Ementa de Parecer em Consulta Tribunal Pleno Processo: 862467 Natureza: Consulta Órgão/Entidade: Câmara Municipal de Andrelândia Consulente: Benedito César de Carvalho, Presidente Relator: Conselheiro Sebastião Helvecio Data: 12/06/2013 Decisão unânime EMENTA: CONSULTA PODER LEGISLATIVO MUNICIPAL AGENTES PÚBLICOS REMUNERAÇÃO E SUBSÍDIO LIMITES FIXAÇÃO DA REMUNERAÇÃO DOS SERVIDORES POSSIBILIDADE, MEDIANTE LEI ESPECÍFICA OBSERVÂNCIA DA NATUREZA, GRAU DE RESPONSABILIDADE E COMPLEXIDADE DOS CARGOS FIXAÇÃO DE SUBSÍDIOS DEVERÁ SER DETERMINADO EM VALOR CERTO E NÃO EM PERCENTUAL RESPEITO AO PRINCÍPIO DA ANTERIORIDADE NECESSIDADE DE OBSERVÂNCIA DO TETO CONSTITUCIONAL REMUNERATÓRIO DO MUNICÍPIO QUE É O SUBSÍDIO MENSAL DO PREFEITO E DOS DEMAIS LIMITES CONSTITUCIONAIS E LEGAIS. a) O limite constitucional a ser observado, no âmbito dos Municípios, para a fixação da remuneração dos servidores públicos do Poder Legislativo, é o subsídio do Prefeito e não o do Presidente ou dos Vereadores. b) O subsídio dos Vereadores deve ser fixado em cada legislatura para vigorar na subsequente, em valor certo, observado o previsto na lei orgânica e os limites constitucionais dispostos no art. 29, VI e VII, e art. 29-A, todos da Constituição da República. c) O limite constitucional imposto no art. 37, incisos XI e XII, para fixação do teto remuneratório dos servidores do Legislativo Municipal, deve ser observado. d) É possível a fixação da remuneração dos servidores do Legislativo municipal, por meio de lei específica, de acordo com a natureza, o grau de responsabilidade e a complexibilidade das atividades desempenhadas. NOTAS TAQUIGRÁFICAS (conforme arquivo constante do SGAP) Sessão do dia 12/06/13 Procuradora presente à sessão: Sara Meinberg CONSELHEIRO SEBASTIÃO HELVECIO: RELATÓRIO Trata-se de consulta protocolada neste Tribunal de Contas sob o n. 02498622, em 10/10/2011, formulada pelo Vereador Benedito César de Carvalho, Presidente da Câmara Municipal de Andrelândia MG, por meio da qual indaga, in verbis: (...) consulto se o subsídio do Presidente é, por consequência dos ajustes da lei, considerado como chefe de um poder e, mesmo não podendo ele receber diferenciado a partir do ano de 2013, tal como já se manifestou essa Colenda Corte de Contas, parâmetro para os ajustes das remunerações dos servidores do Legislativo até o final de 2012 ou se será, se esse for o entendimento, o subsídio do vereador limite para os ganhos dos servidores do Legislativo a partir de 2013? Consulto, ainda, dentro do mesmo tema, se poderá os membros do Poder legislativo, respeitando o limite dos 70% (setenta pontos percentuais) dos subsídios dos Deputados, fixar os seus subsídios, e se as remunerações dos servidores poderão ser efetivadas em consonância com o inciso XI e XII do art. 37 da Constituição Federal e desta forma, soberanamente, dentro da legalidade, transparência e probidade promover sua reforma administrativa, valorizando seus servidores pelas suas competências, tal como fez o Prefeito do Município? (sic)
