Humidade nos Edifícios

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Transcrição:

Humidade nos Edifícios Níveis e Tipos de Intervenção a ter na Resolução de Anomalias Diagnóstico e Cuidados Ficha de Intervenção de Patologia Frequente André Filipe da Silva Beatriz Esteves Ramos Daniel Delgado Vaz Frederico Duarte Baptista João Fernandes Mota José Santos Ferreira Rui Monteiro Abreu Relatório do trabalho relativo à Unidade Curricular Projeto FEUP Supervisor: Ana Sofia Guimarães Monitor: Pedro Paupério OUTUBRO DE 2012

Índice Resumo...3 1) Introdução...4 2) Tipos de Humidade mais Frequentes...5 3) Diagnóstico...9 3.1) Humidade de Construção...10 3.2) Humidade do Terreno...11 3.3) Humidade de Precipitação...18 3.4) Humidade de Condensação...20 3.5) Humidade originada por fenómenos de Higroscopicidade...22 3.6) Humidade originada por Causas Fortuitas...24 4) Caso de Estudo...26 5) Conclusão...27 6) Referências Bibliográficas...28 2

Resumo Este relatório teve como principal foco a abordagem da humidade nos edifícios, mais especificamente, no seu diagnóstico, processos de resolução de problemas associados a cada tipo de humidade. E por fim, num estudo de caso e sua respectiva ficha de intervenção. O trabalho apresenta-se dividido em três partes, tratando cada uma delas, um dos temas referidos, sendo que a primeira explicita, de uma forma breve, cada tipo de humidade. Numa primeira parte são expostos, resumidamente, os diferentes seis tipos de humidade tratados no trabalho, com o objectivo de levar ao entendimento das principais diferenças entre eles. Na segunda parte são estudados os diferentes tipos de diagnóstico para cada tipo de humidade, e suas possíveis formas de resolução de problemas. É neste tópico que estará concentrada a maior parte da informação, dado ser este o tema principal do trabalho. Por último, será apresentado um estudo de caso escolhido pelos elementos do grupo na zona da cidade do Porto e sua possível ficha de intervenção, baseada nos conhecimentos adquiridos ao longo da elaboração do relatório. 3

Introdução A humidade é uma das principais causas da degradação dos edifícios. Esta pode ter origem de várias formas, sendo que a sua presença é na maior parte dos casos indesejada. O aparecimento da humidade não é um fenómeno raro, muito pelo contrário, o que desencadeou estudos sobre as melhores formas de combater este problema. Existem seis tipos de humidade mais frequentes associados a zonas, origens, ou até, climas, sendo a humidade de construção, humidade do terreno, humidade de precipitação, humidade de condensação, humidade originada por fenómenos de higroscopicidade e humidade originada por causas fortuitas. Neste relatório é apresentado, de forma resumida, cada uma delas, mas com especial atenção no diagnóstico de cada uma e possíveis formas de resolução. É apresentado também um estudo de caso com respectiva hipótese de intervenção. Como primeiro trabalho do curso de Mestrado Integrado em Engenharia Civil, permite uma primeira abordagem a um dos temas relacionados com o curso e um consequente início da familiarização com a área. Este trabalho foi realizado no âmbito da Unidade Curricular do Projeto FEUP. 4

2 - Tipos de Humidade mais Frequentes Humidade de construção A humidade de construção é tipo de humidade causado pela quantidade excedente de água que é utilizada na confecção da maioria dos materiais de construção (por exemplo: argamassas, betão, colocação de tijolos, etc.) e pela acumulação de água proveniente da precipitação enquanto o edifício está a ser construído. Tanto a água sobejante da confecção dos materiais utilizados para a construção do edifício como a ação direta da água da chuva sob o edifício ainda numa fase precoce da sua finalização, aumenta consideravelmente o seu teor em água, o que resulta, no final, numa acumulação excessiva na ordem dos milhares de litros. [2] A evaporação da água em excesso ocorrerá em três fases distintas: - Evaporação de água superficial dos materiais (mais rápida); - Evaporação de água existente nos poros de maiores dimensões (processo mais demorado, dado que a água contida terá de atravessar todos os poros sob a forma de vapor até chegar à superfície); Fig.1 - Aplicação de argamassa - Libertação de água contida nos poros de menores dimensões (processo muito lento, podendo demorar vários anos); Nota: Embora alguma água evapore rapidamente, outra quantidade substancial demora bastante tempo mais a fazê-lo. Fig.2 - Resultado da Precipitação em Edifício em Construção 5

Humidade do Terreno A humidade do terreno costuma manifestar-se nas paredes de pisos térreos ou nas caves das edificações, sendo isto, maioritariamente, devido aos valores elevados de capilaridade 1 dos materiais constituintes das paredes, fazendo, assim, com que a humidade migre através deles. Este tipo de humidade está associado à existência de zonas em que a parede está em contacto com o solo, à existência de materiais com elevada capilaridade nas paredes e à inexistência ou deficiente posicionamento de barreiras estanques nas paredes. [2] Manifesta-se geralmente nas fundações das paredes situadas acima do nível freático, e por vezes associadas a zonas com elevada capilaridade, e nas paredes implantadas em terrenos pouco permeáveis ou com pendentes virados para as paredes, dando origem a que as água da chuva ou provenientes de outras fontes, possam deslizar sobre o terreno, e desta forma, entrar em contacto com os materiais. [1] Alturas atingidas pela humidade do terreno em paredes interiores e exteriores, em função do tipo de alimentação: Fig.3 - Águas freáticas Fig.4 - Águas superficiais 1 Propriedade física que os fluídos têm de subir ou descer materiais, a partir da combinação da tensão superficial, coesão entre as moléculas do próprio fluído e a adesão do líquido ao material. 6

