Convergência Jornalística: uma proposta de definição do termo 1. Marcella RASÊRA 2 Universidade Tuiuti do Paraná, Curitiba, Paraná

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Transcrição:

Convergência Jornalística: uma proposta de definição do termo 1 Marcella RASÊRA 2 Universidade Tuiuti do Paraná, Curitiba, Paraná Resumo O objetivo deste artigo é dissertar sobre o conceito de convergência aplicado às diferentes áreas do jornalismo por meio da compilação de vários autores referente ao tema. A convergência é apresentada como uma forma de jornalismo emergente decorrente do surgimento do jornalismo digital. A escolha do tema deve-se a escassez de trabalhos na área tanto em âmbito nacional como internacional. A idéia norteadora do trabalho é promover o debate de diferentes autores quanto à conceituação do tema a fim de confrontá-los, sendo utilizada somente a pesquisa bibliográfica para realização do mesmo. Palavras-chave: convergência; digital; jornalismo. 1. Introdução A reflexão sobre o significado da palavra convergência abrange diversas áreas do conhecimento. É extensa a discussão não somente conceitual, mas também quanto à sua aplicabilidade em diferentes cenários. O termo convergência tem sido utilizado exaustivamente e diversificadamente em toda a literatura que envolve o status das mídias contemporâneas, as tecnologias digitais de informação e comunicação (TICs), a cibercultura, as linguagens e narrativas, apenas para ficarmos no campo maior da Ciências da Comunicação (SAAD 2007). No plano internacional, as primeiras reflexões acadêmicas sobre convergência multimídia apareceram no fim dos anos 1970. Foi quando autores como Nicholas Negroponte (1979) começaram a se referir ao fenômeno, então nascente, da 1 Trabalho apresentado no DT 1 Jornalismo do XI Congresso de Ciências da Comunicação na Região Sul realizado de 17 a 19 de maio de 2010. 2 Mestranda do curso de Comunicação e Linguagens da UTP, email: marcellarasera@hotmail.com 1

digitalização e suas conseqüências na difusão e combinação de linguagens textuais e audiovisuais (SALAVERRÍA 2007 ) No Brasil, com o surgimento do jornalismo digital em meados da década de 90, o fenômeno da convergência jornalística passou a ser considerado algo possível, porém ainda distante da realidade vivida dentro das redações midiáticas. A visão de convergência ainda se encontrava atrelada à idéia de convergência puramente tecnológica, que propõem que muitas partes de equipamento digital vão se convergir a uma única caixa na sala-de-estar. (QUINNS 2005 ). Em meados da década de 1990, o termo jornalismo digital ou ciberjornalismo referia-se, na maioria das vezes, às versões desenvolvidas para a web de jornais impressos, diários e de modelo comercial. Eram poucas, ou praticamente nenhuma, as alterações na forma de narrativa jornalística. Após aprontar o conteúdo da edição do produto impresso, tal conteúdo era disponibilizado na web. (MIELNICZUK, Luciana. O estudo da narratividade no ciberjornalismo. In: Metodologia para o Estudo dos Cibermeios. Salvador, 2008.) Contudo esse panorama mudou. Atualmente, os sites noticiosos passaram a não somente reproduzir o conteúdo divulgado em sua versão impressa, mas também a disponibilizar informações adicionais sobre o assunto que não foram incluídas na versão impressa ou, informações complementares como por exemplo: vídeos, animações, entre outros recursos multimídia. Ou seja: o meio digital propicia a viabilização de produzir e distribuir conteúdo multimídia de forma rápida e precisa a fim de possibilitar a interatividade e com isso, despertar o interesse e a participação do público. Além disso, nestas publicações, o leitor tem acesso a bancos de dados, arquivos eletrônico com edições passadas, fóruns de discussão e sistema de bate-papo em tempo real, mecanismos de busca em classificados online, notícias atualizadas a todo o instante e uma série de outros serviços, só possíveis graças ao suporte digital. (Disponível em: http://www.facom.ufba.br/pesq/cyber/manta/guia/cap02.html. Acessado em: 18/01/2010) 2. O conceito de convergência Atualmente, é praticamente impossível não se deparar com o termo convergência quando se pensa sobre o futuro da tecnologia, dos meios de comunicação e dos grandes grupos empresariais 3. Qualquer que seja o termo escolhido: fusão, integração ou convergência, todos eles acabam conduzindo-nos à uma mesma idéia. 3 fusão é normalmente o termo utilizado quando duas grandes empresas se unem 2

