CARACTERÍSTICAS TECNOLÓGICAS DE PÃO SEM GLÚTEN COM ADIÇÃO DE SEMENTE DE CHIA

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Transcrição:

CARACTERÍSTICAS TECNOLÓGICAS DE PÃO SEM GLÚTEN COM ADIÇÃO DE SEMENTE DE CHIA V.C. Borges 1, M.M.Salas-Mellado 2 1-Escola de Química e Alimentos Universidade Federal de Rio Grande, Laboratório de Tecnologia de Alimentos CEP: 96201-900 Rio Grande RS Brasil, Telefone: 55 (53) 3233-6974 e-mail: (viviane_vallejos@hotmail.com) 2-Escola de Química e Alimentos Universidade Federal de Rio Grande, Laboratório de Tecnologia de Alimentos CEP: 96201-900 Rio Grande RS Brasil, Telefone: 55 (53) 3293-5382 e-mail: (mysame@yahoo.com) RESUMO A doença celíaca causa intolerância permanente ao glúten. Seu tratamento exige uma dieta isenta de glúten. Diferentes produtos passaram a ser utilizados como novas opções para a fabricação de alimentos isentos de glúten e também para aumento de seu valor nutritivo, como por exemplo, o amaranto, a quinoa e, mais recentemente, a chia. O objetivo do trabalho foi desenvolver pães sem glúten com adição de semente de chia que apresentem boas características tecnológicas. Foram elaborados pães sem glúten padrão e com adição de semente de chia nas concentrações 2, 4, 6, 8 e 10%. Eles foram avaliados segundo seu volume específico, dureza e pontuação. Concluiu-se que a adição de sementes de chia melhorou as características tecnológicas dos pães sem glúten, com destaque para os pães com adição de 4% e 6% de sementes de chia, que apresentaram maior volume específico, maior maciez e maior pontuação, comparados com o pão controle. ABSTRACT Celiac disease causes a permanent intolerance to gluten. Its treatment requires a gluten-free diet. Different products have been used as new options for the manufacture of gluten-free foods and also to increase their nutritional value such as, amaranth, quinoa, and more recently, chia. The aim of this study was to develop gluten-free breads with addition of chia seed which have good technological characteristics. It were prepared gluten-free breads, a standard and some with the addition of 2, 4, 6, 8 and 10% of chia seeds. They were evaluated according to their specific volume, hardness and score. It was concluded that the addition of chia seeds improved the technological characteristics of gluten-free breads, especially that with the addition of 4% and 6% of chia seeds, which presented higher specific volume, higher softness and higher score when compared with the standard bread. PALAVRAS-CHAVE: chia, doença celíaca, glúten. KEYWORDS: chia, celiac disease, gluten 1. INTRODUÇÃO A doença celíaca (DC) é uma doença autoimune, causadora de uma intolerância permanente ao glúten (RODRIGO, 2006) em indivíduos predispostos geneticamente. A doença é caracterizada por lesão permanente da mucosa intestinal provocada pela ingestão de glúten, podendo haver a recuperação completa da mucosa quando aderida uma dieta isenta de glúten (MELO et al. 2006).