Humidade de Precipitação A humidade de precipitação ocorre sobretudo quando a água proveniente da chuva incide lateralmente nas paredes dos edifícios devido à ação do vento. Esta água, devido à sua energia cinética, pode infiltrar-se diretamente através de fissuras ou deficiências na estanquidade das paredes, ou por ação da gravidade quando formada uma cortina de água devido à ação continuada da chuva. [2] Os efeitos da humidade de precipitação manifestam-se geralmente sob a forma de manchas nos cantos do tecto bem como na zona circundante às caixilharias da janela sendo, por vezes, acompanhadas por bolores. Essas manchas tendem a desaparecer quando cessa os períodos de chuva, não sendo visíveis quando o tempo se apresenta seco. [2] Humidade de Condensação Sendo o ar constituído por uma mistura de gases e vapor de água, a quantidade máxima de vapor de água que o ar pode conter (limite de saturação) é variável em função da temperatura. A relação existente entre a quantidade de vapor de água que o ar contém, ou seja, a humidade absoluta, e o limite de saturação correspondente à temperatura a que se encontra, é designada por humidade relativa, sendo esta relação expressa em percentagem. Fig.5 - Humidade de Condensação Por outras palavras, uma dada massa de ar poderá conter tanto mais vapor de água, quanto maior for a temperatura, e inversamente, a diminuição da temperatura implica um acréscimo de humidade relativa até à saturação, a partir do qual o vapor de água se irá condensar. A humidade de condensação é verificada a partir do momento em que há uma diminuição da temperatura superficial das paredes, dando origem ao aumento de humidade relativa da camada de ar que com elas contacta, provocando assim condensações. [2] 7

Humidade Originada por Fenómenos de Higroscopicidade A grande maioria dos materiais de construção apresenta, na sua constituição, sais solúveis em água, se bem que a existência destes sais nas paredes não é particularmente grave. No entanto, caso as paredes sejam humidificadas, os sais dissolvidos irão ser transportados pelas migrações da água até às superfícies, onde cristalizarão. Como alguns destes sais são higroscópicos, ou seja, têm a propriedade de captarem a humidade do ar, dissolvem-se e voltam a cristalizar, com um aumento de volume significativo, quando a humidade relativa do ar é elevada ou quando é mais baixa, respectivamente. Assim, estes sais não só provocam o humedecimento das superfícies com as quais entram em contacto, como também provocam um processo de degradação das mesmas, resultante dos aumentos sucessivos de volume, em consequência da sucessão de ciclos de dissolução/cristalização. [2] Os sais higroscópicos que se encontram frequentemente associados à ocorrência de anomalias são os cloretos, os nitratos e os nitritos. Estas manifestações patológicas podem ocorrer em períodos de elevadas humidades relativas do ar, originando manchas, geralmente associadas a degradações dos revestimentos das paredes em locais com elevadas concentrações de sais. A semelhança entre este tipo de anomalias e as resultantes de fenómenos de condensação superficial, a nível de sintomas, torna difícil o processo de diagnóstico. Humidade Originada por Causas Fortuitas Caracterizam-se pela sua natureza pontual, por defeitos de construção, falhas de equipamentos ou de erros humanos, quer ativos, como os acidentes, quer passivos, como a falta de manutenção. [2] Devido às inúmeras situações que decorrem deste tipo de humidade, é difícil apontar todas as causas possíveis. Mas das causas mais frequentes destacam-se as roturas ou perdas de estanquicidade nas canalizações, designadamente nas instalações de distribuição e drenagem de água, as infiltrações nas paredes de águas provenientes de coberturas, como entupimentos de caleiras, algerozes ou tubos de queda, inundações acidentais, deficiências dos remates da cobertura com paredes emergentes e deficiências causadas por falta de manutenção ou erros de execução.[2] Sintomas São muito variáveis, mas no geral pode-se referir algumas características típicas: Natureza localizada das anomalias; Carácter permanente e de grande gravidade em situações de ruptura de canalizações; Associação com os períodos de precipitação. Em situações em que o débito de água seja escasso e favoreça a atuação dos mecanismos da capilaridade, ocorre migração da humidade para locais afastados da origem das anomalias tornando, assim, o trabalho de localização da fuga muito complexo. [2] 8

3 - Diagnóstico O método de diagnóstico deve ser completo e exaustivo, tentando incluir ao máximo as determinações e análises que as situações mais complexas podem necessitar, ou seja, deverá ser adaptado à situação em análise, e deverá estabelecer um equilíbrio entre o nível de rigor científico e a economia de tempo e meios. Para que seja possível fazer um bom diagnóstico, é necessário, de entre outras, ferramentas que possam possibilitar a medição da temperatura do ar, como termómetros de mercúrio, e a humidade relativa, medida com a ajuda de psicrómetros, podendo estes ser de roca ou de ventilação mecânica ou eléctrica. [2] A medição do teor de água nas paredes, para além de bom indicador do nível de humidade nos materiais, a partir da utilização de diversos processos e indicadores, permite uma melhor concisão do diagnóstico e, por sua vez, um melhor tratamento do problema. Destacam-se dentro dos processos não destrutivos a utilização de electrodos, ou seja, agulhas ou sondas de profundidade. Dentro dos processos destrutivos, existe a recolha de amostras da parede, possibilitando este, uma melhor precisão do teor de água. São utilizados, nomeadamente, indicadores de presenças de sais, a partir da verificação de sais solúveis na superfície das paredes. [2] - Análise Documental - Observação visual das anomalias - Análise não-destrutiva: Determinação das condições termo-higrométricas do ar; Determinação das temperaturas superficiais das paredes; Determinação da presença de sais solúveis; Determinação das zonas de humedecimento das paredes; - Análise Destrutiva: Recolha de amostras para determinação dos teores de água; Recolha de amostras para determinação de higroscopicidade; Recolha de amostras para ensaio de sais; Determinação dos teores de água nas amostras; Determinação da higroscopicidade dos materiais; Determinação da existência de sais solúveis; - Compilação e análise dos dados obtidos Fig.6 - Tabela de Método de Diagnóstico [2] 9

