ANUÁRIO 2007. O Financiamento Especializado do Consumo em Portugal



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ANUÁRIO 2007 O Financiamento Especializado do Consumo em Portugal

AGRADECIMENTOS A Direcção da ASFAC agradece a colaboração de todos quantos, institucional ou individualmente, facilitaram o trabalho por nós desenvolvido ao longo de todo o ano, contribuindo, com o seu profissionalismo, para a missão bem-sucedida da Associação na defesa e representação dos interesses do Sector. Em particular, saudamos as nossas Associadas, que sempre colaboraram activamente em todas as solicitações que lhes foram dirigidas; o Banco de Portugal e demais autoridades da tutela; os Parceiros que cooperam com a ASFAC; além de todas as entidades e organismos que se comprometeram com a Associação das mais diversas formas. Este anuário 2007 reflecte o empenho e compromisso de todos. A Direcção da ASFAC Lisboa, Julho de 2008

Índice I. ASFAC Associação de Instituições de Crédito Especializado 7 1. A Associação de Instituições de Crédito Especializado 8 1.1. Missão e objectivos 8 1.2. Enquadramento institucional da actividade 10 1.3. Estrutura associativa 10 2. Principais projectos desenvolvidos em 2007 10 2.1 Representação dos interesses do sector 10 2.2 Acções de formação especializada 11 2.3 Estatísticas ASFAC e EUROFINAS 11 2.4 Promoção da notoriedade da actividade do sector 11 2.5 Colaboração com entidades do sector 13 2.6 Criação de grupo de trabalho para a prevenção da fraude 13 2.7 Simplex e Cartão do Cidadão 13 2.8 Estudo: A Relação dos Portugueses com o Dinheiro e o Crédito 13 2.9 Central de Responsabilidades de Crédito do Banco de Portugal 14 2.10 Promoção e defesa dos interesses da actividade das Associadas 14 2.11 Acções de educação financeira 15 3. Órgãos Sociais 16 II. O Crédito Especializado 19 1. O Financiamento das Aquisições a Crédito 20 1.1 A Evolução Histórica 20 1.2. Enquadramento Geral 21 1.3. Financiamento especializado do consumo como catalisador da economia mundial 22 1.3.1. Para as empresas 22 1.3.2. Para os particulares 25 1.4. Tipos de Crédito 23 a. Crédito Clássico 23 b. Crédito Pessoal 23 c. Crédito Stock 23 d. Crédito Rotativo (Revolving) 23 e. Emissão de Cartões de Crédito 23 f. Crédito Directo (Telefone e Internet) 24 g. Crédito Consolidado 24 2

Índice 2. A Locação Financeira 24 2.1. A Evolução Histórica 24 2.2. Enquadramento Geral 25 2.3. Sobre o Leasing 26 2.4 As vantagens do renting e do leasing operacional 26 3. A Cessão Financeira (Factoring) 27 3.1. A Evolução Histórica 27 3.2. Enquadramento Geral 27 3.3. As vantagens do Factoring 28 III. Enquadramento Geral 31 1. Evolução Legislativa do Crédito Especializado em Portugal 32 1.1 Evolução Geral 32 2. Instituições Bancárias 34 3. Instituições Financeiras de Crédito (IFIC) 35 4. Sociedades Financeiras para Aquisições a Crédito (SFAC) 36 5. Sociedades de Locação Financeira (Leasing) 37 6. Sociedades de Cessão Financeira (Factoring) 38 7. O Regime Jurídico dos Contratos 38 7.1. Dos contratos de crédito ao consumo 38 7.1.1. Enquadramento Geral 38 7.1.2. Âmbito de aplicação Delimitação negativa 39 7.1.3. Regras Jurídicas 39 a. Publicidade 39 b. Forma e Formalidades 40 c. Período de reflexão 40 d. Cumprimento antecipado 41 e. Venda de bens ou prestação de serviços por terceiro 41 f. Concessão de crédito em conta corrente 42 g. Concessão de crédito sob a forma de descoberto 42 3

Índice 7.2. Do Contrato de Locação Financeira (Leasing) 42 7.2.1. Forma e Formalidades 42 7.2.2. Prazo e Vigência 43 7.2.3. Posição jurídica do locador 43 7.2.4. Posição jurídica do locatário 43 7.2.5. Risco 44 7.2.6. Resolução do contrato especificidades 44 7.2.7. Regime Fiscal 44 a. IRC 44 b. IRS 45 c. IMT 45 d. IMI 45 e. IVA 45 7.3. Do Contrato de Cessão Financeira (Factoring) 46 7.3.1. Forma e Formalidades 46 7.3.2. Conteúdo 46 7.4 Dos contratos financeiros à distância 47 IV. A Supervisão do Sector: O Papel do Banco de Portugal 1. Considerações Prévias 52 2. As competências do Banco de Portugal 52 51 4 3. Normas Prudenciais a observar pelas associadas da ASFAC 52 3.1. Adequação de fundos próprios 53 3.2. Rácio de Solvabilidade 54 3.3. Controlo de riscos de crédito 54 3.4. Concentração 54 3.5. Reservas 55 3.6. Reservas obrigatórias 55 3.7. Provisões 55 3.8. Controlo interno de erros e fraudes 55 3.9 Deveres de prestar informação ao Banco de Portugal 56 3.9.1 Comunicação das responsabilidades por crédito concedido ou potencial 56 3.9.2 Prazos e forma de publicação das contas 56 3.9.3 Prestação de informações prudenciais 57 3.9.4 Emissão de obrigações hipotecárias 57 3.9.5 Informação sobre empresas incluídas no perímetro de consolidação para efeitos prudenciais 58 3.10 Cálculo de Juros 58

