Pesquisa nas Favelas com Unidades de Polícia Pacificadora. da Cidade do Rio de Janeiro

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Transcrição:

Pesquisa nas Favelas com Unidades de Polícia Pacificadora da Cidade do Rio de Janeiro Fevereiro de 2011

1. Contextualização das Unidades de Polícia Pacificadora (UPP) As Unidades de Polícia Pacificadora (UPP) foram criadas em 2008, por Decreto do Governador Sérgio Cabral Filho, com o objetivo de recuperar para o Estado o papel de agente punitivo único e legítimo em territórios sob o domínio de traficantes de drogas e de armas, devolvendo à população a segurança e tranquilidade nestes territórios. O restabelecimento da vigência da lei, democraticamente consagrada, é premissa para que se estabeleça um novo tipo de relação entre o Estado e as favelas, subordinada aos direitos e garantias fundamentais do cidadão. Nesse sentido, o Governo do Estado do Rio de Janeiro articulou as Secretarias de Segurança e de Assistência Social e Direitos Humanos para estabeleceram juntas as UPP, programa ousado e inédito, que pretende articular políticas públicas de segurança com ações de desenvolvimento socioeconômico e ambiental, no longo prazo. Já foram inauguradas treze UPP. A primeira no Morro Santa Marta, em Botafogo, em dezembro de 2008, a mais recente, no Morro dos Macacos, em Vila Isabel, em novembro de 2010. O IETS, em parceria com a FIRJAN e com a CNSeg 1, pesquisou as nove primeiras UPP 2. Quatro são na Zona Sul: Cantagalo e Pavão-Pavãozinho, Ladeira dos Tabajaras, Babilônia e Chapéu Mangueira e Santa Marta; duas na Zona Oeste: Batan e Cidade de Deus; e uma no Centro, Providência. Ao longo do segundo semestre de 2010, o esforço do Governo do Estado se concentrou na Zona Norte, onde seis unidades foram inauguradas: Borel; Formiga; Turano; Salgueiro; Macacos; e Andaraí. Essas novas UPP, contudo, abrangem, ao todo, vinte e nove favelas de porte variado, não mencionadas diretamente. No ano 2000, a região coberta abrigava cerca de 12.119 domicílios 3. 1 Confederação Nacional das Empresas de Seguros Gerais, Previdência Privada e Vida, Saúde Suplementar e Capitalização. 2 Com a FIRJAN: Cantagalo; Pavão-Pavãozinho; Ladeira dos Tabajaras; Providência; Cidade de Deus e Batan. Com a CNSeg: Santa Marta; Babilônia e Chapéu Mangueira. 3 Censo Demográfico 2000/IBGE. 2

Pelo menos duas medidas são consideradas essenciais para garantir o sucesso do programa de Unidades de Polícia Pacificadora do Governo do Estado do Rio de Janeiro. A primeira é a reforma da Polícia Militar. A iniciativa conta com uma parceria entre a Secretaria de Estado de Segurança Pública com o Programa Nacional de Segurança Pública com Cidadania (PRONASCI 4 ), do Ministério da Justiça, que concede bolsas para a formação de uma Polícia Comunitária, a partir do recrutamento de novo contingente de policiais. O objetivo é aproximar a polícia à população. A segunda é o levantamento de informações sobre a infraestrutura urbana e o perfil socioeconômico das favelas pacificadas, para compreender os territórios e atender às demandas com eficiência. Paralelamente ao combate ao poder armado em territórios empobrecidos da cidade do Rio de Janeiro, outras favelas vêm sendo ocupadas pela ordem policial sem a necessidade de instalação de uma UPP. Isso ocorre com a favela Morro Azul, localizada no Flamengo, Zona Sul. Após a morte do chefe do tráfico de drogas da favela, a polícia militar ocupou a área, obedecendo a um pedido dos próprios moradores da favela. Desse modo, pôde-se assegurar à região dessa favela um estado de segurança, capaz de prover aos seus moradores estabilidade, similar ao das favelas com UPP. 2. Justificativa Dentre as políticas públicas em vigor no estado, as UPP têm caráter especial. A segurança é o alicerce sobre o qual se constroem todas as outras dimensões constitutivas da qualidade de vida das cidades. Isto dito, a pacificação do território é essencial, mas não suficiente, para garantir bem-estar para cariocas e fluminenses. Desenvolvimento consistente e contínuo só é possível com a provisão para toda a população ao acesso digno, perene e democrático a uma ampla gama de bens e serviços de qualidade, como infraestrutura urbana, saúde e educação, entre muitos outros. Criadas as bases constitutivas à segurança e proteção as populações em favelas, o Governo do Estado pretende conferir a esses territórios a capacidade de prover aos seus cidadãos o acesso as mais variadas oportunidades econômicas, inserindo-os em um processo de desenvolvimento local e acesso aos bens básicos. 4 http://portal.mj.gov.br/pronasci 3

