Produtividade de Soja Semeada em Palhada de Capins Cultivados em Consórcio com Milho na Safrinha 1

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Transcrição:

Produtividade de Soja Semeada em Palhada de Capins Cultivados em Consórcio com Milho na Safrinha 1 José Alexandre Agiova da Costa 2, Armindo Neivo Kichel 2, Roberto Giolo de Almeida 2 e Ademir Hugo Zimmer 2 1 Trabalho financiado pela Embrapa 2 Pesquisadores da Embrapa Gado de Corte, Rodovia BR 262, km 4, C.P. 154 Campo Grande, MS. Correio eletrônico: alexandre@cnpgc.embrapa.br, armindo@cnpgc.embrapa.br, robertogiolo@cnpgc.embrapa.br, zimmer@cnpgc.embrapa.br Palavras chave: Brachiaria spp, doses de herbicida, integração lavoura-pecuária, Panicum spp Revisão bibliográfica O uso de sistemas de plantio direto em áreas com deficiência de palhada ou cobertura do solo vem aumentando a infestação de invasoras resistentes aos herbicidas como trapoeraba, leiteiro, picão e buva, entre outras, como também vem aumentando a intensidade de ataque de pragas e doenças. Nesses casos a produtividade de soja atinge 1500 a 2000 kg/ha, quando poderia alcançar 3000 a 4000 kg/ha, se o plantio fosse realizado sobre palhada de Brachiaria spp ou Panicum maximum, que apresentam alta produtividade e longa persitência, (Lamas, 2008) Cultivos simultâneos entre forrageiras e milho possibilitam a colheita de grãos e a oferta antecipada de forragem de alta produtividade e alto valor nutritivo no período de escassez, para uso em pastejo ou conservação de forragem e a formação de palhada para o plantio direto de soja, frequentemente a cultura que retorna ao sistema. Os cultivos de milho, sorgo e braquiárias têm sido as culturas mais utilizadas para iniciar a ILP em muitas regiões (Alvarenga, 2001, Alvarenga et al., 2006, Bernardi et al., 2009, Debiasi et al., 2009, Veloso et al., 2009). Sendo também milho, sorgo, gramíneas forrageiras tropicais e soja as culturas de grãos mais plantadas nos sistemas de ILP no centro-oeste (Almeida et al., 2009 a e b; Costa et al., 2009; Kichel et al., 2009 e Zimmer et al., 2009). Nos sistemas de plantio direto, a pouca formação e persistência da palhada podem se tornar um limitante à produção, por não proporcionar armazenamento de umidade e acúmulo suficiente de matéria orgânica no solo, além de permitir o estabelecimento de invasoras que competem com a cultura. Espécies e cultivares forrageiras desenvolvidas para a produção animal a pasto têm mostrado bons resultados na formação de palhada para o plantio direto em cultivo simultâneo com milho ou sorgo (Kichel et al., 2009, Almeida et al., 2009, Costa et al, 2009). Forrageiras tropicais podem então ser utilizadas tanto para alimentação animal quanto para a produção de palhada para as lavouras, minimizando fatores adversos locais e diminuindo os riscos climáticos associados ao cultivo de grãos (Broch & Ranno, 2007), sendo mais eficazes de maneira geral que o milheto, que tem baixa produtividade e não apresenta persistência na palhada produzida (Medeiros et al, 2009). Nas condições de cerrado, o cultivo simultâneo de milho e braquiárias é uma tecnologia que permite manter a produção de grãos de milho e aumentar a produção de palhada, de maneira a viabilizar o plantio direto, com a sucessão soja-milho. Arranjos comuns levam ao plantio de milho em cultivo simultâneo com forrageiras com incrementos de 8,8 sacas/ha na produtividade da soja plantada na safra subsequente (Broch & Ceccon, 2007). Lamas (2008) recomenda o uso de Panicum maximum cv. Mombaça, Panicum maximum cv. Tanzânia, 2306

