Análise das Demonstrações Financeiras

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Transcrição:

Análise das Demonstrações Financeiras

Professor conteudista: Antônio Salvador Morante

Sumário Análise das Demonstrações Financeiras Unidade I 1 DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS BÁSICAS... 1.1 Balanço patrimonial... 1.2 Demonstração do resultado do exercício... 1.3 Demonstração das origens e aplicações de recursos...13 1.3.1 Origens de recursos...13 1.3.2 Aplicações de recursos...14 1.4 Demonstração das mutações patrimoniais...19 2 ANÁLISES HORIZONTAL E VERTICAL... 21 2.1 Análise horizontal... 21 2.2 Análise vertical...26 Unidade II 3 INDICADORES ECONÔMICO-FINANCEIROS...29 3.1 Índices como indicadores...29 3.2 Índices de liquidez...34 3.2.1 Liquidez geral...34 3.2.2 Liquidez corrente...3 3.2.3 Liquidez seca...3 3.2.4 Liquidez imediata...36 3.3 Índices de atividade prazos médios...37 3.3.1 Prazo médio de renovação de estoques...37 3.3.2 Prazo médio de recebimento das vendas...38 3.3.3 Prazo médio de pagamento de compras...38 3.4 Estruturação de capitais...39 3.4.1 Participação de capitais de terceiros...40 3.4.2 Composição do endividamento...40 3.4.3 Imobilização do patrimônio líquido... 41 3.4.4 Imobilização dos recursos não correntes...42 3. Rentabilidade...42 3..1 Giro do ativo...43 3..2 Margem líquida...43 3..3 Rentabilidade do ativo...44 3..4 Rentabilidade do patrimônio líquido...4 3.6 Outros índices importantes...4 3.6.1 Obsolescência do imobilizado...46 3.6.2 Evolução nominal das vendas...46 3.6.3 Margem EBITDA...46 3.6.4 Cobertura de dívidas (em meses)...46 3.7 Considerações sobre os índices...47

4 ANÁLISE DO CAPITAL DE GIRO...48 4.1 Por que a necessidade de capital de giro?... 1 4.1.1 Mutações no nível de operações... 1 4.1.2 Mudanças na política financeira...2 4.1.3 Mutações na tecnologia...2 4.2 Como decidir a necessidade?...2 4.2.1 As decisões são tomadas na margem...2 4.2.2 Igualdade entre custo marginal e receita marginal...3 4.2.3 O papel da incerteza ou do risco...3 4.3 Como medir e calcular a necessidade?...3 4.3.1 Reposição dos estoques vendidos...3 4.3.2 Acompanhamento da taxa de inflação nas vendas a prazo...4 4.3.3 Recuperação de disponibilidades excessivas momentâneas...4 4.4 Como estabelecer o capital social inicial...60 PLANILHA PROPOSTA PARA ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS...64 6 EXERCÍCIOS DE ASSIMILAÇÃO...69

ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS Unidade I DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS BÁSICAS Conceitos iniciais 1 Iniciaremos nossas considerações a respeito deste tema lembrando restrições que se fazem, num país como o nosso, às publicações das demonstrações financeiras; se há dúvidas, se apresentam informações incompletas ou se os dados expressos são incorretos ou até falsos. Consideramos até certo ponto irrelevantes essas preocupações, se o escopo do estudo for o aprendizado. Se ele ocorrer dentro do contexto da administração financeira que comanda as instituições, qualquer irregularidade será perceptível ao analista. Um bom analista tem a capacidade de observar se os dados não são confiáveis, bastando para tal que aprofunde seu estudo sobre a empresa. De acordo com o que se deseja analisar, o estudioso poderá utilizar-se de ferramentas diferenciadas e desistir ou não de sua tarefa. Considerando superado esse problema, vamos encontrar na literatura especializada algumas denominações próprias da análise das demonstrações financeiras, ora tratando-a como análise de balanços, ora entendendo-a como análise financeira e, em outras ocasiões, como análise econômicofinanceira. Abordaremos o aspecto mais contábil da questão, e assim trataremos do assunto como análise das demonstrações financeiras, prevalecendo duas das principais demonstrações 1

Unidade I como componentes do termo, ou seja, o balanço patrimonial e a demonstração do resultado do exercício. Para os analistas e estudiosos do assunto, a análise das demonstrações financeiras poderá acontecer sob vários panoramas e objetivos: a) para concessão de crédito mercantil; b) para concessão de empréstimo bancário; c) para concessão de financiamentos a longo prazo; d) para assegurar-se de um novo emprego; 1 e) para fiscalização tributária; f) para propiciar informações que conduzam a uma melhor gestão financeira. Nosso panorama e objetivo se centrarão no aprendizado futuro que deve ter um administrador financeiro, abrangendo, portanto, todas as preocupações citadas. A prática tem demonstrado que a análise das demonstrações financeiras contribui decisivamente para a percepção dos problemas financeiros, má-gestão empresarial e que as empresas acostumadas a seu exercício têm se mostrado mais seguras, evitando perdas com clientes até então considerados excelentes. 2 Um dos segmentos que mais utilizam a análise das demonstrações financeiras é o da concessão e liberação de crédito, quer do mercantil, quer do bancário. Interpretando vários autores, nacionais e estrangeiros, relacionaremos as evidências que justificam o trabalho e a segurança que traz a análise das demonstrações financeiras, de modo geral, ao mundo dos negócios: 2

ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS a) é útil para a tomada de decisões racionais por parte de credores e investidores; 1 b) seu grande objetivo é estudar o desempenho econômicofinanceiro em períodos passados, para diagnosticar e traçar tendências futuras; c) é útil para tomadas de decisões contínuas; d) deve ser entendida dentro de suas possibilidades e limitações; e) de um lado, apresenta mais problemas que soluções; de outro, pode transformar-se em poderoso painel de controle da administração financeira; f) analisar as demonstrações financeiras é uma arte, porque, partindo de alguns cálculos, o analista deve caminhar para um diagnóstico que para vários usuários pode ter interpretações diferentes. Todos os estudiosos que pesquisamos entendem que a análise das demonstrações financeiras deve ser levada à conclusão, como se estivéssemos subindo os degraus de uma escada. Cada ponto examinado é uma parcela do estudo, e nenhum fato isolado pode constituir-se, a princípio, como o definitivo ao julgamento final. Estamos diante de uma sequência de interpretações, e convém que tenhamos estabelecido sempre a melhor sequência. 2 30 As limitações apontadas também nos causam preocupações, daí a necessidade de maior independência entre a contabilidade que visa aos diferentes usuários e aquela com finalidades fiscais, como preceitua o Artigo 177 da Lei das Sociedades por Ações (Lei nº 6.404 de 1.12.76) quando trata da escrituração contábil e sua obediência à legislação e aos princípios contábeis geralmente aceitos. 3

Unidade I Não podemos esquecer que, no aspecto científico, a contabilidade tem ainda dificuldades de mensurar com segurança o patrimônio das empresas, entre outras limitações. 1 A legislação fiscal e tributária no país conflita com os princípios contábeis, fazendo com que as demonstrações financeiras apresentem dados eivados de natureza arrecadadora daí a esperança dos estudiosos com a ampliação de informações e outras demonstrações na Lei das Sociedades Anônimas. Há limitações técnicas, próprias do profissional que irá trabalhar com a análise; interpretá-la com segurança e conhecimento técnico é um fato que as empresas devem ter como significativo, quando tiverem de ser amparadas para decisões mais difíceis. Os procedimentos iniciais e preparatórios para que seja elaborada uma boa análise das demonstrações financeiras seguem as seguintes instruções: a) preparar uma análise inicial, objetivando familiarização com as informações da empresa; b) identificar, se possível, alguma evidência de inconsistência nos dados; c) localizar alguma publicação de empresa concorrente; se possível, mais de uma; 2 d) localizar o código nacional da atividade econômica e buscar na parceria FIESP-Serasa a página de indicadores econômico-financeiros do setor; e) padronizar as demonstrações financeiras; f) analisar os principais índices; g) interpretar e sugerir soluções. 4

ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS 1 DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS BÁSICAS 1.1 Balanço patrimonial Balanço patrimonial é a representação monetária, em determinado momento, do conjunto de bens, direitos, obrigações e valor patrimonial dos donos ou acionistas de uma entidade. Permite identificar, nesse momento, o total dos ativos (aplicações de recursos) possuídos pela entidade, bem como o total do passivo (origens de recursos) que financiam aqueles ativos. Os recursos representados pelos passivos podem originarse de terceiros, e a eles denominamos passivos exigíveis; ou são próprios, e a eles denominamos patrimônio líquido, já que são passivos não exigíveis. A Lei nº 6.404/76, em seu Artigo 178, determinou que o balanço patrimonial fosse disposto da seguinte forma: Ativo 1 Circulante Realizável a longo prazo Permanente, subdividindo-o em: investimentos; imobilizado; diferido. Passivo Circulante Exigível a longo prazo Resultados de exercícios futuros

Unidade I Patrimônio líquido, subdividindo-o em: capital social; reservas de capital; reservas de reavaliação; reservas de lucros; lucros ou prejuízos acumulados. Ao ativo, a legislação determinou que as contas fossem organizadas em ordem decrescente de liquidez, ou seja, à medida que as contas forem relacionadas, sua realização é mais remota. Ao passivo, a legislação determinou, no tocante aos grupos exigíveis, que as contas fossem ordenadas em ordem de exigibilidade, ou seja, primeiro classificam-se as contas de menor prazo de vencimento. 1 2 30 No ativo, a diferenciação entre suas contas é determinada pelo Artigo 179 da Lei nº 6.404/76, quando estabelece: no circulante, as disponibilidades, os direitos realizáveis e as aplicações em despesas do exercício seguinte, sempre que a realização dessas contas ocorra no próximo exercício social; no realizável a longo prazo, os direitos realizáveis, assim como aqueles originários de transações com sociedades coligadas e controladas, diretores, acionistas, sempre que a realização dessas contas ocorrer a partir do exercício social seguinte; no permanente: - as participações em ações ou cotas de empresas com características de permanente no tocante ao interesse de investimentos, bem como outros direitos não classificáveis no ativo circulante que não se destinem à manutenção da 6

ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS atividade da empresa, subagrupando-os sob o título de investimentos; - os direitos que objetivem à manutenção das atividades da empresa, subagrupando-os com o título de imobilizado; 1 2 30 - e as aplicações de recursos em despesas que contribuirão para o resultado de mais um exercício social, incluindo atividades pré-operacionais subagrupadas com o título de diferido. A mesma legislação permite que, se o ciclo operacional da empresa ultrapassar o período de um exercício social, a classificação do ativo circulante ou realizável a longo prazo leve em consideração a duração desse ciclo. No passivo, a diferenciação entre suas contas é determinada pelos Artigos 180, 181 e 182 da Lei nº 6.404/76, quando estabelece: no circulante, todas as obrigações que tiverem vencimento a partir do exercício social seguinte; no passivo exigível a longo prazo, todas as obrigações que tiverem vencimento a partir do exercício social seguinte, acatando-se também o critério de diferenciação se o ciclo operacional for diferente de um exercício social; nos resultados de exercícios futuros, estarão evidenciadas as contas representativas de receitas de futura realização, diminuídas dos custos e despesas necessárias e a elas referentes; no patrimônio líquido, o capital social, as reservas destinadas ao acréscimo desse capital, as reservas de reavaliação dos ativos, as reservas provenientes de apropriação dos lucros, os lucros ou prejuízos acumulados e também reduzindo-o a eventual posse de ações em tesouraria que a empresa venha a ter em determinado momento. 7

Unidade I O balanço patrimonial é demonstração fundamental para a gestão financeira, pois identifica a posição econômicofinanceira das empresas. Os índices que possibilita formar são esclarecedores da liquidez e da estrutura patrimonial, indicando como aquelas estão estruturadas num período de tempo. A seguir, é apresentado o balanço patrimonial de uma empresa real dentro do que preconiza a Lei das S.A., com a simplificação aceitável por esta: Balanço patrimonial Indústria hipotética Ativo 31.12.0 31.12.06 Circulante Caixas e bancos 4.684 8.08 Aplicações financeiras - 12.781 Contas a receber 64.339 61.428 Estoques 7.839 68.097 Impostos a recuperar 3.139 9.373 Imposto de renda e contribuição social 3.839 4.1 diferidos Dividendos propostos a receber 48.132 863 Demais contas a receber 748 14 Despesas do exercício seguinte 1.118 1.312 183.838 166.81 Realizável a longo prazo Imposto de renda e contribuição social 8.212 4.61 diferidos Impostos a recuperar 24.696 14.231 Depósitos judiciais 68 62 Demais contas a receber 2.069 1.369 3.63.903 Permanente Investimentos: Sociedades controladas e coligadas 1.090.791 80.298 Outros 19.090 19.0 Imobilizado 18.60 162.867 Diferido 7.188 1.88 1.302.649 1.034.123 Total 1.22.122 1.221.607 8

ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS Circulante Balanço patrimonial Indústria hipotética Passivo Financiamentos 32.111 23.988 Fornecedores 36.240 23.69 Salários e encargos sociais 17.813 32.084 Obrigações tributárias 37 71 Dividendos propostos a pagar 64.60 8.849 Impostos de renda e contribuição social diferidos 176 241 Demais contas a pagar 1.997 3.197 Exigível a longo prazo 13.317 92.769 Financiamentos 3.087 61.899 Sociedades relacionadas 47.714 - Impostos de renda e contribuição social diferidos 23.88 30.873 Outros impostos e contribuições 13.912 12.801 Demais contas a pagar 343 191 Patrimônio líquido 138.644.764 Capital social.823 387.2 Reservas de reavaliação 2.414 3.193 Reservas de lucros 716.924 632.329 1.230.161 1.023.074 Total do passivo 1.22.122 1.221.607 Mesmo com a obrigatoriedade de publicação, pela Lei das S.A., dos saldos simultâneos de dois exercícios sociais, o balanço patrimonial é por demais estático e não comparável em capacidade de poder aquisitivo, motivo pelo qual é complementado por outras demonstrações financeiras que lhe dão suporte esclarecedor. Entre essas, destacam-se as notas explicativas, cujo objetivo 9