Dado que o processo de pacificação e desenvolvimento das favelas é ininterrupto, propõe-se a continuidade da pesquisa socioeconômica em domicílios das regiões ocupadas pelas UPP subsequentes, sendo elas: Turano; Borel; Macacos; Andaraí; Salgueiro; além do Morro Azul, visando identificar a demanda e exposição de bens e serviços nos territórios pacificados e contribuir para a elaboração de políticas públicas de desenvolvimento do Estado nas favelas do Rio de Janeiro. Ao mesmo tempo, espera-se colaborar com a inserção das favelas ao acesso de bens e serviços, tanto públicos (infraestrutura básica e bens públicos), quanto privados (TIC, crédito, seguros, bens de consumo, etc.) No Rio de Janeiro, algumas pesquisas domiciliares têm sido utilizadas como instrumentos na obtenção de dados locais. Ao longo dos seus 10 anos de atuação, o IETS desenvolve pesquisas e estudos, em parceria com um amplo espectro de instituições, do setor privado, público e da sociedade civil, nacionais e internacionais. Mais recentemente, em 2010, o IETS pesquisou mais de 12 mil domicílios em aglomerados urbanos de baixa renda na Região Metropolitana do Rio de Janeiro, entre eles as favelas pacificadas já mencionadas, no contexto de diferentes projetos firmados com duas secretarias do Governo do Estado, com a FIRJAN e com a CNSeg. Os levantamentos tiveram como fio condutor identificar e mensurar as demandas por serviços de utilidade pública e infraestrutura e o perfil socioeconômico da população. Entre outras características, investigou-se a inserção no mundo do trabalho, educação, saúde, rendimento, empreendedorismo, habitação, acesso a TIC, bancarização, cultura e vitimização. 3. Objetivo do Projeto Contribuir para a elaboração de políticas públicas do Estado nas favelas onde se localizam Unidades de Polícia Pacificadora, em complemento à pesquisa realizada com a FIRJAN em 2010, a partir da identificação e análise das necessidades e demandas por bens públicos desses territórios. 4

4. Metodologia A percepção dos indivíduos acerca de sua própria vida e do entorno é subsidio para tomada de decisões nos diferentes estágios de uma política pública ou projeto de governo. Por este motivo, nos últimos anos, tem se tornado recorrente a realização de pesquisas qualitativa e quantitativa dentro do mesmo ambiente de investigação em busca de soma de esforços positivos para a compreensão de determinada situação. A presente pesquisa socioeconômica, portanto, pretende comportar dois componentes de naturezas metodológicas distintas. No âmbito do atual projeto, o uso do método quantitativo prioriza a identificação das demandas e carências da população das favelas pacificadas por meio de indicadores econômicos. Já a pesquisa de caráter qualitativo visa descrever, decodificar e analisar a percepção de moradores dessas favelas quanto ao progresso da qualidade de vida após a instalação das UPP. A seguir, passa-se a descrever os componentes metodológicos utilizados. 4.1 Dimensão Quantitativa da Pesquisa A população de referência da pesquisa de campo são os moradores dos domicílios particulares permanentes das favelas beneficiadas pelas UPP do Borel; Formiga; Turano; Salgueiro; Macacos; Andaraí; e ainda o Morro Azul. Essas UPP abrangem, ao todo, vinte e nove favelas, listadas abaixo: 5