Paniicum maximum cv. Massai, Brachiaria decumbens, B. brizanta cv. Marandu e Xaraés, em sistemas de ILP e B. ruziziensis se objetivo for apenas a formação de palha, em função da grande capacidade de produção de biomassa para o plantio direto do algodoeiro. A quantidade de palhada para uma boa cobertura de solo está entre 5t/ha (Machado et al, 1998) e 6 t/ha (Alvarenga et al, 2001). Almeida et al. (2009 b) obtiveram produtividade média de soja de 3,1 t/ha em palhada de plantas forrageiras tropicais, sendo maior a produtividade para os capins mombaça, piatã e massai. O uso de herbicidas para supressão dos capins consorciados com milho é visto como estratégia para diminuir a competição, dependendo do capim em consórcio, da alternativa de implantação e do sistema de produção (Cobucci e Portela, 2003; Broch et al., 2007 a). O experimento foi conduzido objetivando avaliar a produtividade da soja em palhada decorrente do cultivo simultâneo de milho com cultivares forrageiras. Material e Métodos O campo experimental localiza-se em Campo Grande-MS, a 20 o 27 de latitude Sul, 54 o 37 de longitude Oeste, a 530 m de altitude. O padrão climático da região é descrito, segundo Köppen, na faixa de transição entre Cfa e Aw tropical úmido. A precipitação média anual é de 1.500 mm, sendo considerada estação das águas, de outubro a abril, com 70% da precipitação anual. O solo foi caracterizado como Latossolo Vermelho Distroférrico, de textura muito argilosa, com saturação por bases de 50,26% na camada de 0-10 cm de profundidade. O experimento foi conduzido na safrinha 2009, em área de integração lavourapecuária. O cultivo anterior consistiu de milho safrinha (cv BRS 2022) em sistema santa-fé, no qual as forrageiras semeadas em cultivo simultâneo formaram palhada para a cultura subseqüente de soja (cv BRS 246 RR). A adubação do milho consistiu de 200 kg/ha da fórmula 15:15:15 e 140 kg/ha de uréia em cobertura. As plantas forrageiras consorciadas foram: capim-massai (Panicum spp. cv. Massai), capim-tanzânia (Panicum maximum cv. Tanzânia), capim-mombaça (Panicum maximum cv. Mombaça), capim-xaraés (Brachiaria brizantha cv. Xaraés), capim-marandu (B. brizantha cv. Marandu) capim-piatã (B. brizantha cv. Piatã), decumbens (B. decumbens cv Basiliski) e ruziziensis (B. ruziziensis cv Kennedy). A semeadura foi realizada em 16/03/2009, sendo utilizadas taxas de semeadura de 4 kg de sementes puras viáveis (SPV)/ha para panicuns e 6 kg de SPV/ha para braquiárias. O milho teve problemas de desenvolvimento em função da estiagem, não sendo, por isso, colhido. Doses de herbicida foram aplicadas para controle dos capins nos consórcios: zero (sem supressão), supressão parcial (0,15 L/ha de nicosulfuron) e supressão total (0,9 L/ha de nicosulfurom), aos 28 dias após a semeadura do milho porque foi um período de baixa pluviosidade. Os capins foram coletados aos 100 dias após a colheita do milho, em duas amostras de 1,0 x 1,0 m por sub-parcela, sendo o corte realizado rente ao solo. As amostras foram pesadas em campo, por meio de balança tipo dinamômetro, sendo retiradas subamostras que foram encaminhadas para estufa de ventilação forçada a 55-60ºC por 72 horas. Após, as forrageiras foram dessecadas com 5L de glifosate/ha em 10/10/2010 para formar palhada para o plantio da soja, que ocorreu 30 dias depois. A soja (cv BRS 246 RR) foi inoculada e semeada em plantio direto em 10/11/2009. Utilizaram-se 75 kg/ha de sementes, ou 20 a 22 sementes/metro, no espaçamento de 45 cm entre linhas e na profundidade de 3 a 5 cm, com média de 20 a 22 sementes por metro linear. A adubação na linha de plantio foi de 350 kg/ha da fórmula 05-25-15. Não foi necessária a utilização de herbicida pós-emergente para controle dos capins ou invasoras pela eficiente cobertura do solo. A colheita da soja deu-se em 09/03/2010, momento em que a produtividade foi acessada através da amostragem de 2 linhas de 5m (4,5 m 2 ). 2307

