Caracterização física e química do Córrego do Jacarezinho- Paulínia/SP. Pedro Rodrigues Monteiro Universidade Estadual de Campinas, Campinas (SP). 1. INTRODUÇÃO E OBJETIVOS O homem é o grande agente transformador do ambiente natural e vem, pelo menos a doze milênios, promovendo adaptações nas mais diversas localizações climáticas, geográficas e topográficas. A maneira de gerir a utilização dos recursos é o fator que pode acentuar ou minimizar os impactos. Esse processo de gestão fundamenta-se em três variáveis: a diversidade dos recursos extraídos do ambiente natural, a velocidade de extração destes recursos que permite ou não a sua reposição, e a forma de disposição e tratamento dos seus resíduos e efluentes. A somatória dessas três variáveis e a maneira de geri-las definem o grau de impacto do ambiente urbano sobre o ambiente natural. As áreas verdes urbanas, à medida que se tornam mais raras e menores, pressionadas pelo crescimento das cidades, são cada vez mais valorizadas. Imóveis próximos ou com vistas para parques e praças são para poucos privilegiados e custam mais caro. O bem-estar transmitido pelo verde alia aspectos de um microclima mais agradável, presença de avifauna e beleza da paisagem (Bononi, 2004) Segundo Bononi (2004), as áreas rurais também sofrem pressões antrópica, seja pela expansão do meio urbano, seja pela atividade agrícola ou pela presença de rodovias e outras consequências da atividade humana. A valorização das áreas protegidas tem ocorrido pelo incremento do ecoturismo ou, mais atualmente, pelo enfoque mundial que vem sendo dado às mudanças climáticas globais e à necessidade de trabalhar com tecnologias mais limpas. Na maior parte dos casos, as áreas verdes protegidas representam fragmentos do que restaram do ecossistema, não existindo relação entre seus objetivos e as funções que desempenham para a vida humana. Nas últimas décadas o Brasil passou por um processo de desenvolvimento sem um planejamento adequado o que resultou, em alguns casos, em prejuízo para a gestão sustentável das futuras gerações com a sucessiva destruição dos recursos naturais, inclusive dos mananciais responsáveis pelo fornecimento de água, principalmente as nascentes e cursos d água. Este estudo tem como objetivos específicos o monitoramento da qualidade da água mediante alguns parâmetros físicos, químicos e biológicos de amostras de água superficial do córrego e a identificação dos fatores de degradação sofridas pelo córrego do Jacarezinho, mediante análise em campo. 2. MÉTODOS A metodologia proposta para a execução deste projeto apresenta duas partes distintas que estão intimamente ligadas e dialogam entre si. A primeira está estritamente relacionada ao levantamento de dados secundários a partir da revisão bibliográfica, documental e cartográfica sobre a área. Essa pesquisa foi efetuada em livros, teses, dissertações, artigos científicos, anais de
congresso, revistas especializadas, dentre outros. O principal procedimento utilizado para a execução é o trabalho de campo sendo este um recurso educacional de grande valor para o ensino, possibilitando assim a relação da prática com a teoria. A segunda parte baseia-se em levantamentos de dados primários, a partir de procedimentos de campo. Essa etapa vislumbra a caracterização física e química das nascentes. Além de ampliar as possibilidades de estudo, esses procedimentos permitem uma análise das especificidades existentes em cada nascente pertencente ao córrego do Jacarezinho. 2.1. Caracterização da área O Município de Paulínia localiza-se a Nordeste do Estado de São Paulo, a 118 Km da Capital, com área total de 154 Km² e faz divisa com os municípios de Cosmópolis, Americana, Sumaré, Holambra, Campinas, Jaguariúna e Nova Odessa. A população do município está estimada em 90.000 habitantes, com equilíbrio entre o sexo masculino e feminino, sendo que cerca de 90% dessa população vive em área urbana. A outorga pela exploração da água e esgoto da cidade é da Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (SABESP). Quase cem por cento da população é atendida com abastecimento de água, sendo coletado aproximadamente 85% do esgoto da cidade seja coletado e tratado junto à Estação de Tratamento de Esgotos de Paulínia, inaugurada no ano de 2007. Localizado na Depressão Periférica Paulista o município de Paulínia apresenta um relevo suave e ondulado, sem grandes oscilações nos valores de altitude, que apresenta média de 585 metros. As principais formas de relevo no município são caracterizadas como planícies fluviais que apresentam declividades menores que 2%; colinas amplas com declividades de 2 a 12%, com amplitudes de 15 a 130 metros e comprimento de rampas de 250 a 2.850 metros e relevo pouco dissecado; colinas pequenas, principalmente localizadas próximas da área do Minipantanal, que apresentam declividades entre 4 e 17%, amplitude de 25 a 105 metros e comprimento de rampas variando de 150 a 1.800 metros, geralmente, de relevo muito dissecado (BROLLO, 2001). A figura 1 a seguir demonstra a localização geográfica do município de Paulínia, na Região Metropolitana de Campinas.