Índice 4. Normas Comportamentais a observar pelas Associadas da ASFAC 58 4.1 Regras sobre apreciação de reclamações 59 V. O Endividamento e a Gestão de Crédito 1. Rácio de Endividamento Vs. Taxa de Esforço 62 2. Gestão de Crédito 65 2.1. Pré-contencioso 65 2.2. Contencioso 65 2.2.1. Cobrança optimizada 65 2.2.2. Procedimento de injunção 66 a. Âmbito de aplicação 66 b. Procedimento 66 2.2.3. A Acção Declarativa Especial para cumprimento de obrigações pecuniárias emergentes de contratos 67 a. Âmbito de aplicação 67 b. Procedimento 67 c. Citação do devedor e contestação 67 2.2.4. A acção executiva para pagamento de dívida 67 a. Âmbito de aplicação 67 b. Procedimento 68 VI. A Actividade do Crédito Especializado em 2007 1. As Condicionantes Económicas de 2007 72 2. Os Principais Mercados Europeus 73 3. O Mercado Português em 2007 75 3.1. Indicadores do 1º Trimestre 75 3.2. Indicadores do 2º Trimestre 76 3.3. Indicadores do 3º Trimestre 78 3.4. Indicadores do 4º Trimestre e Análise do ano de 2007 79 4. Perspectivas para 2008 81 5. O Consumidor 81 61 71 VII. As Associadas da ASFAC VIII. As Aderentes da ASFAC 87 113 5

CAPÍTULO I A ASFAC A Associação de Instituições de Crédito Especializado

1. ASFAC - Associação de Instituições de Crédito Especializado 1. ASFAC - Associação de Instituições de Crédito Especializado 1.1 Missão e Objectivos A ASFAC Associação de Instituições de Crédito Especializado é, desde 1991, a associação representativa do sector do financiamento especializado do consumo. Nascida sob a designação de ASFAC Associação de Sociedades Financeiras para Aquisições a Crédito, adoptou em 2005 a actual denominação, procurando espelhar de modo mais claro e actual o seu âmbito de representatividade em relação à actividade desenvolvida pelas suas Associadas. A ASFAC é uma Associação sem fins lucrativos, regida pelas disposições estatuárias e pela lei aplicável, que tem como objectivos primordiais: Representação e defesa dos interesses das Associadas, perante as entidades da tutela e da supervisão o Ministério das Finanças e o Banco de Portugal bem como servindo de interlocutor perante quaisquer outras entidades públicas Comissão Nacional de Protecção de Dados, Direcção Geral do Consumidor, Instituto Nacional de Estatística, entre outras ou privadas associações congéneres como a Associação do Comércio Automóvel de Portugal (ACAP), Associação Portuguesa de Leasing e Factoring (APLF), Associação Portuguesa de Bancos (APB), Associação Portuguesa de Seguradoras (APS), nomeadamente; Promoção da notoriedade pública das Associadas e da sua actividade, no âmbito da qual se destaca a realização de uma conferência anual do sector, cujo tema em 2007 foi Tendências do Crédito Especializado ; Promoção do desenvolvimento e optimização da actividade das Associadas, designadamente através da realização do Programa de Formação Específico para o sector; Realização de acções que possam contribuir para o progresso das Associadas; Acompanhamento, análise e desenvolvimento de propostas no âmbito do enquadramento legal da actividade das suas Associadas, através de participação directa ou indirecta no processo legislativo; Estudo das questões de natureza económica, financeira e social, com interesse directo ou indirecto para as Associadas; Acompanhamento de todas as questões de natureza ética e deontológica relacionadas com o exercício da actividade das suas Associadas; Produção e divulgação de informação sobre a actividade e o sector, nomeadamente informação estatística, com interesse para as Associadas, Estado, entidades públicas ou privadas, nacionais ou estrangeiras. Neste ponto, é de registar a divulgação trimestral das estatísticas globais das Associadas, bem como a colaboração da ASFAC com 8

1. ASFAC - Associação de Instituições de Crédito Especializado a European Federation of Finance House Associations (EUROFINAS), a Federação Europeia, fundada em 1959 pelas associações nacionais da Áustria, Bélgica, França, Alemanha, Holanda, Suécia, Suíça e Reino Unido que conta, actualmente, com mais seis membros (Espanha, Finlândia, Irlanda, Itália, Noruega e República Checa), mantendo ainda relações com a Associação Profissional das Sociedades de Financiamento de Marrocos (na qualidade de membro correspondente) e com a Associação Americana de Serviços Financeiros; Gestão e exploração de bases de dados de informações relevantes para a actividade, compostas por informação produzida pelas Associadas ou terceiros, como é o caso da CREDINFORMAÇÕES; Cooperação com Associações, Federações ou outras entidades de natureza similar, com relevância para o desenvolvimento e aperfeiçoamento do exercício da actividade e do sector. Actualmente, a Associação conta com 30 membros, dos quais 24 são instituições de crédito especializadas no financiamento do consumo, que no seu conjunto constituem a quase totalidade do mercado. Os restantes seis membros são empresas que prestam serviços personalizados de apoio à actividade das empresas Associadas, nas áreas de consultoria e informação financeiras, seguros, compra e venda de carteiras de crédito, entre outras. O empenho colocado pela Associação na sua missão de representação do sector do financiamento especializado do consumo, e a relevância do seu contributo activo para a evolução do mercado de crédito especializado, em especial, nas suas vertentes económica e legislativa, permitiu que, em 1995, ao fim de apenas quatro anos de actividade, a Associação passasse a ser considerada um parceiro privilegiado do Governo, tendo sido especialmente consultada aquando da elaboração do actual regime jurídico das Sociedades Financeiras para Aquisições a Crédito (SFAC), aprovado pelo Decreto-Lei n.º 206/95, de 14 de Agosto. Assim, em virtude de o principal objectivo da ASFAC continuar a ser a promoção do mercado do crédito especializado em Portugal, resultante do protagonismo assumido pelas instituições de crédito como motor de desenvolvimento e dinamismo da economia nacional, a ASFAC tem assumido ela própria um papel preponderante, junto dos consumidores em particular e da sociedade em geral, como organismo de divulgação de informação e formação especializada. Nestes termos, actualmente a ASFAC não pode já ser apenas percepcionada como uma mera associação sectorial, restringida à representação das suas Associadas, antes devendo ser vista como uma verdadeira organização de interesse público, criadora de valor acrescentado tanto para as suas Associadas como para os consumidores em geral. 9

