petrópolis, RJ: Vozes, 1998. BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Básica. Programa Nacional de Fortalecimento dos Conselhos Escolares. Conselho Escolar, gestão democrática da educação e escolha do diretor. Brasília/DF. v. 5, 2005e. LIBÂNEO, J. C. Pedagogia e pedagogos: inquietações e buscas. Revista Educar. Curitiba: Editora da UFPR, p. 153-176, 2001. LIBÂNEO, J. C. Organização e Gestão da Escola: teoria e prática. 5ªed. Goiânia/GO Editora Alternativa, 2004. LIBÂNEO, J. C; OLIVEIRA, J. F; TOSHE, M. S. Educação Escolar: políticas, estrutura e organização. São Paulo: Cortez, 2005. MATSUURA, K. Qualidade da educação: desafio do século 21. Notícias UNESCO, nº 25, set. a dez./2004. Brasília. UNESCO, 2004. PARO, V. Eleição de diretores. A escola pública experimenta a democracia. Campinas, SP: Papirus, 1996. PARO, V. H. A gestão da educação ante as exigências de qualidade e produtividade da escola pública. In: SILVA, L. A escola cidadã no contexto da globalização. Petrópolis: Vozes, 1998. PARO, V. H. Implicações do caráter político da educação para a administração da escola pública. Educação e Pesquisa, São Paulo, v. 28, n. 2, p. 11-23, julho/dez. 2002.

22183 PARO, V. H. Administração Escolar: introdução crítica. 13ª ed. São Paulo: Cortez, 2005. SANDER, Benno. Novas tendências na gestão da educação: democracia e qualidade. In: Anais do Encontro Estadual de Política e Administração da Educação. Fortaleza: ANPAE/Ceará, p. 138 151, 1996. VEIGA, I. P. A. Inovações e projeto político-pedagógico: uma relação regulatória ou emancipatória? Caderno Cedes, Campinas, v. 23, n. 61, p. 267-281, dezembro de 2003. VEIGA, I. P. A. Escola: espaço do projeto político pedagógico. Campinas: Papirus, 2003a.