Unidade I é evidenciar situações, posicionar analiticamente certas contas e esclarecer determinados eventos. As notas explicativas têm certa abrangência também sobre as demais demonstrações financeiras, uma vez que o sentido de sua publicação é o de complementá-las mediante informações fundamentais ao esclarecimento completo aos usuários. Há notas explicativas obrigatórias e outras opcionais. Quanto mais transparente for a empresa, em especial aquelas que têm suas ações negociadas na bolsa de valores, mais notas explicativas comporão sua publicação. Mais esclarecedoras serão essas notas e facilitarão o pleno entendimento por parte dos analistas e usuários. 1.2 Demonstração do resultado do exercício 1 Feita de forma dedutiva, a demonstração do resultado do exercício objetiva evidenciar de forma resumida as operações da empresa no exercício, iniciando-se pelas receitas que, deduzidas dos tributos a elas referentes, dos custos e das despesas, sejam operacionais ou não operacionais, traduzindo ao seu final o resultado líquido. O resultado líquido, o lucro ou prejuízo, contém, em seu bojo, a obediência a dois princípios contábeis: o da realização e o da competência dos exercícios, uma vez que congrega a diferença entre as receitas auferidas no exercício e os custos e despesas incorridos para sua obtenção. 2 Em decorrência da utilização dos princípios contábeis citados, a demonstração do resultado reúne, numa só peça, eventos que tiveram efetiva realização financeira com outros que não implicaram qualquer entrada ou saída de numerário, como as depreciações e o resultado da equivalência

ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS patrimonial aplicado às empresas controladas e coligadas, quando se tratar de grupos econômicos. Sua utilidade para informações a outras demonstrações, aliada a sua contribuição à gestão financeira, compreende também a determinação de diversas terminologias, antes da nova legislação, um tanto conflitantes, como: receita bruta; receita líquida; custo das mercadorias, produtos ou serviços vendidos; lucro bruto; despesas operacionais; lucro e prejuízo operacional; lucro e prejuízo líquido. 1 Embora não haja na lei a conceituação dessas terminologias, no instante em que aparecem na demonstração, nos dão uma clara visão do seu significado e de sua abrangência, sepultando antigas interpretações. A demonstração do resultado do exercício é básica para a análise da rentabilidade das empresas, e para a análise das demonstrações financeiras, oferece informações de tendências, dispêndio de custos e despesas e obtenção de recursos pela atividade dos negócios. 2 O quadro a seguir traz a demonstração do resultado do exercício para a mesma empresa hipotética segundo o que formula a Lei das S.A. 11

Unidade I Demonstrações do resultado do exercício findos em 31.12 31.12.0 31.12.04 Receita bruta das vendas e dos serviços 7.987 74.793 Impostos sobre vendas e os serviços (163.03) (172.470) Devoluções e abatimentos (4.933) (4.232) Receita líquida das vendas e dos serviços 3.019 78.091 Custo dos produtos vendidos e dos serviços prestados (48.641) (41.348) Lucro bruto 94.378 126.743 Resultado de participações societárias Equivalência patrimonial 283.11 33.614 Receitas (despesas) operacionais Com vendas e comerciais (23.378) (24.148) Gerais e administrativas (8.899) (91.621) Horários da administração (1.) (998) Depreciações e amortizações (6.666) (6.23) Outras receitas operacionais, líquidas 2.080 08 Lucro operacional antes do resultado Financeiro 262.2 339.863 Resultado financeiro, líquido 17 (9.676) CPMF/IOF/outros encargos sobre resultado financeiro (2.072) (3.113) (1.91) (12.789) Lucro operacional 260.6 327.074 Receitas (despesas) não operacionais líquidas 38 (1.77) Lucro antes da contribuição social e do imposto de renda 260.99 32.299 Contribuição social e imposto de renda Corrente - (24) Diferido.9 32.9 301 Lucro líquido do exercício 271.90 32.600 Lucro líquido por ação no fim do exercício R$ 7.74 9.28 12

ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS Embora não seja objetivo deste trabalho, convém ressaltar que a Lei cometeu alguns enganos do ponto de vista de classificação. Apenas para exemplificar, podemos indicar que o resultado da equivalência patrimonial deve ser considerado como operacional, aliás, como está na publicação que acabamos de reproduzir. As receitas financeiras (que são operacionais) não poderiam ter a opção de ser apresentadas pelo líquido em cotejo com as despesas financeiras (que não são operacionais). 1.3 Demonstração das origens e aplicações de recursos 1 O objetivo fundamental desta demonstração é o de ressaltar, para um dado período de tempo, as principais aplicações de financiamentos e investimentos utilizadas para tal finalidade, evidenciando as modificações na posição financeira. As modificações na posição financeira são representadas pelas variações do capital circulante líquido, como consequência do confronto entre as aplicações realizadas e as fontes dos recursos utilizadas. É uma publicação obrigatória pela Lei nº 6.404/76 e representa uma importante fonte de informações sobre políticas de investimentos e financiamentos da empresa, pois alguns de seus dados não se destacam no balanço patrimonial e na demonstração do resultado. 2 A seguir, detalharemos a composição básica das origens e das aplicações de recursos que normalmente compõem a demonstração específica. 1.3.1 Origens de recursos São localizadas nos aumentos do capital circulante líquido e provêm: 13