1. ASFAC - Associação de Instituições de Crédito Especializado 1.2 Enquadramento institucional da actividade Como já referido, a Associação realiza um importante trabalho sobre os condicionalismos legais e de mercado, representando os membros perante as autoridades financeiras, nomeadamente o Banco de Portugal e o Ministério das Finanças. Neste domínio, a ASFAC tem defendido a aplicação em Portugal de um quadro jurídico semelhante ao que rege a actividade das IFIC Instituições Financeiras de Crédito nos restantes países europeus, de modo a criar uma situação de igualdade a nível de funcionamento e evitar distorções da concorrência no mercado único europeu. No plano internacional, cabe à ASFAC a representação das Associadas junto da EUROFINAS European Federation of Finance House Associations (de que a ASFAC é membro de pleno direito). A este nível, a Associação participa, com as restantes parceiras europeias, nos vários comités especializados da EU- ROFINAS, acompanhando e analisando a evolução do mercado global e estabelecendo os compromissos considerados adequados à defesa dos interesses fundamentais das instituições de crédito especializado portuguesas. 1.3 Estrutura associativa Durante o ano de 2007 a ASFAC recebeu dois novos Membros: a Associada Crediplus, que formalizou a sua adesão em Janeiro de 2008, e a Aderente CPP Card Protection Plan. 2. Principais projectos desenvolvidos em 2007 2.1 Representação dos interesses do sector A) Comités de Direcção e Executivo da Eurofinas De modo a assegurar a defesa permanente dos interesses das suas Associadas e do sector nacional do crédito ao consumo e enquanto membro da Eurofinas European Federation of Finance House Associations, a ASFAC participou activamente nas reuniões dos comités de direcção e executivo. Nestas reuniões, acompanhou de perto a revisão da directiva de crédito ao consumo, o impacto do novo acordo de capitais Basileia II e a sua transposição para a legislação comunitária (Directiva Adequação de Fundos Próprios CAD III) e o Plano de Acção para os Serviços Financeiros. B) Comités Especializados A Associação participou, simultaneamente, nos comités especializados de estatísticas, assuntos jurídicos, relações externas e de análise económica, sempre com o intuito de garantir a defesa dos interesses do sector nacional junto das diversas instituições comunitárias, reportando às suas Associadas toda a informação relevante que aqui foi produzida. C) Conferência Anual Eurofinas/Leaseurope A ASFAC marcou ainda presença na Conferência 10

1. ASFAC - Associação de Instituições de Crédito Especializado Anual Eurofinas/Leaseurope, que teve lugar em Edimburgo, em Outubro de 2007. A Associação foi convidada a apresentar, no painel dedicado ao crédito ao consumo, os projectos que tem vindo a desenvolver no domínio da educação financeira, tendo-se feito representar pela secretária-geral. D) 7ª Conferência Internacional dos Serviços Financeiros Pela primeira vez, a ASFAC esteve presente na Conferência Internacional dos Serviços Financeiros, que concretizou este ano a sua 7ª edição sob o tema Regulação, Educação e Cooperação nos Serviços Financeiros Responsáveis O Conselho de Stakeholders. Nesta conferência organizada pela ECRC European Coalition for Responsible Credit, a ASFAC esteve representada pelo Presidente da Direcção. 2.2 Accções de Formação Especializada Formação pela Associação Portuguesa de Seguros (APS) Foi celebrado entre a ASFAC e a Associação Portuguesa de Seguros (APS) um protocolo para a realização de acções de formação, na área da mediação de seguros, ministradas pela APS para as Associadas da ASFAC. Este protocolo, que estará em vigor até Dezembro de 2009, prevê condições especiais de organização e preços. 2.3 Estatísticas ASFAC e EUROFINAS A ASFAC continuou a proceder à recolha, junto das suas Associadas, de dados estatísticos, tendo em vista a definição dos indicadores trimestrais e anuais da actividade do sector. Posteriormente, estes dados foram alvo de tratamento e divulgados junto dos órgãos de comunicação social. A nível europeu, a ASFAC manteve a participação no Comité de Estatísticas da EUROFINAS, mediante a troca e análise comparativa de informação estatística sobre os mercados de crédito ao consumo nacional e europeu. No âmbito desta actividade, a ASFAC divulgou às Associadas as estatísticas do sector europeu e as análises comparativas com a realidade nacional. 2.4 Promoção da notoriedade da actividade do sector Comunicação Social Tendo em vista o reforço da notoriedade do sector do financiamento especializado ao consumo, foram estabelecidos, de forma regular, contactos com os órgãos de comunicação social, nomeadamente com os especializados na área financeira. Além da resposta às diversas solicitações de informação e esclarecimentos por parte de jornalistas e da divulgação dos indicadores da actividade, foram promovidos vários trabalhos jornalísticos na área da educação financeira. Esta é, aliás, uma das áreas em que a ASFAC está fortemente empenhada: a Associação assume como objectivo a contribuição para o aumento dos níveis de literacia financeira dos portugueses. A este nível, manteve-se a parceria estabelecida em 2005 com a RTP2, no âmbito da qual a ASFAC participou em diversos programas (em estúdio ou através de reportagem), sempre subordinados aos 11

1. ASFAC - Associação de Instituições de Crédito Especializado temas do Crédito Especializado e da Educação Financeira. Os temas desenvolvidos foram: Como elaborar um plano de gastos - 5 Janeiro Quem vê, quer ver - 19 de Março Gerir Dívidas - 23 de Março Entregar o IRS depressa e bem - 20 Abril Fraudes: como proteger-se - 26 Junho Vale a pena investir num curso superior? - 17 Setembro Endividamento e Consumo - 25 Setembro Divórcios e partilhas - 21 Novembro Época de Natal Compras inteligentes - 26 Novembro Sempre que os temas estiveram relacionados com as áreas da educação financeira, crédito e gestão do dinheiro, a ASFAC foi convidada a participar, o que revela o peso que a Associação tem quando se trata destes assuntos. Na RTP2, a ASFAC participou ainda no programa Reclame dedicado ao tema do sobreendividamento, procurando assegurar a defesa do sector do crédito ao consumo muitas vezes indevidamente responsabilizado por esta realidade. Em simultâneo, a ASFAC, representada pela sua secretária-geral, manteve a rubrica quinzenal Contas à Vida, sobre gestão de finanças pessoais, no programa Essência da Sic Mulher. Após a extinção deste programa, em Julho de 2007, a ASFAC foi convidada a integrar a equipa do novo programa de fim de tarde - o Mundo das Mulheres, apresentado por Adelaide Sousa mediante uma nova rubrica ( Afinal de Contas ) dedicada à Educação Financeira e gestão financeira pessoal. Newsletter Legislativa No sentido de divulgar as principais novidades legislativas e regulamentares de relevância para o sector nacional do crédito, a ASFAC elabora, em colaboração com a Sociedade de Advogados Raposo & Bernardo, uma newsletter quinzenal para as Associadas. Esta newsletter contém também pareceres jurídicos sobre a regulamentação da actividade. Anuário O Financiamento Especializado do Consumo em Portugal A ASFAC elaborou o segundo Anuário do Financiamento Especializado do Consumo em Portugal. O documento foi distribuído pelas Associadas da ASFAC e entregue a alguns órgãos de comunicação social (em momentos-chave) e às diferentes entidades que de alguma forma estão relacionadas com a actividade deste sector. Colectânea de Legislação Em 2007, a ASFAC preparou o lançamento da colectânea de legislação do sector do crédito especializado, nomeadamente sobre crédito ao consumo, locação financeira e factoring, com remissões, jurisprudência e anotações para facilitar a sua consulta, interpretação e aplicação efectiva. Esta colectânea deverá ser editada pela Livraria Almedina em 2008. Colectânea de Jurisprudência À semelhança da Colectânea da Legislação, a ASFAC decidiu proceder também à elaboração 12