O autor Rich Gordon, em artigo publicado na Online Journalism Review em 2003, afirma que o termo convergência vem, originalmente, do mundo da ciência e da matemática e o atrela ao cientista William Derham que fez importantes contribuições ao estudo da física no século XVIII. Além dele, Charles Darwin também utilizou o termo, em 1866, na edição da famosa obra A Origem das Espécies. Para Gordon, o processo de convergência digital só se tornará realidade quando ocorrerem mudanças tecnológicas em todos os estágios de estrutura da informação: criação, distribuição e consumo de conteúdo. Mas, antes que esse dia chegue, e mesmo que ele nunca chegue, a convergência em outras formas, está afetando as empresas que produzem informação e entretenimento, assim como as pessoas que trabalham nela. (Gordon, 2003). Convergência é um conceito que está em evolução de maneira emergente em várias partes do mundo. A definição do termo varia dependendo da perspectiva de quem a estuda. Logo, a palavra tende a possuir tantas definições quanto o numero de pessoas que a pratica ou a estuda. Isso porque convergência varia de país para país e de cultura para cultura considerando o panorama organização em que está inserido. Além disso, a convergência midiática faz com que a noticia esteja disponível no momento em que as pessoas a querem consumi - lá, ao invés do público ter que esperar para consumi - lá somente quando as redes de emissoras e jornais a disponibilizam. As empresas de comunicação ao redor do mundo têm abraçado a convergência dos meios em diferentes velocidades, freqüentemente mais rápido do que em empresas nos Estados Unidos da América. (QUINNS, 2005, p. 3). Grande parte do investimento no contexto enfatiza o consenso em superar a dificuldade de uma definição mais especifica, menos abrangente e mais concisa do termo convergência. E essa discrepância conceitual afeta tanto a literatura acadêmica quanto a profissional. No entanto, ambas divergem. A literatura acadêmica tende a inclinar-se para definições que abrangem diversas áreas da comunicação social e, portanto, tendem a ser definições mais amplas e multidimensionais. Por sua vez, a definições profissionais tendem e ser mais reducionistas e muitas vezes limitadas aos aspectos logísticos da mídia, em especial, o funcionamento das redações e dos processos de produção. Logo, a convergência dos meios pode ser considerada a janela de oportunidade para que a mídia tradicional se alinhe com as tecnologias do século XXI. A digitalização da mídia e a tecnologia de informação decorrentes da transformação dos 3

meios de comunicação são importantes fatores que contribuem para a convergência dos meios. (Gershon 2000; Fidler1997 citado por LAWSON-BORDERS, 2003). Sendo assim, o conceito de convergência jornalística se refere a um processo de integração de meios de comunicação tradicionalmente separado que afeta as empresas, a tecnologia, os profissionais e o publico em todas as fases de produção, distribuição e consumo de conteúdos de qualquer tipo. (Salaverria, 2007) Para Elizabeth Saad Corrêa (2008), o termo convergência, quando associado às mídias digitais, é abordado por uma diversidade de pontos de vista, pertinente, em sua maioria, mas que metodologicamente têm o potencial de confundir propostas. Numa rápida passada d olhos, convergência pode ser associada equipamentos e sistemas de acesso às redes digitais, a estruturas organizacionais, a diferentes níveis de processos de produção do conteúdo midiático, às política publicas de uso e acesso às TICs, aos modelos de negócios, em oposição a visões fragmentadas, entre muitas possibilidades. O que temos, na pratica, é o uso do termo em múltiplos contextos e, em algumas vezes, com definições ambíguas. Para Jenkins (2008), autor do livro A Cultura da Convergência, convergência é um termo esquivo, usado em contextos múltiplos, e freqüentemente ambíguo em sua definição. O fenômeno de convergência não é um simples processo de recuperação de informação eletronicamente, mas sim um fenômeno que ocorre em múltiplos níveis por meio de cinco processos: tecnológico, econômico, social, global e cultura Larry Pryor, professor da Annenberg School for Communication da Universidade da Califórnia, defende que convergência como uma forma de jornalismo que requer a habilidade de produzir conteúdo original em formato multimídia, um tipo de jornalismo caro que está em fase experimental. De acordo com ele, convergência é o que acontece na redação quando a equipe editorial trabalha em conjunto para produzir diferentes produtos para múltiplas plataformas a fim de atingir a massa com conteúdo interativo 24 horas por dia, 7 dias por semana. ( citado por QUINNS, 2005) No artigo Integrating New Media and Old Media: Seven Observations of Convergence as a Strategy for Best Practices in Media Organizations, a pesquisadora Gracie Lawson-Border afirma que as definições para o termo convergência variam, mas na maioria dos casos é o encontro da mídia tradicional, como por exemplo: revistas, jornais impressos, rádio e televisão com a mídia moderna: computadores e internet a fim de distribuir conteúdo. (Lawson-Border, 2003, p.92). 4

