ESCOLHA DE LIVROS DIDÁTICOS POR PROFESSORES DE FÍSICA DE ESCOLAS DE EDUCAÇÃO BÁSICA



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Transcrição:

ESCOLHA DE LIVROS DIDÁTICOS POR PROFESSORES DE FÍSICA DE ESCOLAS DE EDUCAÇÃO BÁSICA Resumo: Luciana Bagolin Zambon - Universidade Federal de Santa Maria Neste trabalho, focalizamos nossa atenção nos processos de escolha de Livros Didáticos realizados por professores de Física de Escolas de Educação Básica (EEB) e buscamos responder a seguinte questão de pesquisa: Que elementos caracterizam a inserção de professores de Física de EEB no processo de escolha de Livros Didáticos, no âmbito do PNLD, organizado e desenvolvido nas suas escolas? Para tanto, utilizamos como fontes de informação sujeitos (professores de Física em serviço em Escolas de Educação Básica) e espaços (encontros para escolha do livro didático, no âmbito do PNLD, realizados em EEB) e, como instrumentos para coleta de informações nessas fontes, utilizamos questionários, entrevistas e observação. A pesquisa envolveu 27 professores de Física de EEB e 6 encontros para escolha de livros, realizados em escolas e acompanhados por nossa equipe. Pelas análises desenvolvidas, podemos afirmar que prevaleceu a realização de uma escolha coletiva do Livro Didático entre os professores de física e que as orientações fornecidas pelas equipes gestoras aos professores de física para escolha dos livros foram escassas. Ficou evidente também a preferência pela análise direta dos livros enviados pelas editoras, durante o processo de escolhas dos Livros Didáticos pelos professores, em detrimento de uma análise preliminar, a partir do Guia de Livros Didáticos, disponibilizado pelo MEC. Além disso, percebemos que a tomada de decisão sobre os livros ocorreu mais em função de aspectos externos à escola (sequência de assuntos estabelecida pelo exame vestibular PEIES) do que em função das orientações e propostas presentes no Projeto Político-Pedagógico das escolas. Palavras-Chave: Escolha de Livros Didáticos, PNLD, Professores de Física Introdução Este trabalho faz parte de uma pesquisa mais ampla, na qual buscamos compreender como o Programa Nacional do Livro Didático (PNLD) incide no contexto de Escolas de Educação Básica (EEB) e que implicações ele traz para o trabalho docente desenvolvido nessas escolas. Dentre as ações investigativas desenvolvidas, pesquisamos como as equipes gestoras de escolas organizam e desenvolvem ações para a escolha de Livros Didáticos, como professores de Física realizam a escolha de livros e como esses professores utilizam livros na preparação e no desenvolvimento de suas aulas. Neste trabalho, em particular, focalizamos nossa atenção nos processos de escolha de Livros Didáticos realizados por professores de Física de EEB. A realização de investigações sobre o PNLD justifica-se, dentre outros aspectos, devido à amplitude dos programas de material didático na atualidade no Brasil (tornando esse país o maior comprador de livros didáticos), à consolidação do PNLD, estabelecendo um mecanismo próprio de escolha dos livros pelos professores, e à Livro 1 - p.004524