O glúten é uma proteína insolúvel presente em cereais como o trigo, a cevada, o centeio (AUGUSTO et al. 2002), o triticale e possivelmente na aveia (MOREIRA, 2007). Ele pode ser substituído por farinha de milho, amido de milho, farinha de arroz, fécula de batata, farinha de mandioca e polvilho (AUGUSTO et al. 2002). No entanto, muitas vezes, por estas farinhas e amidos serem refinados, apresentam baixos teores de micronutrientes e fibra alimentar, um dos fatores responsáveis pelo consumo inadequado desses nutrientes por celíacos (THOMPSON et al. 2005). Consequentemente outros grãos passaram a ser utilizados como novas opções para a fabricação de alimentos isentos de glúten e também para o aumento de seu valor nutritivo, como por exemplo, o amaranto, a quinoa e, mais recentemente, a chia (PEREIRA et al. 2013). A Salvia hispanica L., também conhecida como chia, é uma planta herbácea, da família Labiatae, divisão Spermatophyta e reino Plantae (ALI et al. 2012). A chia se destaca por conter altos teores de fibras, proteínas, minerais e ácidos graxos poli-insaturados (URIBE et al. 2011). O objetivo do presente trabalho foi desenvolver pães sem glúten com adição de semente de chia que apresentem boas características tecnológicas. 2. MATERIAL E MÉTODOS 1.1 Material A matéria prima utilizada na elaboração dos pães sem glúten foi a farinha de arroz fornecida pela Cerealle Indústria e Comércio de Cereais Ltda., localizada na cidade de Pelotas, RS. As sementes de chia foram fornecidas pela empresa Chá e Cia Ervas Medicinais para chá, localizada na cidade de Jacareí, São Paulo. Os ingredientes como fermento biológico, açúcar, sal e óleo foram adquiridos no comércio local. A enzima Transglutaminase (TGase) Activa WM e o Hidrocolóide Metilcelulose A4M, foram fornecidas pelas Indústrias Ajinomoto e Tovani Benzaquen, respectivamente. O Ácido ascórbico utilizado foi da empresa Synth. 1.2 Elaboração dos pães Foram elaborados pães sem glúten padrão e com adição de semente de chia nas concentrações 2, 4, 6, 8 e 10%. A formulação básica dos pães sem glúten é a apresentada na Tabela 1. Para a elaboração dos pães sem glúten, a farinha de arroz, o sal, o açúcar, o fermento seco, o óleo, e a semente de chia foram pesados em balança de precisão (Marte, modelo AS200), o ácido ascórbico, a metilcelulose (Methocel A4M) e a enzima transglutaminase (TGase) Activa WM foram pesados em balança analítica (Bioprecisa, modelo FA2104N). Os ingredientes secos foram colocados em batedeira planetária ( Stand Mixer 300W) durante 1 min à velocidade média, a seguir adicionados o óleo e a água e misturados por 9 min sendo mantida a mesma velocidade. A massa resultante foi colocada em um recipiente e levada para estufa (Biopar, modelo S150BA) a 30ºC por 60 min, para uma primeira fermentação. Posteriormente foram colocados 175g de massa em formas próprias para pão, sendo levada a fermentação por mais 55 min a 30ºC e em seguida foi assada a 200ºC por 20 minutos em forno elétrico (Fischer, modelo Diplomata). Os pães foram retirados do forno logo após assados e resfriados a temperatura ambiente por uma hora, sendo então encaminhados para análises específicas.

Tabela 1 - Formulação do pão de farinha de arroz. Ingredientes Quantidade(g) Farinha de arroz 100 Sal 2 Açúcar 5 Fermento seco 2 Óleo 2 Ácido ascórbico 0,009 Água 120mL Semente de chia Variável Metilcelulose 2 Enzima transglutaminase 0,5 Fonte: Adaptado de FIGUEIRA (2010). 1.3 Avaliação dos pães Foi realizada a análise de volume específico (VE), onde os pães foram pesados em balança de precisão e seu volume aparente foi determinado pelo método de deslocamento de sementes de painço (PIZZINATTO e CAMPAGNOLLI, 1993). O volume específico foi calculado segundo a razão entre o volume e a massa do pão assado (ml/g). Os pães foram avaliados por análise de características internas e externas segundo planilha de El-Dash (1978), que atribui uma pontuação aos pães, com valor máximo de 100 pontos distribuídos nos parâmetros volume (VE x 3,33), cor da crosta, quebra, simetria, característica da crosta, cor do miolo, estrutura da célula do miolo, textura do miolo, aroma e sabor. Para verificar o grau de firmeza do miolo dos pães foram realizadas análises de dureza do miolo no analisador de textura TAXT2, utilizando o software (Exponent da Stable Micro System, Surrey, Reino Unido). O teste foi realizado segundo método 74-09.01 da AACC (2000) que consiste em colocar uma fatia de 25mm de espessura no centro da plataforma do Analisador de Textura TAXT2, que é comprimida com um probe cilíndrico de 36mm de diâmetro nas seguintes condições de trabalho: velocidade de pré-teste: 1,0 mm/s; velocidade de teste: 1,7 mm/s; velocidade de pós-teste: 10,0 mm/s; compressão: 40%; trigger force: 5g..A dureza foi expressa como g-força. 3. RESULTADOS E DISCUSSÃO Os valores de volume específico e de pontuação dos pães sem glúten (PSG) adicionados de semente de chia estão apresentados na Tabela 2. Os valores de volume específico dos PSG com a adição de semente de chia foram maiores que do pão padrão, com destaque para os PSG com 4, 6 e 8% de semente de chia. Costantini et al. (2014) desenvolveram pães sem glúten adicionados de 10% farinha de chia com valores de volume específico que variaram de 1,2 até 1,49 ml/g. Steffolani et al. (2014) formularam pães sem glúten com adição de farinha de chia e adição de semente de chia, cujos maiores valores de volume específico obtidos foram de 2,28 ml/g e 3,01mL/g, respectivamente. Portanto os valores de volume específico para os pães sem glúten com adição de semente de chia foram satisfatórios e ficaram acima dos encontrados na literatura.

