A escola de Frankfurt. Profª Karina Oliveira Bezerra

Documentos relacionados
A Teoria Crítica e as Teorias Críticas

Aula 22. A Escola de Frankfurt

Maria Luiza Costa

ESCOLA DE FRANKFURT, MEIOS DE COMUNICAÇÃO DE MASSA E A INDÚSTRIA CULTURAL. Julian Dutra Sociologia Abril de 2017

UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO

Plano de Ensino. EMENTA (parte permanente) PROGRAMA (parte variável)

IX SEMANA ACADÊMICA DE

34º Encontro Anual da ANPOCS. ST01: As fontes dos marxismos do Século XX

A sociologia crítica origem, desenvolvimento e conseqüências metodológicas. Ernesto Friedrich de Lima Amaral

FILOSOFIA PÓS-MODERNA Século XX

DESAFIOS DOS ESTUDOS CURRICULARES CRÍTICOS:

Capítulo 10. Modernidade x Pós - Modernidade. O mal estar científico e o mal estar social

Meios de comunicação de massa

Fábio Carneiro Rodrigues 1 GT 1 - Economia e política no capitalismo contemporâneo

A construção do conhecimento em Sociologia

O Trabalho e as Formações Sociais nos/na: Povos Primitivos. Idade Antiga. Idade Média. Idade Moderna. Tema da aula de hoje! Idade Contemporânea.

6º COLÓQUIO INTERNACIONAL MARX E ENGELS. GT 6 - Educação, capitalismo e socialismo.

Os Sociólogos Clássicos Pt.2

Ciências Humanas e suas Tecnologias Sociologia. Professor Elson Junior

ESCOLA DE FRANKFURT (E A INDÚSTRIA CULTURAL)

PALAVRAS-CHAVE: Teoria Crítica Materialismo Dialético Razão Instrumental Sujeito Histórico.

MÚSICA E INDÚSTRIA CULTURAL NA EDUCAÇÃO DO CORPO: A ESCOLA EM FOCO

1ª Fase PROVA OBJETIVA FILOSOFIA DO DIREITO

INDIVÍDUO E TRABALHO: CONTRIBUIÇÕES DE MARCUSE A ESSA RELAÇÃO.

Marxismo e Autogestão

Cultura e ideologia. Mesclando cultura e ideologia. Mesclando cultura e ideologia. Mesclando cultura e ideologia

RETOMANDO CONCEITOS FILOSOFIA E SERVIÇO SOCIAL: UMA VIA DE MÃO DUPLA O PROCESSO DE FILOSOFAR 11/10/2010 FUNDAMENTOS FILOSÓFICOS DO SERVIÇO SOCIAL

CURRÍCULO, FUNÇÃO SOCIAL DA ESCOLA E AS TENDÊNCIAS DE EDUCAÇÃO. India Mara Ap.Dalavia de Souza Holleben NRE PONTA GROSSA

Filosofia e Sociologia PROFESSOR: Alexandre Linares

Marx, Adorno e o Fetichismo da Mercadoria e da Música

Teorias do conhecimento. Profª Karina Oliveira Bezerra

Programa de Formação Sindical

Falseamento da realidade. Karl Marx IDEOLOGIA. Visão de mundo. Gramsci. Aparelhos ideológicos. Louis Althusser

ARON, Raymond. O Marxismo de Marx. 3. Ed. Tradução: Jorge Bastos. São Paulo: Arx, 2005.

O TRABALHO NA DIALÉTICA MARXISTA: UMA PERSPECTIVA ONTOLÓGICA.

UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO

A NECESSIDADE DO ESTUDO DO MARXISMO E DA COMPREENSÃO DA SOCIEDADE

HISTORICIDADE DA IDEOLOGIA: DE CONCEITO CRÍTICO A CONCEITO ADAPTADO

COLÉGIO SANTA TERESINHA R. Madre Beatriz 135 centro Tel. (33)

Sociologia 23/11/2015 PRODUÇÃO & MODELOS ECONÔMICOS TIPOS DE MODOS DE PRODUÇÃO

Paradigmas filosóficos e conhecimento da educação:

ASSOUN, Paul-Laurent. A Escola de Frankfurt. Trad. Helena Cardoso. São Paulo: Ática, 1991.

COLÉGIO CEC 24/08/2015. Conceito de Dialética. Professor: Carlos Eduardo Foganholo DIALÉTICA. Originalmente, é a arte do diálogo, da contraposição de

FILOSOFIA DO SÉCULO XIX

COLÉGIO SANTA TERESINHA R. Madre Beatriz 135 centro Tel. (33)

Projeto de Recuperação Semestral 2ª Série EM

LIBERDADE E POLÍTICA KARL MARX

IDEOLOGIA: UMA IDEIA OU UMA INFLUÊNCIA?