2 presença de Livros Didáticos, reafirmada a partir do PNLD, no cotidiano das escolas e das salas de aula, de uma forma mais intensa e com uma perspectiva de utilização de melhor qualidade. Os programas de material didático do governo federal, em particular o PNLD, têm a intenção de contribuir para a garantia de materiais didáticos de qualidade, disponíveis para subsidiar o desenvolvimento dos processos de ensino e de aprendizagem nas escolas, e são desenvolvidos com o intuito de dar conta de um dos aspectos que, desde a Constituição de 1988 (artigo 208), constitui dever do Estado com a educação, a saber: VII atendimento ao educando no ensino fundamental, através de programas suplementares de material didático-escolar, transporte, alimentação e assistência à saúde. Assim sendo, compreendemos o PNLD como programa de distribuição gratuita de obras didáticas de forma sistemática e regular a todos alunos (individualmente) das EEB das Redes Públicas Escolares de todo país e consideramos esse programa como Política de Estado, dado seu período de existência e sua permanência desde o ano de 1985, mantendo algumas das características iniciais do programa, tais como escolha do livro pelo professor, utilização do livro reutilizável, perspectiva de universalização do atendimento. Em trabalho recente de revisão de literatura sobre o tema Livro Didático, em teses/dissertações e em artigos publicados em periódicos acadêmico-científicos, constatamos que são raríssimas as pesquisas na área de educação em ciências e, em especial, na área de ensino de física, que problematizam aspectos relacionados à utilização do livro didático por professores e alunos em sala de aula ou que abordam os processos de seleção de livros didáticos realizados por professores. Neste trabalho de revisão, identificamos 127 teses/dissertações da área de pesquisa em educação em ciências sobre a temática Livro Didático, disponibilizadas no banco de dados do Centro de Documentação em Ensino de Ciências (CEDOC/UNICAMP - período 1996 a 2008) e no Banco de Teses da CAPES (período de 2007 a 2010), e 46 artigos publicados em 09 Periódicos Acadêmico-Científicos também dessa área. Constatamos que a grande maioria das teses/dissertações e dos artigos identificados em nosso levantamento referem-se à análise do conteúdo do Livro Didático (investigando, por exemplo, a concepção de natureza veiculada por livros didáticos, formas de abordagem de algum conteúdo conceitual, formas de utilização de imagens, etc) e à análise da utilização de Recursos e Estratégias Didáticas em Livros Didáticos. No entanto, as investigações que se ocupam da análise da utilização de Livro 1 - p.004525

3 Livros Didáticos em sala de aula, do processo de escolha dos Livros Didáticos e da avaliação de livros são muito raras. Dentre as pesquisas que investigam a escolha de livros, Tolentino Neto (2003), em análise sobre a seleção do livro de ciências por professores dos anos iniciais, constatou a diversidade de critérios utilizados, a diversidade de condições para as escolhas, a pouca utilização do Guia do Livro Didático e o desconhecimento de importantes etapas do Programa. Cassab e Martins (2008) investigam os sentidos que professores de ciências atribuem ao livro didático em um contexto de escolha do material. A discussão realizada pelas autoras gira em torno das imagens de aluno, de ensino e de ensino de ciência na significação do livro didático, da linguagem do livro didático e seus aspectos visuais e da leitura do livro didático. As autoras afirmam que os critérios utilizados pelos professores na escolha do livro refletem os significados que eles atribuem a esses aspectos. Lima e Silva (2010), por sua vez, investigam os critérios utilizados por professores de Química na escolha do livro didático. Esses autores apontam que os critérios mais considerados na escolha são a linguagem, a diagramação, a contextualização, as experimentações e o tipo de abordagem. A lacuna de pesquisas aponta para a emergência na realização de investigações que se ocupem da escolha e da utilização de livros didáticos de física. Neste sentido, desenvolvemos essa investigação buscando responder a seguinte questão de pesquisa: Que elementos caracterizam a inserção de professores de Física de EEB no processo de escolha de Livros Didáticos, no âmbito do PNLD, organizado e desenvolvido nas suas escolas? Procedimentos Metodológicos Para responder a questão de pesquisa, utilizamos dois tipos de fontes de informação, quais sejam: sujeitos, professores de Física em serviço em Escolas de Educação Básica, e espaços, encontros entre professores de Física para escolha do livro didático, no âmbito do PNLD, realizados em Escolas de Educação Básica. Os instrumentos utilizados foram questionário e entrevista estruturada para coleta de informações dos professores de Física e observação para coleta de informações nos encontros de escolha de Livros nas escolas. Livro 1 - p.004526