Sendo assim, Gracie Lawson-Border define a convergência jornalística como um conjunto de possibilidades decorrentes da cooperação entre meios impressos e eletrônicos na distribuição de conteúdo multimídia por meio do uso de computadores e da internet. Baseado neste conceito, a autora propõe um modelo da definição de convergência (Convergence Definition Model) Fig 1. Modelo de definição de convergência (Convergence definiton Model) Para Rich Gordon, o termo convergência pode ser aplicado a diferentes aspectos em uma organização midiática, como por exemplo: à empresa propriamente dita, as operações realizadas dentro da empresa e à maneira em que os funcionários desempenham suas funções. Sendo assim, Gordon identifica cinco tipos de convergência: - convergência de propriedade: é quando a mesma empresa possui todas as plataformas: impresso, online, televisão e rádio. Assim, todos os meios trabalham de forma integrada e colaborativa na produção de conteúdo. Segundo Jack Fuller, presidente da Tribune Company, esta é uma forma de diminuir os custos, aumentar eficiência e propiciar noticias de maior qualidade em tempo de recessão econômica. (GORDON, 2003, p. 64) - Convergência tática: é quando um canal de televisão firma parceria com um jornal impressos ou com um canal à cabo. O objetivo é somar as audiência e conseqüentemente aumentar a receita de ambos. Neste caso, as plataformas não pertencem à um mesmo grupo sendo que cada uma delas caracteriza uma empresa diferente. O conteúdo divulgado em um meio instiga a audiência a acompanhar os desdobramentos da mesma noticia em outro. - Convergência estrutural: esta forma de convergência está associada com mudanças na captação e na distribuição da noticia, assim como é um processo de gerenciamento no sentido de introduzir mudanças nas praticas de trabalho. Gordon utiliza o exemplo do Orlando Sentinel s que contratou uma equipe de produtores e editores multimídia para 5

reembalar o material do meio impresso para a televisão. Ou seja, a equipe reescreve o conteúdo do impresso em linguagem televisiva. Ao mesmo tempo em que o meio online, além de produzir material novo, também faz uma versão adequada para a web do conteúdo apresentado pelos parceiros do jornal impresso e pelo canal de televisão. Ou ainda, um repórter esportivo do jornal impresso aparece no telejornal do dia para comentar sua reportagem veiculada no meio impresso. - convergência de coleta de dados: este é dos aspectos mais polêmicos quanto se trata de convergência jornalística. Segundo Gordon, nenhum outro tópico gera mais discussão do que este. Ele traz em foco o debate do papel do jornalista multimídia, isto é, um profissional capaz de produzir várias versões de uma mesma historia a fim de divulgá-la em diferentes plataformas. O ponto questionável é quanto à capacidade e à habilidade de um único profissional em produzir conteúdo de qualidade para diferentes meios. Gordon acredita que a tecnologia digital viabiliza a existência de um profissional tão habilidoso, porém afirma que não existirão muitos até que as empresas de comunicação estejam aptas a oferecer um treinamento e o equipamento adequado aos seus jornalistas. (2003, p. 69) - convergência narrativa: esse tipo de convergência está relaciona com a maneira em que o jornalista executa sua função primordial, isto é, o de contar histórias. Os primeiros âncoras televisivos sentavam na bancada e liam as noticias produzidas para o meio impresso, com pouquíssimas ou mesmo nenhuma variação. Gordon prevê que as novas formas narrativas vão surgir da combinação de computadores, equipamentos portáteis de captação de informação, e do potencial interativo da web assim como da televisão, a medida em que os jornalistas dominarem as capacidades únicas de cada meio. (2003, p.70) Para o pesquisador José Afonso da Silva Junior no artigo Uma abordagem metodológica sobre a convergência digital e o fluxo de conteúdos no jornalismo contemporâneo, uma das explicações para o termo convergência midiática é a preocupação de levar um conjunto de procedimentos a um novo ambiente, no caso, o digital. Na visão do mesmo autor, outra conceituação do termo é o conjunto de possibilidades ampliadas de compartilhamento do código digital por naturezas distintas de discursividade e seu convívio (texto, som, vídeo, fotografias, infográficos etc). A convergência jornalistica é um processo multidimensional que, facilitado pela implantação generalizada das tecnologias digitais de telecomunicação, afeta o âmbito tecnológico, empresarial, profissional e editorias dos meios de comunicação, 6