Figura 1. Localização do Município de Paulínia-SP. O município de Paulínia se encontra próximo ao contato entre duas regiões geologicamente distintas, a Bacia Sedimentar do Paraná, a oeste, e o Embasamento Cristalino, a leste. O tipo de rocha predominante no município é sedimentar (arenitos, siltitos, ritmitos) com intrusões básicas de diabásio. Associados aos principais cursos de drenagem ocorrem também depósitos aluvionares (BROLLO, 2001). Conforme descrito por Bocarde (2003), os solos predominantes no município são do tipo latossolo (vermelho amarelo, vermelho escuro, roxo, húmico) e podzólico vermelho e amarelo, além de hidromórficos relacionados aos depósitos aluvionares. Os rios existentes na região pertencem à bacia hidrográfica do rio Piracicaba, cujo o rio Atibaia destaca-se, por cruzar o município na sua parte central, dividindo-o, praticamente, numa porção ao norte e outra ao sul, e o rio Jaguarí, que encontrase na divisa dos municípios de Paulínia e Cosmópolis, figura 2.
Figura 2. Modelo Digital de Elevação do Município de Paulínia. 2.2. Córrego do Jacarezinho Entende-se por nascente o afloramento do lençol freático, que vai dar origem a uma fonte de água de acúmulo (represa), ou cursos d água (regatos, ribeirões e rios). O córrego em questão é um córrego importante em termos gestão de bacias hidrográficas por ser afluente do Rio Jaguari, responsável pelo abastecimento público da cidade, e junto do Atibaia forma o Rio Piracicaba, responsável pelo abastecimento em Americana. Foram realizadas várias visitas a APP do Córrego do Jacarezinho na cidade de Paulínia. A figura 3 a seguir apresenta a localização da nascente e do córrego do Jacarezinho.
Figura 3. Vista geral do córrego do Jacarezinho-Paulinia/SP. Ao observar a figura é possível localizar as áreas industriais próximas a nascente. As atividades industriais figuram como importantes fontes de contaminação, principalmente em processos que empregam ou produzem substâncias perigosas e, consequentemente, geram resíduos perigosos. Neste aspecto, ocupam papel destacado na região a indústria química e petroquímica. O córrego do jacarezinho está localizado em uma área com predominância de Gleicossolos háplicos que são solos minerais não hidromórficos que apresentam horizonte A moderado seguido de horizonte B Glei, cuja coloração reflete condições de restrição de drenagem, possuem textura média argilosa e são característicos de relevos de várzeas. Também é homogêneo sendo de boa qualidade pela quantificação de húmus, o que facilita o desenvolvimento de plantações, figura 4. Além disso, a temperatura e a frequência das chuvas, a altitude e a composição do solo determinam as variações de vegetação que definem os diferentes ecossistemas que constituem o local, classificadas como vegetação nativa secundária típica de Floresta Estacional em Contato Savana conforme levantamento do Instituto Florestal em 2010.
2.3. Analises físico-químicas. Figura 4. Vista de uma das nascentes do Jacarezinho/Paulínia-SP. O córrego em questão é importante em termos gestão de bacias hidrográficas por ser afluente do Rio Jaguari, responsável pelo abastecimento público da cidade, e que junto com o Atibaia forma o Rio Piracicaba, responsável pelo abastecimento em Americana e de outros municípios à jusante. Foram realizadas diversas visitas à área preservação permanente do Córrego do Jacarezinho na cidade de Paulínia e coletadas amostras para posterior análise no laboratório de saneamento da Faculdade de Engenharia Civil. 3. RESULTADOS E DISCUSSÃO Os resultados obtidos dos parâmetros ph, temperatura,oxigênio dissolvido, cor, turbidez e condutividade foram comparados com as legislações brasileiras, CONAMA 430/11, Portaria 2914/11 e com o padrão citado pela Companhia Ambiental do Estado de São Paulo CETESB. 3.1. ph As amostras apresentaram ph entre 5,5 até 6,54, o que nos indica que em alguns pontos coletados as amostras não estavam com o ph dentro do parâmetro estabelecidos pela Portaria 2914/11 que estabelece uma faixa de ph 6 e 9.