4 O universo da pesquisa envolveu todas as 27 Escolas Públicas de Educação Básica da cidade de Santa Maria/RS que possuem o Ensino Médio como etapa de escolaridade, das quais 24 são da rede pública estadual e 3 da rede pública federal. Tendo em vista a seleção de livros didáticos prevista para o ano de 2011, no âmbito do PNLD Ensino Médio 2012, contatamos, no início do ano letivo, as equipes gestoras de todas as 27 escolas, com o intuito de coletar informações cadastrais sobre os professores de física, informar os objetivos de nossa pesquisa e questionar sobre a possibilidade de realização da pesquisa com esses professores. Constatamos que há um total de 58 professores de física em serviço nessas 27 escolas. Em seis delas recebemos, da coordenação pedagógica, reposta negativa para a realização de nossa pesquisa, o que excluiu a possibilidade de conversarmos com os professores de Física dessas escolas. O primeiro instrumento utilizado com os professores de física foi um questionário com questões abertas e fechadas que tratavam da seleção de livros didáticos no âmbito do PNLEM 2007 e da utilização desses livros na preparação e no desenvolvimento das aulas de física. Obtivemos retorno de 27 professores que responderam efetivamente nosso questionário. Nesse questionário, uma das questões tratava do interesse dos professores em desenvolver um trabalho conjunto com nosso grupo para acompanhamento dos processos de escolha de Livros, no âmbito do PNLD. A partir das respostas a essa questão, selecionamos um conjunto de professores de física que mostraram-se interessados em participar de encontros conosco, durante o período de realização da escolha de Livros Didáticos no âmbito do PNLD 2012 nas suas escolas. Durante esses encontros, buscamos estimular a reflexão e a discussão sobre alguns aspectos relevantes, tais como características de um bom Livro Didático, critérios para escolha de Livros Didáticos, formas de utilização do Guia de Livros Didáticos do PNLD 2012, procedimentos para escolha de Livros Didáticos. Acompanhamos os processos de escolha de Livros Didáticos realizados em seis (06) escolas com um total de dez (10) professores de física. Por fim, realizamos entrevistas estruturadas com parte dos professores de física que responderam nosso questionário e/ou foram acompanhados no processo de escolha dos livros, nas quais buscamos aprofundar a discussão sobre aspectos relativos à escolha e à utilização dos livros. Realizamos, no total, entrevistas com 09 professores de física. Para proceder ao tratamento e análise das informações coletadas, utilizamos a técnica da categorização temática (GIBBS, 2009) e estabelecemos categorias de análise Livro 1 - p.004527

5 a posteriori, ou seja, como resultado de várias leituras das informações para cada critério de análise definido previamente. Constituição e Discussão de Resultados Para caracterizar a inserção de professores de física no processo de escolha de Livros Didáticos, no âmbito do PNLD, organizado e desenvolvido nas suas escolas, analisamos um conjunto de aspectos, os quais são apresentados e discutidos a seguir. Esses resultados foram construídos a partir das informações coletadas mediante utilização do questionário, realização da entrevista e mediante os registros de observação dos encontros para escolha dos livros. É importante notar que algumas das categorias e subcategorias definidas e utilizadas para construção e análise dos resultados não são excludentes; por isso, em alguns casos o número de ocorrência não corresponde ao número de sujeitos informantes. Em relação às orientações recebidas para a escolha do Livro Didático constatamos que apenas uma (01/09) professora de física entrevistada recebeu da escola orientações para a escolha do livro, a qual foi orientada a analisar a compatibilidade dos livros com a proposta pedagógica da escola. A referida professora atua em uma escola que possui uma proposta pedagógica diferente das demais, uma vez que procura trabalhar, no ensino médio regular, por áreas do conhecimento. Os demais professores (08) informaram que não receberam orientações da escola, nem indicação de critérios, para realização da escolha dos livros. Esses professores pareceram muito enfáticos em suas respostas, sugerindo inclusive certo descontentamento com a falta de orientação, como pode ser percebido nos depoimentos abaixo: Nada. Orientação zero, a gente escolheu por nós mesmos (...). PF 01 Não, só simplesmente colocaram ali e disseram que ali estavam as coleções para escolher (...). PF 04 Não, absolutamente. Na verdade, os livros foram chegando às toneladas e, tanto numa escola quanto noutra, eles diziam ah pega ligeiro, tira daqui que está atrapalhando. (...) PF 03 Em relação aos materiais utilizados pelos professores de Física para realizar a escolha dos Livros Didáticos, encontramos referência à análise direta dos livros didáticos, como material utilizado para escolha, nos depoimentos de todos os professores, sendo que dois deles afirmaram que os livros foram o único material analisado. Pode-se dizer que os demais professores tiveram algum contato com o Guia Livro 1 - p.004528