3.1 - Humidade de Construção A humidade de construção provoca muitas anomalias, sendo estas desencadeadas essencialmente pela evaporação da água e pelo facto de os materiais conterem um teor de água superior ao normal. Enquanto que a evaporação da água pode dar origem a expansões ou destaques dos materiais e condensações, o teor de água superior ao normal nos material origina manchas de humidade, e tal como as evaporações, provoca condensações. De uma forma geral, este tipo de humidades cessa ao fim de um período relativamente curto, dependendo da utilização do edifício e da região climática no qual este se situa. [2] As anomalias provocadas pela humidade de construção deverão ser erradicadas, removendo a água em excesso (contida nas paredes), ou seja, deverão ser criadas condições que proporcionem a secagem das paredes. A eficácia da remoção de água das paredes depende muito da quantidade de água presente no ar que está em contacto com a parede, isto é, quanto menor a humidade relativa do ar em contacto com as paredes, maior será a quantidade de vapor de água que sairá destas num intervalo de tempo menor. [2] São geralmente utilizadas três medidas com o objectivo de diminuir o contacto entre a humidade relativa do ar e as paredes, sendo estas: - Reforço da ventilação dos ambientes; - Aumento da temperatura do ar; - Diminuição da humidade relativa do ar. [2] Nota: Estas medidas podem ser executadas individualmente ou em conjunto. Serão executadas em conjunto se a sua junção conseguir ganhar mais eficácia do que a sua utilização individual. [2] O reforço da ventilação dos ambientes, sendo o método mais eficaz e económico, consiste na entrada de correntes de ar no local onde se encontram as paredes que se pretendem secar de modo a acelerar o processo de secagem destas. A execução desta medida é recomendada quando a humidade relativa da corrente de ar que entra é baixa e a temperatura do ambiente que a rodeia é relativamente alta. Quando ambos forem altos, a medida não deve ser executada. A temperatura exterior deve sempre ser mais alta que a temperatura interior para que esta medida seja eficaz. [2] O aumento da temperatura do ar deve ser utilizada em conjunto com o reforço da ventilação dos ambientes, pois, ao aumentar a temperatura do ar, a humidade relativa do mesmo diminui, logo, ao aproveitar as correntes de ar, ganha eficácia na secagem das paredes alvo. Podem ser usados aquecedores (quando a temperatura interior e exterior não são muito diferentes). Nota: não devem ser utilizados aquecedores que funcionem a gás butano porque a combustão deste gás provoca a libertação de grandes quantidades de vapor de água, o que aumenta a humidade relativa do ar, que é o que se quer evitar. [2] A diminuição da humidade relativa do ar é forçada utilizando desumidificadores (aparelhos que baixam o teor de vapor de água presente no ar), sendo o seu rendimento máximo quando utilizada em conjunto com o aumento da temperatura do ar. Esta medida é provavelmente a menos económica, mas uma das mais eficazes e rápidas. Note-se que a diminuição de humidade relativa do ar só é eficaz se o local que está a ser desumidificado estiver fechado. [2] 10

3.2 - Humidade do Terreno É caracterizada, regra geral, pelo aparecimento de manchas de humidade nas zonas das paredes junto ao solo, podendo haver casos onde ocupe toda a altura da parede, como é o caso das paredes enterradas. A maior parte das vezes, essas manchas vêm acompanhadas por eflorescências, criptoflorescências, bolores ou vegetação parasitária. [1] A) Zonas de Humedecimento A1) Paredes não-enterradas: Nas paredes não-enterradas, as zonas de humedecimento localizam-se junto ao solo com altura variável mas, em geral, constante ao longo da parede, com exceção de alguns casos de humidade provenientes de água superficiais, nos quais a altura pode sofrer variações consideráveis. [2] A2) Paredes enterradas Neste caso, as zonas de humedecimento variam com a altura das paredes, dependendo da profundidade a que estão enterradas. Estas zonas podem manifestar-se por toda a parede, caso a parede esteja completamente enterrada, ou apenas parcialmente, apresentado uma faixa até à altura a que esta está soterrada. [2] A3) Relação entre paredes interiores e exteriores Nos casos em que a humidade é proveniente de águas freáticas do terreno, a altura atingida pelas zonas de humedecimento é, regra geral, maior nas paredes interiores que nas exteriores, para paredes não-enterradas, e menor nas paredes interiores, quando comparadas às exteriores para paredes enterradas. [1] Quando a humidade é proveniente de águas superficiais do terreno, a altura das zonas de humedecimento é, em termos gerais, maior nas paredes exteriores que nas interiores. Nalguns casos, as zonas de humedecimento das paredes exteriores apresentam algumas diferenças em relação à altura, sendo esta devida à exposição das mesmas à fonte de água. [1] Estas diferenças derivam do débito de alimentação de água às paredes e das condições de secagem, ou seja, no que toca à alimentação de água, ela é aproximadamente constante quando provém de lençóis freáticos, variando quando esta é originária de águas superficiais. No que toca às condições de secagem, estas são mais favoráveis para as paredes exteriores do que para as interiores, caso estas não sejam enterradas, onde nesse caso, se verificará a situação inversa. [2] 11