ADORNO E A ARTE-EDUCAÇÃO

A Questão da Transição. Baseado em Do Socialismo Utópico ao Socialismo Científico de Friedrich Engel.

Sociologia Alemã: Karl Marx e Max Weber. Prof. Robson Vieira 1º ano

A sociologia de Marx. A sociologia de Marx Monitor: Pedro Ribeiro 24/05/2014. Material de apoio para Monitoria

PROFESSOR: MAC DOWELL DISCIPLINA: SOCIOLOGIA CONTEÚDO: CULTURA E INDÚSTRIA CULTURAL AULA: 02

Professor Danilo Borges

- Foi ele quem introduziu um sistema para compreender a história da filosofia e do mundo,

Clóvis de Barros Filho

6 Cultura e ideologia

ESCOLA DE FRANKFURT E A TEORIA CRÍTICA DA SOCIEDADE

MATRIZ CURRICULAR - UFF

SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO ROSILDA SILVIO SOUZA

Comte, Marx, Durkheim e Weber

A INDÚSTRIA CULTURAL, SEU PODER E SEU DOMINIO SOBRE A CLASSE TRABALHADORA. Aurius Reginaldo de Freitas Gonçalves

CAPITULO 4 SOCIOLOGIA ALEMÃ: KARL MARX E MAX WEBER

Processo Seletivo/UFU - julho ª Prova Comum - PROVA TIPO 1 SOCIOLOGIA QUESTÃO 51

O viés marxista da Base Nacional Curricular Comun (BNCC)

Profª Karina Oliveira Bezerra Aula 05 Unidade 1, capítulo 5: p. 63 Unidade 8, capítulo 5: p. 455 Filme: Germinal

CRÍTICA DA CULTURA E SOCIEDADE: A TEORIA CRÍTICA COMO POSSÍVEL REFERÊNCIA PARA PESQUISA EDUCACIONAL

ROSA LUXEMBURGO: UMA MULHER NA LUTA PELA EDUCAÇÃO E EMANCIPAÇÃO DA CLASSE TRABALHADORA

ADORNO, Theodor W. Educação e emancipação. 2. ed. Tradução de Wolfgang Leo Maar. Rio de Janeiro: Paz e Terra, p.

O Marxismo de Karl Marx. Professor Cesar Alberto Ranquetat Júnior

16 Congresso de Iniciação Científica

Disciplina: EPISTEMOLOGIA DAS CIÊNCIAS DA EDUCAÇÃO

Positivismo de Augusto Comte, Colégio Ser Ensino Médio Introdução à Sociologia Prof. Marilia Coltri

A ÉTICA NA HISTÓRIA DO PENSAMENTO

Liberdade. O comportamento moral: O bem e o mal. A ética hoje O QUE É ÉTICA

A Modernidade e o Direito

SUMÁRIO INTRODUÇÃO 3 1 EPISTEMOLOGIA CRÍTICA 4 CONSIDERAÇÕES FINAIS 8 REFERÊNCIA 9

Sociologia I Prof.: Romero. - Definição - Contexto - A. Comte - Durkheim

1. Prof. Michael Löwy, a que o sr. credita, em sua história de vida, o direcionamento para a área de Filosofia?

MATEMÁTICA 1ª QUESTÃO. O domínio da função = A),4 4,+ B),0] [3,+ C), 4 4, 3] [0,+ D), 4 4,0] [3,+ E), 4 [3,+ 2ª QUESTÃO

EAD E FORMAÇÃO DE EDUCADORES: uma proposta dialógica.

Título: Herbert Marcuse - reflexões sobre a sociedade tecnológica.

22/08/2014. Tema 7: Ética e Filosofia. O Conceito de Ética. Profa. Ma. Mariciane Mores Nunes

Interbits SuperPro Web

FILOSOFIA PROVA 3 - CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS QUESTÃO: 04 RESPOSTA: 28 - NÍVEL MÉDIO QUESTÃO: 01 RESPOSTA: 06 - NÍVEL MÉDIO

UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO

1 Sobre a Filosofia... 1 A filosofia como tradição... 1 A filosofia como práxis... 4

A SOCIOLOGIA COMPREENSIVA DE MAX WEBER. Professora: Susana Rolim

sociologia do direito

Análise Social 3. Desigualdades Sociais ESCS Sistemas de desigualdades

PROFESSOR: MAC DOWELL DISCIPLINA: FILOSOFIA CONTEÚDO: REVISÃO AULA 01

TEORIAS DA COMUNICAÇÃO PERSPECTIVAS HISTÓRICAS 2016/1

AS NOVAS FACES DO CAPITALISMO NO SÉCULO XXI E O MOVIMENTO SINDICAL NO BRASIL

$30 *' 6#. #*> >( &/ -!#&' <!" <#"%# -#7#-! 85"##!6 +B-! #6 #0#= :1:13::: "#( ;:3"#2 3::<: :1:$3=:1

A Jaula de Aço, Max Weber e o marxismo weberiano

Quem criou o termo e desenvolveu a sociologia como ciência autônoma foi Auguste Comte. Sua obra inicia-se no início do século XIX e é central a noção

Immanuel Kant. Como é possível o conhecimento? O conhecimento é possível porque o homem possui faculdades que o tornam possíveis".