1. ASFAC - Associação de Instituições de Crédito Especializado da Colectânea da Jurisprudência aplicada ao sector, designadamente ao nível do crédito ao consumo, locação financeira e factoring. O objectivo é facilitar a consulta e a utilização da informação disponível sobre o tema. Seminário Tendências do Crédito Especializado A ASFAC organizou, em Novembro de 2007, com assinalável sucesso, o Seminário Tendências do Crédito Especializado. O objectivo deste seminário foi a análise conjunta, por parte de especialistas nacionais e internacionais e agentes do sector, das questões actuais com maior impacto no exercício da actividade. 2.5 Colaboração com Entidades do Sector Durante o ano de 2007, a ASFAC manteve a interacção e troca de informação com os consumidores e os seus representantes, nomeadamente com a Direcção Geral do Consumidor, a Secretaria de Estado do Comércio, Concorrência e Defesa do Consumidor, os Centros de Informação Autárquicos ao Consumidor, a DECO, no sentido de optimizar a comunicação entre as partes envolvidas e aumentar o grau de conhecimento dos clientes das Associadas sobre a forma como a actividade destas últimas é exercida. A ASFAC manteve o relacionamento institucional com o Observatório do Endividamento dos Consumidores em todas as questões relacionadas com o exercício da actividade de financiamento especializado: informação, regulamentação, etc. 2.6 Criação de Grupo de Trabalho para a Prevenção da Fraude No sentido de determinar as prioridades das Associadas em matéria de prevenção da fraude, a AS- FAC criou um grupo de trabalho. Em função das prioridades definidas, foram desenvolvidos contactos com o Ministério da Justiça, com o Banco de Portugal e, mais recentemente, com o Instituto dos Registos e Notariado, tendo por objectivo a celebração de um protocolo para acesso à data de emissão do Bilhete de Identidade (BI), o que permitirá diminuir os casos de fraude com base em BI furtados. Em simultâneo, a ASFAC estabeleceu contactos com a Polícia Judiciária, considerando a formação a ser ministrada aos departamentos de análise de risco sobre os procedimentos a adoptar para reforçar a prevenção da fraude. 2.7 Simplex e Cartão do Cidadão A ASFAC participou no processo de consulta do Simplex, programa de desburocratização e simplificação das medidas da Administração Pública. 2.8 Estudo: A relação dos portugueses com o dinheiro e o crédito A ASFAC definiu os objectivos para a realização do estudo A relação dos portugueses com o dinheiro e o crédito, concretizado no início de 2008. O objectivo principal foi analisar a relação dos portugueses com o dinheiro e os seus hábitos de consumo de crédito. 13

1. ASFAC - Associação de Instituições de Crédito Especializado 2.9 Central de Responsabilidades de Crédito do Banco de Portugal A ASFAC participou, activamente, nas reuniões do Grupo de Trabalho do Banco de Portugal, constituído em Fevereiro de 2002, do qual saiu no final de 2007 num novo modelo para a Central de Responsabilidades de Crédito. O novo modelo prevê, entre outros, o funcionamento on-line da CRC 24 horas por dia, sete dias por semana, tal como tem sido, desde sempre, defendido pela ASFAC, bem como a possibilidade de integração do acesso nos modelos de decisão das instituições de crédito. Segundo as previsões, o novo modelo entrará em fase de testes com os cinco maiores bancos nacionais em meados de 2008 e será implementado efectivamente até finais de 2008. 2.10 Promoção e defesa dos interesses da actividade das Associadas Código do Consumidor Regulamentação do sobreendividamento e regulação de publicidade O acompanhamento de eventuais desenvolvimentos no processo de consulta pública, iniciada em 2006, sobre o projecto do Código do Consumidor, foi uma preocupação da ASFAC ao longo de todo o ano de 2007. Em particular, a Associação procurou acompanhar todas as temáticas relacionadas com a regulamentação do sobreendividamento e publicidade, que deverão ser incluídas neste Código. Proposta de Revisão da Directiva do Crédito ao Consumo A ASFAC acompanhou e contribuiu directamente para o processo de lobby, conduzido a nível europeu pela Eurofinas, no sentido de assegurar a defesa dos interesses do sector nacional de crédito ao consumo. Basileia II Directiva de Adequação de Fundos Próprios Grupo de Trabalho A ASFAC participou directamente no processo de implementação de Basileia II, a propósito da Directiva sobre Adequação de Capitais (CADIII), revista, designadamente, através de inúmeras consultas feitas em 2007 pelo Banco de Portugal. Pró-Rata do IVA Depois de ter entregue, em Dezembro de 2006, o requerimento e o parecer conjunto com a APLF Associação Portuguesa de Leasing e Factoring, a ASFAC acompanhou o processo de pró-rata do IVA junto dos serviços competentes. Neste processo, o objectivo da ASFAC é impedir a interpretação actualista e esvaziada de fundamento legal, que foi feita em alguns casos pela Administração Fiscal, no que reporta ao cálculo do pró-rata do IVA. Mediação de Seguros Na sequência da aplicação do novo regime de mediação de seguros às Associadas da ASFAC, que oferecem seguros de protecção de crédito, a Associação acompanhou a regulamentação e interpretação da aplicação deste novo regime. Em Janeiro de 2007 a ASFAC obteve, por parte do Instituto de 14