A4) Evolução ao longo do tempo A evolução ao longo do tempo da altura das zonas de humedecimento nas paredes, pode fornecer informações importantes sobre a proveniência das águas do solo. A determinação das variações da altura pode ser efectuada recorrendo à utilização de equipamentos especiais, como os electrodos, ou até, recorrendo à simples observação da amplitude em altura de eventuais zonas de degradação existentes nas paredes. [2] A altura atingida pelas zonas de humedecimento nas paredes, depende apenas da fonte de alimentação de água. A altura poderá manter-se constante ou com variações reduzidas, caso a fonte de água também se mantenha constante ou ininterrupta. Estes casos são associados a água proveniente de lençóis freáticos. [2] Quando a fonte de alimentação não é constante, altura das manifestações varia consideravelmente. Estes fenómenos estão geralmente associados a águas superficiais provenientes de períodos de grande precipitação num curto espaço de tempo, como acontece nalgumas épocas do ano. [2] B) Teores de água B1) Paredes não enterradas Os teores de água decrescem à medida que a altura acima do nível do terreno aumenta. B2) Paredes enterradas Os teores de água apresentam-se aproximadamente constantes em função da altura e decrescem ligeiramente para cada nível, do interior da parede para a superfície. Caso a humidade seja proveniente de águas superficiais, os teores de água podem aumentar em função da altura do pavimento e diminuir do interior para a superfície da parede. Fig.7 - Variação dos teores de humidade de uma parede não-enterrada com humidade ascensional, de uma parede enterrada com humidade ascensional de origem freática e de uma parede enterrada com humidade ascensional de origem superficial, respectivamente. [2] 12

Soluções de reparação das anomalias As anomalias causadas pela humidade de terreno poderão ter diversas soluções, dependendo do tipo de construção em que ocorrem e dos objectivos que se pretendem atingir. A correção das situações patológicas provocadas pela humidade poderá passar pela seguinte ordem de tarefas: Eliminação das anomalias; Substituição dos elementos e materiais afectados; Ocultação das anomalias; Proteção contra os agentes agressivos; Eliminação das causas das anomalias; Reforço das características funcionais. [2] Nota: No caso específico das anomalias relativas à ação da humidade, é considerado como causa, a fonte de humedecimento, e não os fenómenos que poderão ser originados e conduzidos eles próprios ao agravamento dessas mesmas anomalias. 1) Eliminação das anomalias A eliminação das anomalias é o tipo de interação que permite resolver os problemas a nível temporário, não solucionando definitivamente o problema, pois, enquanto existirem as causas, a anomalias continuarão a manifestar-se, exceptuando apenas a humidade de construção, devido às suas próprias características. As medidas de eliminação de anomalias podem passar pela secagem das paredes humidificadas (ventilação, aumento de temperatura ou desumidificação dos ambientes), remoção de eflorescências e bolores e por fim, pela colagem ou fixação de revestimentos de paredes que se encontrem desolados. [1] 2) Substituição de elementos ou materiais afectados Sempre que os materiais ou elementos se apresentem num estado de difícil reparação ou de reparação não recomendável, é feita a sua substituição. Esta, pode resolver definitivamente os problemas, caso seja adaptada e forem tomadas as precauções necessárias antes do início da operação. No entanto, a resolução dos problemas através da substituição dos elementos afectados só será definitiva caso tenha havido, anteriormente, a eliminação das anomalias ou a criação de proteções contra os agentes agressores. [2] 13

Como exemplos mais frequentes de interações associadas à substituição de materiais ou elementos tem-se: Substituição total ou parcial de elementos de madeira que se encontrem apodrecidos; Substituição de revestimentos de paredes desagregados devido à formação de criptoflorescências; Substituição de paredes não-estruturais afectadas por problemas de humidade ascendente do terreno, ou que apresentem fortes concentrações de sais higroscópicos 2. [2] 3) Ocultação de anomalias Na grande maioria dos casos, a forma mais económica da resolução definitiva dos problemas, mesmo que as anomalias e as suas causas continuem a persistir, é a sua ocultação. A construção de panos de parede que ocultem as paredes afectadas ou a aplicação de revestimento de parede aderentes que recubram ou disfarcem as anomalias, são exemplos deste tipo de prática. 4) Proteção contra agentes agressivos Este método procura impedir a atuação direta dos agentes causadores de anomalias, com a particularidade de não os eliminar. Poderá ser mencionado como exemplo desta prática: a impermeabilização dos parâmetros exteriores de paredes enterradas sujeitas à ação da humidade do terreno; o corte e a criação de uma zona estanque em paredes com problemas de humidade ascendente por capilaridade (introdução de resinas epoxídicas, telas betuminosas, folhas de material plástico, chapas metálicas, etc.); a introdução, por ação da gravidade ou sob pressão, de produtos impermeabilizantes, destinados a criar uma zona estanque à ascensão de água por capilaridade; a impermeabilização dos parâmetros exteriores das paredes sujeitas à ação da água proveniente da chuva (criação de barreiras metálicas ou aplicação de revestimentos - pára-chuvas); aplicação de barreiras pára-vapor nos parâmetros interiores de paredes afectadas por condensações internas. [2] 5) Eliminação das causas das anomalias Este é considerado o tipo de intervenção mais eficaz apesar da sua implementação nem sempre ser possível. Como exemplo deste método poderá ser referido: A drenagem do terreno nas situações em que as anomalias em paredes de pisos térreos ou enterrados são originadas pela humidade do próprio; A correção das condições termo-higrométrica em ambientes onde se verifica a ocorrência de condensações; A melhoria do isolamento térmico das paredes exteriores em zonas onde o fenómeno da condensação se manifeste; O reforço da ventilação de espaços, o qual pode proporcionar a eliminação ou diminuição da ocorrência de condensações. [2] 2 Higroscopicidade ou Higroscopia é a capacidade que certos materiais possuem para absorver água. 14