Territórios alcançados pelas UPP Favelas Andaraí Nova Divinéia Parque João Paulo II Juscelino Kubitschek Jamelão Morro Santo Agostinho Borda do Mato Rodo* Arrelia Borel Indiana Catrambi Morro do Cruz Casa Branca Bananal/Chácara do Céu Borel Morro Azul Morro Azul** Formiga Formiga Macacos Morro dos Macacos Pau da Bandeira/Parque Vila Isabel Alto Simão* Salgueiro Salgueiro Turano Chacrinha Matinha 117* Liberdade (Turano) /Pedacinho do Céu Paula Ramos Rodo Sumaré *Nota: Não foi possível identificar a localização dessas favelas utilizando as informações dos setores censitários do IBGE. A identificação dessas favelas será feita de forma criteriosa durante o processo de listagem ou contagem de domicílios. ** Morro Azul não possui UPP. A pesquisa de campo consiste na aplicação de dois questionários: a) O questionário longo, para levantar o perfil dos moradores domiciliados, com resultados representativos para o total da população dos territórios cobertos por cada uma das UPP, com margem de erro não superior a 5%; b) O questionário curto, que avaliará o acesso da população a infraestrutura urbana e serviços públicos, com resultados representativos por favela, em regiões de até 500 domicílios, ou por áreas de favelas formadas por agregações de setores censitários, para favelas acima de 500 domicílios. As margens de erro serão de aproximadamente 5%. 6

Na seleção dos setores censitários serão adotadas a divisão territorial e a malha setorial vigentes em 1 de agosto de 2000, utilizadas para a realização do Censo Demográfico 2000. 4.1.1 Cadastro das unidades domiciliares Utilizando como referência os setores censitários, utilizados no Censo Demográfico de 2000, das favelas que fazem parte das UPP a serem investigadas, podemos adotar duas abordagens para criar uma população alvo atualizada para o ano de 2011: a) a elaboração de uma listagem de domicílios; ou b) a contagem de domicílio. A listagem dos domicílios consiste em relacionar, ordenadamente, todas as unidades residenciais e não residências existentes em cada setor censitário das favelas pesquisadas. A listagem comporá o cadastro de unidades domiciliares de onde serão sorteadas aleatoriamente os domicílios que serão entrevistados com o questionário curto e longo. A contagem rápida de domicílios consiste em percorrer os setores censitários pertencentes a cada uma das favelas e contabilizando o número de domicílios para posterior sorteio dos números dos domicílios que serão escolhidos para serem entrevistados, ignorando a presença de unidades não residenciais (empreendimentos). 4.1.2 Seleção de domicílios Os domicílios particulares serão selecionados com equiprobabilidade em cada setor selecionado, respeitando um procedimento de amostragem inversa 5 (Haldane, 1945). Assim, a probabilidade condicional de inclusão do domicílio j, dada a seleção do setor i, representada por P( D ij / Si), é dada por: 5 Processo de amostragem sequencial, baseado em ordenação aleatória dos domicílios a visitar. Consiste em verificar quantas unidades precisam ser observadas, para que seja obtido o número prefixado de entrevistas realizadas. 7

vi P( Dij / Si ) * D i ni v i 1 1 onde, * D i setor i; é o número de domicílios particulares do setor obtido na contagem rápida feita no S i é o setor censitário i; v i é o número de domicílios particulares visitados no processo de busca das entrevistas; n i é o tamanho da amostra de domicílios no setor i. A subtração de uma unidade na segunda razão da probabilidade acima deriva da perda de um grau de liberdade decorrente da regra de parada, visto que o último entrevistado é também o último visitado. 4.1.3 Os Questionários A pesquisa aplicará os mesmos dois questionários domiciliares utilizados em 2010, com aperfeiçoamentos. O longo contempla as características socioeconômicas dos membros do domicílio; características de infraestrutura e bens públicos; características do imóvel; trabalho e renda; segurança; saúde; educação; acesso a serviços financeiros e características empresariais, quando o chefe do domicílio for trabalhador por conta própria ou empregador. O curto, mais conciso, investiga o acesso das famílias à infraestrutura urbana e serviços públicos. O questionário será respondido pelo adulto de referência do domicílio (de preferência, o chefe ou seu cônjuge), que é o responsável pela unidade domiciliar (ou pela família) ou aquele assim considerado pelos demais membros. 4.1.4 A Amostra 4.4.1. Primeira etapa da pesquisa Aplicação do Questionário Longo 8