1. ASFAC - Associação de Instituições de Crédito Especializado Seguros de Portugal, o compromisso de uma aplicação adequada à forma como é exercida a actividade das suas Associadas. Depósitos à Ordem dos Tribunais Judiciais Tanto no âmbito das alterações à acção executiva, como com o intuito de acompanhar os resultados de aplicação do novo regime - para garantir que o depósito feito até agora nos tribunais passe a ser, desde logo, transferido para as entidades credoras - a ASFAC continuou a promover junto do Ministério da Justiça a alteração legislativa do regime aplicável. Celeridade do Processo Executivo No âmbito do processo executivo e para aumentar a celeridade processual, a ASFAC apresentou várias propostas ao Ministério da Justiça que visavam assegurar a protecção dos interesses dos credores. 2.11 Acções de Educação Financeira Site ASFAC Salienta-se o elevado número de visitas (325.000) ao site da ASFAC durante o ano de 2007 dez vezes mais do que no ano anterior, em particular à área de educação financeira. Este dado permite-nos afirmar que a reformulação do site da ASFAC, em 2006, contribuiu para o aumento da visibilidade do sector como socialmente mais responsável. I Concurso de Guionismo ASFAC Dá luz aos teus argumentos Após a análise dos Guiões recebidos pela ASFAC, no seguimento do lançamento do concurso acima referido, em Março de 2007 foi divulgado o vencedor, através de um press release e de um anúncio no jornal Público. O premiado, Bruno Urbano, recebeu um cheque no valor de 2500 da Direcção da ASFAC. Parceria com a Câmara Municipal de Sintra A ASFAC desenvolveu uma acção de formação, dividida em duas sessões, para os técnicos da rede de acção social da Câmara Municipal de Sintra. O objectivo destas sessões foi munir de ferramentas de educação financeira os profissionais que lidam frequentemente com famílias em situações financeiras complicadas. Foram abordados temas como a importância do plano de gastos mensal, a reestruturação das finanças pessoais e a importância do estabelecimento de objectivos. No final do ano a Associação estabeleceu um protocolo com aquele município, com vista à realização de acções de formação na área da educação financeira. Parceria Ministério da Educação Dando continuidade ao trabalho efectuado no ano anterior, e após ter recebido o parecer do Ministério da Educação sobre as propostas efectuadas a esta entidade, a ASFAC deu início à reformulação dos seus projectos na área da educação financeira. De salientar que algumas das acções já estão numa fase avançada, estando prevista a sua concretização em 2008. 15

1. ASFAC - Associação de Instituições de Crédito Especializado Participação programas televisivos Tal como foi referido no ponto 2.4 deste capítulo, a ASFAC tem participado activamente em diversos programas de televisão, de diferentes canais, sempre com o objectivo de informar e formar os telespectadores sobre a gestão das finanças pessoais. 3. Órgãos Sociais Conselho Fiscal Finicrédito, IFIC, SA, representada pelo Dr. António Barreiros. Vogais: G.M.A.C., IFIC, SA, representada pelo Dr. Nuno Esteves e FCE Bank PLC Sucursal em Portugal, representada pela Dra. Maria Gabriel Sarmento. Mesa da Assembleia Geral Presidente: Caixa Leasing e Factoring, IFIC, SA, representada pelo Engº. António Figueiredo Guterres. Secretária da Mesa: Banco Santander Consumer Portugal EFC, SA, representado pela Sra. Dra. Sara Larcher. Direcção Presidente: Membro Honorário: Dr. António Menezes Rodrigues. Vice-Presidente: Fidis Retail, IFIC, SA, representada pelo Dr. Licínio Saraiva. Tesoureiro: Banco Mais, SA, representado pelo Dr. João Ibérico Nogueira. Vogais: Sofinloc, IFIC, SA, representada pelo Dr.Manuel Raposo e Banque PSA Finance Sucursal em Portugal, representada pelo Dr. Manuel Reis. 16

CAPÍTULO II O Crédito Especializado

2. O Crédito Especializado 1. O Financiamento das Aquisições a Crédito 1.1. A Evolução Histórica As primeiras práticas de concessão de crédito ao consumo, com ou sem juros, registaram-se na primeira década do século XIX em França, Inglaterra e Estados Unidos e, posteriormente, na Alemanha, onde os próprios comerciantes e mercadores promoviam a venda dos seus produtos a prestações sem juros, como forma de melhor os promover. Em 1850, a concessão de crédito ao consumo, nesta sua manifestação inicial, era já uma prática generalizada nos Estados Unidos entre os comerciantes que recorriam a ela como forma de financiamento do aprovisionamento doméstico dos novos colonos. No entanto, a partir do final do século XIX os banqueiros interessaram-se pelo segmento do financiamento ao consumo. Esta nova tendência começou por se revelar no pós-guerra na América do Norte, tendo-se, posteriormente, registado na generalidade dos países europeus, em especial no Reino Unido, França e Espanha, onde existia já uma grande tradição na concessão de crédito ao consumo. Em Portugal, só em 1989 foi legalmente consagrada a actividade do crédito ao consumo por duas instituições de crédito, com a criação, através do Decreto-Lei n.º 49/89, de 22 de Fevereiro, da figura jurídica das Sociedades Financeiras para Aquisições a Crédito SFAC, e a publicação em 1991 do Decreto- Lei n.º 359/91, de 21 de Setembro, que autonomiza o regime jurídico do Crédito ao Consumo, através da transposição da Directiva n.º 87/102/CE, relativa à aproximação das disposições legislativas, regulamentares e administrativas dos Estados-membros. As iniciativas legislativas que motivaram o enquadramento jurídico do crédito ao consumo fundam-se, em primeiro lugar, nas razões que justificam a modernização do sistema financeiro português, mas também como consequência das iniciativas comunitárias de harmonização do sistema financeiro português. Neste contexto, através da transposição do direito comunitário vigente, o legislador instituiu as regras mínimas de funcionamento do mercado de crédito ao consumo, com o objectivo de garantir a protecção dos direitos dos consumidores, principalmente em três vectores: i) Determinação dos requisitos do contrato de crédito ao consumo; ii) Instituição de regras relativas à efectiva prestação de informação completa e verdadeira, susceptível de contribuir para uma correcta formação da vontade de contratar; iii) Adopção da taxa anual de encargos efectiva global TAEG. Desde então, o sector tem vindo a manifestar um comportamento próprio de uma actividade emergente, apresentando de início taxas de crescimento elevadas, tendendo, posteriormente, a estabilizar num crescimento lento e sustentado, acompanhando a própria evolução da economia. É possível analisar os factores que têm contribuído para este crescimento do sector do crédito ao consumo se atentarmos na dicotomia procura oferta. 20