6) Reforço das características funcionais Este método foca-se, essencialmente, na reparação das anomalias provocadas pela humidade de terreno, podendo estas ser: Soluções destinadas a impedir o acesso de água às paredes; Soluções destinadas a impedir a ascensão de água nas paredes; Soluções destinadas a retirar água em excesso das paredes; Soluções destinadas a ocultar anomalias. [2] 6.1) Soluções destinadas a impedir o acesso de água às paredes Dentro dos vários processos existentes, os mais utilizados são a secagem da fonte de alimentação de água, o tratamento superficial do terreno e a impermeabilização das paredes enterradas. A secagem da fonte de alimentação de água é um procedimento muito eficaz e económico, mas a sua aplicação apenas pode ser feita situações em que é possível identificar a fonte de alimentação de água. Este método é aplicado geralmente em roturas de colectores de água ou esgotos, com a criação de depósitos (recolha e afastamento das águas de edificação - como por exemplo, calhas). [2] O tratamento superficial do terreno consiste no nivelamento do mesmo, evitando, desta feita, escorrimentos para as edificações. São geralmente criadas em associação valas drenantes em zonas consideradas adequadas, e o terreno é impermeabilizado de forma a evitar futuras infiltrações da chuva. Quando este método é utilizado, ou seja, quando se impermeabilizam parâmetros de uma parede com excesso de água, impede-se, por outro lado, a evaporação de água através dessas zonas impermeabilizadas, o que faz com que, mesmo que a sua evaporação seja reduzida, contribui para o equilíbrio hídrico existente. De outro modo, mesmo que a situação fique resolvida temporariamente, não implica que a longo prazo, a anomalia não se agrave. Para que a solução seja eficaz, é necessária a aplicação de uma conduta de drenagem na base da parede para que a água em excesso se esgote. [2] 6.2) Soluções destinadas a impedir o acesso de águas às paredes A redução da secção absorvente A redução da secção absorvente consiste, essencialmente, em substituir uma zona da alvenaria afectada por tantos espaços vazios quanto possível, reduzindo substancialmente as zonas da paredes através das quais a água possa migrar. 15

Introdução de barreiras estanques através do corte da parede Este processo tem como exemplo, a substituição de elementos da alvenaria, e consiste na demolição de pequenos troços da parede, ao longo de uma taxa prédefinida, nos quais são inseridos materiais impermeáveis, com o objectivo de criar uma barreira física que impedirá uma futura ascensão de água. [2] Introdução de produtos impermeabilizantes Este tipo de solução deve a sua origem às dificuldades e aos custos associados da utilização dos outros dois processos acima referidos. O princípio deste processo consiste na execução de uma série de furos ao longo da parede a tratar, no quais serão aplicados produtos impermeabilizantes, de modo a impedir a ascensão de água pelos materiais onde foram feitos os reparos. [2] 6.3) Soluções destinadas a retirar a água em excesso das paredes Com o objectivo de retirar a água em excesso das paredes, é utilizado, primordialmente o método da electro-osmose, que consiste na introdução na parede de uma série de ondas condutoras ligadas entre si, que funcionam como ânodo, conectadas a uma tomada terra, funcionando esta como cátodo. Por outras palavras, a ascensão de água nas paredes origina a ocorrência de uma diferença de potencial elétrico entre o terreno e as paredes. No entanto, se essa diferença de potencial for anulada, ou se for introduzida uma tensão inversa, a ascensão de água deveria parar ou ser invertida. É neste principio que se baseia o método da electroosmose. [2] 6.4) Soluções destinadas a ocultar as anomalias A execução de uma nova parede pelo interior Este método consiste, como o próprio nome indica, numa execução de uma parede interior, afastada da já existente alguns centímetros, sem nunca entrar em contacto com ela. Este processo não deverá ser aplicado caso haja ascensões de água proveniente do solo, pois, ao fim de algum tempo notar-se-ia nova anomalia, e, não deverá entrar em contacto com a parede já existente, de modo a evitar que a água existente na outra parede passe para esta. De referir que o espaço entre as duas não deverá ser ventilado. [2] Aplicação de revestimentos de parede especiais Deste conjunto de soluções fazem parte todos os revestimentos de paredes que sejam impermeáveis ou que estejam associados a outros materiais que garantam estanquidade, como por exemplo, argamassas de reboco aditivadas, materiais sintéticos ou até pinturas estanques. No entanto, este tipo de soluções deverá ser evitado, pois, apesar de conseguirem resolver o problema a curto prazo, as anomalias não serão eliminadas e voltarão a aparecer a longo prazo. [2] 16

3.3 - Humidade de Precipitação As anomalias provocadas pela humidade de precipitação dividem-se genericamente em dois grupos: Anomalias provocadas por deficiências na estanquidade; Anomalias provocadas por fissurações nas paredes. [2] Anomalias provocadas por deficiências na estanquidade As soluções para diminuir os efeitos provocados pela humidade de precipitação passam muitas vezes pela correção das deficiências na estanquidade das paredes, geralmente provocadas por erros de projeto ou de execução. Algumas medidas apropriadas para corrigir essas deficiências são: A aplicação de novos revestimentos de parede; A aplicação de um hidrófugo de superfície nas paredes exteriores; A aplicação de um revestimento exterior curativo com base em ligantes sintéticos; A aplicação de um revestimento exterior de elementos descontínuos. [2] Quando os revestimentos das paredes se encontram em mau estado, ou quando não existam, a solução pode passar pela aplicação de novos revestimentos de parede que permitam assegurar uma melhor estanquidade à água da chuva. No caso do revestimento se encontrar deteriorado deve ser removido para a colocação do novo. Os revestimentos apropriados divergem de caso para caso bem como o seu preço. [2] Os hidrófugos de superfície são produtos impermeáveis à água mas permeáveis ao vapor de água. Através das suas propriedades de repelência de água, revestem os poros das paredes impedindo a infiltração da água da chuva. Estes produtos devem ser utilizados em paredes com fissuras de pequena dimensão e têm o inconveniente de terem uma durabilidade reduzida pelo que se deve proceder a nova aplicação quando recomendado pelo fabricante. Para além disso, a sua utilização em sítios onde ocorram eflorescências 3 deve ser ponderada, pois a sua utilização pode aumentar o risco de aparecimento de criptoflorescências 4. [2] A aplicação de um revestimento exterior curativo com base em ligantes sintéticos requer a aplicação de um certo número de camadas, geralmente efectuadas com rolo, escova ou trincha. No caso de a parede ter fissuras instáveis é comum aplicar um revestimento próprio. 3 Eflorescências são depósitos cristalinos de cor branca que surgem na superfície do revestimento, como piso (cerâmicos ou não), paredes e tetos, resultantes da migração e posterior evaporação de soluções aquosas salinizadas. 4 Criptoflorescências são formações salinas com a mesma causa e mecanismo que as eflorescências, mas que formam grandes cristais que se fixam no interior da própria parede ou estrutura, aumentando muito de volume, causando a desagregação dos materiais 17