Unidade I 1 a) das operações: resultantes do lucro do exercício, acrescido da depreciação, amortização ou exaustão e ajustado pela variação nos resultados de exercícios futuros. Se houver prejuízo, estaremos diante de uma aplicação de recursos, ou uma origem negativa de recursos. As participações no resultado de controladas deverão ser somadas ou subtraídas, pois não representam entradas ou saídas de dinheiro; b) dos acionistas: pelos aumentos de capital integralizados e contribuições para reservas de capital, desde que aumentem o capital circulante líquido; c) de terceiros: originários do aumento do passivo exigível a longo prazo, da redução do ativo realizável a longo prazo e da alienação de investimentos e direitos do ativo imobilizado. 1.3.2 Aplicações de recursos São localizadas nas diminuições do capital circulante líquido e representadas por: 2 a) aplicações permanentes: aquisições de bens do ativo imobilizado, aquisição de investimentos permanentes em outras sociedades e aplicações de recursos no ativo diferido; b) pagamento de empréstimos a longo prazo: como o meio de quitação será o ativo circulante, este se diminui ao fazê-lo. As transferências por classificação dos empréstimos de longo para curto prazo também são aplicações de recursos; c) remuneração dos acionistas: pela distribuição dos dividendos ou pagamento de juros sobre o capital próprio. 14

ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS A demonstração das origens e aplicações de recursos contribui para: conhecimento da política de inversões permanentes da empresa e fontes dos recursos correspondentes; constatação dos recursos gerados pelas obrigações próprias, ou seja, o lucro do exercício ajustado pelos itens que o integram, mas não afetam o capital circulante líquido; verificação de como foram aplicados os recursos obtidos com os novos empréstimos de longo prazo; constatação de se e como a empresa está mantendo, reduzindo ou aumentando o seu capital circulante líquido; verificação da compatibilidade entre os dividendos e a posição financeira da empresa. 1 É de vital importância ao analista das demonstrações financeiras, em especial quando concede crédito ou empréstimos, conhecer, através de notas explicativas, as evidências específicas contidas na demonstração de origens e aplicações de recursos. Poderá, com elas, elucidar situações que índices do balanço patrimonial identificaram, mas não conseguiram esclarecer. 2 É, portanto, uma demonstração que permite as interpretações identificadas na movimentação dos recursos. Lamenta-se o fato de algumas empresas se restringirem às evidências obrigatórias pela legislação, impedindo, assim, maior detalhamento na composição das origens e aplicações constantes da demonstração. A seguir, um exemplo hipotético dentro do que nos indica a legislação: 1

Unidade I Demonstração das origens e aplicações de recursos Origens de recursos 31.12.0 31.12.06 Das operações sociais: Lucro líquido do exercício 271.90 32.600 Mais (+) ou menos (-) itens que não afetam o capital circulante líquido: 18.047 16.3 Depreciação e amortizações 228 769 Créditos de PIS e COFINS sobre depreciação (283.11) (33.614) Equivalência patrimonial 1.06 2.064 Juros e variações monetárias e cambiais de longo prazo, líquidos (.846) 3.89 Imposto de renda e contribuição social 846 7.481 diferidos Outros impostos e contribuições de longo 723 2.26 prazo Valor residual do ativo permanente baixado (374) - Reversão de provisão para perdas prováveis no ativo permanente (1.39) 22.73 De terceiros Aumento do exigível a longo prazo 47.360 34 Financiamentos de longo prazo 21.2 28.984 Dividendos a receber e recebidos 1.479 69.446 1.094 98.464 Total das origens 118.699 121.199 Aplicação de recursos No ativo permanente: Investimentos 8.87 Imobilizado 40.940 41.63 Diferido.717 760.14 42.473 Dividendos propostos e distribuídos 64.03 77.32 Empréstimos e outros itens exigíveis a longo prazo transferidos para o circulante 30.802 24.389 Aumento do realizável a longo prazo 11.171 1.072 41.973 39.461 Total das aplicações 161.990 19.29 Aumento (redução) do capital circulante (43.291) (38.060) 16

ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS Variações no capital circulante 31.12.0 31.12.06 Ativo circulante: No fim do exercício 183.838 166.81 No início do exercício 166.81 227.911 17.27 (61.330) Passivo circulante No fim do exercício 13.317 92.769 No início do exercício 92.769 116.039 60.48 (23.270) Aumento (redução) do capital circulante (43.291) (38.060) Como pode ser constatado, a demonstração das origens e aplicações de recursos oferece importantes subsídios às informações financeiras. 1 A empresa hipotética em questão teve uma redução em seu capital circulante líquido. Caso o reflexo dessa diminuição tenha abalado sua estrutura financeira, o analista poderá restringirlhe novos créditos ou empréstimos, se for o caso. De outro lado, observou-se que, com total clareza, as aplicações de recursos no ativo imobilizado e no ativo investimentos talvez tenham sido excessivas aos recursos obtidos para financiá-los, porque diante dos recursos obtidos a longo prazo, normalmente destinados a ativos fixos no valor de $ 47.360, aplicou-se naqueles ativos permanentes o montante de $.14 isso em 0. Aliando-se essas e outras observações que a demonstração nos traz, temos as notas explicativas, que darão todas as condições de externamente chegar a importantes conclusões. As afirmações acima não serão verdadeiras para níveis de inflação como os ainda existentes em nosso país. As 17