Transcrição:

A escola de Frankfurt Profª Karina Oliveira Bezerra

Uma teoria crítica contra a opressão social Escola de Frankfurt é o nome dado ao grupo de pensadores alemães do Instituto de Pesquisas Sociais de Frankfurt, fundado da década de 1920. Sua produção ficou conhecida como Teoria Crítica. Apesar de haver grandes diferenças de pensamento entre os autores da Escola, identificamos neles a preocupação comum de estudar variados aspectos da vida social, de modo a compor uma teoria crítica da sociedade como um todo. Para tanto, investigaram as relações existentes entre os campos da Economia, da Psicologia, da História e da Antropologia.

Influências: Marx e Freud Interesse na análise da sociedade de massa Os pontos de partida fundamentais de suas reflexões foram a teoria marxista ( na verdade uma leitura original do marxismo) e a teoria freudiana. Mas há também outras influências, como as de Hegel, Kant ou do sociólogo Max Weber. A Escola de Frankfurt concentrou seu interesse na análise da sociedade de massa, termo que busca caracterizar a sociedade atual, na qual o avanço tecnológico é colocado a serviço da reprodução da lógica capitalista, enfatizando o consumo e a diversão como formas de garantir o apaziguamento e a diluição dos problemas sociais.

Adorno e Horkheimer(1895-1973): razão instrumental Para os autores a razão iluminista, que visava a emancipação dos indivíduos e o progresso social, terminou por levar a uma maior dominação das pessoas em virtude justamente do desenvolvimento tecnológico-industrial. No início da obra Dialética do esclarecimento, T. W. Adorno e M. Horkheimer afirmam que nessa obra se propõem a compreender por que a humanidade, em vez de ingressar em um estado verdadeiramente humano, atingiu um novo gênero de barbárie. Eles denunciam a morte da razão crítica, asfixiada pelas relações de produção capitalista. Se denúncias semelhantes já haviam sido feitas no campo do marxismo, o que há de caracteristico nos filósofos da Escola de Frankfurt é a desesperança em relação à possibilidade de transformação dessa realidade social.

Adorno (1903-1969) e Horkheimer: massificação A desesperança se deveria ao diagnóstico da ausência de consciência revolucionária no proletariado, que teria sido assimilado, absorvido pelo sistema capitalista, seja pelas conquistas trabalhistas alcançadas, seja pela alienação de suas consciências, promovida pela indústria cultural. Indústria cultural é o termo para designar a indústria da diversão de massa, veiculada pela televisão, cinema, rádio, revistas, jornais, músicas, propagandas etc. Através da indústria cultural e da diversão se obteria a homogeneização dos comportamentos, a massificação das pessoas.

Benjamim(1892-1940): arte como instrumento de politização Ele foi mais otimista no que diz respeito à indústria cultural. Enquanto na visão de Adorno e Horkheimer, a cultura veiculada pelos meios de comunicação de massa não permite que as classes assalariadas assumam uma posição crítica em relação a realidade, Benjamim acredita que a arte dirigida às massas pode servir como instrumento de politização.

Marcuse (1898-1979): pelo princípio do prazer Em Eros e civilização, retomou o tema desenvolvido por Freud da necessidade de repressão dos instintos para a manutenção e o desenvolvimento da civilização. E discorda que é impossível uma civilização não-repressiva. Marcuse defende que as imposições repressivas são antes produtos de uma organização histórico-social específica do que uma necessidade natural e eterna das sociedades. Ele apontou que a possibilidade de uma civilização menos repressiva pode surgir do próprio desenvolvimento tecnológico, que criaria condições para a libertação em relação à obrigação do trabalho e a consequente ampliação do tempo livre. Se isso não ocorrer teremos o contrário, ou seja, a perpetuação do desenvolvimento tecnocientífico a serviço da dominação e da homogeneização.

Habermas(1929-: a teoria da ação comunicativa Habermas propõe como nova perspectiva, outro conceito de razão: a razão dialógica, que brota do diálogo e da argumentação entre os agentes interessados numa determinada situação. O conceito de verdade também se modifica em função dessa nova perspectiva. Habermas propõe o entendimento da verdade não mais como uma adequação do pensamento à realidade, mas como fruto da ação comunicativa; não como verdade subjetiva, mas como verdade intersubjetiva, que surge do diálogo entre os indivíduos. São as pessoas quando falam entre si, e não quando ouvem, leem ou assistem os meios de comunicação em massa, as que realmente fazem que a opinião mude.