6 de Livros Didáticos, organizado pelo MEC. Porém, esse contato com o Guia não garante que ele tenha sido efetivamente utilizado como instrumento para auxiliar na escolha dos livros; uma evidência para isso é o fato de que o Guia não foi citado espontaneamente nas respostas dos professores, apenas quando questionamos sobre isso. Pelo cruzamento de informações fornecidas por todos os professores de física investigados, podemos afirmar que apenas um deles não teve acesso ao Guia de Livros Didáticos durante o processo de escolha dos livros e parece ter tido conhecimento sobre esse material apenas quando da realização dessa nossa entrevista com ele. Quanto aos mecanismos utilizados pelos professores de Física para escolha do Livro Didático, constatamos que cinco professores (três de uma mesma escola) realizaram a escolha dos livros mediante um processo coletivo a partir da realização de reuniões. Outros três professores (dois de mesma escola) informam que o processo de escolha foi coletivo, mas as decisões foram tomadas em encontros rápidos entre os professores, durante o intervalo das aulas (recreio ou troca de turno). A fala abaixo é representativa dessa categoria: (...) nós íamos discutindo naquela conversa que tu faz aqui no recreio, tu olhou tal livro, o que tu achou, e a gente já vai... Tu já vai fazendo essa seleção antes, discutindo com os colegas, o que tu acha?, vamos mudar?, vamos continuar no mesmo? PF 02 Surpreende o fato de que tenha havido uma escolha individual e decisiva, devido à omissão dos demais professores, em quatro escolas diferentes, segundo relato de quatro professores de física. Nesses casos, os encontros entre os professores de física na escola são difíceis, pois cada um atua em turnos diferentes; ainda assim, os professores entrevistados relataram que tentaram contato com os demais professores, seja por bilhete ou por intermédio da gestão escolar, mas esses professores informavam que não se envolveriam com a escolha do livro, como pode ser visto nos depoimentos abaixo: (...) a gente se comunicou através de bilhete. [Eu disse] que eu deixei os livros para ele [e] que eu tinha pensado, para ver se combinava com o que ele tinha, e ele falou que o que eu escolhesse estava bom. PF 03 [A outra professora] nem sabia do que se tratava, ela disse: não, o que tu escolher está bem escolhido. PF 11 Em relação aos critérios utilizados por professores de física para escolha dos livros, identificamos, nas respostas dadas aos questionários, quatro categorias. A primeira refere-se à sequência de assuntos do livro didático, citada por seis professores. A sequência de assuntos foi comparada com aquela sugerida nas listagens de conteúdos de exames vestibulares de seleção ao Ensino Superior. A segunda categoria, Livro 1 - p.004529

7 correspondência com a proposta da escola, envolve duas respostas, nas quais houve referência genérica à proposta pedagógica da escola sem nenhuma explicitação de quais aspectos foram considerados. A terceira categoria remete para a utilização do livro pelo aluno, sendo feita uma única referência genérica à facilidade de manuseio da obra escolhida, sem, porém, explicar o que isso significa. A última categoria, organização e abordagem adotada, agrupa duas respostas, nas quais foram feitas referências genéricas à contextualização do conteúdo (1 resposta) e ao tratamento de temas atuais (1 resposta). Já pelas informações coletadas mediante entrevista, obtivemos um conjunto de sete (07/09) respostas que referem-se à análise dos recursos didáticos utilizados pelos autores das obras didáticas, como um critério para escolha dos livros. Dentre os recursos, foram citados os experimentos propostos (02 respostas), os exemplos resolvidos (02), os aspectos históricos da ciência (01), o número grande de questões (01), a presença de questões de vestibular e do ENEM (01). Além desses, dois professores declararam que avaliam o enunciado das questões (02), pois preocupam-se em utilizar aquelas questões cujo enunciado seja acompanhado de uma contextualização da vivência cotidiana dos alunos, o que é coerente com os estudos sobre Resolução de Problemas, desenvolvidos na área de pesquisa em Ensino de Física. Sete (07/09) professores disseram que analisam a forma de apresentação dos assuntos, sendo que a maioria procura um livro que apresente os assuntos de forma contextualizada com o cotidiano (04). Outros dois professores procuram um livro que apresente os assuntos mediante um equilíbrio entre as discussões conceituais e a abordagem matemática e um prefere que haja privilégio de discussões focadas na estrutura conceitual da física. Três professores analisam a estrutura dos capítulos, buscando aqueles que apresentam bastante desenhos/figuras (01) e elementos para motivar o aluno (02). Cassab e Martins, em análise realizada sobre o processo de escolha de livros de ciências, constataram que a consideração das características dos alunos foi um aspecto central na seleção do livro didático pelos professores. Neste sentido, a característica de apreciação dos alunos por determinadas estéticas de apresentação, permitiria entender as referências aos desenhos/figuras no livro didático como critério para sua escolha. E a imagem de aluno desinteressado poderia justificar a necessidade de considerar elementos para motivar o aluno, como critério de escolha dos livros (CASSAB, MARTINS, 2008, p.6). Livro 1 - p.004530