2. O Crédito Especializado Do lado da procura, os factores potenciadores de crescimento são a alteração dos padrões culturais e uma sustentada melhoria da qualidade de vida. Estes factores em conjugação com uma evolução natural da sociedade face ao consumo favoreceram a disponibilidade das famílias portuguesas para o consumo, respondendo positivamente à diversificação e expansão da oferta de crédito. O forte crescimento do crédito ao consumo na década de 90 encontrou a sua explicação em diversos factores, dos quais se destacam a maior disponibilidade e capacidade financeira dos agentes, dos consumidores e a integração do crédito na gestão do rendimento disponível das famílias. Em simultâneo, o desenvolvimento das estruturas informáticas e de métodos sofisticados de análise do risco veio possibilitar, por parte das instituições de crédito especializado, uma maior rapidez na avaliação dos riscos e na concessão do crédito, contribuindo, deste modo, para o crescimento e diversificação da oferta. Neste contexto, prevê-se que o crédito especializado continue a crescer de forma lenta e sustentada, particularmente fruto da facilidade de acesso ao mercado de capitais, em resultado da consolidação do mercado e da moeda única, do maior conhecimento dos consumidores e de criatividade na formulação de novos produtos para os diferentes segmentos de mercado. 1.2. Enquadramento geral De um modo geral, o financiamento de aquisições a crédito de bens ou serviços pode ser concedido por Bancos, Instituições Financeiras de Crédito (IFIC) e Sociedades Financeiras para Aquisições a Crédito (SFAC), quer a particulares, directamente ou na posição de adquirentes, quer a empresas, directamente ou na posição de fornecedores. Neste domínio, as instituições de crédito realizam uma intermediação entre compradores e vendedores, com o objectivo fundamental de facilitar a aquisição de bens e serviços. Ainda assim, a sua actuação pode pautar-se também pelo estabelecimento de relações comerciais directas, independentemente de quaisquer outras isto sucede com a concessão de crédito directamente a particulares ou a empresas. Importa ainda salientar que os graus de liberdade de actuação entre Bancos, IFIC e SFAC são diferentes entre si. Ao passo que as SFAC só podem exercer as suas competências no âmbito de operações de financiamento de consumo, i.e., da aquisição de determinados bens ou serviços, os Bancos e IFIC podem efectuar todo o tipo de financiamentos (crédito ao consumo, locação financeira, crédito pessoal e crédito hipotecário). Paralelamente, as instituições de crédito podem ainda proceder ao desconto e negociação de títulos de crédito. Bancos, SFAC e IFIC podem igualmente prestar garantias, antecipar fundos relativos a créditos que lhes sejam cedidos, emitir cartões de crédito, prestar serviços directamente relacionados com estas acções e realizar operações cambiais necessárias ao exercício da sua actividade. Mais uma vez, no caso das SFAC, o exercício de todas estas actividades fica limitado ao seu âmbito de actuação: operações de financiamento ao consumo. 21

2. O Crédito Especializado 1.3. Financiamento Especializado do Consumo como catalisador da economia mundial O financiamento especializado do consumo assumiu nos últimos anos um papel preponderante enquanto factor impulsionador do crescimento e dinamismo da economia mundial. Cada vez mais, as empresas, em particular as pequenas e médias, e os profissionais liberais, têm necessidades crescentes de crédito, conexas com a necessidade imediata de capital, rapidez de resposta, prazos de liquidação e destino do financiamento. A este nível, o financiamento tradicional nem sempre é capaz de responder eficazmente às necessidades deste tipo de clientes, que frequentemente percepcionam as instituições de crédito especializado como as melhores opções, dado que estas utilizam fórmulas de financiamento muitos mais adequadas às suas necessidades específicas e imediatas. Com a especialização do crédito, os agentes financeiros têm procurado aprofundar as técnicas de gestão e desenvolver outras vantagens para poderem responder à expansão do crédito e concorrer num mercado crescentemente competitivo. A rapidez, rigor e segurança na avaliação dos riscos e na concessão do crédito compatível com a necessidade da vida empresarial e profissional dos clientes é a sua característica distintiva. Neste contexto, os agentes financeiros têm vindo a apostar: i. No aperfeiçoamento da técnica de scoring na análise do risco de crédito ii. No recurso intensivo às novas tecnologias de informação iii. No aperfeiçoamento e na agilização do processo de avaliação e de aprovação do crédito Assim, a principal característica que explica a crescente adesão quer das empresas, quer dos particulares, a este tipo de instituições de crédito prende-se não só com a rapidez de resposta, mas principalmente com a adaptação da gestão do crédito a cada cliente. Nos últimos anos, a percentagem de bens adquiridos a crédito tem progredido, e as instituições de crédito especializadas constituem uma verdadeira força no mercado financeiro, ao serviço de todos aqueles que pretendem melhorar as condições do seu negócio ou usufruir de uma melhor qualidade de vida. 1.3.1. Para as empresas Como foi referido anteriormente, as instituições de crédito especializado cada vez mais oferecem soluções e serviços que facilitam a decisão dos profissionais e empresários, disponibilizando os meios necessários ao reequipamento ou modernização dos seus negócios e, consequentemente, ao seu desenvolvimento e competitividade. Estas instituições colaboram e contribuem para o sucesso empresarial e, em simultâneo, anulam os riscos financeiros das habituais facilidades de pagamento disponibilizadas pela generalidade dos comerciantes. Na concessão de crédito para financiamento do stock das empresas, as instituições de crédito exercem uma dupla função: ao facilitar a obtenção de stock 22