A aplicação de um revestimento exterior de elementos descontínuos deve ser feita por profissionais especializados que saberão os procedimentos para uma aplicação correcta do revestimento. É de salientar o facto da utilização destas soluções alterar radicalmente o aspecto das superfícies sobre as quais são aplicadas, o que limita o seu uso. Anomalias provocadas por fissurações nas paredes Para reparar as infiltrações da água através de fissurações deve ter-se em conta o seu tamanho e grau de estabilidade. Em ambos os casos a solução passa pela aplicação de um revestimento curativo com base em ligantes sintéticos. Cada fissura requer, no entanto, um tratamento e um modo de aplicação do produto adequados. Anomalias em paredes duplas com caixa-de-ar Embora as medidas antes referidas possam ser aplicadas em paredes duplas com caixa-de-ar, estas paredes podem beneficiar de diferentes tipos de soluções, alguns certamente mais económicos. Uma dessas soluções passa pela recolha da água infiltrada através de uma caleira existente no interior da caixa-de-ar que conduz a água para o exterior sem que possa atingir o pano interior. Fig.10 - Degradação das alvenarias de fachada, devido a infiltração de águas da cobertura Fig.12 - Aplicação de resina numa fissura. Fig.11 - Degradação dos revestimentos interiores devido a infiltração de água de precipitação através dos tectos 18

3.4 - Humidade de Condensação As várias soluções podem ser divididas quanto à causa e condições específicas da situação: condensações superficiais, condensação superficial em edifícios com grande inércia térmica e condensações internas. Tem-se como primeira solução o reforço exterior do isolamento térmico cujas principais vantagens são a diminuição da possibilidade de ocorrer condensações internas, a possibilidade de corrigir diferenças de resistência térmica (pontes térmicas), o facto de a sua aplicação não afetar o espaço interior nem perturbar as suas dimensões e ainda um aumento da impermeabilidade à água da chuva. [2] Como desvantagens tem-se as dificuldades nos acabamentos devido ao aumento do volume da parede, problemas com a fiabilidade no que toca a agressões por contacto físico (choques, por exemplo), o aspecto exterior pode ser modificado e ainda o custo elevado desta solução. Existem duas hipóteses para este caso: isolante no interior da caixa de ar e revestido por placas intercaladas ou isolante com um revestimento fino pelo exterior. [2] O primeiro caso consiste em cobrir a parede a revestir de um material isolante, poliestireno expandido ou lã mineral, fixar uma estrutura de madeira à parede e prender as placas intercaladas à estrutura de madeira. A pintura exterior é opcional. [2] O segundo caso requere que a parede seja escovada para retirar impurezas. Neste caso colam-se as placas de isolante á parede, e é aplicada uma camada de base de revestimento e uma rede de fibra de vidro a esta e depois uma segunda camada a cobrir completamente a rede. São aplicadas proteções nos cantos e uma camada de revestimento de cor clara. Quando aplicado à base do paramento devem ser dadas três de mãos e serem usadas duas redes em vez de uma. [2] A vantagem da aplicação do revestimento pelo interior é a possibilidade de aumentar capacidade isolante da parede e alterar esta ao mesmo tempo. No que toca a desvantagens tem-se a diminuição do espaço interior que leva a que se torne mais difícil realizar os acabamentos em portas e janelas e a manutenção da operação por esta se realizar no interior. Para este caso existem duas hipóteses. [2] Primeiramente tem-se as placas de isolante coladas à parede interior às quais de segue uma estrutura de madeira que forma uma caixa de ar e à qual são aparafusadas placas de gesso cartonado a que se segue a aplicação de juntas e da pintura exterior. [2] Como alternativa, a seguir à colagem do isolante, poderão ser aplicadas placas de poliestireno expandido, para que se crie uma parede de tijolo furado ligeiramente afastada do isolante a fim de criar uma pequena caixa de ar. [2] 19

O terceiro caso consiste no reforço da capacidade isolante através do preenchimento da caixa de ar nas paredes duplas. As principais vantagens são a facilidade de aplicação assim como a possibilidade de manter o aspeto interior e exterior, assim como da área útil interior inalterados. Nas várias desvantagens pode dar-se o caso em que a parede pode não ter as condições necessárias: espessura da caixa de ar, estabilidade dos constituintes da parede ou ainda a impermeabilidade da mesma. Alguns materiais podem causar desconforto nos ocupantes do edifício. [2] Com o intuito de evitar este tipo de condensações pode ser aumentada a ventilação do espaço em questão. Deste aumento resulta uma diminuição da humidade relativa do ar que leva a uma menor probabilidade de formação de condensações na superfície. Para tal abrir uma janela pode ser o suficiente, no entanto, para outros casos pode ser necessário corrigir possíveis anomalias no sistema de ventilação, a instalação destes sistemas ou implementação de grelhas de ventilação na zona superior de cada divisão. [2] Deve ser dada especial atenção a espaços onde haja grande produção de vapor de água, como é o caso de cozinhas ou instalações sanitárias. O reforço da temperatura ambiente sem o aumento da humidade também é uma boa medida preventiva. Fig.13 - Exemplo do fenómeno de condensação No caso dos edifícios de grande inércia térmica, as condensações costumam ser temporárias e são facilmente solucionadas com o aumento da temperatura interior. Quando este aumento térmico não é possível por afetar o conforto dos ocupantes podese criar um efeito de pára-brisas através da instalação de resistências elétricas na parede. Quando existem condensações internas a parede pode sofrer de uma insuficiência no isolamento que deve ser eliminada ou no caso de esta não existir devem ser colocadas placas impermeáveis ao vapor de água ou, se possível, alterar a constituição da parede. [2] 20