Nos termos do artigo 213, inciso I, da Resolução 12/08, com a redação dada pela Resolução n. 01/2011, esta consulta foi remetida à Coordenadoria e Comissão de Jurisprudência e Súmula, hoje denominada Assessoria de Súmula, Jurisprudência e Consultas Técnicas, que, após o cadastro e levantamento do histórico de deliberações sobre a questão suscitada, produziu o relatório técnico de fl. 06/11, informando que não foi localizada, no banco de dados de consultas respondidas e nos Informativos de Jurisprudência TCE/MG, deliberação nos exatos termos apresentados pelo consulente. É o relatório. FUNDAMENTAÇÃO PRELIMINAR O consulente, Presidente da Câmara de Andrelândia MG, é legitimado à formulação de consulta a este Tribunal, nos termos do inciso I do art. 210 do Regimento Interno. Os questionamentos apresentados, embora formulados sob relato de existir a intenção de apresentar o consulente Projeto de Lei para valorização dos servidores locais, o que atrairia o óbice no inciso II do art. 212 desse normativo, entendo por bem, diante da relevância do tema para os municípios mineiros, admitir a consulta, para que seja respondida em tese. CONSELHEIRO SUBSTITUTO LICURGO MOURÃO: CONSELHEIRO MAURI TORRES: CONSELHEIRO JOSÉ ALVES VIANA: Também de acordo. CONSELHEIRO EM EXERCÍCIO GILBERTO DINIZ: CONSELHEIRO WANDERLEY ÁVILA: CONSELHEIRA PRESIDENTE ADRIENE ANDRADE: Também estou de acordo. APROVADA A PRELIMINAR, POR UNANIMIDADE. CONSELHEIRO SEBASTIÃO HELVECIO: MÉRITO O consulente afirma que tem a intenção de elaborar Projeto de Lei que teria por escopo uma minireforma administrativa e a promoção da valorização do salário de várias categorias de servidores do Poder Legislativo, a reboque do que ocorreu no Poder Executivo local, que promoveu a aprovação de legislação neste sentido. Afirma, também, que um dos membros da Mesa da Câmara contrapôs-se a esta intenção, pelo que indaga, em síntese: a) se o subsídio do Presidente ou dos Vereadores seriam limites à remuneração dos servidores do Poder Legislativo? b) se, respeitado o limite de 70% (setenta por cento) dos subsídios dos Deputados, podem os membros do Legislativo fixar seus subsídios? c) se a remuneração dos servidores do legislativo poderão ser efetivadas em consonância com o inciso XI e XII do art. 37 da Constituição, para valorização do quadro por competências? Para responder ao primeiro questionamento proposto, transcrevo o art. 37, inciso XI, da Constituição da República, com a redação dada pela Emenda Constitucional n. 41/2003, in verbis: Art. 37 (...) XI - a remuneração e o subsídio dos ocupantes de cargos, funções e empregos da administração direta, autárquica e fundacional, dos membros de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, dos detentores de mandato eletivo e dos demais agentes políticos e os
proventos, pensões ou outra espécie remuneratória, percebidos cumulativamente ou não, incluídas as vantagens pessoais ou de qualquer outra natureza não poderão exceder o subsídio mensal, em espécie, dos Ministros do Supremo Tribunal Federal, aplicando-se como limite, nos Municípios, o subsídio mensal do Prefeito, nos Estados e no Distrito Federal, o subsídio mensal do Governador no âmbito do Poder Executivo, o subsídio dos Deputados Estaduaise Distritais no âmbito do Poder Legislativo e o subsídio dos Desembargadores do Tribunal de Justiça, limitado a noventa inteiros e vinte e cinco centésimos por cento do subsídio mensal, em espécie, dos Ministros do Supremo Tribunal Federal, no âmbito do Poder Judiciário, aplicável este limite aos membros do Ministério Público, aos Procuradores e aos Defensores Públicos. (grifos nossos) Pelo dispositivo citado, abstrai-se que o limite de remuneração no Município é o subsídio do Prefeito, que deve ser respeitado, mesmo levando-se em conta as vantagens pessoais ou de qualquer natureza. Sendo assim, a remuneração dos servidores do Poder Legislativo não deve ultrapassar o subsídio do