8 Outros três professores (03/09) de física afirmaram que analisam a sequência de apresentação dos assuntos nos livros, buscando aquela que melhor se aproxima da programação do Exame Vestibular Programa de Ingresso ao Ensino Superior (PEIES/UFSM). Esse programa consiste numa forma alternativa de ingresso à UFSM, no qual as provas são realizadas em três etapas, cada uma ao final de uma das três séries do Ensino Médio. Recentemente, o PEIES foi extinto, dando lugar ao chamado Processo Seletivo Seriado (PS1, PS2 e PS3 referindo-se às três provas, ao final de cada série do ensino médio), que mantém, em geral, as mesmas características do Exame Vestibular PEIES. Já nos registros de observação dos encontros para escolha dos livros que acompanhamos nas escolas, esse aspecto o grau de compatibilidade da sequência de assuntos do livro com aquela utilizada no programa do PEIES foi citado pela totalidade de professores (10) acompanhados, conforme alguns depoimentos selecionados: (...) o que eu me detive mais no livro foi o seguinte: o programa dele (...) porque aqui a gente prepara mais para o peies e vestibular, então segue o programa do peies e vestibular. Então eu peguei o livro que melhor se encaixava com ele, porque não tem um livro que se encaixe direitinho com o programa né. EES 07 (...) esse [livro] aqui enquadra bem inclusive assim ó a relação dos conteúdos obedece mais ou menos a seqüência do processo seletivo tanto do peies quanto do PS [processo seletivo seriado] único da universidade entende? A gente vê isso aí. EES18 Nesses registros de observação dos encontros para escolha dos livros, identificamos também referência a outros critérios, ou seja, número de questões (02), apresentação dos assuntos de forma contextualizada (02), experimentos propostos (01), estrutura dos capítulos, com utilização de desenhos/figuras (01). Critérios semelhantes foram indicados pelos professores entrevistados, como apresentado anteriormente. Quando analisamos o conjunto de informações coletadas mediante os diferentes instrumentos questionários, entrevistas e observações percebemos claramente que dentre os critérios utilizados para escolha dos livros o mais recorrente é o grau de compatibilidade da sequência de assuntos do livro com aquela utilizada no programa do PEIES da UFSM (Exame Vestibular Seriado). Isso indica que a sequência dos conteúdos estabelecida na programação do PEIES/UFSM constitui-se como condicionante para definição das programações curriculares das disciplinas de Física nas escolas estudadas. Livro 1 - p.004531

9 Assim, na região investigada, isso tem limitado qualquer discussão sobre definição de elementos da estrutura conceitual da Física (e, também, de outras áreas disciplinares do Ensino Médio) para serem objetos de estudo nas aulas de Física. A utilização da programação do PEIES como a própria programação curricular das disciplinas escolares de Física nessa região está tão naturalizada entre os professores que acaba sufocando qualquer possibilidade de adoção de livros que possuam uma sequência alternativa de assuntos. Para citar como exemplo, dentre as coleções de Física aprovadas no âmbito do PNLD 2012, existe uma obra que, utilizando-se de uma abordagem temática, apresenta uma organização sequencial dos assuntos que foge da sequência típica. Em algumas reuniões para escolha dos livros, coletamos as seguintes frases de professores sobre essa obra: Não tem a sequência [utilizada no PEIES/UFSM] e tá bastante misturado, o conteúdo do primeiro ano está no segundo ano, (...). Então, eu tenho que pegar um livro que se adéque ao programa também do colégio. EES 07 (...) aquela [coleção] é horrível, horrorosa. Aquilo lá não tem aprofundamento, não tem lógica no raciocínio seqüencial. EES 18 Uma outra professora utiliza um termo curioso para referir-se a essa obra, ainda que destaque que os professores não estão preparados para trabalhar com um livro com tal abordagem: [Ele é] viajandão é só isso, mas eu penso assim ó de repente se o professor tá preparado prá trabalhar esse tipo de coisa, até seria bastante interessante. Mas, a gente não tá preparado pra trabalhar dessa maneira ainda [seguindo uma abordagem temática]. Então, fica bastante complicado. [É] muito viajandão. EES 05 Nos encontros acompanhados, percebemos que várias obras foram descartadas logo de início, ou seja, os professores não quiseram nem olhar outros aspectos característicos daqueles livros que não possuíam uma sequência que fosse idêntica ou, ao menos, o mais próxima possível daquela estabelecida pelo PEIES/UFSM. Chama atenção também o fato de que, mesmo nas escolas em que é pequena a parcela dos alunos matriculados no Ensino Médio, que pretendem prestar vestibular na UFSM, tanto os gestores, como os professores de Física continuam a adotar o programa do PEIES/UFSM, como programação curricular da escola, conforme os depoimentos abaixo: (...) pra nós [professores] do Ensino Médio, (...) o interesse [durante o processo de escolha] era visando (sic) a Universidade, mesmo que tu não tenha como objetivo primordial, porque não são todos os que vão fazer. Só que assim, os que vão têm a oportunidade de ter... (...) PF 05 Lá [na outra escola] não, (...). É uma comunidade carente, então a gente tem que... até tem que entender que... se chegar a 20% dos que fazem [o vestibular] lá... [Mas] vai seguindo [o programa do vestibular mesmo assim,] Livro 1 - p.004532