3.5 - Humidade Originada por Fenómenos de Higroscopicidade Em geral, a ocorrência de fenómenos de higroscopicidade é resultante de outro tipo de anomalia já existente que tenha propiciado as condições de humedecimento necessárias para que os sais migrassem para as superfícies. Este tipo de humidade é por vezes confundido com o fenómeno de condensação superficial. [2] Os efeitos consequentes deste tipo de humidade destacam-se como sendo de difícil resolução, sempre que se pretenda manter o aspecto das superfícies afectadas. Em suma, existem quatro soluções que visam corrigir estas anomalias: Remoção dos sais higroscópicos; Substituição dos elementos afectados; Ocultação das anomalias; Controlo da humidade relativa do ar; [2] No que toca à remoção dos sais higroscópicos, esta é uma operação de extrema delicadeza, que se destina, em geral, apenas a superfícies que apresentem um valor artístico significativo, e que consiste na colocação de compressas de algodão ou de papel absorvente, embebidas em água destilada, que por ação da humidade, sobre as áreas afectadas, captam os sais, diminuindo desta forma a concentração dos mesmos nessas zonas. [2] Caso as paredes se encontrarem húmidas e se tal for permitido, pode aplicar-se para o mesmo fim, argamassas com baixo teor em ligantes aéreos (gesso e cal ordinária ou aérea) com as quais se efetuam rebocos provisórios destinados apenas a recolher os sais nas suas migrações para as superfícies. Estes rebocos devem ser substituídos quantas vezes for necessário. [2] Por outro lado, a substituição dos elementos afectados por outros novos constitui um tipo de intervenção muito eficaz, a partir do momento em que se tenham em conta dois principais cuidados: um deles assegurar que os novos materiais não fiquem em contacto com as zonas afectadas das superfícies existentes e o outro utilizar materiais de muito baixa permeabilidade. [2] Outra das técnicas de resolução destas anomalias é a ocultação das mesmas. Sendo uma operação pouco dispendiosa, a sua utilização não é viável em superfícies com valor artístico. Esta técnica leva a cabo a execução de novas paredes pelo interior, afastadas alguns centímetros das existentes, ou a aplicação de revestimentos de paredes especiais. No caso dos tipos de revestimentos, não existem informações fidedignas em relação aos seus devidos comportamentos, no entanto, podemos destacar um desses tipos de revestimentos por parecer suficientemente eficaz. Este, consiste em aplicar adjuvantes especiais de forma a originar porosidades muito elevadas, capazes de tornar a permeabilidade ao vapor de água elevada e assegurar que a cristalização dos sais, ao ocorrer nesses poros, não estrague os materiais. [2] 21

Por último tem-se o controlo da humidade relativa do ar. Como já referido anteriormente, os ciclos de dissolução/cristalização dos sais higroscópicos contribuem para a degradação das superfícies em que estes se encontrem, porém, se for permitido que a humidade relativa do ar em contacto com as zonas afectadas permaneça, ou sempre abaixo de 65% ou sempre acima de 75%, é possível fazer com que os sais higroscópicos permaneçam sempre cristalizados ou dissolvidos, respectivamente. Contudo, para tal, é necessária a utilização de dispositivos mecânicos de humidificação ou desumidificação que permitam controlar a humidade relativa do ar. [2] Quando se pretende manter a humidade relativa do ar em valores baixos numa zona junto a uma parede afectada, uma outra solução que pode ser eficaz é o aquecimento do pavimento. Neste caso, a utilização de sensores de humidade relativa, colocados junto às zonas afectadas, permitirá controlar a intensidade da corrente que passa nas resistências eléctricas do pavimento, assim como o respectivo tempo de funcionamento, o que se reflete posteriormente nas despesas que esta intervenção implica, uma vez que permite ao utilizador utilizar apenas a energia necessária para este processo. [2] Um dos casos em que foram verificados fenómenos de higroscopicidade deveu-se à extinção de um incêndio num prédio pela utilização de água salgada, o que levou, ao fim de algum tempo, à verificação deste tipo de humidade. Sal Eflorescente Sulfato de Sódio Sulfato de Potássio Sulfato de Cálcio Carbonato de Sódio Carbonato de Potássio Carbonato de Cálcio Cloreto de Sódio Cloreto de Potássio Óxido de Magnésio Possível fonte Reação Reboco + Tijolo Tijolo Tijolo Argamassa Argamassa Argamassa ou Betão Água do Mar Ácidos de Limpeza Tijolo Fig.14 - Sais correntemente encontrados nos materiais de construção 22