Serão aplicados 2.404 questionários longos nos domicílios das favelas contempladas pelas UPP, selecionados por amostragem aleatória utilizando a lista de domicílios construída a partir da contagem de domicílios descrito no item 4.1.1. São questionários estruturados, de aproximadamente 12 páginas, a serem aplicados em seis UPP, distribuídos conforme tabela abaixo: Favelas Número de domicílios em 2000 Erro esperado Tamanho da amostra Fração amostral Formiga 1495 0,040 430 29% Salgueiro 910 0,040 362 40% Macacos 1822 0,040 363 20% Borel 3698 0,040 453 12% Turano 1835 0,040 346 19% Andaraí 2359 0,040 273 12% Morro Azul 332 0,040 178 54% Total 12451 0,017 2404 19% 4.4.2. Segunda etapa da pesquisa Aplicação do Questionário Curto O questionário curto, referente ao acesso das famílias à infraestrutura urbana e serviços públicos, será aplicado em 6.186 domicílios distribuídos nas vinte e nove favelas, das as regiões ocupadas pelas UPP. A Tabela a seguir lista as favelas ou áreas que terão resultados representativos em cada uma das UPP, para o questionário curto. As favelas de Borel, Casa Branca, Formiga, Macacos, Pau da Bandeira, Salgueiro e Liberdade, com mais de 500 domicílios, terão resultados representativos por áreas, sendo possível encontrar desigualdades entre essas áreas. 9

Questionário Curto UPP Favela/ Área Setores Censitários Domicílios Erro esperado Amostra (n) Andaraí Arrelia 4 247 0,05 150 Andaraí Borda do Mato 1 197 0,05 130 Andaraí Jamelão 3 344 0,05 181 Andaraí Juscelino Kubitschek 1 243 0,05 149 Andaraí Morro Santo Agostinho 4 500 0,05 217 Andaraí Nova Divinéia 1 405 0,05 197 Andaraí Parque João Paulo II 2 423 0,05 201 Borel Bananal/Chácara do Céu 1 102 0,05 81 Borel Borel1 3 698 0,05 248 Borel Borel2 2 571 0,05 230 Borel Borel3 2 575 0,05 230 Borel Casa Branca1 1 413 0,05 199 Borel Casa Branca2 1 196 0,05 130 Borel Indiana 1 224 0,05 141 Borel Dr Catrambi 2 609 0,05 236 Borel Morro do Cruz 1 310 0,05 172 Formiga Formiga1 3 472 0,05 212 Formiga Formiga2 2 486 0,05 215 Formiga Formiga3 2 537 0,05 224 Macacos Morros dos Macacos Area 1 5 288 0,05 165 Macacos Morros dos Macacos Area 2 5 291 0,05 166 Macacos Morros dos Macacos Area 3 5 335 0,05 179 Macacos Pau da Bandeira/Parque Vila Isabel1 2 462 0,05 210 Macacos Pau da Bandeira/Parque Vila Isabel2 1 446 0,05 206 Salgueiro Salgueiro1 2 224 0,05 141 Salgueiro Salgueiro2 3 341 0,05 181 Salgueiro Salgueiro3 3 345 0,05 182 Turano Chacrinha 1 247 0,05 150 Turano Liberdade1 2 339 0,05 180 Turano Liberdade2 3 474 0,05 212 Turano Matinha 5 297 0,05 168 Turano Paula Ramos 1 83 0,05 68 Turano Rodo 1 241 0,05 148 Turano Sumaré 1 154 0,05 110 Morro Azul Morro Azul 2 332 0,05 178 Total 35 79 12119 6186 Total de Questionários Curtos Total de Questionários Longos Total de Setores Censitários 6.186 2.404 79 10

4.1.5 A Coleta de Dados A primeira etapa será a contagem ou listagem dos domicílios. Esta etapa será realizada para que seja possível fazer estimativas para as favelas. Caso seja feita a listagem também poderão ser identificados os negócios presentes nas comunidades. A etapa seguinte será a aplicação dos questionários, curto e longo, nos domicílios selecionados para a amostra. Uma empresa especializada em pesquisa de campo aplicará o questionário com entrevistadores capacitados. Ela também será responsável pelo treinamento dos entrevistadores, impressão dos questionários, elaboração do manual do entrevistador, digitalização ou digitação dos questionários, construção do banco de dados, crítica do questionário e tabulação dos dados primários da pesquisa. Será entregue um banco de dados com as respostas dos questionários aplicados, em formato ASCII (TXT), Stata ou SPSS, arquivos com a descrição dos dados armazenados, dicionário para leitura dos dados e o plano tabular. Os resultados serão consolidados a fim de garantir a qualidade das informações coletadas para fins de análise. 4.2 Dimensão Qualitativa da Pesquisa O Mapa de Pobreza e Desigualdade, divulgado em 2003, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE) apresentou a medida de pobreza subjetiva. O conceito da subjetividade da pobreza está alicerçado na percepção das pessoas sobre suas condições de vida. De acordo com o Instituto, a percepção de bem-estar de um indivíduo é influenciada pela sua posição em relação aos demais indivíduos de um determinado grupo de referência. A pesquisa qualitativa, no contexto desta proposta, identificará a percepção de alguns moradores nas áreas investigadas acerca da melhoria da qualidade de vida e da oferta dos serviços públicos após a implantação das UPP. Serão realizados dois grupos focais por UPP, totalizando 12 grupos. Cada grupo será composto por aproximadamente 10 moradores das diferentes favelas que compõem cada UPP. 11