Prefeito, que é o limite constitucional de remuneração, no âmbito do serviço público municipal. Para tanto, a Câmara Municipal deverá observar, na fixação dessa remuneração, simultaneamente, que o total das despesas do Poder Legislativo Municipal, incluídos os subsídios dos Vereadores e excluídos os gastos com inativos, não poderá ultrapassar os percentuais incidentes sobre o somatório das receitas tributárias e das transferências previstas no 5º do art. 153 e nos arts. 158 e 159 da Constituição Federal efetivamente realizado no exercício anterior. Em segundo lugar, que o total da despesa com pessoal, em cada período de apuração, não poderá exceder a 6% da Receita Corrente Líquida do Município, nos termos do art. 19 e 20 da Lei de Responsabilidade Fiscal. Ademais, não é permitido à Câmara Municipal gastar mais de 70% de sua receita com folha de pagamento, incluído os subsídios dos Vereadores e proventos de inativos, em conformidade com o novo limite financeiro imposto à Edilidade, pelo art. 29-A, 1 da CR/88. E, por fim, que o total da despesa com subsídio dos Vereadores não poderá ultrapassar o limite de 5% da receita total do município, uma vez que o subsídio máximo do Vereador não superará os percentuais dos subsídios dos Deputados Estaduais e do Prefeito, que corresponde ao teto remuneratório no âmbito dos municípios. Esse entendimento foi firmado nas Consultas n. 840508 (10/08/2011), 800655 (24/02/2010) e 657620 (11/09/2002), como bem registrou a Coordenadoria e Comissão de Jurisprudência e Súmula, no seu relatório técnico de fl. 06/11. No que se refere à segunda indagação, reproduzida na letra b, depreende-se que o consulente solicita esclarecimentos sobre a composição do subsídio do Vereador face ao limite constitucional imposto em função do subsídio do Deputado Estadual, previsto no inciso VI do art. 29 da Constituição da República. A princípio, cumpre destacar que a função realizada pelo Presidente e demais membros da Mesa Diretora da Câmara Municipal tem natureza remuneratória e se submete, como visto, ao teto constitucional municipal, que é o subsídio do Prefeito, nos termos do citado art. 37, inciso XI, da CR/88, e também ao teto estabelecido pelo percentual variável entre 20% e 75% do subsídio dos Deputados Estaduais do respectivo Estado, conforme estabelece o art. 29, inciso VI, alíneas a a f, do referido diploma constitucional. Fixado o entendimento de que a Câmara Municipal está limitada a gastar até 70% (setenta por cento) de sua receita com folha de pagamento, incluído o gasto com o subsídio de seus Vereadores, o Enunciado da Súmula n. 63, desta Corte de Contas, estabelece que o valor do subsídio (único) fixado para o Presidente da Câmara e para os Vereadores que compõem a Mesa Diretora da Câmara Municipal não deverá ser diferente do valor daquele fixado para os demais Vereadores, senão vejamos: O subsídio dos Vereadores, incluído o dos membros da mesa diretora, será fixado pelas respectivas Câmaras Municipais em cada legislatura para a subsequente, em parcela única, vedado o acréscimo de qualquer gratificação, adicional, abono, prêmio, verba de representação ou outra espécie remuneratória. Ao fixarem o subsídio dos Vereadores, em cada legislatura para a subsequente, as Câmaras Municipais deverão observar, além dos limites máximos especificados nas referidas alíneas a a f do inciso VI, do art. 29, da CR/88, os demais dispositivos constitucionais e os critérios estabelecidos nas respectivas leis orgânicas.