O delineamento utilizado foi o de parcelas sub-divididas com quatro repetições. O tratamento principal foi a produtividade em grãos obtida na palhada das forrageiras, e o tratamento secundário, o efeito das doses de herbicida na quantidade de palhada produzida. Em função do período seco, os grãos foram ensacados e secados à sombra, após foram pesados e obtidas às produtividades. Os dados foram submetidos à análise de variância, e as médias foram agrupadas pelo teste de Scott-Knott, a 5% de probabilidade, usando-se o aplicativo estatístico Sisvar v.5.1. Resultados e Discussão Os componentes da produtividade da soja foram afetados pela palhada do capim associado ao milho no plantio de safrinha (Tabela 1). De forma geral a maioria das braquiárias foram superiores (P<0,05) aos panicuns na influência dos componentes de produtividade devido à característica de cobrir o solo mais homogeneamente, embora não se tenha observado dificuldade à mecanização devido às maiores taxas de semeadura utilizadas nesse trabalho, diferente de Machado et al (1998), que observaram que os capins do gênero Panicum maximum formaram touceira e deixaram solo descoberto, sendo mais indicados para pastejo. Nas parcelas em que o milho foi cultivado puro, o número de plantas foi inferior (P<0,05), o que concorreu efetivamente para uma menor produtividade de grãos, independente dos demais componentes avaliados. A produtividade de forragem foi superior (P<0,05) para os capins piatã, tanzânia, mombaça e marandu, mas, como a produtividade de palhada foi alta para os demais capins, não houve diferença na produtividade da soja. Heckler et al. (1998) indicam 5.000 kg de massa seca/ha distribuída uniformemente sobre a superfície do solo para uso do solo em sistema de plantio direto. No presente trabalho a matéria seca de forragem produzida em média foi de 8.764 kg/ha para os capins piatã, mombaça, tanzânia e marandu, de 7.969 kg/ha em média para os capins ruziziensis, xaraés e decumbens, e de 4.780 kg/ha para o capim-massai que uma boa palhada para se realizar plantio direto. Nas parcelas em que o milho foi cultivado puro, a produtividade foi menor (P<0,05), sendo de 2.892 kg de grãos/ha, contrastando com as parcelas consorciadas com capins com produtividade média de 3.551 kg de grãos/ha. A diferença a favor das áreas com palhada foi de 659 kg de grãos/ha ou o equivalente a 11 sacas/há em média. Tabela 1. Número de plantas, altura, peso de 100 sementes, peso de sementes por planta, massa seca de forragem e peso de grãos de soja (cv BRS 246 RR) obtida em palhada de forrageiras tropicais consorciadas com milho. Campo Grande-MS, março de 2009. Capim Nº plantas (m 2 ) Altura (cm) 100 sem. sem. por planta Massa seca de forragem grãos Ruziziensis 25,0 a 56,29 ns 12,70 a 14,69 b 7.948 b 3.610 a Xaraés 24,6 a 57,97 ns 12,78 a 15,09 b 8.263 b 3.710 a Decumbens 24,2 a 55,33 ns 12,53 b 14,47 b 7.696 b 3.457 a Mombaça 22,2 b 59,39 ns 12,43 b 16,46 b 8.477 a 3.590 a Piatã 22,2 b 52,45 ns 12,99 a 17,73 b 9.005 a 3.814 a Tanzânia 21,4 b 63,41 ns 12,13 b 15,71 b 8.584 a 3.340 a Massai 21,1 b 57,57 ns 12,33 b 16,88 b 4.780 c 3.497 a Marandu 19,7 b 54,19 ns 12,81 a 17,23 b 8.988 a 3.388 a Milho 11,1 c 59,83 ns 12,08 b 26,69 a - 2.892 b CV% 20,22 12,37 5,39 18,91 13,12 13,04 2308

Médias seguidas pela mesma letra na coluna pertencem ao mesmo grupo pelo teste de Skott- Knott (P<0,05). * não significativa O uso de doses de herbicida para controle da competição com o milho levou a efeitos diferenciados nos componentes da produtividade da soja (Tabela 2), embora tenha sido possível observar-se, de forma geral, que não houve efeito da palhada nos componentes altura, peso de 100 sementes e massa seca de forragem. Não se observou diferença na produtividade de soja entre a dose baixa e o tratamento sem herbicida, mas o peso de grãos foi superior para o tratamento com alta dose de herbicida. Ocorreu alto crescimento de forrageiras pós-colheita do milho o que proporcionou produtividade equivalente entre as forrageiras, embora ainda se detectasse efeito do herbicida. Isso ocorreu porque a massa seca de forragem foi alta, e a palhada foi o principal determinante da produtividade nesse caso. A produtividade foi baixa somente no tratamento oriundo do milho sem palhada, como se observa na Tabela 1 e de acordo com Almeida et al. (2009 b). Tabela 2. Componentes de produtividade em grãos de soja (cv BRS 246 RR) obtida em palhada de forrageiras tropicais consorciadas com milho, dessecadas com diferentes doses de herbicida. Campo Grande-MS, março de 2009. Método de controle Nº plantas (m 2 ) Altura (cm) 100 sem. sem. por planta Massa seca de forragem grãos Sem 100,89 a 58,31 ns 12,43 ns 16,34 b 6.996 a 3.431 b Baixa 92,56 b 57,51 ns 12,53 ns 17,64 a 7.444 a 3.392 b Alta 94,41 b 56,32 ns 12,63 ns 17,67 a 7.107 a 3.609 a CV% 14,07 7,62 4,64 11,56 11,42 10,83 Médias seguidas pela mesma letra na coluna pertencem ao mesmo grupo pelo teste de Skott- Knott (P<0,05). * não significativa Conclusões A quantidade de palhada produzida pelos capins foi suficiente para proporcionar alta produtividade de soja; O cultivo de soja sobre a palhada dos capins aumentou a produtividade em 11 sacas/ha, em média, quando comparado a soja produzida sobre palhada somente de milho. Literatura Citada ALMEIDA, R.G., COSTA, J.A.A.; KICHEL, A.N. Densidade de semeadura para capim-piatã em cultivo simultâneo com sorgo na safrinha. In: Congresso de Forragicultura e Pastagens, 2009, 3, Viçosa. Anais...Viçosa. CD ROM. ALMEIDA, R.G., COSTA, J.A.A.; KICHEL, A.N. Palhada de capins influenciando a produtividade da soja em sistema de plantio direto. In: Congresso de Forragicultura e Pastagens, 2009, 3, Viçosa. Anais...Viçosa. CD ROM. ALVARENGA, R.C; CABEZAS, W.A.L.; CRUZ, J.C.; SANTANA, D.P. Plantas de cobertura do solo para sistema plantio direto. Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.22, n,208, p.25-36, 2001. 2309

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