3.6 - Humidade Originada por Causas Fortuitas Devido à impossibilidade de analisar todas as situações possíveis referem-se 2 exemplos de aplicação do método de diagnóstico. Humidade numa parede devida a salpicos de água proveniente duma cobertura Decorre da ação de salpicos no pavimento de água resultante duma cobertura sem dispositivos de recolha de águas pluviais. A partir de uma simples visualização num dia de chuva consegue-se averiguar facilmente a causa das anomalias. As zonas de humedecimento só existem nos ornamentos exteriores das paredes e geralmente em períodos de ocorrência de precipitação. Os teores de água das paredes nas zonas humedecidas mantém-se constantes em altura, no exterior da parede, decrescendo há medida que se aprofunda para o interior da parede. Nas paredes não se verificam ocorrências de sais solúveis. [2] Fig.15 - Infiltração de água da chuva devido a problemas na cobertura, danificando o revestimento e pondo risco à instalação eléctrica Humidade numa parede devida à rotura dum tubo de queda de águas pluviais Para detectar este tipo de anomalias basta uma simples visualização das zonas afectadas, podendo ser complementado com uma análise do projeto de redes de água pluviais. As zonas de humedecimento existem apenas no local de rotura e em períodos de ocorrência de precipitação. Os teores de água nas zonas humedecidas diminuem há medida que se afasta do local de ruptura do tubo. [2] Fig.16 - Drenagem de um tubo de queda feita diretamente no solo 23

Medidas preventivas Limpeza de algerozes e caleiras no início de Outubro; Verificação do bom estado das redes de água, águas pluviais e saneamento; Trabalhos de manutenção periódicos; Verificação periódica de pontos singulares, susceptíveis de ocorrência de humidades. [2] Medidas corretivas O tipo de reparação a efetuar depende da causa que a origina, podendo esta ser bastante variada. Assim há que detectar e analisar primeiramente a causa para depois tratar da reparação. [2] Outras soluções de reparação: Em muitos outros casos, mesmo depois de as anomalias (provocadas pela humidade) terem sido corrigidas, dão origem a outros fenómenos, tais como o aparecimento de bolores e cogumelos. [2] Bolores As zonas afectadas devem ser tratadas da seguinte forma: Efetuar uma lavagem com uma solução a 10% de hipoclorito de sódio; Lavar com água; Secar (de forma perfeita); Aplicar um produto fungicida; Após três dias da aplicação do produto, realizar uma extração por escovagem; Por fim, fazer uma pintura geral ou aplicação de outro acabamento. [2] Se for um caso grave, as partes afectadas devem ser removidas e substituídas. Cogumelos Numa forma geral, os cogumelos surgem sobre materiais orgânicos, em locais húmidos, sombrios e pouco ventilados. Nestas situações, as zonas afectadas (principalmente alvenarias) devem ser tratadas da seguinte forma: Remover e queimar as madeiras das partes afectadas e das partes anexas; De forma a remover todos os elementos soltos, deve-se escovar as zonas afectadas; Desinfectar as alvenarias através da chama; Esterilizar as alvenarias com uma solução aquosa de 2 a 5% de pentaclorofenato de sódio; Efetuar a aplicação de madeiras novas (bem secas), tratadas com produtos fungicidas; Reconstruir as alvenarias nas partes afectadas; Por fim, melhorar a ventilação dos locais. [2] 24

4 - Caso de Estudo Componente: Revestimento/Pintura Tipo de Anomalia: Humidade de Condensação Descrição Sumária da Anomalia: Deteorização da camada exterior do tecto, localizado numa divisão de um prédio antigo, de construção qualitativamente fraca. Note-se que a anomalia é verificada numa das zonas mais frias da habitação. A deteorização apresenta-se mais acentuada nas zonas junto à janela, ou seja, na fronteira entre dois meios de diferentes humidades. É também visível a formação de bolores e fungos, proveniente da evolução da humidade em questão. Causas Possíveis: De entre as causas possíveis destacam-se a diferença de temperatura para outras zonas da habitação, e, entre esta e a zona exterior, com a qual faz fronteira, a não ventilação adequada do espaço em questão, a região climática onde a habitação se encontra exposta, e consequentemente, a ascensão do ar mais quente às zonas mais altas (tecto), que ao entrar em contacto com as paredes e zonas mais frias, condensa. A ocorrência repetida deste fenómenos está associado a um agravamento da anomalia, apresentando um produto final tal como é visto na imagem inferior. Consequências: Problemas de saúde devido à presença de fungos, nomeadamente problemas respiratórios e alergias e a deteorização progressiva do aspecto e a criação de condições propícias às infiltrações e à deteorização progressiva do revestimento. Estratégias de Reabilitação A estratégia de reabilitação passa pela substituição total ou parcial do revestimento afectado, que poderá receber revestimento exterior decorativo e protetor contínuo, e mais precauções futuras ao nível da ventilação do espaço. 25

Conclusão As principais conclusões que foi possível retirar do trabalho são: A humidade continua a ser uma das principais causas de degradação dos edifícios, podendo esta degradação ser mais ou menos demorada, consoante a origem e o tipo de humidade associado. No combate à humidade existem várias hipóteses e processos de resolução, dependendo estes, essencialmente, do tipo de humidade que se pretende tratar, do tipo de edifício no qual a humidade se manifesta, da zona ou região onde se encontra o edifício, dos meios possíveis para a resolução do problema dos custos económicos, da facilidade da operação e do tempo associado à resolução da anomalia e, também, do tempo de duração da intervenção. Antes de qualquer intervenção deve fazer-se um diagnóstico completo e exaustivo a todos os parâmetros relacionados com o edifício e a humidade que este assume. Os vários tipos de intervenção associados a cada tipo de humidade diferem não só em custos, como em tempo ou até na facilidade da operação, devendo, nalguns casos, ser feito um balanço entre todos os factores antes de ser tomada alguma decisão. 26

Referências Bibliográficas [1] Freitas, V.P. de, Torres, M.I.M., Guimarães, A.S. (2008) Humidade Ascensional, FEUP edições; ISBN. 978-972-752-101-2; 1ªedição, Porto [2] Henriques, Fernando M.A., Manuel Anjos, (1992) Ação da humidade em paredes: formas de manifestação, critérios de quantificação e análise de soluções de reparação, Lisboa: Laboratório Nacional de Engenharia Civil; Tese de Doutoramento, Instituto Superior Técnico da Universidade Técnica de Lisboa, 1992. 27