10 por tradição como se diz. [Então] basicamente a preocupação [é] com aquela cartilhazinha do PEIES. Então a gente segue igual (...) PF 18-02 Para ter uma melhor ideia sobre a dimensão da influência que exerce essa programação no ensino médio nas escolas da cidade, selecionamos um trecho do professor PF 06. O livro selecionado na sua escola, no âmbito do PNLD 2012, apresenta os assuntos hidrostática e hidrodinâmica no volume 1, afinal podem ser classificados no tópico conceitual da Mecânica, comumente presente no volume 1 das coleções de Física. Ocorre que na programação do PEIES, esses assuntos estão apresentados para a segunda série do Ensino Médio. Assim, o professor que segue rigorosamente essa sequência como é o caso da quase totalidade de professores das escolas de Santa Maria, com raras exceções encontra dificuldades, pois o volume 1 dos livros didáticos adotados está com os alunos do primeiro ano e os assuntos hidrostática e hidrodinâmica (presentes nesse volume) devem ser trabalhados no segundo ano. A alternativa relatada por vários professores tem sido a cópia xérox dos capítulos necessários para utilização com os alunos da segunda série. A nova solução encontrada agora por um professor é relatada abaixo: (...) esse livro que a gente escolheu [no âmbito do PNLD 2012] não tem hidrodinâmica, eu pedi para o representante da [nome da editora] e ele conseguiu com o autor que vai vim (sic) um encarte, um suplemento de hidrodinâmica dentro do livro. (...) Vem um encarte de hidrodinâmica dentro do livro para nós né porque o único lugar que exige hidrodinâmica é Santa Maria, por exemplo, a UFRGS não precisa. Então vai vir junto para toda Santa Maria e para o interior, essas cidadezinhas ai, vem um encarte de hidrodinâmica. (...) [Os planos de ensino] seguem, exatamente, em função dessa sequência. PF 18-01 Não sabemos se, de fato, a editora enviará cópias diferentes para essa escola e para a região. De qualquer modo, fica evidente que a programação do PEIES é um fator determinante na definição das programações curriculares dos professores de física, que parecem ter perdido sua autonomia na definição dos conteúdos de ensino. Não parece ser preocupante a situação de dividir o livro em partes trabalhadas separadamente, nem parece interessar a discussão com os alunos da própria estrutura conceitual da física e da forma como está organizada; ao invés disso, interessa trabalhar com uma sequência definida por outros profissionais fora do contexto escolar. Portanto, quando se trata da definição dos conteúdos de ensino, A questão está na transmissão de um conteúdo, aparentemente inquestionável, para o aluno e não [em] qual conteúdo é adequado para determinados objetivos do ensino de ciências. (CASSAB, MARTINS, 2008, p.10) Livro 1 - p.004533