Tal entendimento encontra-se ancorado em jurisprudência desta Corte de Contas, nas Consultas n. 800655 (24/02/2010), 747263 (22/04/2009) e 732004 (30/06/10). Sobre o assunto, recomento ao consulente a leitura atenta dos preceitos enumerados na cartilha intitulada ORIENTAÇÕES GERAIS PARA FIXAÇÃO DOS SUBSÍDIOS DOS VEREADORES LEGISLATURA 2013/2016 (14 preceitos), elaborada por esta Corte de Contas e disponível no Portal deste Tribunal na internet. Oportunamente, colaciono trecho do voto por mim proferido nos autos da pré-citada Consulta n. 800655, aprovada à unanimidade na Sessão Plenária de 24/02/2010, para elucidar que: (...) o subsídio dos Vereadores não deve ser fixado em percentual, vinculando-o ao subsídio dos Deputados, porquanto os percentuais incidentes sobre o subsídio dos Deputados Estaduais, previstos no art. 29, inciso VI, da Constituição da República, não constituem critérios de fixação, mas limites máximos para os subsídios dos Vereadores, observado o número de habitantes de cada Município. Tais limites percentuais variam em ordem crescente, considerando os Municípios com até 10.000 habitantes e aqueles com população superior a 500 mil habitantes. (...) O subsídio dos edis - convém reforçar, estabelecido em cada legislatura para vigorar na subsequente, observado o previsto na lei orgânica e os limites constitucionais, art. 29, VI e VII, e art. 29-A, todos da Constituição da República - deve ser determinado em valor certo e não em percentual, sob pena de se permitir majoração automática toda vez que ocorrer acréscimo na remuneração dos Deputados Estaduais, mecanismo que, ao meu ver, vulnera o princípio da anterioridade na fixação do subsídio dos edis. (grifos nossos) Quanto ao terceiro e último questionamento, representado neste voto pela letra c, entendo que, para a valorização do quadro de competências do Município, deve ser observado o teto remuneratório dos servidores do Legislativo municipal em obediência ao estatuído nos incisos XI e XII do multicitado art. 37 da CR/88. Pela leitura dos incisos suso mencionados, observa-se a coexistência de uma regra geral e outra específica que, analisadas em conjunto, delimitam o teto constitucional remuneratório de cada categoria em relação aos três Poderes da União, ou seja, o subsídio do cargo máximo de cada poder. Partindo de uma interpretação hermenêutica, é possível conciliar o sentido real da norma constitucional que estabelece regras específicas a serem observadas na remuneração do servidor. Considera-se, a princípio, o disposto no 1º do art. 39 da CR/88, que conciliado com o seu 5º, estatui: 1º A fixação dos padrões de vencimento e dos demais componentes do sistema remuneratório observará: I- a natureza, o grau de responsabilidade e a complexibilidade dos cargos componentes de cada carreira; II- os requisitos para a investidura; III- as peculiaridades dos cargos; 5. Lei da União, dos estados, do Distrito Federal e dos Municípios poderá estabelecer a relação entre a maior e menor remuneração dos servidores públicos, obedecido, em qualquer caso, o disposto no art. 37 XI. (grifos nossos) Transpondo o raciocínio ao caso concreto, é possível concluir que o legislador infraconstitucional poderá observado o grau de responsabilidade e complexidade dos cargos da carreira dos servidores do Poder Legislativo municipal, os requisitos da investidura e as peculiaridades do cargo fixar os padrões de vencimentos do sistema remuneratório, estabelecendo a relação entre a maior e da menor remuneração do servidor, não olvidando que o limite máximo para a maior remuneração do cargo de cada carreira, nos Municípios, é o subsídio mensal do Prefeito. Isto posto, repisa-se que a folha de pagamento da Câmara Municipal não poderá superar 70% (setenta por cento) de sua receita, incluído o gasto com o subsídio de seus Vereadores, conforme previsão no art. 29-A, 1º da CR/88. CONCLUSÃO Do quanto se expôs, respondo, em tese, as indagações propostas da seguinte forma:
a) o limite constitucional a ser observado, no âmbito dos Municípios, para a fixação da remuneração dos servidores públicos do Poder Legislativo, é o subsídio do Prefeito e não o do Presidente ou dos Vereadores; b) o subsídio dos Vereadores deve ser fixado em cada legislatura para vigorar na subsequente, em valor certo, observado o previsto na lei orgânica e os limites constitucionais dispostos no art. 29, VI e VII, e art. 29-A, todos da Constituição da República; c) o limite constitucional imposto no art. 37, incisos XI e XII, para fixação do teto remuneratório dos servidores do Legislativo Municipal deve ser observado; d) é possível a fixação da remuneração dos servidores do Legislativo municipal, por meio de lei específica, de acordo com a natureza, o grau de responsabilidade e a complexibilidade das atividades desempenhadas. É o meu entendimento, que submeto à apreciação deste Plenário. (OS DEMAIS CONSELHEIROS MANIFESTARAM-SE DE ACORDO COM O RELATOR.) CONSELHEIRA PRESIDENTE ADRIENE ANDRADE: Também estou de acordo. APROVADO O PARECER EXARADO PELO RELATOR, POR UNANIMIDADE. (PRESENTE À SESSÃO A PROCURADORA SARA MEINBERG.) ECR/