2. O Crédito Especializado aos fornecedores, beneficiam o consumidor final, dado que a articulação entre os fornecedores e estas instituições de crédito favorece as condições de obtenção do bem ou serviço em questão. 1.3.2. Para os particulares Ao nível dos particulares, as instituições de crédito especializado proporcionam formas alternativas de financiamento, o que permite aos comerciantes oferecer boas condições para a venda de produtos e serviços aos seus clientes, com maior flexibilidade nas propostas de financiamento e maior rapidez na concessão de crédito, facilitando todo o processo de aquisição do produto. 1.4. Tipos de Crédito a. Crédito clássico O crédito clássico é um tipo de crédito associado ao financiamento da aquisição de bens ou de serviços por um consumidor final, e cuja liquidação tem um plano de amortização rígido e pré-definido. Normalmente concedido a particulares, empresários em nome individual e empresas, os bens financiados podem ser meios de transporte (veículos de passageiros novos e usados), equipamentos para o lar (mobílias, ar condicionado, electrodomésticos, etc.), ou outro tipo de equipamentos, como barcos, roulottes, auto-caravanas, etc. b. Crédito Pessoal Ao contrário do crédito clássico, o crédito pessoal é um tipo de crédito que pode ser utilizado pelo consumidor para qualquer fim, por um período fixo, sem que seja necessário afectar a concessão de crédito à aquisição de um bem ou serviço. Este tipo de crédito é um mútuo puro, sem quaisquer restrições quanto à finalidade do crédito a conceder. Porém, atendendo ao regime jurídico limitativo das SFAC, só os Bancos e as IFIC estão autorizados a conceder crédito pessoal. c. Crédito Stock O crédito stock ou a fornecedores, destina-se ao financiamento de bens cuja aquisição tenha por objectivo a sua revenda, seja qual for o sector de actividade do retalhista. d. Crédito Rotativo (Revolving) O crédito rotativo (ou revolving) é um tipo de crédito em conta corrente, que, tal como o crédito pessoal, não é afecto à compra de um determinado bem ou serviço. Distingue-se do crédito pessoal por não ter um prazo nem forma de amortização de dívida fixos. Este tipo de crédito tem na sua base um plano flexível de amortização da dívida e um plafond de crédito (montante de crédito disponibilizado antes da aquisição do bem ou serviço), que poderá ou não ser totalmente utilizado. Na prática, trata-se de um sistema de crédito em que o capital utilizado é novamente disponibilizado. Os produtos mais utilizados neste tipo de crédito são os cartões de crédito e a abertura de crédito em conta corrente. e. Emissão de Cartões de Crédito Entende-se por cartão de crédito o meio de garantia de cumprimento de obrigações, emitido por uma 23

2. O Crédito Especializado instituição de crédito ou por uma sociedade financeira, que possibilite ao seu detentor a utilização de crédito outorgado pela emitente, em especial para a aquisição de bens ou de serviços, sejam eles de que natureza forem. O cartão pode ser utilizado para levantamento de dinheiro a crédito (cash advance) e para a aquisição de bens e serviços. No primeiro caso, serão devidos juros a partir da data de emissão do extracto que inclui os levantamentos e, no segundo caso, só quando os montantes não são liquidados até ao limite do período de graça, prazo a acordar entre a entidade mutuante e o mutuário. No âmbito do crédito especializado, o cartão de crédito funciona como forma de concessão de crédito rotativo (revolving). f. Crédito Directo (Telefone e Internet) Os sistemas de crédito directo diferenciam-se dos restantes pelo facto de a sua contratação se desenvolver, predominantemente, através de contacto telefónico ou via internet. Ao contactar a instituição de crédito, o cliente procede a uma pré-adesão. Posteriormente, deverá formalizar o contrato através do envio dos seus dados pessoais, para que tenha lugar a análise e a consequente aprovação do crédito, comprovada que seja a capacidade financeira do consumidor. Após a aprovação, cliente e instituição de crédito celebram um contrato que oficializa o acordo. g. Crédito Consolidado O crédito consolidado é um sistema de incorporação de todos os créditos do cliente num único crédito hipotecário, o que significa que o cliente terá de prestar uma garantia real. Este sistema permite ao cliente que possui múltiplos créditos de diferentes tipos juntá-los num único crédito. Deste modo, passamos de uma situação de detenção de vários créditos de curto prazo para a manutenção de um único crédito, com um prazo superior e com melhores condições dada a existência de garantias reais. Em consequência, o cliente passa a pagar uma só prestação, que será sempre inferior ao somatório de cada uma das prestações individuais. Deste modo, os encargos mensais ficarão bastante reduzidos, facilitando, naturalmente, a vida do mutuário 2. A Locação Financeira 2.1. A Evolução Histórica Os antecedentes da locação financeira remontam à Antiguidade, no entanto, no modelo que hoje conhecemos ela manifesta-se pela primeira vez no segundo quartel do século XIX, nos Estados Unidos. A primeira grande experiência em termos de leasing deve-se à Bell Telephone Company que optou por alugar os seus telefones, ao invés de os vender, como forma de dar maior implantação aos seus produtos. A iniciativa foi de tal modo bem sucedida que na sua sequência surgiram sociedades financeiras especializadas apenas na sua prática. Na Europa, a locação financeira começa por manifestar-se no pós-guerra, mais concretamente em 1960 (Inglaterra) e em 1961 (França e Itália), período da fundação das primeiras sociedades europeias de leasing. Após a sua implantação, o leasing expandiu- 24

2. O Crédito Especializado se muito rapidamente na Europa, fruto de falta da mão-de-obra com a explosão salarial e industrial, as empresas começaram a investir fortemente em maquinaria e equipamento diverso. Em tal cenário, a locação financeira apresentou-se como um sistema particularmente adequado para a aquisição destes equipamentos. De resto, factores semelhantes têm vindo a justificar o actual desenvolvimento acelerado da locação financeira nos países da Europa do Leste, onde este sistema tem vindo a desenvolver um importante papel no reequipamento das empresas e consequente aceleração do desenvolvimento económico desses países. No caso português, o surgimento deste sistema manifestou-se mais tardiamente, em parte, consequência da nacionalização da banca e subsequente retracção dos sectores bancário e financeiro. Por isso, a locação financeira só foi introduzida na nossa ordem jurídica no final da década de 70, com o Decreto-Lei n.º 135/79, de 18 de Maio, dedicado às sociedades de locação financeira e pelo Decreto-Lei n.º 171/79, de 6 de Junho, relativo ao regime do contrato de locação financeira. 2.2. Enquadramento geral Por Locação Financeira ou leasing entende-se o contrato celebrado entre duas partes: o locador (sociedade de locação financeira) e o locatário (cliente), através do qual o primeiro cede ao segundo, por um determinado período de tempo, o usufruto temporário de um bem, móvel ou imóvel, mediante o pagamento de uma renda e relativamente ao qual o locatário possui uma opção de compra no final do mesmo prazo, caso pague o montante pré-determinado o valor residual. Actualmente, a locação financeira é passível de ser reconduzida às seguintes categorias: i) Net-leasing e Gross-leasing: conforme os custos inerentes ao gozo do bem locado, como sejam os seguros, reparações, entre outros, seja da responsabilidade do locatário ou do locador; ii) Short-leasing e Long-leasing: conforme tenha duração inferior ou superior a 10 anos, respectivamente; iii) First ou Secondhand-leasing: caso o bem objecto do contrato seja novo ou usado, respectivamente; iv) Sale-lease-back-leasing: diz respeito às situações em que o interessado vende um bem de que é proprietário ao locador para que este lho devolva em locação financeira; v) Term-leasing e Revolving-leasing: conforme o contrato tenha duração pré-definida ou indeterminada, à vontade do locatário; e vi) Kommunal-leasing: quando o locatário seja uma entidade pública no âmbito de um contrato que tenha por objecto equipamentos públicos. Para as empresas que possuem limitações ao nível de fundos próprios e que dispõem de uma capacidade de financiamento reduzido, o leasing e o renting são instrumentos contratuais de frequente utilização. Devido à forte concorrência que o sector da locação financeira tem registado nos últimos anos verificouse uma evolução positiva das condições praticadas. 25