11 O que vemos, então, é a naturalização da utilização da programação do PEIES, a ponto de ela influenciar todo trabalho docente desenvolvido por esses professores, inclusive a escolha do livro didático. Assim, os professores ao aderirem à programação do PEIES sem nenhuma criticidade, definitivamente abdicam do exercício de sua autonomia na definição dos conteúdos de ensino. As próprias escolas não têm realizado discussões nesse sentido, para definir quais finalidades e objetivos perseguem, de modo que os projetos pedagógicos dessas escolas, em geral (retiradas as exceções), apresentam um discurso que, na prática, infelizmente, acaba se tornando vazio, na medida em que a preparação dos alunos do Ensino Médio para os Exames Vestibulares é o que efetivamente tem determinado a organização curricular dessas escolas. Conclusões De modo sintetizado, a partir dos resultados construídos, podemos dizer que as orientações fornecidas pelas equipes gestoras aos professores de física para escolha dos livros didáticos são escassas, o que indica certo despreparo dessas equipes. Isso dificulta, em certa medida, as possibilidades de realização de discussões de aspectos mais amplos nas escolas, acerca das proposições presentes nos projetos pedagógicos. Como conseqüência, professores de cada área disciplinar acabam realizando a escolha dos livros de forma isolada na escola. Pelo estudo realizado, ficou evidente a preferência pela análise direta dos livros enviados pelas editoras, durante o processo de escolhas dos Livros Didáticos, em detrimento de uma análise preliminar, a partir do Guia, resultado esse equivalente ao de pesquisas similares (tais como TOLENTINO NETO, 2003, CASSIANO, 2003, BAGANHA, 2010); é preciso lembrar, porém, que, no contexto aqui investigado, muitos professores tiveram acesso ao Guia impresso com muito atraso, impossibilitando sua utilização como efetivo instrumento de apoio à escolha dos livros. Pela análise realizada, percebemos, ainda, que prevaleceu a realização de uma escolha coletiva entre os professores de física. Porém, é citada com certa recorrência a realização de encontros rápidos entre eles, realizados na sala de professores, durante o intervalo das aulas, como espaço para realização da escolha dos livros. Consideramos que para esse tipo de encontro, deve haver possibilidades de diálogo e de uma grande interação entre os professores. Nesse sentido, pode-se dizer que esse procedimento a realização desses encontros breves entre professores é extremamente inapropriado, Livro 1 - p.004534

12 pois normalmente há muito barulho na sala, os professores estão no seu momento de descanso e a duração do intervalo é muito pequena. Podemos dizer também que, no contexto aqui estudado, a tomada de decisão sobre os livros didáticos, no âmbito do PNLD, ocorreu mais em função de aspectos externos à escola (sequência de assuntos estabelecida pelo exame vestibular PEIES) do que em função das orientações e propostas presentes no Projeto Político-Pedagógico das escolas. Neste sentido, enquanto o Ensino de Física, do mesmo modo que o ensino das outras disciplinas escolares, girar em torno de programações definidas por outras instâncias, que não o coletivo de cada EEB, e a preocupação dessas escolas for a de vencer os conteúdos estabelecidos nessas programações, não será o Livro Didático, nem outro material didático, que poderá auxiliar na melhoria da qualificação da Educação Escolar. Referências BAGANHA, Denise E. O papel e o uso do livro didático de ciências nos anos finais do ensino fundamental. 2010. Dissertação (Mestrado em Educação) - Setor de Educação. Programa de Pós-Graduação em Educação. Universidade Federal do Paraná. Curitiba. 2010. CASSAB, M.; MARTINS, I. Significações de professores de ciências a respeito do livro didático. Ensaio: Pesquisa em Educação em Ciências, Belo Horizonte, 2008, v.10, n.1, p.1-28. CASSIANO, Célia C. F. Circulação do livro didático: entre práticas e prescrições - políticas públicas, editoras, escolas e o professor na seleção do livro escolar. 2003. Dissertação (Mestrado em Educação: História, Política, Sociedade) - Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. São Paulo. 2003. GIBBS, Graham. Análise de dados qualitativos. Tradução de Roberto Cataldo Costa. Porto Alegre: Artmed. 2009. ISBN 978-85-363-2055-7. LIMA, Maria E. C. de C.; SILVA, P. S. Critérios que professores de química apontam como orientadores da escolha do livro didático. Revista Ensaio, Belo Horizonte, v.12, n.2, p.121-136, 2010. TOLENTINO NETO, Luiz C. B. de. O Processo de Escolha do Livro Didático de Ciências por Professores de 1ª a 4ª séries. 2003. Dissertação (Mestrado em Educação) - Faculdade de Educação, Universidade de São Paulo. 2003. Livro 1 - p.004535