propiciando uma integração de ferramentas, espaços, métodos de trabalho e idiomas anteriormente desagregados, de forma que os jornalistas elaborem conteúdos que se distribuem através de plataformas múltiplas, mediante a linguagem própria de cada um. (Salaverria, Garcia avilés y Masip 2007) No artigo escrito por Henry Jenkins em 2001: Convergence? I Diverge, ele afirma que a convergência midiática é um processo em andamento, que está ocorrendo em vários cruzamentos dos meios de comunicação: tecnológico, industrial, de conteúdo e de publico; não é um processo já finalizado. Quanto a o processo de convergência tecnológica, ele se mostra descrente quanto à idéia que um dia existirá uma única caixa preta controlando a mídia. Ao invés disso, graças à proliferação dos canais e à natureza quase que onipresente da computação no campo da comunicação, Jenkins afirma que nós estamos entrando em um era onde a mídia estará em todos os lugares e nós usaremos todos os tipos de mídia. Ele conclui dizendo que acredita que as pessoas desenvolverão novas habilidades para gerenciar a informação, novas estruturas para transmitir informação por meio de canais, e novos gêneros criativos para explorar o potencial de estruturas informativas emergentes. 3. Considerações finais Os estudos e pesquisas na área da convergência jornalística ainda se encontram escassos. São poucos os trabalhos desenvolvidos na área, na maioria dos países. Logo, o cenário brasileiro pode definir-se como igualmente decepcionante. As empresas brasileiras de comunicação têm se mostrado conservadoras e relutantes à inovações. O caráter familiar e o poder exercido por elas no tecido social reforçam uma postura monolítica, ancorada na estabilidade do produto, na tecnologia, em um mercado consolidado e em um perfil mono media. (SALAVERRÍA, 2008) Apesar disso, não há duvidas entre os pesquisadores que, certamente, não há uma definição única e aceita de forma unânime sobre o conceito de convergência. Porém, o que é unânime entre os estudiosos é afirmar que independente das vantagens ou desvantagens trazidas pelo fenômeno da convergência digital no meio jornalístico, ele veio para ficar e é ele que norteará o futuro da comunicação no século XXI. (QUINNS, 2005) 7

4.Referências bibliográficas: CORREA, Elizabeth Saad. Convergência de mídias: metodologias de pesquisa e delineamento do campo brasileiro. In: Metodologia para o Estudos dos Cibermeios. Salvador, 2008. GARCÍA AVILÉS, José Alberto. Desmitificando La convergencia periodistica. Chasqui: Revista Lationamericana de Comunicacion, Quito, n. 94, jun. 2006. Disponível em: <hht://chasqui.comunica.org/content/blogsection/44/133/>. Acessado em: 27/01/2010. GORDON, Rich. Convergence Defined. Online Journalism Review, 23 nov.2003. Disponível em: <http://www.orjr.org>. JENKINS, Henry. Convergence culture. Where Old and New Media Collide. New York, 2006. JENKINS, H. Convergence? I diverge. In: Techonology Review, 2001. AWAMOTO, Kevin. Digital Journalism. Emerging Media and the Changing Horizons of Journalism. New York, 2003. LAWSON-BORDERS, Gracie. Media organizations and convergence: case studies of media convergence pioneers. New Jersey, 2003. MIELNICZUK, Luciana. O estudo da narratividade no ciberjornalismo. In: Metodologia para o Estudo dos Cibermeios. Salvador, 2008. NEGROPONTE, Nicholas.Being Digital. New York, Vintage Books 1995. SALAVERRÍA, Ramón. Convergencia periodistica. In: Metodologia para o Estudos dos Cibermeios. Salvador, 2008. SALAVERRÍA, ALIAGA, R.; GARCIA AVILES, J.A; MASIP,P. (2007). Convergencia periodistica. Propuesta de definicion teórica y operativa. SALAVERRIA, Ramon. Periodismo Integrado. Convergência de médios y reorganizacion de redacciones. Barcelona, 2008. SILVA, José Afonso. Uma abordagem metodológica sobre a convergência digital e o fluxo de conteúdos no jornalismo contemporâneo. In: Metodologia para o Estudos dos Cibermeios. Salvador, 2008. 8

QUINN, Stephen. Convergent Journalism: An Introduction. Nova Iorque, Focal Press, 2005. QUINN, Stephen. Convergent Journalism. The Fundamentals of Multimedia Reporting. Nova Iorque, Peter Lang Publishing, Inc., 2005. http://www.facom.ufba.br/pesq/cyber/manta/guia/cap02.html. Acessado em: 18/01/2010 9