Tabela 2 - Avaliação dos PSG com adição de semente de chia (SC). Pães VE (ml/g) Pontuação Padrão 3,05 ± 0,02 c 72,81 ± 0,51 d SC2% 3,44 ± 0,10 b 86,04 ± 1,83 a SC4% 3,79 ± 0,03ª 87,85 ± 1,23 a SC6% 3,80 ± 0,05ª 85,22 ± 0,55 a SC8% 3,69 ± 0,02ª 82,20 ± 0,08 b SC10% 3,31 ± 0,12 b 77,61 ± 0,40 c VE= Volume específico. SC= Semente de chia. Médias seguidas da mesma letra na coluna não diferem significativamente (p<0,05) entre si. Para avaliar a qualidade do pão vem sendo empregado o sistema de pontuação total, que consiste em avaliar as características do pão (internas, externas, aroma e sabor). Segundo Dutcosky (1996) e de acordo com os parâmetros avaliados pelo sistema de pontuação (EL-DASH, 1978), o pão que apresenta uma pontuação de 81 a 100 pode ser classificado como um pão de boa qualidade, de 61 a 80 regular, de 31 a 60 como ruim e com menos de 30 pontos de qualidade inaceitável. Dessa forma, analisando a Tabela 3, os pães padrão e com adição de farinha de chia podem ser classificados como pães de qualidade regular, no entanto os pães com adição de semente de chia até a concentração de 8% se destacaram apresentando pontuação acima de 81 e, portanto, considerados pães de boa qualidade. Na figura 1 se apresentam os resultados de dureza dos pães em estudo. Figura 1 Dureza dos pães sem glúten. SC= Semente de chia. Médias seguidas da mesma letra não diferem significativamente (p<0,05) entre si. Com relação a dureza, os pães com adição de semente de chia se apresentaram mais macios que o pão padrão, mostrando que a adição de sementes na massa propiciou o aumento do volume e da maciez dos pães, assim como o score das características tecnológicas. Steffolani et al. (2014) relataram que a adição de semente de chia resultou em pães sem glúten mais macios do que aqueles adicionados de farinha de chia, eles formularam pães sem glúten

com adição de farinha de chia e adição de semente de chia, foram adicionadas 15g/100g de farinha de arroz, e obtidos valores de dureza de 858,58g para os pães com semente de chia e 2.194,39g para os pães com farinha de chia. 4. CONCLUSÃO Conclui-se que a adição de sementes de chia melhorou as características tecnológicas dos pães sem glúten em relação aos parâmetros de volume específico, dureza e pontuação, com destaque para os pães com adição de 4% e 6% de sementes de chia, que apresentaram maior volume específico, maior maciez e maior pontuação comparados com o pão controle. 5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AACC (American Association of Cereal Chemists). (2000). Approved Methods of the AACC. 10th edition. American Association of Cereal Chemists, St. Paul, MN. Ali, N. M.; Yeap, S. K.; Ho, W. Y.; Beh, B. K.; Tan, S. W.; Tan, S. G. (2012). The promising future of chia, Salvia hispanica L. Journal of Biomedicine and Biotechnology, 2012, 1-9. Augusto, A.P.; Alves, D.C.; Mannarino, I.C. (2002). Terapia Nutricional. São Paulo: Atheneu. Costantini, L.; Lukšic, L.; Molinari, R.; Kreft, I.; Bonafaccia, G.; Manzi, L.; Merendino, N. (2014). Development of gluten-free bread using tartary buckwheat and chia flour rich in flavonoids and omega-3 fatty acids as ingredientes. Food Chemistry, 165, 232 240. Dutcosky, S. D. (1996). Análise Sensorial dos Alimentos. Curitiba: Champagnat. El-Dash, A. A. (1978). Standardized mixing and fermentation procedure for experimental baking test. Cereal Chemistry, 55(4), 436-446. FIGUEIRA, F. S. (2010). Produção de pão sem glúten enriquecido com Spirulina platensis (Dissertação de Mestrado em Engenharia e Ciência de Alimentos). Universidade Federal do Rio Grande, Rio Grande. Gutkoski, L. C.; Pavanelli, A. P.; Miranda, M. Z.; Chang, Y. K. (1997) Efeito de melhoradores nas propriedades reológicas e de panificação da massa de farinha de trigo. Ciência e Tecnologia de Alimentos, 17(1), 11-16. Melo, S.B.C.; Fernandes, M.I.; Peres, L.C.; Troncon, L.E.; Galvão, L.C. (2006). Prevalence and demographic characteristics of celiac disease among blood donors in Ribeirao Preto, State of Sao Paulo, Brazil. Digestive Diseases and Sciences, 51(5), 1020-1025. Moreira, M. R. 2007. Elaboração de pré-mistura para pão sem glúten para celíacos (Dissertação de Mestrado em Ciência e Tecnologia dos Alimentos). Universidade Federal de Santa Maria, Santa Maria.

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