2. O Crédito Especializado 2.3. Sobre o Leasing O recurso ao investimento através do contrato de Locação Financeira ou de leasing tem diversas vantagens. Em primeiro lugar permite aos locatários optimizarem os seus orçamentos e afectarem as suas linhas de crédito para outros investimentos produtivos. No entanto, as vantagens do recurso ao leasing não se esgotam neste factor. Passamos a enumerar algumas vantagens: i. Liberdade de seleccionar os bens a financiar, bem como o fornecedor dos mesmos; ii. Facilita a renovação tecnológica, evitando a obsolescência; iii. Rapidez de resposta e redução de processos administrativos, bem como o aumento da sua simplicidade; iv. Financiamento até 100%; v. Possibilidade de não haver lugar a qualquer pagamento inicial; vi. Flexibilidade das condições contratuais adaptáveis à distinta capacidade das empresas e consumidores; Para os fornecedores de bens móveis ou imóveis, o leasing constitui uma forma de desenvolvimento e expansão do volume de vendas, uma vez que disponibiliza boas condições de financiamento, oferecendo ainda a possibilidade de concretizar negócios a pronto pagamento, eliminando-se os riscos normalmente associados à concessão de crédito. 2.4. As vantagens do Renting ou Leasing Operacional O Renting ou Leasing Operacional são soluções de financiamento de um bem com um contrato de aluguer e prestação de serviços associada, por um período e uso pré-determinado, mediante o pagamento de uma renda. Mais do que uma solução para aquisição do bem, o renting é um produto integrado, garantindo o acompanhamento do bem ao longo da vigência do contrato, bem como os respectivos serviços de manutenção, assistência e consultoria. Tratando-se de um aluguer, o cliente paga apenas uma renda pela sua utilização, com custos mensais fixos, logo, previsíveis, mais reduzidos e sem correr riscos com a depreciação do bem. O renting pode ainda incluir um conjunto de serviços associados à utilização do bem (revisões, seguro, selo, manutenção, viatura ou equipamento de substituição ) com preços mais vantajosos. Para os clientes empresariais, a contabilização da renda é simplificada e o bem é contabilizado totalmente como custo operacional. Principais características: i. Ausência de entrada inicial, libertando os ii. iii. fundos para outros investimentos; Pagamento de uma prestação mensal fixa que inclui um conjunto de serviços pré-definidos e adaptados às necessidades do cliente, reduzindo o risco associado à utilização e desvalorização do bem; Externalização de tarefas administrativas associadas à gestão dos bens; 26

2. O Crédito Especializado iv. Renovação dos equipamento de acordo com a regularidade que o cliente definir. 3. A Cessão Financeira (Factoring) 3.1. A Evolução Histórica Ainda que em moldes diferentes, podemos encontrar indícios da prática da cessão financeira já na Antiguidade Oriental, no entanto, o actual factoring remonta à Idade Moderna, em especial ao fenómeno da colonização. Curioso é o facto de a cessão financeira ter origem nas feitorias atlânticas, entrepostos comerciais dirigidos por um feitor, nas quais se destaca o pioneirismo dos portugueses. Os feitores actuavam como um agente comercial local que recebia a mercadoria e providenciava a sua colocação, cobrando o preço respectivo e remetendo-o ao titular, cobrando uma comissão. Posteriormente, os feitores atlânticos deixaram de assumir um papel comercial, passando a desempenhar um papel de carácter meramente financeiro. No entanto, o grande desenvolvimento do factoring registou-se na América do Norte. Numa primeira fase colonial factoring os feitores eram apenas agentes comerciais que, em nome e por conta dos exportadores, distribuíam as mercadorias vindas da metrópole, mediante uma comissão. Ainda nesta fase, os factors começaram a alargar o leque de serviços por si disponibilizados, passando a financiar stocks de mercadorias, a antecipar fundos aos exportadores, assumindo o risco das cobranças. Hoje em dia, o factoring norte-americano assume dimensões muito alargadas: cada cliente tem um único factor que lhe adquire todos os créditos, assume o risco da sua cobrança, expede e cobra facturas e presta um conjunto de serviços financeiros colaterais. Deste modo, acabou por se integrar no sector financeiro, num pacote de serviços e produtos financeiros new style factoring. Com a expansão da economia norte-americana dáse um desenvolvimento do factoring a nível internacional. Em Portugal, a primeira manifestação legal da cessão financeira deu-se com o Decreto- Lei n.º 41.403, de 27 de Novembro de 1957, que aprovava a organização bancária portuguesa. Actualmente, compete ao Decreto-Lei n.º 171/95, de 18 de Julho, regular a actividade das sociedades de factoring, bem como o regime jurídico do contrato de factoring. 3.2. Enquadramento geral A cessão financeira (ou factoring) é o contrato pelo qual o cliente/aderente cede ao cessionário financeiro/factor os seus créditos sobre um terceiro/devedor/ debitor mediante uma remuneração. Neste contexto, as sociedades de factoring surgem como sociedades cuja actividade consiste, naturalmente, na aquisição de créditos a curto prazo, derivados da venda de produtos ou da prestação de serviços, nos mercados interno ou externo. Estas sociedades adquirem créditos do cedente sobre os devedores, recebendo este um adiantamento por conta dos créditos cedidos ainda não vencidos, efectu- 27