Cada grupo terá a duração de 90 a 120 minutos e será mediado por um profissional da área. A convocação dos potenciais participantes, realização e transcrição da atividade grupal serão realizadas por uma empresa especializada. A formação do grupo, elaboração do roteiro de perguntas e análise das informações levantadas serão realizadas pelo IETS. Com a realização dos grupos focais será possível relacionar os serviços oferecidos nestas favelas e a percepção dos residentes sobre eles. A partir do grupo também serão identificadas demandas não atendidas. 5 Produtos i. Relatório de campo preliminar; ii. Microdados, com dicionário; iii. Relatório descritivo, com plano tabular; iv. Relatório geral, com proposição de linhas de políticas públicas; v. Relatório por território alcançado pela UPP (Andaraí; Borel; Formiga; Macacos; Salgueiro; Turano; além do Morro Azul), síntese do relatório geral, com foco local. O produto será entregue em um seminário de apresentação de resultados realizado pelo IETS para a FIRJAN. 6 Cronograma A execução desse projeto está prevista para seis meses e algumas atividades serão desenvolvidas simultaneamente. O cronograma detalhado das atividades do projeto Pesquisa nas Favelas com Unidades de Polícia Pacificadora da Cidade do Rio de Janeiro será anexado ao contrato. Manuel Thedim Diretor Executivo 12

Anexo UPP I Questionário Longo Favela Número de Domicílios em 2000 Tamanho da amostra Batam 505 218 Ladeira dos Tabajaras 906 174 Morro do Cantagalo 785 278 Pavão Pavãozinho 1474 296 Cidade de Deus 12434 371 Morro da Providência 1049 281 Total (6 favelas) 17153 1618 Fonte: Censo Demográfico de 2000 UPP II Questionário Longo Número de domicílios em 2000 Favelas erro tamanho da esperado amostra Morro da Formiga 1495 0,040 430 29% Salgueiro 910 0,040 362 40% Morro dos Macacos 1822 0,040 363 20% Borel 3698 0,040 453 12% Turano 1835 0,040 346 19% Andaraí 2359 0,040 273 12% Morro Azul 332 0,040 178 54% Total 12451 2404 19% Fonte: Censo Demográfico de 2000 fração amostral 13

UPP I Questionário Curto Favela (representatividade) Número de Domicílios em 2000 Setores Censitarios existentes Setores Censitarios pesquisados área de ponderação Tamanho da amostra Batam 505 3 3 3 351 Ladeira dos Tabajaras 906 5 5 3 507 Morro do Cantagalo 785 4 4 3 462 Pavão Pavãozinho 1474 5 5 5 807 Cidade de Deus 12434 48 20 5 1655 Morro da Providência 1049 6 6 3 806 Total 17153 71 43 22 4589 Fonte: Censo Demográfico de 2000 *a pesquisa entrevistou moradores residente em 20 setores dos 48 existente na Cidade de Deus UPP II Questionário Curto UPP (número de favelas) Número de Domicílios em 2000 Setores censitários existentes Setores censitários pesquisados área de ponderação Tamanho da amostra Morro da Formiga (1 favela) 1495 7 7 3 650 Salgueiro (1 favela) 910 8 8 3 504 Morro dos Macacos (4 favelas) 1822 18 18 5 925 Borel (6 favelas) 3698 14 14 9 1666 Turano (8 favelas) 1835 14 14 7 1036 Andaraí (8 favelas) 2359 16 16 7 1227 Morro Azul 332 2 2 1 178 Total (29 favelas) 12451 79 79 35 6186 Fonte: Censo Demográfico de 2000 14