Unidade I demonstrações em moeda de poder aquisitivo constante têm comprovado que as variações do capital circulante líquido em valores históricos podem ser absolutamente inversas às de valor presente. Com isso, toda e qualquer demonstração de origens e aplicações de recursos apresentada a valores históricos deve ser analisada com as devidas ressalvas. Capital circulante líquido Capital circulante líquido é a importância líquida (diferença) entre o ativo circulante e o passivo circulante, ou seja: CCL = AC PC Onde: 1 CCL = Capital Circulante Líquido AC = Ativo Circulante PC = Passivo Circulante A variação do CCL é estudada e disponibilizada apenas na Demonstração das Origens e Aplicações de Recursos (DOAR) da seguinte forma: Grupo do balanço Ano - 2 Ano 1 Ativo circulante No final do exercício 12.282 14.473 No início do exercício 14.473 16.311 Variações (2.191) (1.838) Passivo circulante No final do exercício 13.08 14. No início do exercício 14. 18.802 Variações (742) (4.2) Variações do CCL (1.449) 2.714 CCL = (AC PC) (1.226) 223 18

ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS Como interpretações dessas informações, podemos concluir: a) no ano 1, o ativo circulante decresceu $ 1.838; b) no ano 1, o passivo circulante decresceu $ 4.2; c) como ocorreu um decréscimo em ambos os grupos, a variação é positiva em $ 2.714, porque a empresa diminuiu seus recursos de terceiros em maior proporção que a havida no ativo circulante; d) no ano 2, o ativo circulante decresceu $ 2.191; e) no ano 2, o passivo circulante decresceu $ 742; f) como ocorreu um decréscimo em ambos os grupos, a variação é negativa em $ 1.449, porque a empresa diminuiu seus recursos de terceiros em menor valor que a diminuição havida no ativo circulante. 1.4 Demonstração das mutações patrimoniais 1 A despeito de não ser obrigatória sua publicação, poderá ser elaborada e divulgada conforme prevê o Artigo 186, parágrafo 2º da Lei nº 6.404/76. Consideramos desnecessária a citação da demonstração dos lucros ou prejuízos acumulados, uma vez que a demonstração das mutações do patrimônio líquido a abarca com todos os seus elementos. 2 Consiste numa demonstração horizontal e dela constam todos os grupos de contas do patrimônio líquido, e verticalmente suas alterações no decorrer do exercício social. Oferece a possibilidade de evidenciação das seguintes variações no patrimônio líquido: 19

Unidade I a) Itens que afetam o patrimônio total: 1 acréscimo pelas correções das contas do patrimônio; acréscimo pelo lucro ou redução pelo prejuízo líquido do exercício; redução por dividendos ou juros sobre o capital próprio; acréscimo por reavaliação de ativos; acréscimo por doações e subvenções para investimentos recebidos; acréscimo por subscrição e integralização de capital; acréscimo pelo recebimento de valor que exceda o valor nominal das ações integralizadas ou o preço de emissão das ações sem valor patrimonial; acréscimo pelo valor da alienação de partes beneficiárias e bônus de subscrição; acréscimo por prêmio na emissão de debêntures; redução por ações próprias adquiridas ou acréscimo por sua venda; acréscimo ou redução por ajustes de exercícios anteriores. b) Itens que não afetam o total do patrimônio: 2 aumento de capital com utilização de lucros e reservas; apropriações do lucro líquido do exercício reduzido à conta de lucros acumulados para formação de reservas, como reserva legal, reserva de lucros a realizar, reserva para contingência e outros; reversões de reservas patrimoniais para a conta de lucros ou prejuízos acumulados; compensação de prejuízos com reservas etc.

ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS Para limitar o crédito, por exemplo, esta demonstração não oferece subsídios. Para análise de demonstrações financeiras, é fonte de informações que poderá sustentar interpretações aos índices de estrutura de capital e identificar as movimentações nas contas do patrimônio líquido. 2 ANÁLISES HORIZONTAL E VERTICAL Indicadas como apoio à análise das demonstrações financeiras, estes cálculos permitem comparações, tendências e ilações de bom senso para melhor interpretar outros indicadores. 2.1 Análise horizontal 1 A análise horizontal é o método que possibilita estabelecer as proporções entre cada elemento em análise, de um exercício social, e o mesmo elemento ou informação em outros exercícios, através da evolução percentual que permite a comparação por tendências positivas ou negativas. O exemplo poderá ser observado nas demonstrações financeiras da indústria de correias, que está na página seguinte, e será objeto de consulta para as próximas análises e considerações: Estoques em 0 = 11.71 = 11,61% ou evolução de 1,61% Estoques em 03 = 7.71 Estoques em 04 =.093 = 130,22% ou evolução de 30,22% Estoques em 03 = 7.71 No exemplo utilizado, a base ou exercício social tomado como início da análise é o ano de 03, sendo os demais necessários para estabelecer-se a sequência horizontal de evolução. 21