Tabela 1. Análise físico-quimica das amostras Amostra Ponto(GPS) Coleta ph C OD (mg/) Cor ( mgpt/l) Turbidez (UNT) DQO (mg/l) Condutividade (ms/cm2) 1 A 183 Dentro do 6,23 25 6,4 165 26 0,023 66 córrego 2 A 185 Margem 6,54 25 0,6 135 3675 150 1 B 87 Dentro do 6,24 26 7,46 246 19,5 411 córrego 2 B 89 Margem 6,0 26 7,82 345 34,4 51 3 B 90 Queda d água 1 C 28 Primeira Nascente 2 C 29 Dentro do córrego 3 C 30 Segunda nascente 5,5 26 5,9 507 13,6 53 5,51 25 4,73 735 351 79 5,67 25 4,70 3370 1920 88 5,69 25 4,71 610 27,5 88 88 3.2. Oxigênio Dissolvido As amostras apresentaram oxigênio dissolvido na faixa de 0,6 até 7,82 mg/l, o que nos mostra uma grande variação na qualidade de água em um curto território. As águas poluídas por esgotos apresentam baixa concentração de oxigênio dissolvido, pois o mesmo é consumido no processo de decomposição da matéria orgânica. Por outro lado as águas limpas apresentam concentrações de oxigênio dissolvido mais elevadas, geralmente superiores a 5mg/L. 3.3. Cor As amostras apresentaram cor na faixa de 135 até 3370 mgpt/l. A cor é um dado que indica a presença substâncias dissolvidas na água. Assim como a turbidez, a cor é um parâmetro de aspecto estético de aceitação ou rejeição do produto. De acordo com a Portaria 2914/11, o valor máximo permissível de cor na água distribuída é de 15,0 mgpt/l 3.4. Turbidez As amostras apresentaram turbidez na faixa de 19,5 até 1920 UNT. A turbidez é um parâmetro de aspecto estético de aceitação ou rejeição do produto, e o valor máximo permitido de turbidez na água distribuída, pela Portaria 2914/11, é de 5,0 UNT. 3.5. Condutividade As amostras apresentaram condutividade na faixa de 51 até 411 ms/cm2. A condutividade depende das concentrações iônicas e da temperatura e indica a quantidade de sais existentes na coluna d água e, portanto, representa uma medida indireta da concentração de poluentes. Em geral,
níveis superiores a 100 U.S/cm indicam ambientes impactados, segundo os parâmetros estabelecidos pela Companhia Ambiental do Estado de São Paulo CETESB. 4. CONCLUSÕES Os dados apresentados nas tabelas anteriores demonstram que a área estudada encontra-se em processo de degradação ambiental, no entanto, para avaliar a qualidade seriam necessárias outras coletas em campo para comparar as variáveis e incluir outras variáveis de uso ambiental segundo a legislação. Como não há registros anteriores sobre o córrego não há como estabelecer se já ocorreu algum impacto nesta área. Em análise comparativa com os padrões dispostos na Resolução CONAMA n 357, de 17 de Março de 2005, sobre a Classificação dos Corpos de Água, o Córrego Jacarezinho apresenta padrões de qualidade satisfatórios e melhores do que os observados à nascente, fato este que comprova a observação erigida na discussão dos resultados demonstrados na tabela 1 referente aos efeitos pontuais das intervenções antrópicas sobre os recursos hídricos. 5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BOCARDE, F. Análise dos conflitos: uso e ocupação da terra e fragilidade de aqüíferos em Paulínia, SP, Brasil. Campinas: Instituto de Geociências/UNICAMP, 2003. (Dissertação de Mestrado). BONONI, Vera Lúcia Ramos. / Controle Ambiental de Áreas Verdes. In: Curso de gestão ambiental, pg 213. ed. Manole, 2004. BRASIL, 2012a. Resolução 357, de 17 de março de 2005, do Conselho Nacional do Meio Ambiente CONAMA. BRASIL, 2012b. Resolução 430, de 13 de maio de 2011, do Conselho Nacional do Meio Ambiente CONAMA. BRASIL, 2012c. Portaria 2914, de 12 de dezembro de 2011, do Ministério da Saúde. BROLLO, M. J. Metodologia automatizada para seleção de áreas para disposição de resíduos sólidos. Aplicação na Região Metropolitana de Campinas (SP). Vols. I e II. São Paulo: Faculdade de Saúde Pública/USP, 2001. (Tese de Doutorado). CETESB (São Paulo) Qualidade das águas superficiais no estado de São Paulo 2012 [recurso eletrônico] / CETESB. São Paulo: CETESB, 2013.