Unidade I O analista poderá estabelecer as relações entre um ano e o outro imediatamente anterior, fazendo-o separadamente da forma seguinte: Balanço patrimonial padronizado Indústria de correias Exercícios 03 04 0 Composição Valores AV % AH % Valores AV % AH % Valores AV % AH % Ativo circulante 27.706 74,16 0,00 39.037 7,4 140,90 44.729 71,1 161,44 Disponível 9.91 2,67 0,00 16.31 31,7 170,11 16.11 2,69 168,40 Duplicatas a receber.139 27,14 0,00 12.12 23,2 119,8 16.128 2,66 19,07 Estoques 7.71,7 0,00.093 19,3 130,22 11.71 18,69 11,61 Outras contas 22 0,60 0,00 477 0,92 212,00 699 1,11 3,67 Realizável L. prazo 346 0,93 0,00 640 1,24 184,97 900 1,43 260,12 Soma (AC + RLP) 28.02 7,09 0,00 39.677 76,78 141,44 4.629 72,9 162,66 Permanente 9.308 24,91 0,00 12.000 23,22 128,92 17.233 27,41 18,14 Investimentos 0 0,00 0 0,00 0 0,00 Imobilizado 9.308 24,91 0,00 12.000 23,22 128,92 17.233 27,41 18,14 Diferido 0 0,00 0 0,00 0 0,00 Total do ativo 37.360 0,00 0,00 1.677 0,00 138,32 62.862 0,00 168,26 Passivo circulante 7.717,66 0,00 13.9 26,31 176,17 17.233 27,41 223,31 Fornecedores 3.167 8,48 0,00.89,82 176,48 4.7 6,3 129,68 Contas a pagar 4.0 12,18 0,00 8.006 1,49 17,96 13.126,88 288,48 Empréstimos bancários 0,00 0,00 0,00 Exigível L. prazo 16.99 4,49 0,00 21.328 41,27 12,0.94 33,32 123,24 Financiamentos 0,00 0,00 0,00 Outras contas 16.99 4,49 0,00 21.328 41,27 12,0.94 33,32 123,24 CAP 3ºs (PC + ELP) 24.712 66,1 0,00 34.923 67,8 141,32 38.178 60,73 14,49 Patrimônio líquído 12.648 33,8 0,00 16.74 32,42 132,46 24.68 439,27 19,16 Capital social.34 27,71 0,00.893 21,08,21 12.286 19,4 118,66 Reservas e lucros acum. 2.294 6,14 0,00.861 11,34 2,49 12.398 19,72 40,4 Total do passivo 37.360 0,00 0,00 1.677 0,00 138,32 62.862 0,00 1,68 Estoques em 04, fazendo-o separadamente assim: Estoques em 04 =.093 = 130,22% ou evolução de 30,22% Estoques em 03 = 7.71 Estoques em 0 = 11.71 = 116,42% ou evolução de 16,42% Estoques em 04 =.093 22

ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS Tal processo, entretanto, aumentará significativamente o trabalho de cálculos, não proporcionando uma posição estática, rápida e visual que o método sugere. Passaremos a comentar as situações mais significativas deste exemplo, utilizando as mesmas informações e considerando-se, neste período, a inflação acumulada medida pelo INPC-IBGE, neutralizando-se o efeito da perda do poder aquisitivo da moeda: Inflação base em 03 = 0,00%. Inflação acumulada entre 03 e 04 =,63%. Inflação acumulada entre 03 e 0 = 111,47%. Estoques 03 0,00% 04 130,22% 0 11,61% Interpretação: a participação dos estoques cresceu ao longo dos três exercícios sociais muito além da inflação do período. Espera-se que os recursos disponíveis para a empresa também tenham seguido o mesmo ritmo de crescimento. 1 Duplicatas a receber 03 0,00% 04 119,8% 0 19,07% Interpretação: o crescimento nesta conta praticamente acompanhou a conta estoques, e é facilmente entendido, pois, se os estoques crescem, é porque a demanda por faturamento realmente ocorreu. Imobilizado 03 0,00% 04 128,92% 0 18,14% 23

Unidade I Interpretação: trata-se de um crescimento muito acima da inflação, certamente motivado pela necessidade de melhoria e modernização no parque fabril. Fornecedores 03 0,00% 04 176,48% 0 129,68% Interpretação: crescimento mais modesto, exceção em 04, que extrapolou o índice de inflação acumulado, o mesmo que ocorreu na conta estoques, da qual é originária. Patrimônio líquido 03 0,00% 04 132,46% 0 19,16% Interpretação: crescimento também muito acima da inflação e que acompanhou as principais contas até então analisadas. Receita bruta das vendas 03 0,00% 04 122,93% 0 169,61% Interpretação: a princípio, deveria ser a condutora das demais contas. Entende-se que, se o faturamento crescer, todas as outras contas deveriam acompanhá-lo. Não é bem assim que se espera. Algumas contas podem acompanhar o crescimento do faturamento; outras, seria interessante que se retraíssem para um melhor resultado financeiro. 1 Custos dos produtos vendidos 03 0,00% 04 0,97% 0 128,% Interpretação: demonstra uma total falta de sintonia com o faturamento, em especial o ano de 04, que apresentou uma 24

ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS redução. Observamos também que 0 ficou bem abaixo do crescimento do faturamento, o que é algo muito positivo. Despesas operacionais 03 0,00% 04 141,63% 0 147,62% Interpretação: o que se espera deste grupo de contas é que seu crescimento seja menor que o do faturamento, o que aconteceu de modo favorável. Lucro líquido 03 0,00% 04 12,19% 0 41,18% Interpretação: seu resultado é uma consequência da expectativa que se criou ao verificarmos as contas anteriores. Cresce o faturamento, reduzem-se os custos e as despesas e, como consequência, o lucro líquido foi melhor em 0. Como vantagens, podemos avaliar as contribuições da análise horizontal pelo seguinte: 1 demonstra evoluções e possibilita admitirem-se tendências; é contrastante e também comprovadora das informações obtidas pela análise vertical, ao mesmo tempo; é complementar à análise vertical. Como desvantagens, podemos relacionar os seguintes pontos da análise horizontal: se as informações não estiverem corrigidas pela inflação do período, ou apresentadas em moeda constante, são extremamente difíceis as comparações, e estas se tornam praticamente inválidas em alguns casos; suas informações, muitas vezes, não são claras, permitindo muitas suposições. 2

Unidade I 2.2 Análise vertical A análise vertical é o método que possibilita estabelecer as proporções entre cada elemento em análise e seu todo, tratando-se, pois, de uma medida percentual que permite a comparação entre demonstrações financeiras da mesma empresa ou de empresas concorrentes, reduzindo-se os valores em moeda de magnitudes diversas a uma medida única: a participação percentual. A título de exemplo, como poderá ser observado nas demonstrações financeiras da empresa Correias S.A., apresentamos um de seus cálculos: Estoques em 0 = 11.71 = 18,69% ou seja, os estoques representam 18,69% do total dos Ativo em 0 = 62.862 recursos (ativo) em 0 1 2 No exemplo utilizado, o todo é o total do ativo e o total do passivo no balanço patrimonial e, quando utilizarmos as informações da demonstração do resultado, o todo será o valor da receita bruta de vendas, ou também a receita líquida de vendas, conforme interpretações nos países de primeiro mundo. Há casos de analistas que preferem praticar a análise vertical, partindo também dos grupos, em especial quando as informações são do balanço patrimonial. Nesses casos, são usados os grupos: ativo circulante, ativo realizável a longo prazo, ativo permanente e os demais do passivo, ao contrário da forma mais tradicional, que compara os itens com o total de todos os itens (ativo ou passivo). A interpretação que fazemos do resultado anterior é a de que a conta Estoques, em 0, representava 18,69% do total do ativo total, ou da soma de recursos disponíveis na empresa. 30 Passaremos a comentar as situações mais significativas do exemplo, na tentativa de justificar as diferenças entre o método de análise horizontal e da análise vertical, e a contribuição de ambos para a análise das demonstrações financeiras: 26

ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS Estoques 03,7% 04 19,3% 0 18,69% Interpretação: observa-se uma certa normalidade na participação da conta estoques em relação ao ativo (soma dos recursos) o que, de certa forma, nos leva a entender que ocorre uma política determinada neste aspecto. Duplicatas a receber 03 27,14% 04 23,2% 0 2,66% Interpretação: a exemplo do que ocorreu com os estoques, também notamos uma normalidade na aplicação desses recursos. Imobilizado 03 24,91% 04 23,22% 0 27,41% Interpretação: ocorreu um decréscimo em 04 e um acréscimo significativo em 0, certamente motivado pela aquisição de máquinas e equipamentos destinados à modernização, tão importante no mundo de hoje. 1 Fornecedores 03 8,48% 04,82% 0 6,3% Interpretação: nesta conta, há uma certa irregularidade em sua participação em relação aos recursos movimentados, certamente por mudança nos prazos médios de aquisição das matérias-primas, o que poderá ser confirmado quando analisarmos o ciclo financeiro. 27

Unidade I Patrimônio líquido 03 33,8% 04 32,42% 0 39,27% Interpretação: este grupo de contas é reflexo dos lucros ou prejuízos, como também das movimentações de capital, por adição ou distribuição de lucros ou dividendos. Podemos observar uma certa regularidade e uma melhoria em 0 pelo excelente resultado obtido pela empresa. Custo das vendas 03 63,48% 04 2,14% 0 48,12% Interpretação: de uma participação em 03 sobre o faturamento, ocorreu uma notável queda nos anos seguintes, o que privilegiou o lucro líquido ao final dos respectivos exercícios. Despesas operacionais 03 1,07% 04 17,37% 0 13,12% Interpretação: houve um acréscimo desfavorável em 04, mas uma excelente recuperação em 0, motivada por uma análise mais detalhada, pela ocorrência de um excelente volume de receitas financeiras, o que colaborou para a diminuição dessa participação. 1 Lucro líquido 03 3,47% 04 4,30% 0 11,09% Interpretação: como consequência, o lucro líquido teve um excelente desempenho, com crescimento em relação à receita bruta de vendas, de forma excepcional. 28